Abordagem
A suspeita de diagnóstico de abscesso anorretal geralmente provém da história clínica do paciente, sendo confirmada pelo exame físico. Exames laboratoriais e radiológicos geralmente não são necessários para o diagnóstico de abscesso anorretal, mas podem ser úteis em algumas situações especiais.
A localização de um abscesso anorretal afeta o seu diagnóstico e tratamento.[7] Abscessos interesfincterianos são difíceis de diagnosticar porque produzem pouco edema e poucos sinais de infecção perianal, mas estão associados com dor anal tão intensa que impossibilita o exame de toque retal. A anestesia é geralmente necessária para o exame e diagnóstico satisfatório da condição.[17] Abscessos supraelevadores podem se apresentar com sintomas que mimetizam uma condição intra-abdominal. O toque retal geralmente revela uma área sensível e endurecida acima do anel anorretal, no entanto, imagens de tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RNM) podem ser necessárias para fazer o diagnóstico.[10]
História
A presença de fatores de risco como história de doença de Crohn ou fístula anal deve ser aventada. Além disso, deve-se observar que os abscessos anorretais são mais comuns em homens que em mulheres.[4][14]
Pacientes com abscessos anorretais geralmente relatam uma história de dor anal localizada ou perianal.[2] A dor geralmente começa 1 a 2 dias antes da apresentação e se torna progressivamente mais intensa. Os pacientes frequentemente se queixam de edema e calor nos tecidos perianais. Ocasionalmente, o paciente pode relacionar o início a um evento precipitador, como uma evacuação difícil, embora a dor associada apenas com a evacuação seja provavelmente devida a uma fissura. A dor pode ser exacerbada pelo movimento, tosse, espirros ou evacuações. O paciente pode, frequentemente, tentar tomar banhos quentes para aliviar a dor, mas estes não melhoram ou pioram a dor. A maioria dos pacientes não relata sangramento retal, a menos que o abscesso tenha drenado espontaneamente (geralmente associado a um pouco de diminuição da dor). A febre é comum, sendo geralmente <38.6 ºC (101.5 ºF).
Pacientes com abscessos supraelevadores raros podem descrever dor no baixo abdome ou na pelve, mimetizando uma condição intra-abdominal.[10] Ocasionalmente, os pacientes com abscessos anorretais podem se queixar de não conseguir urinar, sobretudo homens com história pregressa de dificuldades de micção.[2][8] Sintomas de inflamação, dor e edema estão frequentemente ausentes ou reduzidos em pacientes com:[2]
Diabetes
Imunocomprometimento
Debilitação
Idade avançada
Infecção necrosante de partes moles associada.
Exame físico
Um exame anorretal satisfatório geralmente pode ser realizado no consultório ou pronto-socorro, embora, ocasionalmente, possa ser impossível por causa da dor. Pacientes com abscessos supraelevadores e interesfincterianos, em especial, requerem anestesia para a realização do exame completo.
O achado mais comum no exame físico é uma área sensível e endurecida imediatamente adjacente ao ânus, no canal anal ou acima do anel anorretal.[2] Quanto mais afastada a área endurecida estiver da borda anal, menos provável será um abscesso anorretal. A fístula anal associada a abscessos anorretais pode ter uma estrutura dura, do tipo cordão, em direção ao ânus e palpável nos tecidos moles. Cistos de inclusão epidérmica infectados são muito mais prováveis quando a área endurecida estiver mais de 3 cm afastada da borda anal, ao passo que a doença pilonidal é mais frequente quando o endurecimento está localizado na região interglútea.
Ocasionalmente, a infecção pode se disseminar e envolver tanto a fossa isquiorretal quanto o espaço pós-anal (abscesso em forma de ferradura), apesar dos abscessos anorretais serem quase sempre isolados. O endurecimento nos abscessos em forma de ferradura pode ser mais acentuado na fossa isquiorretal e parecer com abscessos bilaterais.[18] Se múltiplos abscessos estiverem presentes, é muito mais provável que o diagnóstico seja de múltiplos cistos de inclusão epidermoide infectados ou hidradenite supurativa perianal.
Pode haver ausência ou redução da induração em idosos, pacientes com diabetes ou naqueles imunocomprometidos ou debilitados. A detecção de febre baixa e taquicardia leve também deve fazer parte do exame físico, visto que estes são sintomas comuns de abscesso anorretal.
Exames laboratoriais
Exames laboratoriais raramente ajudam no diagnóstico e tratamento de abscessos anorretais e não precisam ser um componente de rotina da avaliação e tratamento destes pacientes.[2]
Exames básicos incluem o seguinte.
Contagem leucocitária: frequentemente revela uma leucocitose com aumento da proporção de neutrófilos. Os abscessos anorretais não causam anemia ou outras anormalidades hematológicas.
Glicose sanguínea: pode mostrar hiperglicemia, que pode ou não estar associada com diabetes.
Em pacientes com infecção necrosante de partes moles relacionada com seu abscesso anorretal, a determinação dos eletrólitos séricos pode revelar ureia e creatinina elevadas, bicarbonato reduzido e aumento do deficit de base (acidose metabólica).
Geralmente, os resultados anormais da bioquímica sérica somente devem ser avaliados com mais profundidade depois de o abscesso agudo ter sido tratado, enquanto se abordam as considerações de tratamento urgente de forma aguda (por exemplo, depleção de volume, hiperglicemia).
No passado, alguns especialistas recomendavam a cultura do conteúdo do abscesso anorretal, supondo que a bacteriologia do abscesso pudesse predizer a presença de fístula anal associada.[19][20] A cultura do conteúdo do abscesso anorretal é reservada geralmente para pacientes com abscessos recorrentes sem fístula identificada, ou para aqueles com fatores de risco para uma das causas raras de abscesso anorretal, como vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou imunossupressão, ou para pacientes de uma região em desenvolvimento. Técnicas microbiológicas e de cultura específicas podem ser necessárias na identificação desses patógenos incomuns.[21][22]
Estudos radiológicos
Os estudos radiológicos raramente ajudam no diagnóstico e tratamento de abscessos anorretais. Ocasionalmente, em pacientes com apresentações complexas ou atípicas ou naqueles com abscessos supraelevadores ou em forma de ferradura, a ultrassonografia anal tem sido utilizada para avaliação. No entanto, a dor intensa associada com o abscesso anorretal frequentemente limita a utilização desta modalidade. Outras modalidades de imagens, como a TC ou a RNM, podem ser mais úteis na avaliação desses pacientes.[4][5][6][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Tomografia computadorizada (TC) demonstrando um abscesso perirretalDo acervo do Dr. C. Neal Ellis; usado com permissão [Citation ends].
O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal