Abordagem

Os principais objetivos são descartar doença grave e/ou sistêmica e administrar terapia para obter alívio da dor, redução da duração da úlcera e diminuição da frequência dos episódios.[44]

O tratamento inicial consiste em opções simples, incluindo a mudança do creme dental do paciente para uma formulação sem lauril sulfato de sódio, enxaguante bucal antibacteriano (por exemplo, clorexidina) e alívio dos sintomas (por exemplo, lidocaína ou benzidamina tópica). Os pacientes devem ser instruídos a evitar alimentos reconhecidos como desencadeantes e bebidas e alimentos ácidos.[1]

Se medidas simples isoladamente não funcionarem para reduzir os sintomas, os corticosteroides tópicos continuam a ser a base do tratamento, juntamente com antimicrobianos tópicos adjuvantes, e podem reduzir o componente inflamatório. No entanto, se a estomatite aftosa recorrente (EAR) não responder a terapias tópicas, terapias sistêmicas talvez sejam necessárias.[3][45]

Para todos os pacientes, a possibilidade de trauma local (por exemplo, devido a dentes pontiagudos e/ou quebrados, próteses dentárias e aparelhos ortodônticos, e mordidas ao mastigar) deve ser avaliada e o tratamento odontológico apropriado realizado.[3] Algumas evidências mostram o benefício da vitamina B12, mesmo na ausência de alguma deficiência; a suplementação com vitamina B12 oral (cianocobalamina) tem sido eficaz em estudos, independentemente dos níveis séricos de B12.[46][47][48]

Considere suplementos de ferro se ocorrer anemia ferropriva.[37][49] No entanto, é importante considerar a causa da deficiência de ferro antes de tratá-la, porque muitas vezes isso pode ser o primeiro sinal de má absorção ou de sangramento oculto. A suplementação de ferro em adultos e crianças pode ser necessária para prevenir úlceras resultantes da anemia ferropriva. O tratamento inicial é a terapia oral de reposição diária de ferro.[49]

Terapias tópicas

Os corticosteroides tópicos são a base do tratamento quando medidas simples por si só não funcionarem para melhorar os sintomas. Uma variedade de agentes diferentes pode ser usada, incluindo uma pasta de corticosteroide (uma combinação de um corticosteroide tópico potente, como triancinolona e pasta dental), comprimidos bucais de hidrocortisona e comprimidos solúveis de betametasona.[50] Contudo, a pasta de corticosteroides pode ser de difícil obtenção em certas regiões. Corticosteroides tópicos mais potentes (como dipropionato de betametasona, clobetasol ou fluocinonida) também podem ser usados.[3] A duração do tratamento depende do caso, mas não existem evidências de supressão adrenal com corticosteroides de baixa potência.

As terapias tópicas para alívio dos sintomas podem ser benéficas. Elas incluem anestésicos tópicos (por exemplo, lidocaína) e agentes anti-inflamatórios tópicos como benzidamina.[51] Agentes antimicrobianos adjuvantes também podem ser de algum valor, em parte pela redução da infecção secundária. Eles podem reduzir a gravidade e a dor da ulceração. Por exemplo, os ensaios clínicos randomizados e controlados têm mostrado que a solução oral de clorexidina pode reduzir a duração da EAR e aumentar o número de dias sem úlcera.[52][53][54][55] As tetraciclinas tópicas usadas como enxágue também podem ser eficazes.[56][57] No entanto, elas devem ser compostas e evitadas em crianças com menos de 8 anos de idade, pois podem causar descoloração dos dentes.[58]

Terapias sistêmicas

Se a EAR não responder a terapias tópicas, terapias sistêmicas talvez sejam necessárias. No entanto, os estudos não avaliam sua eficácia (ou seus efeitos adversos).[59] Para pacientes com EAR grave, pode ser necessário um curto ciclo de corticosteroides sistêmicos, imunomoduladores sistêmicos ou agentes anti-inflamatórios, como colchicina, azatioprina ou talidomida.[1][3][45][60][61]

Prednisolona oral administrada por 1 semana, com redução da dose na segunda semana, é um esquema sugerido.[3]

O imunomodulador sistêmico de primeira linha usado na EAR e nas manifestações mucocutâneas da síndrome de Behçet é a colchicina.[62] Há poucas evidências para dar suporte ao uso de azatioprina.

A talidomida raramente é usada; é necessária muita cautela para seu uso, recomendando-se o encaminhamento e a prescrição por especialistas.[1][3] Entretanto, o uso de talidomida na EAR é apoiado por dados tanto na EAR quanto em pacientes com ulceração aftosa na infecção por HIV.[63][64] Nesses grupos de pacientes, estudos abertos e duplo-cegos têm mostrado que a talidomida é o agente efetivo disponível para o manejo de EAR refratária grave.[6][60] A talidomida nunca deveria ser seria iniciada na atenção primária - há uma legislação rígida sobre sua prescrição. Por exemplo, no Reino Unido, seu uso é aprovado apenas em discussão caso a caso com vários conselhos/planos de saúde.

Resultados com outros agentes imunomoduladores usados para tratar EAR grave ou refratário, como levamisol ou pentoxifilina, têm mostrado resposta clínica insatisfatória ou uma incidência significativa de efeitos adversos relacionados ao tratamento.[6]

Tratamento de crianças com menos de 12 anos de idade

Assim como nos adultos, o tratamento de primeira linha em crianças é a introdução de medidas simples (ou seja, mudar a pasta de dentes, evitar fatores desencadeantes ou avaliar trauma). Além disso, há vários tratamentos anti-inflamatórios de venda livre disponíveis para o alívio dos sintomas. Uma formulação adequada que seja licenciada para uso em crianças deve ser selecionada.[65]

Há um número limitado de corticosteroides tópicos que são licenciados para uso oral em crianças. Se corticosteroides tópicos forem necessários, eles podem ser usados off-label, mas somente em crianças que podem seguir instruções em relação a cuspir o medicamento. Isso significa que eles geralmente não podem ser usados em crianças com menos de 6 anos de idade. Esses tratamentos só devem ser iniciados sob cuidados especializados após a criança ter sido avaliada e outras causas de úlceras orais terem sido descartadas. Inaladores orais para asma têm sido usados off-label como uma aplicação tópica para essa indicação.[65]

Os tratamentos sistêmicos para a EAR raramente são usados em crianças com menos de 12 anos e só são iniciados sob cuidados especializados.

O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal