Etiologia
A etiologia mais provável para síndromes epilépticas tipo ausência é genética, com hereditariedade multifatorial complexa.[22] Um estudo publicado em 1991 avaliou 671 parentes de primeiro grau de 151 pacientes com epilepsia do tipo ausência da infância (EAI) ou epilepsia do tipo ausência juvenil (EAJ). Dentre eles, 4.9% tinham alguma forma de epilepsia, com um terço dos parentes afetados apresentando crise de ausência. É importante observar que isso não corresponde aos 25% de chance esperada de herdar um distúrbio autossômico recessivo.[23]
As epilepsias com crises de ausência atípica, como a síndrome de Lennox-Gastaut, podem ser decorrentes de diversos transtornos cerebrais congênitos ou adquiridos, como hipóxia-isquemia, trauma, infecção do sistema nervoso central (SNC), malformações corticais ou defeitos congênitos do metabolismo.
Fisiopatologia
O entendimento atual da patogênese das crises de ausência se baseia em modelos animais que geram descargas de espícula-onda generalizadas no eletroencefalograma (EEG). Um circuito de reverberação entre o tálamo e o córtex é a base desse modelo, com a hipótese de que oscilações rítmicas aberrantes são geradas no circuito, como um mecanismo análogo ao que gera os fusos do sono normais. O núcleo retículo-talâmico do tálamo tem sido particularmente envolvido e contém uma predominância de interneurônios inibitórios contendo ácido gama-aminobutírico (GABA). Nesse caso, a atividade mediada por GABA pode desencadear crises de ausência induzindo a hiperpolarização prolongada e ativando correntes de Ca^2+ de baixo limiar.[24][25] O conceito de canais de cálcio "tipo T" ou de "baixo limiar" desempenhando um papel importante nas crises de ausência é apoiado pela responsividade de crises de ausência típica a medicamentos como etossuximida, que bloqueiam esses canais.
Vários estudos foram realizados para tentar identificar um único locus gênico para a epilepsia do tipo ausência da infância (EAI), epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) ou epilepsias generalizadas (EGs) em geral. A maioria dos genes identificados associados às EGs que envolvem crises de ausência é para tipos diferentes de canais de íons (canalopatias). Um gene para um componente do receptor de GABA^A foi implicado em uma grande família de EMJ com herança autossômica dominante.[26] Até o momento, a EAI tem sido associada a defeitos na subunidade gama 2 e na subunidade alfa-1A do canal Ca^2+ dependente de voltagem (CACNA1A) do receptor do GABA^A, entre outros.[25][27] Mutações em um gene que codifica o canal de cloreto CLC-2 dependente de voltagem têm sido associadas à EAI, à epilepsia do tipo ausência juvenil (EAJ) e à EMJ.[28] Estudos demonstraram que um loci no cromossomo 6p e no cromossomo 15q pode predispor para a EMJ; o 15q mapeia para a subunidade alfa-7 do receptor nicotínico de acetilcolina neuronal (CHRNA7).[27] Alguns casos de epilepsia tipo ausência de início precoce têm sido atribuídos a mutações no transportador de glicose GLUT1.[29]
Classificação
Classificação de convulsões da International League Against Epilepsy (ILAE)[3][4]
Convulsões de início generalizado
Motoras
Tônico-clônicas
Clônicas
Tônicas
Mioclônica
Mioclônico-tônico-tônicas
Mioclônico-atônicas
Atônicas
Espasmos epilépticos
Não motoras (ausência)
Típica
Atípica
Ausência mioclônica
Mioclonia palpebral
Convulsões de início focal
Convulsões de início desconhecido
Síndromes eletroclínicas e outras epilepsias[5]
Síndromes eletroclínicas ordenadas por idade de início
Período neonatal
Crises neonatais familiares benignas (CNFB)
Encefalopatia mioclônica precoce (EMP)
Síndrome de Ohtahara
Lactente
Epilepsia do lactente com crises focais migratórias
Síndrome de West
Epilepsia mioclônica do lactente (EML)
Epilepsia infantil benigna
Epilepsia infantil familiar benigna
Síndrome de Dravet
Encefalopatia mioclônica em distúrbios não progressivos
Infância
Convulsões febris plus
Síndrome de Panayiotopoulos
Epilepsia com crises mioclônico-atônicas (previamente astáticas)
Epilepsia benigna com espículas centrotemporais (EBPC)
Epilepsia do lobo frontal noturna autossômica dominante (ELFNAD)
Epilepsia occipital da infância de início tardio (tipo Gastaut)
Epilepsia com ausências mioclônicas
síndrome de Lennox-Gastaut
Encefalopatia epiléptica com espícula-onda contínua durante o sono (POCS)
Síndrome de Landau-Kleffner (SLK)
EAI
Adolescência
EAJ
Epilepsia mioclônica juvenil (EMJ)
Epilepsia com crises tônico-clônicas generalizadas isoladas
Epilepsias mioclônicas progressivas
Epilepsia autossômica dominante com características auditivas
Outras epilepsias do lobo temporal familiares
Relação com a idade menos específica
Epilepsia focal familiar com focos variáveis (da infância à fase adulta)
Epilepsias reflexas
Constelações distintas
Epilepsia do lobo temporal mesial com esclerose hipocampal (ELTM com EH)
Síndrome de Rasmussen
Crise gelástica com hamartoma hipotalâmico
Epilepsia com hemiconvulsão e hemiplegia
Epilepsias atribuídas e organizadas por causas estruturais/metabólicas
Malformações do desenvolvimento cortical
Síndromes neurocutâneas
Tumor
Infecção
Trauma
Angioma
Danos perinatais
Acidente vascular cerebral (AVC)
Epilepsias de causa desconhecida
Afecções com crises epilépticas que, tradicionalmente, não são diagnosticadas como uma forma de epilepsia em si
Convulsões neonatais benignas
Convulsões febris (CF)
Comissão da International League Against Epilepsy (ILAE) de 1989: critérios de inclusão para epilepsia do tipo ausência da infância[6]
Critérios de inclusão:
Crianças em idade escolar (manifestações de intensidade máxima aos 6 a 7 anos)
Ausências muito frequentes (algumas a muitas por dia)
Eletroencefalograma (EEG) com espícula-ondas bilaterais, síncronas e simétricas, geralmente em 3 Hz
O desenvolvimento de crises tônico-clônicas generalizadas geralmente ocorre durante a adolescência.
Um conjunto mais rígido de critérios de inclusão e exclusão foi proposto, mas não é amplamente aceito.[7] Há também um debate sobre sua distinção em relação à EAJ.
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