Prevenção primária
Como a doença arterial coronariana (DAC) é uma causa comum de parada cardíaca, o manejo dos fatores de risco para DAC é importante na prevenção primária da parada cardíaca. Isso pode incluir o tratamento de hipertensão, diabetes, dislipidemia e intervenções gerais no estilo de vida, como dieta saudável e exercícios regulares. Os peptídeos natriuréticos podem desempenhar um papel na identificação de pessoas com maior risco de morte súbita cardíaca (MSC) na população em geral ou em pacientes com DAC.[7]
Vários ensaios clínicos randomizados e controlados e registros prospectivos encontraram uma redução da mortalidade quando a terapia com cardioversor-desfibrilador implantável (CDI) é usada para a prevenção primária de MSC em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) <35%.[7]
O CDI é recomendado nos seguintes casos:
Pacientes com cardiomiopatia isquêmica e fração de ejeção ≤30%.[44][45]
Pacientes com cardiomiopatia não isquêmica, classe II ou superior da New York Heart Association, insuficiência cardíaca congestiva e fração de ejeção ≤35%.[29][45]
Pacientes com cardiomiopatia hipertrófica (CMH) e dois ou mais dos seguintes fatores de risco: síncope, espessura do ventrículo esquerdo >3 cm, resposta anormal da pressão arterial a exercícios (hipotensão), taquicardia ventricular (TV) não sustentada e história familiar de morte súbita cardíaca. Os pacientes com apenas 1 fator de risco devem ser aconselhados e considerados de maneira individual.[30]
Pacientes com displasia arritmogênica do ventrículo direito (DAVD) e doença extensa do ventrículo direito, envolvimento do ventrículo esquerdo, história de síncope ou história familiar de parada cardíaca súbita.
Pacientes com síndrome do QT longo (SQTL) congênita com história de parada cardíaca, sintomáticos enquanto recebem terapia com betabloqueadores e terapias específicas para o genótipo ou assintomáticos, mas com perfil de alto risco (com base na calculadora 1-2-3-LQTS-Risk).[7]
Pacientes com síndrome de Brugada e história de síncope com supradesnivelamentos do segmento ST nas derivações V1 a V3 ou TV documentada.[40]
Os CDIs devem ser considerados apenas em pacientes com expectativa de sobrevida superior a um ano com boa qualidade de vida.[7]
Nos pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (<40%), recomenda-se a terapia medicamentosa direcionada por diretrizes para reduzir as mortes súbitas cardíacas (e a mortalidade por todas as causas).[45] Ela pode incluir um betabloqueador, um antagonista de receptores mineralocorticoides, um inibidor de SGLT2 e um inibidor do sistema renina-angiotensina (inibidor da ECA, antagonista do receptor de angiotensina II ou antagonista do receptor de angiotensina II associado a um inibidor da neprilisina). Os antiarrítmicos foram estudados para a prevenção da morte súbita cardíaca.[46] Em pacientes com alto risco de morte súbita cardíaca, ficou comprovado que a amiodarona reduz a morte súbita cardíaca, a mortalidade cardíaca e a mortalidade por todas as causas, comparada a placebo ou a nenhuma intervenção.[47]
O rastreamento para atletas mostra potencial para identificar aqueles em risco de doença cardiovascular antes do início dos sintomas. Em atletas mais jovens, uma combinação de história médica, exame físico e ECG parece eficaz na identificação de doença cardiovascular, identificando sintomas relevantes, como síncope por esforço ou anormalidades eletrocardiográficas. Atletas mais velhos podem ser avaliados usando escores de risco, como o SCORE2 da European Society of Cardiology.[7]
Nos casos de morte súbita cardíaca, a causa subjacente deve ser investigada e a autópsia considerada, particularmente em jovens (menos de 50 anos). A autópsia pode identificar condições como cardiomiopatia e doença arterial coronariana prematura. Quando possível doença cardíaca genética é identificada, parentes de primeiro grau devem ser avaliados em uma clínica especializada em cardiologia e testes genéticos podem ser considerados. Em casos de autópsia negativa, o teste genético post-mortem direcionado pode identificar uma mutação em até um terço dos casos.[7]
Prevenção secundária
Os sobreviventes de paradas cardíacas devem ser avaliados quanto à adequação para colocação de um cardioversor-desfibrilador implantável (CDI).[7] Uma metanálise dos três principais ensaios iniciais de CDI´s comparando o CDI à terapia medicamentosa (principalmente amiodarona) para a prevenção secundária da morte súbita cardíaca demonstrou uma redução na mortalidade de 28% no grupo do CDI, quase inteiramente devido a uma redução de 50% das mortes arrítmicas.[135] Portanto, é amplamente aceito o uso de um CDI para a prevenção secundária nos pacientes com cardiomiopatia isquêmica ou não isquêmica que tiverem sobrevivido a uma parada cardíaca que não seja devida a causas reversíveis.[7][64][136] O principal determinante para a intervenção comum a todos aqueles potencialmente elegíveis para um dispositivo é uma expectativa de vida significativa superior a 1 ano.[64] As complicações da terapia com CDI incluem choques inapropriados, fraturas do fio condutor e infecções relacionadas ao dispositivo.[7]
Os pacientes com CDI que apresentam recorrências frequentes de arritmias e choques por um CDI (apesar de uma programação otimizada) podem se beneficiar de medicamentos antiarrítmicos ou ablação por cateter. Os medicamentos antiarrítmicos também podem ter um papel nos pacientes que não desejarem ou forem inelegíveis para um CDI (por exemplo, devido a uma expectativa de vida e/ou status funcional limitado).[64]
Além do CDI, a prevenção secundária é geralmente específica para a condição, por exemplo realizar revascularização para os pacientes com doença arterial coronariana, administrar betabloqueadores, evitar medicamentos que prolongam o intervalo QT nos pacientes com síndrome do QT longo e abster-se de participar de atividades atléticas competitivas nos pacientes com cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito.[124]
Em todos os pacientes diagnosticados com cardiopatia, os fatores de risco cardiovascular devem ser abordados. O abandono do hábito de fumar deve ser enfatizado. Além disso, recomendam-se intervenções agressivas, incluindo grupos de apoio e apoio medicamentoso (com e sem nicotina). Da mesma forma, deve-se adotar terapia nutricional e hipolipemiante. O controle da pressão arterial e do diabetes deve ser otimizado. Um estudo descobriu que o início ou a manutenção de pelo menos 5 dias de atividade de intensidade moderada ou 3 dias de atividade de intensidade vigorosa por semana está associado a uma redução do risco de mortes por todas as causas, cardiovasculares e não cardiovasculares, em idosos com doença cardiovascular recentemente diagnosticada.[137]
Os esforços para maximizar a probabilidade de sobrevivência caso ocorra uma nova parada incluem educar a família e os cuidadores sobre como pode ser uma parada cardíaca e quando pedir ajuda. Alguns hospitais oferecem treinamento em ressuscitação cardiopulmonar aos pacientes e seus familiares antes da alta.[124]
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