Etiologia

Qualquer medicamento pode causar efeito cutâneo adverso. As reações cutâneas adversas não são associadas de maneira patognomônica a medicamentos específicos, e nenhuma reação é específica para as lesões provocadas por medicamentos. Na maioria dos casos, nenhuma característica específica distingue os pacientes com aumento do risco de reações cutâneas adversas. No entanto, alguns fatores de suscetibilidade bem descritos, incluindo a associação entre infecção por vírus Epstein-Barr e citomegalovírus e sensibilidade a ampicilina/amoxicilina, infecção pelo HIV e polimorfismos específicos do antígeno leucocitário humano, são bem reconhecidos.[30]

Fisiopatologia

Na maioria dos padrões de reações a medicamentos, a patogênese é desconhecida. Os mecanismos imunes clássicos não parecem ser responsáveis pela maioria das reações adversas a medicamentos. No entanto, o rápido reaparecimento de muitas reações na reexposição sugere fortemente uma memória imunológica.

As alterações histológicas em certas erupções liquenoides e erupções de medicamentos fixos não são patognomônicas, mas são suficientemente características para serem importantes para o diagnóstico diferencial. Nas erupções liquenoides, a presença de paraceratose focal, interrupção focal da camada granular e corpos citoides nas camadas cornificadas e granulares sugerem uma causa medicamentosa.[31] Na fase tardia das erupções fixas, há um aumento da melanina na epiderme e dentro dos melanófagos na derme.

É impossível identificar um medicamento desencadeante, com base somente na histopatologia ou nas aparências clínicas. As formas de lesões cutâneas induzidas por medicamento geralmente não podem ser diferenciadas das formas não provocadas por medicamento. No entanto, uma eosinofilia sérica periférica e uma infiltração de tecido de leucócitos polimorfonucleares eosinofílicos podem sugerir uma lesão provocada por medicamento.

Classificação

Classificação farmacológica de Rawlins e Thompson

A classificação tradicional das reações adversas a medicamentos (RAMs) divide-as em 2 subtipos principais: reações do tipo A, que são dose-dependentes e previsíveis, e do tipo B, que não o são.[6] A maioria das RAMs é de reações previsíveis (tipo A). As reações imprevisíveis (tipo B) incluem reações de hipersensibilidade medicamentosa (RHMs). As RAMs previsíveis geralmente são relacionadas à dose e uma função das ações farmacológicas conhecidas do medicamento. As reações imprevisíveis são independentes da dose e não estão relacionadas à ação farmacológica do medicamento. Elas podem se basear em variação farmacogenética ou em desintoxicação ou clearance de medicamento ou metabólito.[7] No entanto, esta classificação provavelmente se tornará obsoleta pois é cada vez mais reconhecido que fatores genéticos como alelos de antígeno leucocitário humano (HLA) podem predizer reações de hipersensibilidade, como aquelas observadas com abacavir em pacientes portadores de HLA-B*5701.[8]

A classificação tradicional de reações adversas ao medicamento (ainda se aplica na maioria dos cenários):[9]

Imprevisíveis

  • Não imunológicas

    • Idiossincrasia

    • Intolerância

  • Imunológica

    • Reações a medicamentos dependentes da imunoglobulina E (IgE)

    • Reações a medicamentos dependentes de imunocomplexo

    • Reações citotóxicas induzidas por medicamentos

    • Reações mediadas por células.

Previsíveis

  • Não imunológicas

    • Acúmulo

    • Toxicidade tardia

    • Interações de medicamentos

    • Dano a cromossomos

    • Exacerbação da doença

    • Efeitos facultativos

    • Alterações metabólicas

    • Ativação das vias efetoras

    • Superdosagem

    • Efeitos colaterais

    • Teratogenicidade.

Classificação de Gell e Coombs das reações imunológicas[10]

Delineia 4 tipos de reação imunológica:

  • Tipo I: reações agudas mediadas por IgE que causam degranulação de mastócitos (por exemplo, urticária, angioedema e reações anafiláticas)

  • Tipo II: reações citotóxicas, decorrentes de interações antígeno-anticorpo que resultam em produção local de anafilotoxina (C5a), recrutamento de leucócitos polimorfonucleares e lesão de tecidos devida à liberação de enzimas hidrolíticas dos neutrófilos (por exemplo, vasculite, púrpura trombocitopênica)

  • Tipo III: reações imunocomplexas tardias, nas quais complexos antígeno-anticorpos são formados na circulação e depositados nos tecidos (por exemplo, exantemas maculopapulares, nefrite intersticial)

  • Tipo IV: reações mediadas por células ou tardias de hipersensibilidade, nas quais os linfócitos T são sensibilizados por um complexo antigênico hapteno-proteína, resultando em inflamação (por exemplo, dermatite de contato).

Nomenclatura de alergia

As reações a medicamentos são classificadas em imunológicas (alérgicas ou de hipersensibilidade) ou não imunológicas (não alérgicas). Quando tiverem sido demonstrados mecanismos imunológicos, mediados quer por células, quer por anticorpos, as reações deverão ser denominadas alergia a medicamento.[11]

As reações alérgicas são classificadas em mediadas por IgE e não mediadas por IgE.

Tipos de reação cutânea adversa a medicamentos sistêmicos

  • Reações cutâneas adversas causadas por medicamentos sistêmicos incluem exantemas maculopapulares, urticária e angioedema. O espectro de lesões cutâneas inclui erupções medicamentosas fixas, eritema multiforme, DRESS (reação a medicamentos com eosinofilia e sintomas sistêmicos; também conhecida como síndrome de hipersensibilidade medicamentosa), síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica. Juntas, elas respondem pela maior parte das manifestações cutâneas provocadas por medicamentos.

  • As reações não alérgicas incluem erupções acneiformes; alopecia; erupções bolhosas – pênfigo e penfigoide; reações de fotossensibilidade e fototoxicidade; púrpura decorrente de causas variadas; erupções pustulares (por exemplo, pustulose exantematosa generalizada aguda); síndrome de Sweet (dermatose neutrofílica febril aguda); e diferentes formas de vasculite. A dermatite de contato é comum após o uso de medicamentos e cosméticos tópicos.

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