Etiologia

A etiologia da bulimia nervosa é incerta. Uma teoria biopsicossocial de causas postula uma combinação de fatores coexistentes biológicos (anormalidades genéticas em receptores ou neurotransmissores), psicológicos e sociais.[11][13][14][15]

Os fatores de risco fortemente associados à bulimia nervosa incluem sexo feminino; perfeccionismo; insatisfação com o corpo; impulsividade; história de abuso sexual; história familiar de alcoolismo, depressão ou de transtorno alimentar; obesidade prévia; e exposição à pressão da mídia. Tem sido relatada uma associação com a urbanização.[16] A história familiar de obesidade é considerada um preditor fraco.[17] O início precoce da puberdade está associado ao início precoce da bulimia nervosa.[18]

Fisiopatologia

A fisiopatologia da bulimia nervosa é desconhecida. Entretanto, as evidências sugerem que as pessoas podem apresentar compulsão periódica e purgação quando têm baixa autoestima, são pressionadas a se adaptar à alimentação ou a aderir a um peso e forma corporal específico e têm conhecimento sobre compulsão periódica e purgação. Comportamentos compensatórios, como vômitos, uso de laxantes ou exercício, podem acarretar grandes flutuações no peso que reforçam o comportamento.[11]​ Esses comportamentos podem causar erosão dos dentes; hipertrofia das glândulas parótidas e submandibulares; refluxo, alteração da motilidade ou espasmo esofágico; alteração da motilidade gástrica; irregularidade intestinal; depleção de volume; arritmia cardíaca; e anormalidades metabólicas, como hipocalemia ou hipomagnesemia.

Classificação

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5-TR)[1]

  1. A bulimia nervosa está incluída na categoria "Transtornos alimentares e da ingestão".

  2. A bulimia nervosa é caracterizada por episódios recorrentes de compulsão alimentar e comportamentos compensatórios inadequados recorrentes para evitar o ganho de peso.

  3. Durante um episódio de compulsão alimentar, as pessoas com bulimia comem, em um período de tempo distinto, uma quantidade de comida que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria em um período semelhante em circunstâncias semelhantes. Elas também sentem a sensação de que não podem controlar o que ou quanto estão comendo, ou não conseguem parar de comer.

  4. Os comportamentos compensatórios inadequados incluem vômitos autoinduzidos, jejum, exercícios excessivos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos.

  5. Pacientes com bulimia nervosa não são mais classificados em subtipos nessas duas categorias com base no tipo de comportamento compensatório, pois os dados não dão suporte à utilidade clínica dessa distinção.[2] Anteriormente, havia um tipo purgativo (ou seja, o uso regular de vômitos autoinduzidos ou o uso indevido de laxativos, diuréticos ou enemas) e um tipo não purgativo (por exemplo, jejum ou exercício excessivo, mas não vômitos autoinduzidos ou o uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).

  6. A bulimia nervosa é caracterizada pela presença de pelo menos um episódio bulímico por semana, em média, por um período de 3 meses (em vez de dois episódios/semana por um período de 6 meses como no DSM-IV).

  7. Um especificador de gravidade foi adicionado ao DSM-5-TR, com base no número médio de comportamentos compensatórios inadequados/semana: leve = 1-3 episódios/semana; moderado = 4-7 episódios/semana; grave = 8-13 episódios/semana; e extremo = 14 ou mais episódios/semana. A gravidade pode ser aumentada para refletir graus mais elevados de incapacidade funcional ou outros sintomas.

  8. Não existe mais a categoria "Transtorno alimentar sem outra especificação" (TASOE). Em vez disso, a categoria "Outros transtornos alimentares ou nutricionais específicos" indica a presença de transtorno da alimentação que causa sofrimento clinicamente significativo, mas não satisfaz os critérios completos para quaisquer transtornos alimentares e da alimentação. A categoria "Transtornos alimentares ou nutricionais inespecíficos" classifica os transtornos da alimentação que não são englobados com mais precisão pelos Outros transtornos alimentares ou nutricionais específicos.

Classificação Internacional de Doenças, 11a revisão (CID-11)[3]

A CID-11 tem uma seção sobre transtornos alimentares ou da ingestão. Dentro dela, caracteriza a bulimia nervosa (6B81) como episódios frequentes e recorrentes de compulsão alimentar (uma vez por semana ou mais por mais de 1 mês). A compulsão alimentar é definida como um período de tempo em que o indivíduo perde o controle sobre seu comportamento alimentar e se sente incapaz de parar. Na bulimia nervosa, os episódios de compulsão alimentar são acompanhados por comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso, por exemplo uso de laxantes ou vômitos. O indivíduo também está preocupado com o peso ou a forma física e não atende aos critérios diagnósticos para anorexia.

A CID-11 tem uma categoria separada para o transtorno da compulsão alimentar periódica (6B82), caracterizado, como na bulimia, por períodos de perda de controle sobre a alimentação. Ao contrário da bulimia nervosa, no entanto, esses episódios não são seguidos por comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso.

Outra categoria na CID-11 é o transtorno de ruminação (6B85). Este transtorno é caracterizado por trazer de volta à boca de forma intencional e repetida alimentos previamente deglutidos (ou seja, regurgitação), que podem ser novamente mastigados e deglutido (ou seja, ruminação), ou podem ser deliberadamente cuspidos (mas, diferenciando-a da bulimia nervosa, não vomitados). O comportamento de regurgitação é frequente (pelo menos várias vezes por semana) e sustentado por um período de pelo menos várias semanas. Ele só é diagnosticado em pessoas com pelo menos 2 anos de idade.

Características comparadas com outros transtornos alimentares

  • Anorexia nervosa se distingue de bulimia pela presença, no indivíduo, de um medo intenso de ganhar peso ou de tornar-se obeso, ou de comportamentos persistentes que interfiram no ganho de peso, apesar de o indivíduo estar significativamente abaixo do peso. Geralmente, é necessário que o índice de massa corporal e o de gordura corporal estejam baixos para cumprir os critérios para anorexia nervosa, enquanto os pacientes com bulimia nervosa podem apresentar peso normal.[4]​ A bulimia nervosa e a anorexia nervosa podem apresentar comportamentos de compulsão e purgação; indivíduos cujo comportamento de compulsão alimentar ocorra apenas durante episódios de anorexia nervosa são diagnosticados com anorexia nervosa tipo compulsão alimentar/purgação e não devem receber o diagnóstico de bulimia nervosa.

  • Como observado acima, a categoria "Outros transtornos alimentares ou nutricionais específicos" inclui transtornos da alimentação que afetam negativamente o funcionamento normal, mas não satisfazem os critérios para bulimia nervosa, anorexia nervosa, transtorno da compulsão alimentar periódica ou outro transtorno alimentar ou da alimentação. Por exemplo, um paciente pode apresentar purgação na ausência de compulsão alimentar ou preencher todos os critérios para bulimia nervosa, exceto pelo fato de os episódios bulímicos ocorrerem menos de uma vez por semana e/ou por uma duração inferior a 3 meses.

  • O transtorno da compulsão alimentar periódica é diferenciado da bulimia pela falta de comportamentos compensatórios. A maioria dos pacientes com transtorno da compulsão alimentar periódica é obesa. A maioria dos pacientes com bulimia nervosa está dentro da faixa normal de peso.

  • O transtorno de ruminação (CID-11) é diferenciado da bulimia nervosa em relação ao alimento regurgitado ser novamente mastigado e deglutido ou cuspido, mas não vomitado. Além disso, como parte dos critérios do DSM-5-TR para transtorno de ruminação, o comportamento não pode estar relacionado exclusivamente a um transtorno alimentar destinado ao controle do peso.

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