Etiologia
A etiologia da leucoplasia oral é multifatorial, e algumas são idiopáticas. O fator de risco mais comumente associado é o uso do tabaco, fumado ou sem fumaça. Além disso, o uso de preparados com noz-de-areca em muitas partes do mundo (geralmente no sul e sudeste da Ásia) apresenta risco significativo, assim como o rapé e outras formas de tabaco sem fumaça. Há evidências fracas sobre o uso crônico (excessivo) de álcool como fator de risco para a leucoplasia oral. O papel da candidíase crônica foi associado ao desenvolvimento da leucoplasia: em especial, leucoplasia não homogênea. Isso está provavelmente relacionado ao alto potencial de nitrosação de algumas formas de cândida, o que sugere produção endógena de nitrosamina.[10] O hábito do fumo reverso (ponta acesa e retida dentro da boca) em algumas culturas pode produzir uma ampla variedade de lesões na mucosa oral, inclusive leucoplasia do palato. Nessas populações, tais leucoplasias apresentam 19 vezes mais risco de transformações malignas quando comparadas com aquelas em que o tabaco é utilizado de outras maneiras.[11] Ceratoses ou lesões brancas associadas à sanguinária também foram descritas e podem ser extensas e multifocais; elas podem assemelhar-se e ser incorretamente interpretadas como leucoplasia verrucosa proliferativa.[12] Nos casos de leucoplasia verrucosa proliferativa, uma forma multifocal e frequentemente recalcitrante de leucoplasia, os fatores de risco usuais relacionados à etiologia e ao risco de transformação maligna, tais como hábitos tabagistas e consumo de álcool, não se aplicam.[13][14] Perdas alélicas de alta frequência e perfis alélicos de alto risco foram observados na tentativa de justificar o alto risco de progressão para displasia e transformação maligna.[15]
Fisiopatologia
A mudança patológica primária presente na leucoplasia é a diferenciação epitelial anormal e a proliferação do crescimento com aumento da queratinização da superfície produzindo a aparência clínica de uma mucosa esbranquiçada. Isso pode ser acompanhado por alterações na espessura epitelial. Por exemplo, o epitélio pode apresentar atrofia ou acantose (camada espinhosa com espessamento), e ambas as características podem existir na mesma lesão. Na eritroleucoplasia, a aparência clínica de uma placa vermelha e branca mista é resultado da atrofia epitelial e da redução/ausência de queratina na superfície.
No entanto, na perspectiva de manejo clínico, as mudanças mais significativas são as da displasia epitelial que podem existir como componentes da proliferação e da diferenciação epitelial alteradas.
A base molecular subjacente para tais mudanças é incerta.[16] No entanto, existem alguns dados de pesquisas sobre formas pré-malignas de leucoplasia centradas em alterações genéticas na expressão de oncogenes/genes supressores de tumores que podem indicar transformação displásica ou servir como alvos diagnósticos ou terapêuticos.[17] Os outros fatores incluem a perda de queratinas relacionadas à diferenciação e antígenos de carboidratos.[18] O estresse oxidativo e o dano nitrosativo do ácido desoxirribonucleico (DNA) via produtos reativos de nitrogênio, como a óxido nítrico sintase induzível e os mecanismos relacionados à inflamação, também foram implicados na leucoplasia oral e em sua transformação para displasia e carcinoma.[19] Estudos de marcadores moleculares têm demonstrado que as lesões leucoplásicas apresentam aumento das células que se coram positivamente para p53 e do marcador de proliferação Ki67.[20] Vários estudos têm demonstrado outras alterações genéticas, inclusive alterações na expressão gênica da queratina, alteração no ciclo celular e aumentos na perda de heterozigosidade e aneuploidia na leucoplasia oral.[18][21][22][23] No entanto, o marcador mais crítico e útil para guiar o manejo clínico é a presença confirmada e a graduação da displasia epitelial em decorrência de sua relação com a transformação carcinomatosa.[24]
Classificação
Classificação clínica
Três tipos principais de leucoplasia oral são descritos clinicamente:
1. Leucoplasia oral homogênea[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Leucoplasia homogêneaCortesia do Dr. James Sciubba; usado com permissão [Citation ends].
Tipo mais comum
Apresenta-se como uma placa uniformemente branca
Ocorre principalmente na mucosa bucal ou na margem lateral da língua
Baixo potencial de transformação.
2. Leucoplasia não homogênea
Leucoplasia salpicada[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Leucoplasia salpicadaCortesia do Dr. James Sciubba; usado com permissão [Citation ends].
Menos comum
Mais grave que a forma homogênea
Consiste em manchas brancas ou nódulos finos em uma base eritematosa atrófica
O potencial maligno é mais forte que na leucoplasia homogênea
Considerada uma combinação ou transição entre leucoplasia e eritroplasia; daí, o novo termo eritroleucoplasia na nova classificação da Organização Mundial da Saúde.[5]
Leucoplasia nodular
Alterações ou excrescências pequenas, brancas ou vermelhas, arredondadas da superfície
Pode apresentar fundo ou substrato vermelho
O risco de displasia ou potencial maligno é maior que na leucoplasia homogênea.
3. Leucoplasia verrucosa proliferativa (LVP)[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Leucoplasia verrucosa proliferativaCortesia do Dr. James Sciubba; usado com permissão [Citation ends].
Tipo menos comum de leucoplasia oral
Alto risco de desenvolvimento de displasia intermediária e carcinoma
De natureza progressiva, generalizada e multifocal
Frequentemente afeta a gengiva
Alta taxa de recorrência após excisão e progressão histológica para carcinoma.
Causas das lesões orais brancas não leucoplásicas
Causas locais:
Matéria alba (resíduos resultantes de má higiene bucal)
Ceratoses (por exemplo, ceratose friccional [e mastigação de bochecha/lábios], ceratose do palato do fumante [leucoceratose nicotínica do palato])
Queimaduras químicas
Enxertos de pele
Cicatrizes
Língua pilosa
Distúrbios de queratinização do desenvolvimento/hereditária (por exemplo, nevo branco esponjoso).[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Leucoplasia associada ao uso de rapé (cheirado)Cortesia do Dr. James Sciubba; usado com permissão [Citation ends].
Neoplasias:
Carcinoma
Xantoma verruciforme.
Infecções:
Candidíase (candidíase: leucoplasia por Cândida)
Vírus Epstein-Barr (leucoplasia pilosa)
Sífilis (placas mucosas sifilíticas e ceratose)
Sarampo (manchas de Koplik).[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Leucoplasia por CandidaCortesia do Dr. James Sciubba; usado com permissão [Citation ends].
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Leucoplasia pilosa oralCortesia do Dr. James Sciubba; usado com permissão [Citation ends].
Doenças mucocutâneas:
Líquen plano
Lúpus eritematoso.
O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal