O tratamento da deformidade de pé torto começa com o reconhecimento da deformidade e o encaminhamento do paciente a um cirurgião ortopédico pediátrico familiarizado com tratamento não cirúrgico. O método Ponseti é a abordagem mais comum e, atualmente, a mais usada ao redor do mundo.[12]Dobbs MB, Gurnett CA. Update on clubfoot: etiology and treatment. Clin Orthop Relat Res. 2009 May;467(5):1146-53.
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[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
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[33]Bina S, Pacey V, Barnes EH, et al. Interventions for congenital talipes equinovarus (clubfoot). Cochrane Database Syst Rev. 2020 May 15;5:CD008602.
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As diretrizes recomendam que o paciente seja tratado por um cirurgião ortopédico pediátrico experiente, com treinamento no método Ponseti.[21]Cady R, Hennessey TA, Schwend RM. Diagnosis and treatment of idiopathic congenital clubfoot. Pediatrics. 2022 Feb;149(2):e2021055555.
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[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
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No entanto, o tratamento com um fisioterapeuta pode ser igualmente efetivo. A avaliação do quadril pode ser realizada ao mesmo tempo.
Os resultados poderão ser insuficientes se o método Ponseti não for implementado corretamente.
Há outros métodos não cirúrgicos disponíveis, mas não são tão comumente usados.[34]Janicki JA, Narayanan UG, Harvey BJ, et al. Comparison of surgeon and physiotherapist-directed Ponseti treatment of idiopathic clubfoot. J Bone Joint Surg Am. 2009;91-A:1101-1108.
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[35]Faulks S, Richards BS. Clubfoot treatment: Ponseti and French functional methods are equally effective. Clin Orthop Relat Res. 2009;467:1278-1282.
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[36]Richards BS, Faulks S, Rathjen KE, et al. A comparison of two nonoperative methods of idiopathic clubfoot correction: the Ponseti method and the French functional (physiotherapy) method. J Bone Joint Surg Am. 2008;90-A:2313-2321.
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Tala
A primeira tala é aplicada com material de bandagem de gesso, com o antepé em supino e leve abdução.[38]Pittner DE, Klingele KE, Beebe AC. Treatment of clubfoot with the Ponseti method: a comparison of casting materials. J Pediatr Orthop. 2008;28:250-253.
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Em seguida, a manipulação e a colocação de tala são repetidas a cada 4 a 7 dias até se obter a correção completa.[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
https://bscos.org.uk/consensus/consensus/clubfoot.php
A abdução subsequente é aumentada.
A primeira tala melhora as deformidades em cavo e em varo. As talas restantes corrigem a deformidade em varo e, por fim, em equino (que é corrigida por último). Geralmente, são necessárias de 4 a 6 talas, mas, caso sejam necessárias mais de 6 ou 7, o médico deve buscar um encaminhamento.[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
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[39]Morcuende JA, Abbasi D, Dolan LA, et al. Results of an accelerated Ponseti protocol for clubfoot. J Pediatr Orthop. 2005;25:623-626.
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A colocação de talas é indicada ocasionalmente para pé torto postural (não um verdadeiro pé torto), mas são necessárias apenas 1 ou 2 talas. Geralmente, não é necessária analgesia.
Tenotomia de Aquiles
Em >85% dos pacientes, a melhora da contratura em equino não ocorre de maneira aceitável, sendo necessário realizar uma tenotomia percutânea.[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
https://bscos.org.uk/consensus/consensus/clubfoot.php
Em seguida, ocorre uma melhora de 20° a 25° adicionais na dorsiflexão. A última tala é colocada em abdução e dorsiflexão por 3 semanas.[40]Scher DM, Feldman DS, van Bosse HJ, et al. Predicting the need for tenotomy in the Ponseti method for correction of clubfeet. J Pediatr Orthop. 2004;24:349-352.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15205613?tool=bestpractice.com
Isso pode ser realizado em uma clínica sob anestesia local ou no centro cirúrgico sob anestesia geral.[41]Agius L, Wickham A, Walker C, et al. Achilles tenotomy as an office procedure and current practising trends among New Zealand orthopaedic surgeons. N Z Med J. 2018 May 18;131(1475):44-50.
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[42]Lebel E, Karasik M, Bernstein-Weyel M, et al. Achilles tenotomy as an office procedure: safety and efficacy as part of the Ponseti serial casting protocol for clubfoot. J Pediatr Orthop. 2012 Jun;32(4):412-5.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22584844?tool=bestpractice.com
Órteses
Após a manipulação/colocação de talas e tenotomia de Aquiles, é necessário colocar órteses nos pacientes e deixá-las em tempo integral por 3 meses e, em seguida, durante as noites/cochilos até os 5 anos de idade.[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
https://bscos.org.uk/consensus/consensus/clubfoot.php
Há muitas órteses no mercado, inclusive a órtese Ponseti com sapatos Mitchell, barras Denis Browne com sapatos Markell ou órteses dinâmicas como a barra Dobbs.[43]Chen RC, Gordon JE, Luhmann SJ, et al. A new dynamic foot abduction orthosis for clubfoot treatment. J Pediatr Orthop. 2007 Jul-Aug;27(5):522-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17585260?tool=bestpractice.com
Elas permitem extensão ativa e flexão em um único plano. As órteses tornozelo-pé têm inserções moldadas personalizadas. A órtese dinâmica para abdução do pé inclui recursos que facilitam a aplicação do dispositivo pelos pais.[43]Chen RC, Gordon JE, Luhmann SJ, et al. A new dynamic foot abduction orthosis for clubfoot treatment. J Pediatr Orthop. 2007 Jul-Aug;27(5):522-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17585260?tool=bestpractice.com
Os sapatos são aplicados no calcanhar, com distância medida pela largura dos ombros, com o lado afetado rotacionado externamente a 70° e o lado não afetado rotacionado externamente a 40° (se a deformidade for unilateral).[22]British Society for Children’s Orthopaedic Surgery (BSCOS). Management of clubfoot deformity in children up to walking age. Jul 2021 [internet publication].
https://bscos.org.uk/consensus/consensus/clubfoot.php
Recidiva
O primeiro sinal de recidiva é o desenvolvimento de equino, ou um tendão de Aquiles rígido. Uma pisada voltada para dentro desenvolve-se com uma adução aumentada do antepé, varo do calcanhar e perda do apoio do calcanhar.[21]Cady R, Hennessey TA, Schwend RM. Diagnosis and treatment of idiopathic congenital clubfoot. Pediatrics. 2022 Feb;149(2):e2021055555.
https://publications.aap.org/pediatrics/article/149/2/e2021055555/184569/Diagnosis-and-Treatment-of-Idiopathic-Congenital
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35104362?tool=bestpractice.com
O principal motivo da recidiva é não aderir ao tratamento com as órteses.[21]Cady R, Hennessey TA, Schwend RM. Diagnosis and treatment of idiopathic congenital clubfoot. Pediatrics. 2022 Feb;149(2):e2021055555.
https://publications.aap.org/pediatrics/article/149/2/e2021055555/184569/Diagnosis-and-Treatment-of-Idiopathic-Congenital
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35104362?tool=bestpractice.com
[44]Staheli L, ed. Clubfoot: Ponseti management, 3rd ed. Seattle, WA: Global HELP; 2009.
http://www.global-help.org/publications/books/help_cfponseti.pdf
As recidivas devem ser tratadas primeiramente com novas talas para recuperar a correção, seguidas por órteses como anteriormente. A agenda de acompanhamento deve incluir verificações da adesão terapêutica e da recidiva.
A transposição do tendão tibial anterior pode ser necessária em cerca de 30% dos pés tortos tratados pelo método Ponseti. Geralmente, é realizada com metatarso varo dinâmico (quando as crianças não estão andando, o pé parece reto; quando começam a andar, observa-se supinação do antepé).[44]Staheli L, ed. Clubfoot: Ponseti management, 3rd ed. Seattle, WA: Global HELP; 2009.
http://www.global-help.org/publications/books/help_cfponseti.pdf
Talvez seja necessária uma tala adicional para corrigir deformidades fixas em crianças com recidiva. O tibial anterior tende a puxar o antepé em varo quando é acionado, e a transposição envolve o movimento do tendão para fora de sua inserção no cuneiforme medial. Em seguida, ele é transferido por baixo do retináculo e colocado em um furo no cuneiforme lateral.
Liberação póstero-medial e alongamento de tendão
Esta é considerada a cirurgia clássica de pé torto. Ela talvez precise ser usada em pacientes com comorbidades (por exemplo, poliomielite, paralisia cerebral), pois podem ser resistentes a tratamento não cirúrgico. Crianças mais velhas ou adolescentes que se apresentarem para tratamento também precisarão de cirurgia em vez de tratamento não cirúrgico.
Método francês
O método francês não é amplamente usado devido a grandes restrições de tempo.[21]Cady R, Hennessey TA, Schwend RM. Diagnosis and treatment of idiopathic congenital clubfoot. Pediatrics. 2022 Feb;149(2):e2021055555.
https://publications.aap.org/pediatrics/article/149/2/e2021055555/184569/Diagnosis-and-Treatment-of-Idiopathic-Congenital
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35104362?tool=bestpractice.com
Ele envolve estimulação diária dos músculos ao redor do pé e do tornozelo. Em seguida, é usado um adesivo não elástico para manter a correção obtida pela manipulação passiva. A continuação do tratamento se dá por 2 meses, seguidos por 6 meses de alongamento 3 dias por semana. Prossegue-se com a bandagem até que a criança comece a andar, seguida por imobilização noturna por 2 a 3 anos.