Etiologia
A presença de anticorpos antifosfolipídeos (aFL) persistentemente elevados contra várias proteínas plasmáticas de ligação a fosfolipídeos pode resultar na evolução para trombose venosa, arterial e microvascular e/ou morbidade gestacional. Não está claro o que leva ao desenvolvimento desses anticorpos adquiridos; pode ser que o mimetismo molecular ocorra por meio da exposição a uma infecção bacteriana ou viral.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Coloração tricrômica da biópsia renal mostrando características consistentes com microangiopatia trombóticaDo acervo pessoal de ensino do Professor Hunt; usado com permissão [Citation ends].[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Imunocoloração da fibrina da biópsia renal mostrando características consistentes com microangiopatia trombóticaDo acervo pessoal de ensino do Professor Hunt; usado com permissão [Citation ends].
Fisiopatologia
Os aFL são autoanticorpos que reconhecem uma variedade de proteínas plasmáticas de ligação a fosfolipídeos, como a beta 2-glicoproteína I, protrombina, anexina A5 e fosfolipídeos expressos nas plaquetas, monócitos e células do trofoblasto. Vários mecanismos foram propostos para descrever a trombose mediada por anticorpos antifosfolipídeos e a morbidade gestacional, mas não há um mecanismo unificador amplamente aceito para descrever todos os fenômenos da doença.[13][14][15] A beta 2-glicoproteína I, uma proteína de controle do complemento construída de cinco domínios, é reconhecida como o principal antígeno-alvo dos anticorpos da SAF. Foi observado que anticorpos que reconhecem um epítopo específico no domínio I da beta 2-glicoproteína I estão associados a um aumento do risco de trombose.[16]
Outros mecanismos propostos para o papel dos anticorpos anti-SAF na trombose incluem ligação endotelial, resistência à proteína C e ativação do complemento.[17][18][19][20] Vários mecanismos trombóticos e mediados por inflamação induzidos pela ligação de aFL podem estar relacionados à patogênese dos anticorpos antifosfolipídeos nas complicações relacionadas à gestação.[21] Em particular, o sistema complemento foi implicado na patogênese da trombose e perda fetal na SAF em camundongos, e a resistência à anexina A5 também pode ser um mecanismo significativo.[22][23][24][25][26]
Classificação
Declaração de consenso internacional sobre a atualização dos critérios de classificação da síndrome antifosfolipídica (SAF) definitiva[1]
Não há critérios de diagnóstico para a SAF. No entanto, os critérios de classificação (originalmente formulados em Sapporo, Japão, para fins de pesquisa) costumam ser usados com guia para o diagnóstico de SAF.[1][3] Os critérios de Sapporo têm uma especificidade de 86% e uma sensibilidade de 99%.[1] A SAF é diagnosticada se pelo menos um dos critérios clínicos de trombose vascular ou morbidade gestacional estiver presente em associação com a presença de anticorpos antifosfolipídeos em duas ou mais ocasiões, com um intervalo de 12 semanas.[1] A trombose vascular é definida como um ou mais episódios clínicos de trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos, em qualquer tecido ou órgão.
A morbidade gestacional é definida como a perda de três ou mais embriões antes da 10ª semana de gestação e/ou uma ou mais mortes fetais inexplicáveis entre a 10ª e a 34ª semana de gestação, e/ou o nascimento prematuro de um neonato morfologicamente normal antes da 34ª semana de gestação devido a eclâmpsia, pré-eclâmpsia grave, restrição do crescimento intrauterino ou insuficiência placentária.[1]
Critérios de classificação da síndrome antifosfolipídica do American College of Rheumatology (ACR)/European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR)[2]
Os critérios de classificação do ACR/EULAR atualizam os critérios de Sapporo acima, ampliando o escopo de sintomas e sinais clínicos para incluir domínios clínicos e laboratoriais independentes, hierarquicamente agrupados e ponderados.[2] Os novos critérios, desenvolvidos para melhorar a pesquisa relacionada à SAF, têm especificidade de 99% e sensibilidade de 84%.[2] Aqueles com pelo menos um teste de aFL positivo dentro de 3 anos de um critério clínico associado a AFL podem ser classificados com os critérios do ACR/EULAR. As características clínicas agora são divididas em seis domínios (tromboembolismo venoso macrovascular, trombose arterial macrovascular, microvascular, obstétrica, valvar cardíaca e hematológica) e há também dois domínios laboratoriais (testes de aFL por ensaio de coagulação e ensaio de fase sólida). Os itens em cada um desses oito domínios recebem um escore entre 1 e 7. Pessoas com escore de pelo menos 3 pontos nos domínios clínicos e pelo menos 3 pontos nos domínios laboratoriais são classificadas como portadoras de SAF.[2] Semelhante aos critérios de Sapporo, a classificação do ACR/EULAR tem como objetivo principal identificar grupos homogêneos com alta probabilidade de SAF para fins de pesquisa, em vez de ser diagnóstica, mas é um guia útil para médicos na avaliação de indivíduos positivos para aFL.
O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal