Etiologia

A hiperexcitabilidade neuronal central é subjacente à suscetibilidade e ao desenvolvimento de episódios de enxaqueca.[14][15] A ampla base de evidências para isso sugere uma causa multifatorial, com a implicação de aminoácidos, depleção de magnésio, canais de cálcio e genes controladores.

Fisiopatologia

Não há consenso absoluto sobre os mecanismos subjacentes à enxaqueca com ou sem aura. A enxaqueca com aura é inicialmente caracterizada por uma patognomônica oligoemia alastrante no córtex cerebral correspondente à área clinicamente afetada e, com frequência, além dela. A redução do fluxo sanguíneo geralmente acima do limite isquêmico começa na parte posterior e espalha-se na parte anterior, com uma transição gradual para a hiperemia ocorrendo na mesma região após um período de uma a várias horas.[1]

Os estudos publicados sobre a enxaqueca sem aura são discordantes quanto à possibilidade de que alterações no fluxo sanguíneo cerebral desencadeiem depressão alastrante cortical durante os ataques. Podem ocorrer alterações no fluxo sanguíneo do tronco encefálico, bem como alterações corticais secundárias à ativação da dor. Ondas gliais ou outros fenômenos corticais podem estar envolvidos na enxaqueca sem aura, e o óxido nítrico, a 5-hidroxitriptamina (5-HT) e o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) foram implicados como moléculas mensageiras. Uma vez considerados como entidades principalmente vasculares, os ataques podem se originar no sistema nervoso central com sensibilização das vias da dor em parte contributiva. O mecanismo da dor da enxaqueca está consistentemente ganhando definição, e a eficácia do tratamento com triptanos (agonistas do receptor 5-HT1B/D, agonistas do receptor 5-HT1F e agonistas do receptor de CGRP) fornece esclarecimentos adicionais sobre os mecanismos da enxaqueca.[1]

Classificação

Classificação Internacional das Cefaleias, 3ª edição (versão beta)[1]

A atualização de 2013 da Classificação Internacional das Cefaleias (ICHD) reestrutura a forma como os subtipos de enxaqueca são definidos, com a principal consideração atualmente sendo se a enxaqueca ocorre sem ou com aura. Muitos pacientes podem sofrer ambos os subtipos, que podem ser resumidos como se segue.

Enxaqueca sem aura

  • Um distúrbio de cefaleia recorrente com características específicas e sintomas associados. Pelo menos cinco ataques são necessários para confirmar o diagnóstico. Os episódios costumam durar 2 a 72 horas, e a cefaleia em crianças e adolescentes é geralmente frontotemporal e mais comumente bilateral que em adultos. A cefaleia occipital em crianças não é comum e requer cautela diagnóstica.

  • A dor unilateral geralmente surge no final da adolescência ou no início da fase adulta. A dor é tipicamente de caráter pulsátil, de intensidade moderada ou grave, agravada por atividades físicas de rotina e associada a náuseas/vômitos e/ou fonofobia e fotofobia. A fotofobia em crianças pequenas pode ser razoavelmente inferida com base no comportamento delas. Uma relação menstrual com os ataques pode se tornar evidente em adolescentes mais velhas.

Enxaqueca com aura

  • Uma síndrome caracterizada por ataques recorrentes (que duram alguns minutos) de sintomas visuais, unilaterais e sensoriais completamente reversíveis ou outros sintomas do sistema nervoso central que, em geral, se desenvolvem gradualmente e, depois, costumam ser seguidos por cefaleia e sintomas de enxaqueca associados. O desafio diagnóstico pode surgir na avaliação de crianças pequenas, que naturalmente podem ter dificuldades para articular sua sintomatologia e demandar mais esforços para serem examinadas com máxima precisão. A aura pode ser visual (mais comumente), sensorial, de fala e/ou linguagem, motora, tronco-encefálica ou retiniana. Cada uma dessas variações geralmente se dissemina de forma gradual ao longo de ≥5 minutos, e ocasionalmente podem ocorrer em sucessão duas ou mais auras que duram 5 a 60 minutos. Pelo menos um sintoma de aura é tipicamente unilateral e acompanhado ou seguido, em até 60 minutos, por cefaleia. Também pode haver sintomas premonitórios que talvez comecem horas ou um dia ou dois antes dos outros sintomas de ataque de enxaqueca (com ou sem aura) e incluem combinações de fadiga, dificuldade de concentração, rigidez de nuca, sensibilidade à luz e/ou ao som, náuseas, visão turva, bocejos e palidez.

  • Uma descrição completa de fenótipos clínicos (previamente descritos como entidades isoladas) abrangendo atualmente esse subtipo pode ser encontrada na descrição da ICHD e inclui apresentações antes descritas como enxaqueca clássica, oftálmica, basilar, hemiparestésica, hemiplégica ou afásica.

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