O principal objetivo do tratamento consiste em interromper o agente antimicrobiano implicado e iniciar a terapia apropriada. Todos os pacientes ainda não hospitalizados devem ser internados a menos que não apresentem nenhum sintoma sistêmico e nenhuma disfunção orgânica; nesse caso, podem ser tratados ambulatorialmente.
A maior parte das recomendações nesta seção baseiam-se nas diretrizes da Infectious Diseases Society of America/Society for Healthcare Epidemiology of America (IDSA/SHEA) publicadas no início de 2018, com uma atualização direcionada publicada em 2021.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
As diretrizes do American College of Gastroenterology (ACG) publicadas em 2021 apoiam amplamente essas recomendações, embora o ACG também recomende o transplante de microbiota fecal (TMF) convencional como opção de segunda linha nos casos de doença grave e fulminante (bem como de doença recorrente), e a vancomicina é o tratamento de primeira linha preferencial para tratar o episódio inicial. As diretrizes do Reino Unido e da Europa também são detalhadas aqui. Embora as diretrizes se alinhem na maioria dos casos, particularmente na promoção da fidaxomicina como tratamento de primeira linha, ainda há algumas diferenças importantes.[76]Bishop EJ, Tiruvoipati R. Management of Clostridioides difficile infection in adults and challenges in clinical practice: review and comparison of current IDSA/SHEA, ESCMID and ASID guidelines. J Antimicrob Chemother. 2022 Dec 23;78(1):21-30.
https://academic.oup.com/jac/article/78/1/21/6849560
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36441203?tool=bestpractice.com
Vale ressaltar que as diretrizes da IDSA/SHEA e do ACG foram publicadas antes da aprovação de produtos bioterapêuticos vivos (um tipo de terapia baseada na microbiota fecal). Portanto, essas diretrizes recomendam o TMF convencional como a única opção quando a terapia baseada na microbiota fecal é indicada. Entretanto, na prática, há uma mudança em direção ao uso de produtos bioterapêuticos vivos (quando disponíveis) no lugar do TMF convencional. As diretrizes da American Gastroenterological Association (AGA) publicadas em 2024 são as únicas que atualmente recomendam produtos bioterapêuticos vivos.[77]Peery AF, Kelly CR, Kao D, et al. AGA clinical practice guideline on fecal microbiota-based therapies for select gastrointestinal diseases. Gastroenterology. 2024 Mar;166(3):409-34.
https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(24)00041-6/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38395525?tool=bestpractice.com
Prevenção e controle de infecção
Os pacientes hospitalizados com infecção suspeitada ou confirmada devem ser isolados em um quarto privado com um banheiro exclusivo para reduzir o risco de infecção para outros pacientes. Em instituições onde há um número limitado de quartos privados, a prioridade deve ser atender os pacientes com incontinência fecal. É importante adotar precauções de contato em relação aos pacientes com suspeita de infecção antes dos resultados dos exame tornarem-se disponíveis. As precauções de contato devem ser mantidas por pelo menos 48 horas após a resolução da diarreia e até a alta hospitalar se as taxas de infecção por Clostridioides difficile permanecerem altas.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[64]Banach DB, Bearman G, Barnden M, et al. Duration of contact precautions for acute-care settings. Infect Control Hosp Epidemiol. 2018 Feb;39(2):127-44.
https://www.cambridge.org/core/journals/infection-control-and-hospital-epidemiology/article/duration-of-contact-precautions-for-acutecare-settings/94E38FDCE6E1823BD613ABE4E8CB5E56
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29321078?tool=bestpractice.com
Profissionais de saúde devem usar aventais e luvas ao entrar em um quarto quando estiverem cuidando de um paciente. A higiene das mãos deve ser realizada antes e depois do contato com o paciente e após a remoção das luvas. Deve-se usar água e sabão ou um produto à base de álcool. Os pacientes devem ser encorajados a lavar as mãos e a tomar banho para reduzir a carga de esporos na pele. Equipamentos descartáveis para o paciente são preferíveis (termômetros retais não são recomendados).[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
A Organização Mundial da Saúde fornece diretrizes sobre a técnica correta de lavar as mãos. Foi demonstrado que uma técnica de lavagem estruturada é mais eficaz que uma técnica não estruturada contra o C difficile.[63]Deschênes P, Chano F, Dionne LL, et al. Efficacy of the World Health Organization-recommended handwashing technique and a modified washing technique to remove Clostridium difficile from hands. Am J Infect Control. 2017 Aug 1;45(8):844-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28526314?tool=bestpractice.com
WHO: guidelines on hand hygiene
Opens in new window
Descontinuar o agente causador
Na primeira sugestão de diagnóstico, o(s) antibiótico(s) deve(m) ser descontinuado(s) o mais rápido possível.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
Se os antibióticos não puderem ser suspensos, um agente com menor probabilidade de causar infecção por C difficile deverá substituí-los. Especificamente, devem ser evitadas a ampicilina, as cefalosporinas, a clindamicina, os carbapenêmicos e as fluoroquinolonas.[21]Treatment of Clostridium difficile infection. Med Lett Drugs Ther. 2011 Feb 21;53(1358):14-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21372762?tool=bestpractice.com
[22]Schroeder MS. Clostridium difficile-associated diarrhea. Am Fam Physician. 2005 Mar 1;71(5):921-8.
https://www.aafp.org/afp/2005/0301/p921.html
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15768622?tool=bestpractice.com
Cuidados de suporte
Os pacientes devem ter seu status de fluido avaliado inicialmente, se eles estiverem hospitalizados. Quando houver necessidade, hidratação e reposição eletrolítica devem ser instituídas. Deve-se evitar o uso de agentes antimotilidade, incluindo opioides e loperamida, embora não haja evidências que deem suporte a essa recomendação.
Episódio inicial: antibioticoterapia
A antibioticoterapia deve ser iniciada de forma empírica se houver probabilidade de um atraso substancial (>48 horas) na confirmação laboratorial ou para infecção fulminante. No caso dos outros pacientes, a antibioticoterapia pode ser iniciada após o diagnóstico de modo a limitar o uso excessivo de antibióticos. Os esquemas recomendados baseiam-se na gravidade da doença e se o episódio é inicial ou recorrente.
A IDSA/SHEA recomenda a fidaxomicina como agente de primeira linha para um episódio inicial de infecção por C difficile, pois é mais eficaz que a vancomicina no que diz respeito a uma resposta clínica sustentada. Essa recomendação se baseia em evidências de certeza moderada. A fidaxomicina pode não estar amplamente disponível e é mais cara; portanto, a vancomicina continua sendo uma alternativa aceitável. Antes, o antibiótico de escolha era o metronidazol oral; porém, agora ele só é recomendado em situações nas quais o acesso a um agente de primeira linha for limitado.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
Episódio inicial: não grave
Episódio inicial: grave
Episódio inicial: fulminante (grave, infecção complicada)
Tratamento de primeira linha: vancomicina oral (em uma dose maior que aquela para infecção não fulminante). Se íleo paralítico estiver presente, a instalação retal da vancomicina pode ser considerada. O metronidazol intravenoso deve ser administrado com vancomicina oral ou retal, especialmente se houver íleo paralítico, pois isso pode comprometer a administração da vancomicina oral no cólon
O ACG recomenda vancomicina ou fidaxomicina para o tratamento de um episódio inicial de doença grave ou não grave.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
As diretrizes internacionais podem recomendar tratamentos diferentes e a orientação local deve ser consultada.
No Reino Unido, o National Institute for Health and Care Excellence recomenda vancomicina para o episódio inicial, independentemente da gravidade da doença, com base na custo-efetividade. A fidaxomicina é considerada um agente de segunda linha. O metronidazol só é recomendado em combinação com vancomicina nas infecções com risco à vida, ou com ou sem vancomicina nas infecções em que os antibióticos de primeira ou segunda linha forem inefetivos, e apenas sob orientação de um especialista.[78]National Institute for Health and Care Excellence. Clostridioides difficile infection: antimicrobial prescribing NICE guideline [NG199]. 23 Jul 2021 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng199
Na Europa, a European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases recomenda a fidaxomicina como o padrão de tratamento preferencial para um episódio inicial, sendo a vancomicina considerada uma opção alternativa. A fidaxomicina é o agente preferencial naqueles com alto risco de recorrência. O metronidazol só é recomendado se as opções preferenciais não estiverem disponíveis. Tanto a fidaxomicina quanto a vancomicina são recomendadas para infecções graves, complicadas ou refratárias (com ou sem metronidazol intravenoso ou tigeciclina).[79]van Prehn J, Reigadas E, Vogelzang EH, et al. European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases: 2021 update on the treatment guidance document for Clostridioides difficile infection in adults. Clin Microbiol Infect. 2021 Dec;27 Suppl 2:S1-S21.
https://www.doi.org/10.1016/j.cmi.2021.09.038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34678515?tool=bestpractice.com
A evidência da mais alta qualidade indica que a fidaxomicina é significativamente melhor que a vancomicina na cura sintomática sustentada (definida como o número de pacientes com remissão da diarreia menos o número de pacientes com recorrência ou morte) em adultos com infecções não múltiplas recorrentes. Ela é, portanto, considerada uma opção de tratamento melhor que a vancomicina em todos os pacientes, exceto aqueles com infecções graves. As taxas de cura com metronidazol foram significativamente menores em comparação com a vancomicina e a fidaxomicina. Além disso, a fidaxomicina é mais efetiva em prevenir a recorrência, em comparação com a vancomicina.[80]Beinortas T, Burr NE, Wilcox MH, et al. Comparative efficacy of treatments for Clostridium difficile infection: a systematic review and network meta-analysis. Lancet Infect Dis. 2018 Sep;18(9):1035-44.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30025913?tool=bestpractice.com
[81]Okumura H, Fukushima A, Taieb V, et al. Fidaxomicin compared with vancomycin and metronidazole for the treatment of Clostridioides (Clostridium) difficile infection: a network meta-analysis. J Infect Chemother. 2020 Jan;26(1):43-50.
https://www.jiac-j.com/article/S1341-321X(19)30207-7/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31624029?tool=bestpractice.com
[82]Tashiro S, Mihara T, Sasaki M, et al. Oral fidaxomicin versus vancomycin for the treatment of Clostridioides difficile infection: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. J Infect Chemother. 2022 Nov;28(11):1536-45.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35964806?tool=bestpractice.com
[83]Liao JX, Appaneal HJ, Vicent ML, et al. Path of least recurrence: a systematic review and meta-analysis of fidaxomicin versus vancomycin for Clostridioides difficile infection. Pharmacotherapy. 2022 Nov;42(11):810-27.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36223209?tool=bestpractice.com
Uma revisão Cochrane mostrou evidências de qualidade moderada sugerindo que a vancomicina é superior ao metronidazol e que a fidaxomicina é superior à vancomicina, na obtenção da cura sintomática em pacientes com infecção por C difficile, embora a diferença na eficácia não seja muito grande. Não foi possível tirar qualquer conclusão definitiva sobre a eficácia do tratamento com antibióticos na doença grave, pois a maior parte dos estudos não incluiu esses pacientes. Não se chegou a conclusões quanto à necessidade de tratamento com antibióticos em pacientes com infecção leve, além da descontinuação do antibiótico causador, pela falta de estudos de controle de ausência de tratamento na revisão.[84]Nelson RL, Suda KJ, Evans CT. Antibiotic treatment for Clostridium difficile-associated diarrhoea in adults. Cochrane Database Syst Rev. 2017;(3):CD004610.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD004610.pub5/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28257555?tool=bestpractice.com
[
]
How does vancomycin compare with other antibiotics for treatment of Clostridium difficile-associated diarrhea?/cca.html?targetUrl=https://cochranelibrary.com/cca/doi/10.1002/cca.1686/fullMostre-me a resposta
Vancomicina ou fidaxomicina são os agentes preferenciais em pacientes com doença inflamatória intestinal subjacente. Em geral, esses pacientes também precisam de tratamento agressivo. A decisão de interromper ou continuar os agentes imunossupressores em pacientes com doença inflamatória intestinal durante a infecção aguda deve ser tomada caso a caso.[85]Khanna S, Shin A, Kelly CP. Management of Clostridium difficile infection in inflammatory bowel disease: expert review from the Clinical Practice Updates Committee of the AGA Institute. Clin Gastroenterol Hepatol. 2017 Feb;15(2):166-74.
http://www.cghjournal.org/article/S1542-3565(16)30989-2/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28093134?tool=bestpractice.com
Se o tratamento for interrompido, dados observacionais e o parecer de especialistas sugerem que o tratamento pode ser reiniciado após 48 a 72 horas de antibioticoterapia direcionada.[86]D'Aoust J, Battat R, Bessissow T. Management of inflammatory bowel disease with Clostridium difficile infection. World J Gastroenterol. 2017 Jul 21;23(27):4986-5003.
https://www.wjgnet.com/1007-9327/full/v23/i27/4986.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28785153?tool=bestpractice.com
Embora o monitoramento terapêutico dos medicamentos não costume ser recomendado com o uso de vancomicina oral, pode ser considerado de acordo com o caso, particularmente em situações de alto risco, em que há previsão de altos níveis de sangue (por exemplo, comprometimento renal, combinação de terapia oral e enteral, doença grave, doença inflamatória intestinal).[87]Cimolai N. Does oral vancomycin use necessitate therapeutic drug monitoring? Infection. 2020 Apr;48(2):173-82.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31713055?tool=bestpractice.com
A resistência antibiótica do C difficile foi relatada raramente com a fidaxomicina, a vancomicina, o metronidazol e a tigeciclina.[88]Sholeh M, Krutova M, Forouzesh M, et al. Antimicrobial resistance in Clostridioides (Clostridium) difficile derived from humans: a systematic review and meta-analysis. Antimicrob Resist Infect Control. 2020 Sep 25;9(1):158.
https://aricjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13756-020-00815-5
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32977835?tool=bestpractice.com
A nitazoxanida e o ácido fusídico também podem ser eficazes para o tratamento de um episódio inicial de infecção por C difficile, mas têm menos evidências os apoiando. Há ausência de evidências de alta qualidade para apoiar o uso de rifaximina, tigeciclina ou bacitracina para o tratamento de um episódio inicial.[89]Ng QX, Loke W, Foo NX, et al. A systematic review of the use of rifaximin for Clostridium difficile infections. Anaerobe. 2019 Feb;55:35-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30391527?tool=bestpractice.com
[90]Kechagias KS, Chorepsima S, Triarides NA, et al. Tigecycline for the treatment of patients with Clostridium difficile infection: an update of the clinical evidence. Eur J Clin Microbiol Infect Dis. 2020 Jun;39(6):1053-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31927652?tool=bestpractice.com
Doença grave e fulminante: cirurgia
A cirurgia pode ser justificada em doença grave complicada ou fulminante, ou em pacientes que não respondem à antibioticoterapia.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[3]Poutanen SM, Simor AE. Clostridium difficile-associated diarrhea in adults. CMAJ. 2004 Jul 6;171(1):51-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC437686/?tool=pubmed
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15238498?tool=bestpractice.com
[91]Jaber MR, Olafsson S, Fung WL, et al. Clinical review of the management of fulminant Clostridium difficile infection. Am J Gastroenterol. 2008 Dec;103(12):3195-203;quiz 3204.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18853982?tool=bestpractice.com
A forma fulminante é pouco valorizada como doença que traz risco à vida em vista da falta de conhecimento sobre sua gravidade e por ser uma síndrome clinicamente inespecífica. O diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais para um bom desfecho, e a intervenção cirúrgica precoce deve ser considerada nos pacientes que não responderem à terapia medicamentosa ou que apresentam aumento da contagem leucocitária ou do nível de lactato. O procedimento cirúrgico de preferência é a colectomia subtotal com preservação do reto. A ileostomia em alça para derivação (com lavagem cólica seguida por jatos de vancomicina anterógrados) é uma abordagem alternativa.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[92]Forrester JD, Colling KP, Diaz JJ, et al. Surgical Infection Society guidelines for total abdominal colectomy versus diverting loop ileostomy with antegrade intra-colonic lavage for the surgical management of severe or fulminant, non-perforated Clostridioides difficile Colitis. Surg Infect (Larchmt). 2022 Mar;23(2):97-104.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34619068?tool=bestpractice.com
Ambos os procedimentos têm taxas de sobrevida similares; no entanto, a ileostomia em alça está associada com um nível mais baixo de infecções no sítio cirúrgico e uma taxa mais elevada de preservação colônica. As evidências são limitadas.[93]Felsenreich DM, Gachabayov M, Rojas A, et al. Meta-analysis of postoperative mortality and morbidity after total abdominal colectomy versus loop ileostomy with colonic lavage for fulminant Clostridium difficile colitis. Dis Colon Rectum. 2020 Sep;63(9):1317-26.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33044807?tool=bestpractice.com
[94]McKechnie T, Lee Y, Springer JE, et al. Diverting loop ileostomy with colonic lavage as an alternative to colectomy for fulminant Clostridioides difficile: a systematic review and meta-analysis. Int J Colorectal Dis. 2020 Jan;35(1):1-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31748820?tool=bestpractice.com
Doença grave e fulminante: transplante de microbiota fecal convencional
As recomendações das diretrizes dos EUA sobre o TMF convencional (um tipo de terapia baseada na microbiota fecal) para doenças graves e fulminantes variam.
O ACG recomenda considerar o TMF convencional em pacientes com doença grave e fulminante refratários à antibioticoterapia, em particular pacientes considerados maus candidatos à cirurgia.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
A AGA recomenda o TMF convencional para pacientes hospitalizados com doença grave ou fulminante que são refratários à antibioticoterapia.[77]Peery AF, Kelly CR, Kao D, et al. AGA clinical practice guideline on fecal microbiota-based therapies for select gastrointestinal diseases. Gastroenterology. 2024 Mar;166(3):409-34.
https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(24)00041-6/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38395525?tool=bestpractice.com
Entretanto, a IDSA/SHEA ainda não recomenda o TMF convencional para esses pacientes.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
As diretrizes internacionais podem recomendar tratamentos diferentes e a orientação local deve ser consultada.
Embora as principais diretrizes atualmente recomendem o TMF convencional, na prática há uma mudança em direção ao uso de produtos bioterapêuticos vivos (quando disponíveis) no lugar do TMF convencional. Entretanto, as diretrizes atualmente não recomendam produtos bioterapêuticos vivos para pacientes com doença grave e fulminante, e eles não são aprovados para essa indicação.
Uma metanálise de ensaios clínicos randomizados e controlados revelou que não houve diferença estatisticamente significativa entre a terapia medicamentosa e o TMF convencional em pacientes com infecção primária.[95]Singh T, Bedi P, Bumrah K, et al. Fecal microbiota transplantation and medical therapy for Clostridium difficile infection : meta-analysis of randomized controlled trials. J Clin Gastroenterol. 2022 Nov-Dec 01;56(10):881-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34516460?tool=bestpractice.com
Consulte a seção Infecção recorrente: transplante convencional de microbiota fecal abaixo para obter mais informações.
Infecção recorrente
Relatou-se que as taxas de recorrência variam de 5% a 50%, embora um estudo tenha mostrado pelo menos uma recorrência em 21% das infecções associadas aos serviços de saúde e 14% das infecções associadas à comunidade.[6]Lessa FC, Mu Y, Bamberg WM, et al. Burden of Clostridium difficile infection in the United States. N Engl J Med. 2015 Feb 26;372(9):825-34.
http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa1408913
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25714160?tool=bestpractice.com
Aproximadamente 25% dos pacientes tratados com vancomicina em um episódio inicial experimentam pelo menos um episódio recorrente.[96]Louie TJ, Miller MA, Mullane KM, et al. Fidaxomicin versus vancomycin for Clostridium difficile infection. N Engl J Med. 2011 Feb 3;364(5):422-31.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0910812
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21288078?tool=bestpractice.com
[97]Stevens VW, Nelson RE, Schwab-Daugherty EM, et al. Comparative effectiveness of vancomycin and metronidazole for the prevention of recurrence and death in patients with Clostridium difficile infection. JAMA Intern Med. 2017 Apr 1;177(4):546-53.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28166328?tool=bestpractice.com
As opções para o manejo de infecções recorrentes incluem:
A combinação ideal dessas terapias para o manejo da recorrência não foi bem estudada.
Infecção recorrente: antibioticoterapia
A IDSA/SHEA recomenda que a primeira recorrência deve ser tratada com os seguintes esquemas de antibióticos:[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
Recorrências subsequentes podem ser tratadas com os seguintes esquemas de antibióticos:[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
O ACG recomenda um esquema de dose em pulsos e reduzido gradualmente com vancomicina oral (após o ciclo inicial com fidaxomicina, vancomicina ou metronidazol) ou fidaxomicina (após o ciclo inicial com vancomicina ou metronidazol) para a primeira recorrência. Vancomicina oral pode ser considerada para as recorrências subsequentes.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
As diretrizes internacionais podem recomendar tratamentos diferentes e a orientação local deve ser consultada.
No Reino Unido, o National Institute for Health and Care Excellence recomenda a fidaxomicina como tratamento de primeira escolha para um novo episódio de infecção até 12 semanas após a resolução dos sintomas, ou vancomicina ou fidaxomicina se um novo episódio ocorrer mais de 12 semanas após a resolução dos sintomas.[78]National Institute for Health and Care Excellence. Clostridioides difficile infection: antimicrobial prescribing NICE guideline [NG199]. 23 Jul 2021 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng199
Na Europa, a European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases recomenda a fidaxomicina para uma primeira recorrência. A redução gradual e o pulso de vancomicina é uma opção alternativa para uma primeira recorrência ou recorrência subsequente.[79]van Prehn J, Reigadas E, Vogelzang EH, et al. European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases: 2021 update on the treatment guidance document for Clostridioides difficile infection in adults. Clin Microbiol Infect. 2021 Dec;27 Suppl 2:S1-S21.
https://www.doi.org/10.1016/j.cmi.2021.09.038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34678515?tool=bestpractice.com
Esquemas de suspensão gradual e doses em pulsos da vancomicina foram superiores ao esquema de suspensão gradual isolado e ao esquema de doses em pulsos isolado (taxas de resolução de 83% versus 68% e 54%, respectivamente) para a infecção recorrente. No entanto, as evidências são limitadas.[98]Sehgal K, Zandvakili I, Tariq R, et al. Systematic review and meta-analysis: efficacy of vancomycin taper and pulse regimens in Clostridioides difficile infection. Expert Rev Anti Infect Ther. 2022 Apr;20(4):577-83.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34693838?tool=bestpractice.com
Infecção recorrente: bezlotoxumabe
O bezlotoxumabe é um anticorpo monoclonal humano que se liga à toxina B de Clostridioides difficile. Ele foi aprovado para redução da recorrência da infecção por C difficile em adultos que estiverem recebendo tratamento antibacteriano para infecção por C difficile e que apresentarem um alto risco de recorrência. Além de não ser indicado para o tratamento de infecção por C difficile, ele não é um medicamento antibacteriano, então deve ser usado em combinação com uma terapia antibiótica. O bezlotoxumabe deve ser usado sob orientação de um especialista.
A IDSA/SHEA recomenda o uso de bezlotoxumabe juntamente com os antibióticos padrão para a prevenção da recorrência em pacientes que tiverem tido um episódio recorrente nos 6 meses anteriores, particularmente aqueles que estiverem em alto risco de recorrência (por exemplo, idade ≥65 anos, imunocomprometidos, doença grave à apresentação) e contanto que a logística para a administração intravenosa não seja um problema. Esta recomendação é baseada em evidências de certeza muito baixa.[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
O ACG também recomenda considerar o bezlotoxumabe para prevenir a recorrência nos pacientes com alto risco de recorrência.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
As diretrizes internacionais podem recomendar tratamentos diferentes e a orientação local deve ser consultada.
No Reino Unido, o National Institute for Health and Care Excellence não recomenda administrar bezlotoxumabe para evitar infecção recorrente, pois não é custo-efetivo.[78]National Institute for Health and Care Excellence. Clostridioides difficile infection: antimicrobial prescribing NICE guideline [NG199]. 23 Jul 2021 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng199
Na Europa, a European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases recomenda bezlotoxumabe (além dos antibióticos padrão de cuidados) para o tratamento de um episódio inicial naqueles com alto risco de recorrência, como opção de primeira linha para uma primeira recorrência, e uma opção de segunda linha para uma recorrência subsequente.[79]van Prehn J, Reigadas E, Vogelzang EH, et al. European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases: 2021 update on the treatment guidance document for Clostridioides difficile infection in adults. Clin Microbiol Infect. 2021 Dec;27 Suppl 2:S1-S21.
https://www.doi.org/10.1016/j.cmi.2021.09.038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34678515?tool=bestpractice.com
Em 2 ensaios clínicos de fase III, demonstrou-se que uma dose intravenosa de bezlotoxumabe (administrada em combinação com o tratamento com antibióticos padrão) para infecção primária ou recorrente por C difficile foi associada a uma taxa menor de 38% de recorrência da infecção em comparação ao tratamento com antibióticos administrados isoladamente. A cura sustentada (sem recorrência da infecção em 12 semanas) foi alcançada por 64% dos pacientes em comparação a 54% dos pacientes no grupo do placebo. Os efeitos adversos mais comuns foram náuseas e diarreia, e o medicamento apresentou um perfil de efeitos adversos semelhante ao placebo.[99]Wilcox MH, Gerding DN, Poxton IR, et al. Bezlotoxumab for prevention of recurrent Clostridium difficile infection. N Engl J Med. 2017 Jan 26;376(4):305-17.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1602615
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28121498?tool=bestpractice.com
Uma revisão sistemática e metanálise de 13 estudos (incluindo dois ensaios clínicos randomizados e controlados) revelou que o bezlotoxumabe reduziu significativamente o risco de infecção recorrente por C difficile em comparação com o tratamento padrão (15.8% vs. 28.9%, respectivamente).[100]Mohamed MFH, Ward C, Beran A, et al. Efficacy, safety, and cost-effectiveness of bezlotoxumab in preventing recurrent Clostridioides difficile infection : systematic review and meta-analysis. J Clin Gastroenterol. 2024 Apr 1;58(4):389-401.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37395627?tool=bestpractice.com
O bezlotoxumabe não foi melhor na resolução de infecções recorrentes em comparação com o TMF convencional.[101]Alhifany AA, Almutairi AR, Almangour TA, et al. Comparing the efficacy and safety of faecal microbiota transplantation with bezlotoxumab in reducing the risk of recurrent Clostridium difficile infections: a systematic review and Bayesian network meta-analysis of randomised controlled trials. BMJ Open. 2019 Nov 7;9(11):e031145.
https://bmjopen.bmj.com/content/9/11/e031145
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31699731?tool=bestpractice.com
Os dados sobre o uso do bezlotoxumabe quando fidaxomicina é usada como antibiótico padrão da assistência são limitados.[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
Em pacientes com história de insuficiência cardíaca congestiva, o bezlotoxumabe deve ser reservado para ser usado quando os benefícios superarem os riscos. A insuficiência cardíaca foi relatada mais comumente com o bezlotoxumabe, em comparação com placebo em ensaios clínicos, principalmente em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva subjacente.[74]Johnson S, Lavergne V, Skinner AM, et al. Clinical practice guideline by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA): 2021 focused update guidelines on management of Clostridioides difficile infection in adults. Clin Infect Dis. 2021 Jun 24:ciab549.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciab549/6298219
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34164674?tool=bestpractice.com
Infecção recorrente: transplante de microbiota fecal convencional
As recomendações das diretrizes dos EUA sobre o TMF convencional (um tipo de terapia baseada na microbiota fecal) para infecções recorrentes variam.
IDSA/SHEA recomenda o TMF convencional como uma opção em pacientes com pelo menos duas recorrências e onde a antibioticoterapia falhou.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
No entanto, o ACG recomenda considerar o TMF convencional como opção de primeira linha em pacientes que passam pela segunda recorrência ou mais da doença, para prevenir outras recorrências no futuro.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
A AGA recomenda terapias baseadas na microbiota fecal (incluindo TMF convencional) para pacientes imunocompetentes com infecção recorrente após a conclusão da antibioticoterapia padrão de cuidados. A AGA recomenda o TMF convencional especificamente para pacientes com imunocomprometimento leve a moderado e recomenda não usar nenhuma terapia baseada na microbiota fecal em pacientes com imunocomprometimento grave.[77]Peery AF, Kelly CR, Kao D, et al. AGA clinical practice guideline on fecal microbiota-based therapies for select gastrointestinal diseases. Gastroenterology. 2024 Mar;166(3):409-34.
https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(24)00041-6/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38395525?tool=bestpractice.com
As diretrizes internacionais podem recomendar tratamentos diferentes e a orientação local deve ser consultada.
No Reino Unido, o National Institute for Health and Care Excellence recomenda considerar o TMF convencional para um episódio recorrente de infecção em adultos que já tiverem tido dois ou mais episódios confirmados anteriores.[102]National Institute for Health and Care Excellence. Faecal microbiota transplant for recurrent Clostridioides difficile infection. Aug 2022 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/mtg71/chapter/1-Recommendations
Na Europa, a European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases também recomenda considerar o TMF convencional como primeira linha para um episódio recorrente naqueles que apresentaram dois ou mais episódios anteriores.[79]van Prehn J, Reigadas E, Vogelzang EH, et al. European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases: 2021 update on the treatment guidance document for Clostridioides difficile infection in adults. Clin Microbiol Infect. 2021 Dec;27 Suppl 2:S1-S21.
https://www.doi.org/10.1016/j.cmi.2021.09.038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34678515?tool=bestpractice.com
O procedimento envolve a implantação de fezes processadas, coletadas de um doador saudável, no trato intestinal de pacientes infectados para corrigir a disbiose intestinal. Um curto ciclo de indução com vancomicina oral pode ser usado antes do TMF convencional para reduzir a carga de C difficile nos pacientes que não tiverem recebido antibioticoterapia antes de um TMF planejado.[2]McDonald LC, Gerding DN, Johnson S, et al. Clinical practice guidelines for Clostridium difficile infection in adults and children: 2017 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA). Clin Infect Dis. 2018 Mar 19;66(7):e1-48.
https://academic.oup.com/cid/article/66/7/e1/4855916
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29462280?tool=bestpractice.com
Evidências dão suporte ao uso de TMF convencional para infecções recorrentes.
Uma revisão Cochrane constatou que o transplante de microbiota fecal leva a um grande aumento de resolução da infecção recorrente em adultos imunocompetentes, em comparação com tratamentos alternativos (por exemplo, antibióticos), com base em evidências de certeza moderada. Não é possível chegar a conclusões relativas aos benefícios ou danos em pacientes imunocomprometidos devido à falta de dados. O transplante de microbiota fecal provavelmente causa uma pequena redução nas taxas de eventos adversos graves (evidências de certeza moderada) e pode reduzir a mortalidade por todas as causas (evidências de baixa certeza). No entanto, o aumento do risco desses desfechos não pode ser descartado porque o número de eventos foi pequeno.[103]Minkoff NZ, Aslam S, Medina M, et al. Fecal microbiota transplantation for the treatment of recurrent Clostridioides difficile (Clostridium difficile). Cochrane Database Syst Rev. 2023 Apr 25;4(4):CD013871.
https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD013871.pub2/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37096495?tool=bestpractice.com
[
]
In immunocompetent people, what are the benefits and harms of fecal microbiota transplantation (FMT) from healthy donors for the treatment of recurrent Clostridium difficile infection?/cca.html?targetUrl=https://www.cochranelibrary.com/cca/doi/10.1002/cca.4326/fullMostre-me a resposta
Ensaios clínicos randomizados e controlados mostraram altas taxas de sucesso.[104]van Nood E, Vrieze A, Nieuwdorp M, et al. Duodenal infusion of donor feces for recurrent Clostridium difficile. N Engl J Med. 2013 Jan 31;368(5):407-15.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1205037#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23323867?tool=bestpractice.com
[105]Lee CH, Steiner T, Petrof EO, et al. Frozen vs fresh fecal microbiota transplantation and clinical resolution of diarrhea in patients with recurrent Clostridium difficile infection: a randomized clinical trial. JAMA. 2016 Jan 12;315(2):142-9.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2481003
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26757463?tool=bestpractice.com
[106]Hota SS, Sales V, Tomlinson G, et al. Oral vancomycin followed by fecal transplantation versus tapering oral vancomycin treatment for recurrent Clostridium difficile infection: an open-label, randomized controlled trial. Clin Infect Dis. 2017 Feb 1;64(3):265-71.
https://academic.oup.com/cid/article/64/3/265/2452658
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28011612?tool=bestpractice.com
Metanálises registraram taxas de eficácia de 82.1% a 95.6%.[107]Lai CY, Sung J, Cheng F, et al. Systematic review with meta-analysis: review of donor features, procedures and outcomes in 168 clinical studies of faecal microbiota transplantation. Aliment Pharmacol Ther. 2019 Feb;49(4):354-63.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30628108?tool=bestpractice.com
[108]Du C, Luo Y, Walsh S, et al. Oral fecal microbiota transplant capsules are safe and effective for recurrent Clostridioides difficile infection: a systematic review and meta-analysis. J Clin Gastroenterol. 2021 Apr 1;55(4):300-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33471490?tool=bestpractice.com
Uma análise prospectiva da vida real, de um registro de transplante de microbiota fecal dos EUA, constatou que 90% dos pacientes foram considerados curados (ou seja, a diarreia remitiu sem necessidade de tratamento adicional) no acompanhamento de 1 mês. Daqueles curados a 1 mês, 4% dos pacientes apresentaram recorrência em até 6 meses.[109]Kelly CR, Yen EF, Grinspan AM, et al. Fecal microbiota transplantation Is highly effective in real-world practice: initial results from the FMT National Registry. Gastroenterology. 2021 Jan; 160(1):183-92.e3.
https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(20)35221-5/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33011173?tool=bestpractice.com
No entanto, o transplante de microbiota fecal foi associado a taxas de cura mais baixas em ensaios clínicos randomizados, em comparação com estudos abertos e observacionais, e a eficácia é maior para a infecção recorrente, comparada com a doença refratária.[110]Tariq R, Pardi DS, Bartlett MG, et al. Low cure rates in controlled trials of fecal microbiota transplantation for recurrent Clostridium difficile infection: a systematic review and meta-analysis. Clin Infect Dis. 2019 Apr 8;68(8):1351-8.
https://academic.oup.com/cid/article/68/8/1351/5078604
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30957161?tool=bestpractice.com
O transplante de microbiota fecal parece ser a abordagem ideal para o tratamento da doença recorrente, comparado com antibióticos como vancomicina ou fidaxomicina ou placebo.[111]Rokkas T, Gisbert JP, Gasbarrini A, et al. A network meta-analysis of randomized controlled trials exploring the role of fecal microbiota transplantation in recurrent Clostridium difficile infection. United European Gastroenterol J. 2019 Oct;7(8):1051-63.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6794697
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31662862?tool=bestpractice.com
[112]Hui W, Li T, Liu W, et al. Fecal microbiota transplantation for treatment of recurrent C. difficile infection: an updated randomized controlled trial meta-analysis. PLoS One. 2019 Jan 23;14(1):e0210016.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6343888
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30673716?tool=bestpractice.com
[113]Baunwall SMD, Andreasen SE, Hansen MM, et al. Faecal microbiota transplantation for first or second Clostridioides difficile infection (EarlyFMT): a randomised, double-blind, placebo-controlled trial. Lancet Gastroenterol Hepatol. 2022 Sep 21:S2468-1253(22)00276-X.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36152636?tool=bestpractice.com
Uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados e controlados constatou que houve evidências de qualidade moderada para indicar que o transplante de microbiota fecal é mais efetivo que a vancomicina ou o placebo.[114]Moayyedi P, Yuan Y, Baharith H, et al. Faecal microbiota transplantation for Clostridium difficile-associated diarrhoea: a systematic review of randomised controlled trials. Med J Aust. 2017 Aug 21;207(4):166-72.
https://www.mja.com.au/journal/2017/207/4/faecal-microbiota-transplantation-clostridium-difficile-associated-diarrhoea
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28814204?tool=bestpractice.com
Outro ensaio clínico randomizado e controlado constatou que o transplante de microbiota fecal (realizado por colonoscopia ou tubo nasojejunal após 4 a 10 dias de vancomicina) foi superior à fidaxomicina ou vancomicina em termos de resolução clínica e microbiológica ou resolução clínica isolada.[115]Hvas CL, Dahl Jørgensen SM, Jørgensen SP, et al. Fecal microbiota transplantation is superior to fidaxomicin for treatment of recurrent Clostridium difficile infection. Gastroenterology. 2019 Apr;156(5):1324-32.e3.
https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(18)35434-9/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30610862?tool=bestpractice.com
O sucesso do transplante de microbiota fecal (FMT) pode ser aprimorado com o preparo adequado do intestino no momento do FMT e com a otimização das práticas de administração de antibióticos no período peri-FMT. Os fatores de risco não modificáveis que aumentam o risco de fracasso do tratamento incluem idade avançada, infecção grave, doença inflamatória intestinal, hospitalização prévia relacionada a C difficile, e hospitalização.[116]Beran A, Sharma S, Ghazaleh S, et al. Predictors of fecal microbiota transplant failure in Clostridioides difficile infection : an updated meta-analysis. J Clin Gastroenterol. 2023 Apr 1;57(4):389-99.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35050941?tool=bestpractice.com
O ACG recomenda o TMF convencional preferencialmente por colonoscopia ou cápsulas orais (ou enema, se não houver outros métodos disponíveis), e sugere repetir o TMF para pacientes que apresentem recorrência de infecção por Clostridium difficile até 8 semanas após o TMF inicial.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
As taxas de cura com transplante de microbiota fecal via colonoscopia são superiores às do transplante de microbiota fecal via enema e sonda nasogástrica, e comparáveis ao transplante de microbiota fecal via cápsulas orais.[117]Ramai D, Zakhia K, Fields PJ, et al. Fecal microbiota transplantation (FMT) with colonoscopy is superior to enema and nasogastric tube while comparable to capsule for the treatment of recurrent Clostridioides difficile infection: a systematic review and meta-analysis. Dig Dis Sci. 2021 Feb;66(2):369-80.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32166622?tool=bestpractice.com
O transplante de microbiota fecal congelada ou liofilizada é tão efetivo quanto o transplante de microbiota fecal fresca na resolução da diarreia, e a administração gastrointestinal inferior pode ser mais efetiva que a administração gastrointestinal superior.[105]Lee CH, Steiner T, Petrof EO, et al. Frozen vs fresh fecal microbiota transplantation and clinical resolution of diarrhea in patients with recurrent Clostridium difficile infection: a randomized clinical trial. JAMA. 2016 Jan 12;315(2):142-9.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2481003
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26757463?tool=bestpractice.com
[118]Tang G, Yin W, Liu W. Is frozen fecal microbiota transplantation as effective as fresh fecal microbiota transplantation in patients with recurrent or refractory Clostridium difficile infection: a meta-analysis? Diagn Microbiol Infect Dis. 2017 Aug;88(4):322-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28602517?tool=bestpractice.com
[119]Furuya-Kanamori L, Doi SA, Paterson DL, et al. Upper versus lower gastrointestinal delivery for transplantation of fecal microbiota in recurrent or refractory Clostridium difficile infection: a collaborative analysis of individual patient data from 14 studies. J Clin Gastroenterol. 2017 Feb;51(2):145-50.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26974758?tool=bestpractice.com
[120]Gangwani MK, Aziz M, Aziz A, et al. Fresh versus frozen versus lyophilized fecal microbiota transplant for recurrent Clostridium difficile infection: a systematic review and network meta-analysis. J Clin Gastroenterol. 2023 Mar 1;57(3):239-45.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36656270?tool=bestpractice.com
As cápsulas orais são promissoras, devido à facilidade de administração; uma eficácia geral de 82% foi relatada com esse método.[108]Du C, Luo Y, Walsh S, et al. Oral fecal microbiota transplant capsules are safe and effective for recurrent Clostridioides difficile infection: a systematic review and meta-analysis. J Clin Gastroenterol. 2021 Apr 1;55(4):300-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33471490?tool=bestpractice.com
Em geral, o TMF é bem tolerado, mas pode haver efeitos adversos como febre, desconforto abdominal, flatulência, náuseas/vômitos, diarreia/constipação e infecções.[121]Wang S, Xu M, Wang W, et al. Systematic review: adverse events of fecal microbiota transplantation. PLoS One. 2016 Aug 16;11(8):e0161174.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4986962
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27529553?tool=bestpractice.com
Os efeitos adversos relacionados ao transplante de microbiota fecal foram relatados em 19% dos pacientes submetidos ao transplante de microbiota fecal e, geralmente, foram considerados leves a moderados e autolimitados. No entanto, efeitos adversos graves, inclusive infecções e morte, foram relatados em 1.4% dos pacientes. Todos os efeitos adversos graves foram relatados em pacientes com lesão na barreira mucosa.[122]Marcella C, Cui B, Kelly CR, et al. Systematic review: the global incidence of faecal microbiota transplantation-related adverse events from 2000 to 2020. Aliment Pharmacol Ther. 2021 Jan;53(1):33-42.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33159374?tool=bestpractice.com
Os pacientes que receberam transplante de microbiota fecal via colonoscopia apresentaram mais efeitos adversos, em comparação com pacientes que receberam transplante de microbiota fecal via enema ou cápsulas orais.[123]Pomares Bascuñana RÁ, Veses V, Sheth CC. Effectiveness of fecal microbiota transplant for the treatment of Clostridioides difficile diarrhea: a systematic review and meta-analysis. Lett Appl Microbiol. 2021 Aug;73(2):149-58.
https://academic.oup.com/lambio/article/73/2/149/6698313
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33864273?tool=bestpractice.com
As consequências em longo prazo são desconhecidas.
O TMF convencional é recomendado em pacientes com doença inflamatória intestinal.
Evidências observacionais iniciais sugeriram que o transplante de microbiota fecal pode ser menos efetivo em eliminar a infecção por C difficile em pacientes com doença inflamatória intestinal.[124]Khoruts A, Rank KM, Newman KM, et al. Inflammatory bowel disease affects the outcome of fecal microbiota transplantation for recurrent Clostridium difficile infection. Clin Gastroenterol Hepatol. 2016 Oct; 14(10):1433-8.
https://www.cghjournal.org/article/S1542-3565(16)00166-X/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26905904?tool=bestpractice.com
No entanto, uma metanálise de estudos de coorte não encontrou diferença significativa na taxa de cura após o transplante de microbiota fecal em pacientes com infecção por C difficile com ou sem doença inflamatória intestinal, mas observou que são necessários mais ensaios clínicos randomizados e controlados para validar sua segurança e eficácia nesses pacientes.[125]Chen T, Zhou Q, Zhang D, et al. Effect of faecal microbiota transplantation for treatment of Clostridium difficile infection in patients with inflammatory bowel disease: a systematic review and meta-analysis of cohort studies. J Crohns Colitis. 2018 May 25;12(6):710-7.
https://academic.oup.com/ecco-jcc/article/12/6/710/4924729
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29528385?tool=bestpractice.com
Outra metanálise constatou que o transplante de microbiota fecal parece ser uma terapia altamente efetiva para prevenir a infecção recorrente nesses pacientes.[126]Tariq R, Syed T, Yadav D, et al. Outcomes of fecal microbiota transplantation for C. difficile infection in inflammatory bowel disease : a systematic review and meta-analysis. J Clin Gastroenterol. 2023 Mar 1;57(3):285-93.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34864789?tool=bestpractice.com
O ACG recomenda que o transplante de microbiota fecal seja considerado para a infecção recorrente em pacientes com doença inflamatória intestinal.[58]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
O TMF convencional pode transmitir micro-organismos patogênicos que causam infecções graves ou com risco de vida.
Uma revisão sistemática de 303 pacientes imunocomprometidos não encontrou diferença entre as taxas de efeitos adversos graves em pacientes imunocomprometidos e imunocompetentes submetidos ao TMF.[127]Shogbesan O, Poudel DR, Victor S, et al. A systematic review of the efficacy and safety of fecal microbiota transplant for Clostridium difficile infection in immunocompromised patients. Can J Gastroenterol Hepatol. 2018 Sep 2;2018:1394379.
https://www.hindawi.com/journals/cjgh/2018/1394379
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30246002?tool=bestpractice.com
No entanto, a Food and Drug Administration (FDA) alertou que o TMF pode transmitir organismos resistentes a múltiplos medicamentos, causando infecções graves ou com risco de vida, principalmente em pacientes imunocomprometidos. Isso segue dois casos de adultos imunocomprometidos que receberam TMF e desenvolveram infecções invasivas causadas por Escherichia coli produtora de beta-lactamase de espectro estendido (BLEE). Um dos pacientes morreu.[128]US Food and Drug Administration. Important safety alert regarding use of fecal microbiota for transplantation and risk of serious adverse reactions due to transmission of multi-drug resistant organisms. Jun 2019 [internet publication].
https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/safety-availability-biologics/important-safety-alert-regarding-use-fecal-microbiota-transplantation-and-risk-serious-adverse
A FDA recomenda que os profissionais da saúde considerem o risco potencial de transmissão de bactérias patogênicas pelos produtos do TMF, incluindo Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) e Escherichia coli produtora de toxina Shiga (STEC) e as reações adversas graves resultantes que podem ocorrer.[129]US Food and Drug Administration. Fecal microbiota for transplantation: safety alert - risk of serious adverse events likely due to transmission of pathogenic organisms. Apr 2020 [internet publication].
https://www.fda.gov/safety/medical-product-safety-information/fecal-microbiota-transplantation-safety-alert-risk-serious-adverse-events-likely-due-transmission
A FDA alertou que o uso clínico do TMF tem o potencial de transmitir o vírus SARS-CoV-2 e o vírus da varíola símia, e que precauções adicionais são necessárias para fezes doadas após certas datas para cada vírus.[130]US Food and Drug Administration. Safety alert regarding use of fecal microbiota for transplantation and additional safety protections pertaining to monkeypox virus. Aug 2022 [internet publication].
https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/safety-availability-biologics/safety-alert-regarding-use-fecal-microbiota-transplantation-and-additional-safety-protections-0
[131]U.S. Food and Drug Administration. Safety alert regarding use of fecal microbiota for transplantation and additional safety protections pertaining to SARS-CoV-2 and COVID-19. Mar 2020 [internet publication].
https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/safety-availability-biologics/safety-alert-regarding-use-fecal-microbiota-transplantation-and-additional-safety-protections
Um estudo de coorte prospectivo constatou que pacientes submetidos ao TMF em comparação com aqueles que tomavam antibióticos apresentavam um risco reduzido de infecção da corrente sanguínea.[132]Ianiro G, Murri R, Sciumè GD, et al. Incidence of bloodstream infections, length of hospital stay, and survival in patients with recurrent Clostridioides difficile infection treated with fecal microbiota transplantation or antibiotics: a prospective cohort study. Ann Intern Med. 2019 Nov 19;171(10):695-702.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31683278?tool=bestpractice.com
Produtos fecais também podem conter alérgenos alimentares.
Preocupações com a segurança e a falta de disponibilidade em larga escala são barreiras ao uso disseminado do TMF convencional. Seu uso diminuiu nos últimos anos por vários motivos, incluindo:
O risco cada vez mais reconhecido de transmissão de patógenos
A pandemia da doença do coronavírus de 2019 (COVID-19)
Requisitos da agência reguladora associados ao uso de material de bancos de fezes (por exemplo, requisito para um pedido de novo medicamento em fase experimental nos EUA)
A disponibilidade de produtos bioterapêuticos vivos aprovados (veja abaixo).
Vale ressaltar que as diretrizes da IDSA/SHEA e do ACG foram publicadas antes da aprovação de produtos bioterapêuticos vivos. Portanto, eles recomendam o TMF convencional como a única opção quando a terapia baseada na microbiota fecal é indicada. Entretanto, na prática, há uma mudança em direção ao uso de produtos bioterapêuticos vivos (quando disponíveis) no lugar do TMF convencional.
Pesquisas adicionais sobre esse tratamento são necessárias, pois não há relatos suficientes sobre os principais componentes das intervenções com TMF.[133]Bafeta A, Yavchitz A, Riveros C, et al. Methods and reporting studies assessing fecal microbiota transplantation: a systematic review. Ann Intern Med. 2017 Jul 4;167(1):34-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28531908?tool=bestpractice.com
Infecção recorrente: produtos bioterapêuticos vivos
Produtos bioterapêuticos vivos são outro tipo de terapia baseada na microbiota fecal. Esses produtos se tornaram disponíveis comercialmente nos últimos anos e estão sendo usados no lugar do TMF convencional em alguns centros. Esses produtos têm dados de segurança e eficácia mais padronizados em comparação com o TMF convencional. Produtos bioterapêuticos vivos são derivados diretamente de fezes humanas ou contêm um componente microbiano definido isolado de fezes humanas e processado para fabricação ex vivo. A composição, formulação e dosagem dos produtos podem ser diferentes.[134]Monday L, Tillotson G, Chopra T. Microbiota-based live biotherapeutic products for Clostridioides difficile infection- the devil is in the details. Infect Drug Resist. 2024 Feb 15:17:623-39.
https://www.dovepress.com/microbiota-based-live-biotherapeutic-products-for-clostridioides-diffi-peer-reviewed-fulltext-article-IDR
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38375101?tool=bestpractice.com
[135]Lavoie T, Appaneal HJ, LaPlante KL. Advancements in novel live biotherapeutic products for Clostridioides difficile infection prevention. Clin Infect Dis. 2023 Dec 5;77(suppl 6):S447-54.
https://academic.oup.com/cid/article/77/Supplement_6/S447/7459145?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38051964?tool=bestpractice.com
A FDA aprovou dois produtos derivados de doadores para a prevenção da recorrência da infecção por C difficile em pacientes com idade ≥18 anos.
A microbiota fecal viva (conhecido comercialmente como Rebyota® nos EUA) é uma administração retal líquida administrada como uma dose retal única (por meio de enema de retenção) após o tratamento com antibióticos. Não é necessário preparo intestinal.
Esporos vivos da microbiota fecal (conhecido comercialmente como Vowst® nos EUA) são um produto em cápsulas orais administrado por via oral por 3 dias após o tratamento com antibióticos e a preparação intestinal. Ele é composto de esporos e não de um consórcio isolado de bactérias.
Outros produtos exclusivos podem estar disponíveis em outros países.
Os produtos bioterapêuticos vivos têm inúmeras vantagens em relação ao TMF convencional.[134]Monday L, Tillotson G, Chopra T. Microbiota-based live biotherapeutic products for Clostridioides difficile infection- the devil is in the details. Infect Drug Resist. 2024 Feb 15:17:623-39.
https://www.dovepress.com/microbiota-based-live-biotherapeutic-products-for-clostridioides-diffi-peer-reviewed-fulltext-article-IDR
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38375101?tool=bestpractice.com
[135]Lavoie T, Appaneal HJ, LaPlante KL. Advancements in novel live biotherapeutic products for Clostridioides difficile infection prevention. Clin Infect Dis. 2023 Dec 5;77(suppl 6):S447-54.
https://academic.oup.com/cid/article/77/Supplement_6/S447/7459145?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38051964?tool=bestpractice.com
Fabricados sob um processo padronizado que inclui rastreamento de doadores e patógenos, boas práticas de fabricação e ensaios clínicos rigorosos.
Menor risco de conter patógenos infecciosos conhecidos devido a etapas adicionais tomadas durante o processo de fabricação.
Pode ser prescrito por qualquer profissional da saúde, não apenas por gastroenterologistas ou infectologistas.
Modos de administração mais simples (por exemplo, produtos orais podem ser tomados em casa).
Produtos bioterapêuticos vivos não estão incluídos nas diretrizes da IDSA/SHEA ou do ACG, pois essas diretrizes foram publicadas antes de sua disponibilidade. No entanto, eles estão incluídos nas diretrizes publicadas pela AGA em 2024.
A AGA recomenda o uso de terapias baseadas na microbiota fecal (incluindo produtos bioterapêuticos vivos) em pacientes imunocompetentes com infecção recorrente após a conclusão da antibioticoterapia padrão. Não há evidências suficientes para recomendar produtos bioterapêuticos vivos em pacientes imunocomprometidos.[77]Peery AF, Kelly CR, Kao D, et al. AGA clinical practice guideline on fecal microbiota-based therapies for select gastrointestinal diseases. Gastroenterology. 2024 Mar;166(3):409-34.
https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(24)00041-6/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38395525?tool=bestpractice.com
As evidências de produtos bioterapêuticos vivos são limitadas.
A microbiota fecal viva (Rebyota®) foi estudada em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, de fase 3. A modelagem estatística mostrou que 70% dos participantes permaneceram livres de recorrência em 8 semanas após o tratamento, em comparação com 58% com placebo.[136]Khanna S, Assi M, Lee C, et al. Efficacy and safety of RBX2660 in PUNCH CD3, a phase III, randomized, double-blind, placebo-controlled trial with a Bayesian primary analysis for the prevention of recurrent Clostridioides difficile infection. Drugs. 2022 Oct;82(15):1527-38.
https://link.springer.com/article/10.1007/s40265-022-01797-x
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36287379?tool=bestpractice.com
Esporos vivos da microbiota fecal (Vowst®) foram estudados em um ensaio de fase 2b/3, duplo-cego e controlado por placebo. A recorrência foi significativamente menor 8 semanas após o tratamento em comparação ao placebo (12% vs. 40%, respectivamente)[137]Feuerstadt P, Louie TJ, Lashner B, et al. SER-109, an oral microbiome therapy for recurrent Clostridioides difficile infection. N Engl J Med. 2022 Jan 20;386(3):220-9.
https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2106516
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35045228?tool=bestpractice.com
Os efeitos adversos mais comuns foram efeitos adversos gastrointestinais leves a moderados. Embora nenhum problema grave de segurança tenha sido relatado, a vigilância pós-comercialização está em andamento. Produtos derivados de doadores podem conter alérgenos alimentares. Entretanto, nenhum caso de evento com alérgenos alimentares foi relatado até o momento.[134]Monday L, Tillotson G, Chopra T. Microbiota-based live biotherapeutic products for Clostridioides difficile infection- the devil is in the details. Infect Drug Resist. 2024 Feb 15:17:623-39.
https://www.dovepress.com/microbiota-based-live-biotherapeutic-products-for-clostridioides-diffi-peer-reviewed-fulltext-article-IDR
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38375101?tool=bestpractice.com
Não foram publicados ensaios de comparação direta (head-to-head) com TMF convencional ou bezlotoxumabe.[134]Monday L, Tillotson G, Chopra T. Microbiota-based live biotherapeutic products for Clostridioides difficile infection- the devil is in the details. Infect Drug Resist. 2024 Feb 15:17:623-39.
https://www.dovepress.com/microbiota-based-live-biotherapeutic-products-for-clostridioides-diffi-peer-reviewed-fulltext-article-IDR
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38375101?tool=bestpractice.com