Abordagem
O diagnóstico se baseia na alta suspeita clínica e no isolamento do patógeno de locais clinicamente estéreis.[8][40]
Deve-se considerar qualquer história de consumo de alimentos contaminados, como carne de vaca, de porco ou de frango malcozidas, leite não pasteurizado e seus derivados, queijos frescos, legumes e verduras crus e restos de alimentos, sobretudo por membros de populações de alto risco (idosos, gestantes e pessoas imunocomprometidas).
Os neonatos de mães infectadas sofrem risco de transmissão vertical, seja por via transplacentária ou por meio do contato com canal vaginal infectado.[30][31]
Avaliação clínica
A doença invasiva em pessoas imunocompetentes é rara. Os hospedeiros de fezes assintomáticas possuem prevalência de até 5% na população geral. Quando adultos saudáveis estiverem sintomaticamente infectados, o quadro clínico mimetiza a gastroenterite febril, que ocorre esporadicamente ou na forma de epidemia.[5][31][32][35]
Em pessoas com risco de infecção sistêmica, os sintomas e sinais de bacteremia e sepse incluem febre, calafrios, hipotensão e cefaleia. Isso exige hemoculturas antes do início da antibioticoterapia. O sopro cardíaco deve levantar suspeitas de endocardite. Pode haver a presença de sinais e sintomas de meningite, abscesso cerebral ou meningoencefalite, com déficits no nervo craniano, rigidez de nuca, estado mental alterado e sinais cerebelares ou neurológicos focais. Pode ocorrer encefalite do tronco encefálico grave (romboencefalite) com alta frequência de danos no nervo craniano e morte. Nessas condições, também é possível observar convulsões.
Neonatos, adultos com mais de 45 a 50 anos de idade e gestantes podem apresentar um quadro clínico atípico, como mal-estar.[1][2][9] As gestantes podem ter sintomas tipo gripe (letargia, febre, artralgias, mialgias, calafrios, fadiga, diarreia, vômitos e dor abdominal).[2] Os neonatos podem apresentar baixa aceitação alimentar. Indicações de corioamnionite por Listeria (como febre intraparto) são um achado frequente em casos de infecção neonatal.[2][4]
Não há necessidade de testar uma gestante assintomática que relata consumo de um produto que foi recolhido ou implicado em decorrência de contaminação por Listeria. Gestantes assintomáticas devem ser investigadas apenas quando apresentam sintomas dentro de 2 meses após consumo de um alimento contaminado.[22]
Exames laboratoriais
Considerações gerais:
O hemograma completo é útil para detectar leucocitose ou trombocitopenia. Plaquetopenia pode indicar coagulação intravascular disseminada (CIVD).
Em seguida, podem-se realizar estudos de coagulação e dímero D em caso de suspeita de CIVD.
Deve-se considerar um teste de gravidez urinário em qualquer mulher em idade fértil, já que a listeriose pode se apresentar em qualquer trimestre.
Em casos de surtos ou de infecções esporádicas graves, deve-se analisar alimentos suspeitos.
Nos pacientes com gastroenterite, deve-se solicitar coproculturas, sorologias ou detecção de ovos/parasitas de acordo com a suspeita clínica, a fim de descartar outros patógenos. Exames de fezes para pesquisa de ovos e parasitas, ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) ou testes de aglutinação geralmente serão negativos para outros patógenos, como Campylobacter jejuni ou Cryptosporidium.
Isolamento de organismos:
O diagnóstico inicial da listeriose é feito por meio do isolamento do patógeno de locais clínicos normalmente estéreis (sangue, líquido cefalorraquidiano [LCR], líquido amniótico, placenta ou líquido fetal).[1][5] As hemoculturas geralmente têm uma sensibilidade que varia de 0% na doença não invasiva a 75% na infecção sistêmica.[1]
O sucesso do isolamento de locais não estéreis é variável. As coproculturas podem ser positivas em 5% da população assintomática saudável e em até 87% em surtos de gastroenterite febril devidos à Listeria.[1]
As amostras dos sítios normalmente estéreis, como o LCR, podem ser diretamente inoculadas em ágar tríptico de soja, o qual contém 5% de sangue de ovelha, cavalo ou coelho. As culturas de LCR são positivas em 20% a 40% das infecções no sistema nervoso central (SNC).[1][6][7][32]
Punção lombar:
Os testes do LCR são realizados nos pacientes que se apresentam com sinais e sintomas de infecção no SNC, geralmente após imagens cranianas. Geralmente, a contagem leucocitária do LCR é de <5000 células/mm³ e a concentração de proteínas é de <2 g/L (<200 mg/dL). Durante o início da infecção no SNC, o LCR pode estar normal; nesse caso, deve-se repetir a punção lombar em 12 a 24 horas.
A coloração de Gram do LCR é importante para o diagnóstico em até 75% dos pacientes com meningite por Listeria.[1][5] Em virtude da semelhança do patógeno com difteroides ou pneumococos e da sua tendência a se tornar excessivamente descolorado, a especificidade da coloração de Gram é reduzida.
Testes de alimentos:
Amostras de alimentos que contêm mais de 100 unidades formadoras de colônia (UFC)/g de espécies de Listeria requerem investigação.[37] O nível de contaminação alimentar pode ser avaliado pela enumeração direta do organismo em meio sólido seletivo. A Listeria forma colônias azuis esverdeadas no meio de isolamento cromogênico de Listeria, devido à atividade de beta-glicosidase. A confirmação de colônias deve ser feita por reação em cadeia da polimerase.[37]
Listeriose perinatal:
Confirmada através de culturas da placenta, do líquido amniótico, de fezes e de swab cervical.
A coloração de Gram e a cultura de mecônio podem contribuir para o diagnóstico da listeriose neonatal.[27][28][31]
Outros exames laboratoriais:
Sorologias de Listeria: baixa especificidade devido à reatividade cruzada dos antígenos com outras bactérias Gram-positivas; e baixa sensibilidade, sobretudo no início da infecção.[1][27][28] Solicitada em caso de suspeita de um surto.
Reação em cadeia da polimerase do sangue: requer um centro de diagnóstico especializado, mas oferece alta sensibilidade e especificidade e pode ser usada em casos nos quais o valor diagnóstico das hemoculturas seja baixo devido à administração prévia de antibióticos.
Imagens e estudos fisiológicos
As imagens da infecção do SNC incluem tomografia computadorizada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM) para descartar lesões estruturais.
A TC do cérebro geralmente é feita antes da punção lombar. Na meningite, meningoencefalite e mais especificamente nas infecções do tronco encefálico, a TC do cérebro é inferior em comparação com a RNM relativamente ao diagnóstico.[6][7][32]
Em caso de suspeita de endocardite, deve-se considerar uma ecocardiografia para avaliar o comprometimento valvar. Pode-se fazer um eletroencefalograma (EEG) na presença de convulsões ou de condições complicadoras.
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