Prevenção primária

Vacinas

Até 2022, não havia vacina disponível contra o vírus sincicial respiratório (VSR). As dificuldades enfrentadas durante o desenvolvimento da vacina contra VSR incluem: imunidade protetiva inefetiva decorrente da infecção natural; dificuldade para se estabelecerem métricas de desfechos para avaliar a resposta à vacina; necessidade de análises de segurança rigorosas devido à maior gravidade da doença causada por uma candidata a vacina contra VSR inativada por formol na década de 1960.[59]

Em 2023, as primeiras duas vacinas para prevenção do VSR foram aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA e pela European Medicines Agency (EMA). A primeira vacina (conhecida comercialmente como Arexvy®) é um antígeno de glicoproteína F recombinante específico para VSR estabilizado na conformação pré-fusão (RSVPreF3), combinado com o sistema adjuvante AS01E. A segunda vacina (conhecida comercialmente como Abrysvo®) é uma vacina bivalente à base da estrutura pré-fusão da proteína F do VSR (RSVpreF).

Tanto a Abrysvo® quanto a Arexvy® estão aprovadas para a imunização ativa de adultos ≥60 anos de idade para a prevenção da doença do trato respiratório inferior causada pelo VSR. A Arexvy® também está provada pela FDA e pela EMA para a prevenção de doença do trato respiratório inferior por VSR em adultos com idade entre 50-59 anos que têm aumento do risco.

A Abrysvo® é recomendada para uso em gestantes entre 32 e 36 semanas de gestação, com administração sazonal (isto é, durante setembro até o fim de janeiro na maior parte dos EUA continentais) para fornecer proteção passiva contra a doença do trato respiratório inferior causada pelo VSR em lactentes do nascimento até os 6 meses de idade.[60][61]​​​​

Em grandes ensaios clínicos randomizados e controlados realizados com adultos ≥60 anos de idade, as vacinas proporcionaram mais de 70% de eficácia na prevenção da infecção por VSR e mais de 90% de eficácia contra a doença grave, quando administrada por via intramuscular em dose única antes da temporada de VSR, com um bom perfil de segurança.[62][63]​​​​​​ Ainda não há dados adicionais disponíveis sobre a possível necessidade de repetição anual da dose.

Quando gestantes entre 24 e 36 semanas de gestação receberam uma dose da RSVpreF, a eficácia para a prevenção de infecção por VSR em seus lactentes até 6 meses de idade foi de 50%, e para a prevenção de doença grave por VSR em lactentes até 6 meses de idade foi de quase 70%, em comparação com lactentes de mães que receberam placebo. Taxas um pouco mais altas de proteção contra a infecção e a doença grave foram observadas nos primeiros 3 meses de vida dos lactentes filhos das mães vacinadas.[64]​ Uma revisão sistemática de 2024 que incluiu seis ECRCs (25 relatos de estudos) e comparou a vacinação contra VSR com placebo em 17,991 gestantes concluiu que a vacinação contra VSR durante a gestação reduz as hospitalizações por VSR em lactentes e tem pouco ou nenhum efeito sobre o risco de malformações congênitas.[65] [ Cochrane Clinical Answers logo ]

Em 2024, a FDA e a EMA também aprovaram uma vacina de RNAm (comercialmente conhecida como Mresvia®) para proteger adultos com ≥60 anos de idade da doença do trato respiratório inferior causada por infecção pelo VSR. A vacina contém uma sequência de RNAm que codifica a glicoproteína F do VSR estabilizada na conformação pré-fusão. Essa glicoproteína, essencial para a entrada do vírus nas células hospedeiras, é expressada na superfície do vírus. A conformação pré-fusão da proteína F é um alvo significativo para anticorpos neutralizantes potentes e é altamente conservada nos subtipos VSR-A e VSR-B.

Dados do ensaio clínico de fase 3 ConquerRSV, que envolveu 35,541 adultos com ≥60 anos de idade em 22 países, mostraram uma eficácia de 83.7% da vacina de RNAm em relação à doença do trato respiratório inferior associada ao VSR, com pelo menos dois sinais ou sintomas, e de 82.4% em relação à doença, com pelo menos três sinais ou sintomas, ao longo de um acompanhamento mediano de 3.7 meses.[66]

Imunoprofilaxia

O palivizumabe e o nirsevimabe são anticorpos monoclonais direcionados a alvos na proteína F do VSR e estão aprovados para a imunoprofilaxia do VSR em lactentes e crianças. O nirsevimabe é um anticorpo monoclonal desenvolvido para se ligar à proteína F do VSR pré-fusão e com uma região Fc desenvolvida para prolongar sua meia-vida. As alterações melhoram a eficácia do medicamento (com estudos iniciais que demonstram que o risco de hospitalização por VSR diminui em até 80%, em comparação com cerca de 50% de redução do risco de hospitalização com o uso do palivizumabe) e oferecem a vantagem de precisar apenas de uma dose intramuscular (em comparação com 5 doses com o palivizumabe).[67][68]

Palivizumabe

O palivizumabe foi o primeiro anticorpo monoclonal indicado para a prevenção de doença grave do trato respiratório inferior causada pelo VSR em lactentes e crianças de alto risco. Ele ainda está aprovado nos EUA e na Europa.

​A imunoprofilaxia com palivizumabe para bebês de alto risco reduziu as internações hospitalares em 45% a 55% e foi associada a uma redução na mortalidade por todas as causas.[69][70]​​​​​​ A necessidade de injeções frequentes e seu custo limitaram seu uso em grande escala.[71]

Atualmente, as indicações de uso do palivizumabe se baseiam na escassez do nirsevimabe. Não há indicação conhecida para o uso do palivizumabe quando o nirsevimabe está disponível, devido ao custo mais baixo, a administração mais fácil e a provável maior eficácia do nirsevimabe. Nem​​​ o palivizumabe nem o nirsevimabe são indicados para o tratamento da infecção por VSR ativa.[72]

Nirsevimabe

O nirsevimabe é um anticorpo monoclonal inibidor de fusão direcionado à proteína de fusão do VSR de ação prolongada, indicado para a prevenção da doença do trato respiratório inferior por VSR em pacientes pediátricos. Ele está aprovado nos EUA e na Europa. Nos EUA ele está aprovado para crianças de até 19 meses de idade. Na Europa ele está aprovado para crianças de até 24 meses de idade. O nirsevimabe tem uma meia-vida estendida, e seu objetivo é proteger os lactentes por uma temporada completa de VSR com uma única dose intramuscular.[73]

A American Academy of Pediatrics (AAP) recomenda que todos os lactentes, especialmente aqueles de alto risco, recebam uma dose única de nirsevimabe. Especificamente a AAP e o Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomendam uma dose única de nirsevimabe para:[74][75][76]

  • Todos os lactentes <8 meses de idade nascidos durante ou iniciando sua primeira temporada de VSR

  • Lactentes e crianças com 8-19 meses de idade que têm aumento do risco de doença grave e estão entrando em sua segunda temporada de VSR

Essas recomendações foram alteradas para a temporada 2022-2023 devido a problemas na cadeia de suprimentos, mas continuam sendo as recomendações do ACIP quando o suprimento necessário de nirsevimabe está disponível.

​​Em bebês prematuros saudáveis, nirsevimabe resultou em um número menor de hospitalizações por infecção do trato respiratório inferior associadas ao VSR em comparação com um placebo.[67]​ Um estudo de fase 3 revelou que uma dose única de nirsevimabe forneceu proteção contra infecção do trato respiratório inferior associada ao VSR quando administrada a lactentes prematuros e a lactentes nascidos a termo saudáveis antes de uma temporada de VSR.[68]​ A segurança e a eficácia de nirsevimabe foram respaldadas por três ensaios clínicos que constataram que nirsevimabe reduziu o risco de infecção do trato respiratório inferior por VSR em, aproximadamente, 70% a 75% em relação ao placebo.[68][77][78][79]​​ Os resultados iniciais de um estudo longitudinal de base populacional realizado na Espanha mostram que o nirsevimabe reduziu consideravelmente as hospitalizações de lactentes por ITRI associada ao VSR, ITRI grave associada ao VSR exigindo oxigênio e ITRI por todas as causas, quando administrado em condições do mundo real.[80]

Prevenção secundária

Lavar as mãos em ambientes clínicos e não clínicos é importante.[2] O ato de lavar as mãos e lavar brinquedos compartilhados é importante para todos os membros da família e contatos próximos para limitar a disseminação da infecção pelo vírus sincicial respiratório (VSR).

Os pacientes que precisam de internação devem ser colocados em isolamento com indicação de precauções de contato.[8] O uso adequado de barreiras, como jalecos, luvas e máscaras, é eficaz se gotículas respiratórias maiores estiverem presentes e devem ser usados no tratamento desses pacientes.[151][152][153][154] Uma máscara respiratória N95 não é necessária e não é mais eficaz que uma simples máscara cirúrgica.[35][91][155]​ O rastreamento para VSR nos pacientes suspeitos permite o agrupamento e o isolamento dos pacientes com infecção confirmada, limitando a disseminação adicional do vírus.[91]

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