Prevenção primária

Antes de se iniciar uma terapia com opioide, devem ser feitos esforços para maximizar o uso das terapias não farmacológicas e terapias farmacológicas não opioides, conforme apropriado. Algumas evidências mostram que as terapias não opioides são pelo menos tão efetivas quanto as terapias com opioides para a dor aguda, e são preferíveis às terapias com opioides para as dores crônica e subaguda.[12][13]​​ Isso pode ter implicações potenciais para reduzir ainda mais o uso de opioides no pronto-socorro e na comunidade. A terapia com opioides só deve ser considerada se os benefícios esperados para a dor e a funcionalidade superarem os riscos para o paciente.[13]

Os médicos que prescrevem opioides devem identificar os recursos de tratamento para transtorno relacionado ao uso de opioides na comunidade e estabelecer uma rede de opções de encaminhamento em diferentes níveis de atenção que os pacientes puserem necessitar. Isso garante o encaminhamento e tratamento imediatos, caso necessário.[13]

Os prescritores devem estar atentos ao crescente problema do transtorno relacionado ao uso de opioides prescritos, e prescrever opioides para a dor crônica de forma judiciosa.[13]​ A história de prescrição de substâncias controladas do paciente deve ser revisada, de preferência antes de cada prescrição de opioide e, pelo menos, antes da primeira prescrição e, em seguida, a intervalos de 3 meses. Isso pode ajudar a determinar se o paciente está recebendo dosagens de opioides de vários prescritores, o que os coloca em risco elevado de superdosagem. Nos EUA, a história de prescrição dos pacientes pode ser visualizada por meio de Programas de Monitoramento de Prescrição de Medicamentos (PMPMs) estaduais.[14] O uso de PMPMs para fundamentar as decisões relativas ao tratamento mudou os comportamentos de prescrição e reduziu os danos relacionados a opioides e as internações para tratamento.[15]​ No entanto, os escores de risco gerados por PMPMs não foram validados em relação a desfechos clínicos como superdosagens e, portanto, não devem substituir o julgamento clínico.[13]

Os pacientes que usam opioides regularmente (de maneira terapêutica ou recreativa) devem ser orientados sobre os perigos da superdosagem, especialmente após períodos de abstinência. Essa orientação está associada a uma redução no número de mortes por superdosagem.[16] Os pacientes em alto risco, juntamente com seus familiares e cuidadores, devem ser informados sobre o reconhecimento e o manejo da superdosagem de opioides, incluindo a administração de naloxona.[8][13][14][17]

​​ O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HSS) dos Estados Unidos e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) orientam os médicos a considerarem fortemente a coprescrição de naloxona com os opioides para os seguintes grupos:[13][18]​​​

  • Aqueles que recebem opioides em altas doses (equivalentes a 50 miligramas de morfina por dia, ou mais)

  • Pacientes com doenças respiratórias associadas ao sono, como apneia do sono

  • Aqueles com prescrição de benzodiazepínicos

  • Pacientes com história de transtorno por uso de bebidas alcoólicas ou substâncias não opioides

  • Aqueles com risco de voltarem a uma dose alta à qual tiverem perdido a tolerância (por exemplo, pacientes em retirada gradual ou que saíram da prisão recentemente).

O HSS também recomenda prescrever naloxona para os pacientes com transtorno de saúde mental e para aqueles que usam heroína ou opioides sintéticos ilícitos, que usam indevidamente os opioides prescritos e/ou que usam outras drogas ilícitas que possam estar contaminadas por opioides sintéticos (como a fentanila).[18] Nos EUA, a naloxona pode ser coprescrita para administração pelas vias intramuscular, intravenosa e subcutânea.[14]

Em alguns países (por exemplo, Inglaterra), a naloxona está disponível há bastante tempo sem prescrição e pode ser obtida por um familiar ou amigo de um usuário de heroína em risco, com o objetivo de salvar vidas em caso de emergência.[19] Nos EUA, o spray nasal de naloxona está aprovado para uso sem prescrição.

Observe que a naloxona disponível pode ser insuficiente para reverter uma superdosagem; pacientes, familiares e cuidadores devem ser orientados a chamar serviços de emergência imediatamente após o reconhecimento de uma superdosagem de opioide.[8]

Sempre que possível, deve-se evitar a coprescrição de opioides e benzodiazepínicos, já que seu uso concomitante aumenta o risco de superdosagem potencialmente fatal.[13][20][21]

Deve-se ter extremo cuidado ao prescrever e usar adesivos de fentanila devido ao aumento do risco de superdosagem grave e fatal.[22] Relatos de superdosagem estão relacionados a erros de dosagem, exposição acidental e exposição de um adesivo a uma fonte de calor (incluindo aumento da temperatura corporal resultante de febre). As crianças estão particularmente em risco de exposição acidental (por exemplo, um adesivo parcialmente destacado pode ser transferido de um adulto para uma criança durante o sono ou uma criança pode pensar que os adesivos são adesivos ou tatuagens).[23] Pacientes e cuidadores devem, portanto, receber orientações claras sobre como armazenar, usar e descartar os adesivos com segurança.

Caso os médicos suspeitem de transtorno relacionado ao uso de opioides, devem avaliar o paciente usando os critérios do DSM-5-TR.[24]​ Os médicos devem discutir suas preocupações com os pacientes sem julgamentos e permitir que o paciente revele as questões relacionadas. O transtorno relacionado ao uso de opioides pode coexistir com outros transtornos por uso de substâncias; portanto, os médicos devem perguntar sobre o uso de bebidas alcoólicas e outras substâncias.[13]

Deve-se providenciar medicação baseada em evidências para aqueles com transtorno relacionado ao uso de opioides; isso foi associado a reduções nos riscos de superdosagem e de mortes em geral. A desintoxicação somente, sem medicamentos para o transtorno relacionado ao uso de opioides, não é recomendada devido aos riscos elevados de retomada do uso do medicamento, superdosagem e mortes relacionadas à superdosagem.[13] O tratamento assistido por medicação (o uso de medicamentos em combinação com aconselhamento e terapias comportamentais) pode evitar a superdosagem de opioides em pessoas com transtorno relacionado ao uso de opioides.[8]

Caso os médicos não possam fornecer o medicamento por si, ele deve ser providenciado para os pacientes que recebem assistência de outro profissional apropriado. Nos EUA, ele pode ser um especialista em transtornos por uso de substâncias ou um programa certificado de tratamento de opioides da Substance Abuse and Mental Health Services Administration.[13]

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