Etiologia
A hipoglicemia é decorrente de quantidades excessivas de insulina, exógena ou endógena. A presença de sulfonilureia, meglitinida ou insulina sintética indica hipoglicemia iatrogênica. A deficiência de hormônio do crescimento e a insuficiência adrenal, decorrente de hipopituitarismo ou doença de Addison, podem causar hipoglicemia provocando uma falha na resposta aos baixos níveis de glicose. Isso tende a causar hipoglicemia significativa somente na população pediátrica, embora existam relatos de casos de hipoglicemia em adultos com essas condições.
A hipoglicemia pós-prandial foi documentada em indivíduos desnutridos que comem a fruta ackee não amadurecida.[9] Muitos casos de sintomas pós-prandiais não são confirmados como hipoglicemia verdadeira na avaliação.[10] O distúrbio por uso de álcool e a desnutrição são comumente associados a um episódio hipoglicêmico.[11]
O excesso endógeno de insulina ou de substâncias com ação semelhante à da insulina, como por exemplo o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF)-II, pode ser resultante de várias doenças raras. Um insulinoma surge geralmente do ducto pancreático e das células acinares ao invés das células das ilhotas, embora os mecanismos por trás da excreção não regulada/excessiva da insulina não estejam claros.[7] Da mesma forma que o insulinoma, tumores mesenquimais grandes podem secretar IGF-II suficiente para afetar a homeostase da glicose. O IGF-II age diretamente nos receptores de insulina, tendo, assim, efeitos semelhantes aos da insulina. Ele também induz a desregulação do glucagon e do hormônio do crescimento, resultando na perpetuação da hipoglicemia. Tumores descritos como secretores de IGF-II incluem sarcomas, fibromas, fibrossarcomas e carcinoma de células renais. Tumores grandes no fígado podem afetar a gliconeogênese e/ou causar hipoglicemia decorrente do consumo excessivo de glicose para abastecer a alta taxa metabólica das células tumorais.
A nesidioblastose e a hipertrofia de ilhotas resultam de mutações genéticas, mais frequentemente autossômicas recessivas, embora seja possível herança autossômica dominante e mutações esporádicas. Essas mutações no canal de potássio dependente de adenosina trifosfato das células beta causam despolarização da membrana celular e influxo dos íons cálcio. Isso resulta na liberação de insulina apesar das baixas concentrações de glicose sanguínea.[12] Raramente, hipertrofia de ilhotas é descoberta após cirurgia bariátrica.[8][13]
A hipoglicemia iatrogênica é uma consequência esperada dos agentes redutores de glicose, mas também é relatada a redução da concentração da glicose sanguínea por outros medicamentos. Os exemplos incluem os antibióticos do tipo fluoroquinolona, os betabloqueadores, a heparina, os inibidores da bomba de prótons (por exemplo, pantoprazol) e o tramadol.[3][4][5][14]
Uma doença crítica que envolva a insuficiência de múltiplos órgãos pode causar hipoglicemia, reduzindo a produção endógena de glicose e aumentando o estresse metabólico e a utilização da glicose.[13]
Fisiopatologia
Sintomas simpatoadrenais são resultantes da secreção elevada de glucagon, epinefrina (adrenalina), cortisol e hormônio do crescimento na tentativa de elevar os níveis glicêmicos:
Eles geralmente começam quando as concentrações de glicose sanguínea ficam abaixo de 3.0 mmol/L (55 mg/dL)
A secreção de glucagon e epinefrina (adrenalina) é desencadeada por concentrações de glicose abaixo de 3.6 mmol/L (65 mg/dL)
A secreção de hormônio do crescimento e cortisol aumenta quando as concentrações de glicose ficam abaixo de 3.3 mmol/L (60 mg/dL)
Os sintomas podem incluir sudorese, ansiedade, náuseas, tremor, fome, parestesia generalizada e palpitações.
Sintomas neuroglicopênicos resultam do fornecimento insuficiente de glicose ao cérebro apesar das tentativas simpatoadrenais de elevar a glicemia:[15]
Geralmente ocorre com concentrações de glicose <2.8 mmol/L (<50 mg/dL)
Os sintomas podem incluir visão turva, tontura, confusão, disartria e sonolência
Na extremidade do espectro, convulsão, coma e morte podem ocorrer.
Classificação
Etiologias da hipoglicemia não diabética
Factícia
Uso furtivo de insulina
Endócrina
Insuficiência adrenal, mais frequente em crianças
Deficiência de hormônio do crescimento, mais frequente em crianças
Hipopituitarismo, também pode ocorrer em adultos
Hipertireoidismo, hipoglicemia reativa inicial pode ocorrer
Tumores
Grandes tumores de origem mesenquimal: podem secretar compostos semelhantes à insulina (por exemplo, IGF-II); podem ser metabolicamente ativos o suficiente para causar hipoglicemia
Tumores neuroendócrinos, especialmente insulinoma
Iatrogênica
Insulina
Aspirina
Fluoroquinolonas
Quinina
Haloperidol
Disopiramida
Sulfonilureia
Bloqueadores beta-adrenérgicos
Tramadol
Verificou-se que os inibidores da bomba de prótons (por exemplo, pantoprazol) têm um efeito de redução da glicemia; no entanto, pesquisas adicionais são necessárias[3]
Heparina: há evidências limitadas de que a heparina causa hipoglicemia.[4][5]
Neonatal
Nesidioblastose (também chamada de “hipoglicemia hiperinsulinêmica persistente da infância”)
Hipertrofia das ilhotas pancreáticas
Neonato de uma mãe diabética (transitório)
Toxinas
Distúrbio por uso de álcool, especialmente com inanição
Fruta ackee (hipoglicina)
Congênita
Doenças de depósito de glicogênio
Diversa
Início da gestação (hipoglicemia reativa tardia pode ocorrer durante a gestação)
Hipoglicemia por inanição (câncer terminal)
Doença hepática aguda ou crônica
Insuficiência renal crônica
Insuficiência cardíaca congestiva
Autoimune: anormalidades dos receptores de insulina
Após cirurgia gástrica: derivação gástrica, vagotomia com piloroplastia, gastrectomia subtotal ou total. Hipoglicemia reativa inicial pode ocorrer após cirurgia gástrica.
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