Embora a retinite pigmentosa (RP) não tenha cura, muitos pacientes podem beneficiar-se significativamente da otimização da visão remanescente. Todos os pacientes devem ser submetidos a exames de visão para ter sua capacidade de refração avaliada. Muitos pacientes beneficiarão da assistência de um especialista em baixa visão (um oftalmologista ou optometrista), que pode ajudar na obtenção de vários recursos visuais como óculos, lupas ou telescópios.
Vitamina A (retinol) e ácido docosa-hexaenoico (óleo de peixe)
Altas doses de vitamina A (retinol) retardam o declínio da função retiniana, como demonstrado por respostas mensuradas por eletrorretinograma.[28]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. A randomized trial of vitamin A and vitamin E supplementation for retinitis pigmentosa. Arch Ophthalmol. 1993 Jun;111(6):761-72.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8512476?tool=bestpractice.com
A suplementação com vitamina A (retinol) é rotineiramente recomendada em alguns centros, mas outros são avessos a esse método. Pacientes com distrofia cones-bastonetes devem evitar a vitamina A (retinol), devido a potenciais danos que foram observados em camundongos com mutações ABCA4, os quais tiveram maior acúmulo de componentes A2-E (N-retinilideno-N-retiniletanol-amina) fototóxicos.[29]Radu RA, Hu J, Peng J, et al. Retinal pigment epithelium-retinal G protein receptor-opsin mediates light-dependent translocation of all-trans-retinyl esters for synthesis of visual chromophore in retinal pigment epithelial cells. J Biol Chem. 008 Jul 11;283(28):19730-8.
https://www.jbc.org/content/283/28/19730.full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18474598?tool=bestpractice.com
O componente A2-E é danoso à função celular do epitélio pigmentar da retina (EPR) por uma variedade de mecanismos, incluindo a inibição da capacidade degradativa lisossomal, perda da integridade da membrana e fototoxicidade.[30]Schütt F, Davies S, Kopitz J, et al. Photodamage to human RPE cells by A2-E, a retinoid component of lipofuscin. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2000 Jul;41(8):2303-8.
https://iovs.arvojournals.org/article.aspx?articleid=2123494
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10892877?tool=bestpractice.com
A suplementação com altas doses de vitamina A (retinol) em longo prazo parece segura para as outras variantes de RP, mas pode causar elevação das enzimas hepáticas e dos triglicerídeos e aumentar o risco de osteoporose.[31]Sibulesky L, Hayes KC, Pronczuk A, et al. Safety of <7500 RE (<25000 IU) vitamin A daily in adults with retinitis pigmentosa. Am J Clin Nutr. 1999 Apr;69(4):656-63.
https://ajcn.nutrition.org/content/69/4/656.full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10197566?tool=bestpractice.com
Os pacientes que recebem vitamina A (retinol) devem ser monitorados por seu médico em relação a esses potenciais efeitos adversos. A decisão de usar ou não vitamina A (retinol) dependerá do centro médico e da preferência do paciente. O uso de vitamina A (retinol) não foi estudado em crianças com retinite pigmentosa (RP) e, portanto, é geralmente evitado. Sugeriu-se que o betacaroteno (um precursor da vitamina A) é benéfico no tratamento da retinite pigmentosa, mas esses resultados ainda são preliminares e requerem estudos adicionais antes que uma recomendação formal possa ser feita.[32]Rotenstreich Y, Belkin M, Sadetzki S, et al. Treatment with 9-cis β-carotene-rich powder in patients with retinitis pigmentosa: a randomized crossover trial. JAMA Ophthalmol. 2013 Aug;131(8):985-92.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23700011?tool=bestpractice.com
[33]Pennesi ME. A little algae a day keeps the retinal degeneration specialist away? JAMA Ophthalmol. 2013 Aug;131(8):983-4.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23700100?tool=bestpractice.com
O ácido docosa-hexaenoico (DHA) é um ácido graxo presente em altas concentrações nos fotorreceptores e pode ser um precursor de fatores neuroprotetores. Dois estudos randomizados em pacientes com RP não mostraram um benefício significativo da suplementação de DHA.[34]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. Clinical trial of docosahexaenoic acid in patients with retinitis pigmentosa receiving vitamin A treatment. Arch Ophthalmol. 2004 Sep;122(9):1297-305.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15364708?tool=bestpractice.com
[35]Hoffman DR, Locke KG, Wheaton DH, et al. A randomized, placebo-controlled clinical trial of docosahexaenoic acid supplementation for X-linked retinitis pigmentosa. Am J Ophthalmol. 2004 Apr;137(4):704-18.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15059710?tool=bestpractice.com
Um ensaio clínico de 4 anos de fase II em um único local que avaliou a eficácia do DHA em pacientes com RP ligada ao cromossomo X não demonstrou benefício terapêutico em desacelerar a taxa de perda funcional de eletrorretinografia de cone.[36]Hoffman DR, Hughbanks-Wheaton DK, Pearson NS, et al. Four-year placebo-controlled trial of docosahexaenoic acid in X-linked retinitis pigmentosa (DHAX trial): a randomized clinical trial. JAMA Ophthalmol. 2014 Jul;132(7):866-73.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24805262?tool=bestpractice.com
Muitos centros ainda recomendam a suplementação de DHA devido ao benefício teórico, baixo risco e perfil de efeito colateral mínimo.[37]Hughbanks-Wheaton DK, Birch DG, Fish GE, et al. Safety assessment of docosahexaenoic acid in X-linked retinitis pigmentosa: the 4-year DHAX trial. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2014 Jul 11;55(8):4958-66.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25015354?tool=bestpractice.com
Luteína
A luteína é um carotenoide encontrado na retina humana e em vegetais com folhas verde-escuras. Um ensaio clínico randomizado e controlado examinou a eficácia da luteína no retardo da perda do campo de visão em pacientes com RP que estavam tomando vitamina A.[38]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. Clinical trial of lutein in patients with retinitis pigmentosa receiving vitamin A. Arch Ophthalmol. 2010 Apr;128(4):403-11.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20385935?tool=bestpractice.com
O estudo mostrou uma redução na perda dos campos visuais centro-periféricos.[38]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. Clinical trial of lutein in patients with retinitis pigmentosa receiving vitamin A. Arch Ophthalmol. 2010 Apr;128(4):403-11.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20385935?tool=bestpractice.com
No entanto, outras investigações desafiaram as conclusões deste estudo.[39]Massof RW, Fishman GA. How strong is the evidence that nutritional supplements slow the progression of retinitis pigmentosa? Arch Ophthalmol. 2010 Apr;128(4):493-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20385948?tool=bestpractice.com
Edema macular cistoide (EMC)
Inibidores da anidrase carbônica como a dorzolamida tópica ou a acetazolamida por via oral são eficazes para tratamento de EMC em alguns pacientes.[40]Grover S, Apushkin MA, Fishman GA. Topical dorzolamide for the treatment of cystoid macular edema in patients with retinitis pigmentosa. Am J Ophthalmol. 2006 May;141(5):850-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16546110?tool=bestpractice.com
[41]Fishman GA, Gilbert LD, Fiscella RG, et al. Acetazolamide for treatment of chronic macular edema in retinitis pigmentosa. Arch Ophthalmol. 1989 Oct;107(10):1445-52.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2803090?tool=bestpractice.com
Frequentemente, os pacientes devem usar esses medicamentos por vários meses antes que um efeito seja observado. O efeito pode desaparecer com o tempo, e alguns pacientes não têm benefício. Além disso, alguns pacientes podem não tolerar os efeitos adversos desses medicamentos, como parestesias e micção frequente.
Catarata
A catarata subcapsular posterior é especialmente comum e frequentemente afeta a visão central. A extração da catarata pode beneficiar muitos pacientes, especialmente se a degeneração não envolveu a mácula central. É importante descartar a presença de edema macular cistoide antes da extração da catarata, pois ele pode piorar após a cirurgia. Zônulas fracas ocultas requerem precauções cirúrgicas adequadas para minimizar os riscos de complicações durante a cirurgia de catarata.
Terapia de substituição genética
O voretigeno neparvovec, vetor recombinante viral adeno-associado que carrega uma cópia normal do gene RPE65, demonstrou melhora na visão de pacientes com Amaurose congênita de Leber secundária a mutações no gene RPE65 quando injetado no espaço sub-retiniano.[42]Maguire AM, Simonelli F, Pierce EA, et al. Safety and efficacy of gene transfer for Leber's congenital amaurosis. N Engl J Med. 2008 May 22;358(21):2240-8.
https//www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0802315#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18441370?tool=bestpractice.com
[43]Bainbridge JW, Smith AJ, Barker SS, et al. Effect of gene therapy on visual function in Leber's congenital amaurosis. N Engl J Med. 2008 May 22;358(21):2231-9.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0802268#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18441371?tool=bestpractice.com
[44]Hauswirth WW, Aleman TS, Kaushal S, et al. Treatment of Leber congenital amaurosis due to RPE65 mutations by ocular subretinal injection of adeno-associated virus gene vector: short-term results of a phase I trial. Hum Gene Ther. 2008 Oct;19(10):979-90.
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[45]Bainbridge JW, Mehat MS, Sundaram V, et al. Long-term effect of gene therapy on Leber's congenital amaurosis. N Engl J Med. 2015 May 14;372(20):1887-97.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1414221#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25938638?tool=bestpractice.com
[46]Jacobson SG, Cideciyan AV, Roman AJ, et al. Improvement and decline in vision with gene therapy in childhood blindness. N Engl J Med. 2015 May 14;372(20):1920-6.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1412965#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25936984?tool=bestpractice.com
[47]Bennett J, Wellman J, Marshall KA, et al. Safety and durability of effect of contralateral-eye administration of AAV2 gene therapy in patients with childhood-onset blindness caused by RPE65 mutations: a follow-on phase 1 trial. Lancet. 2016 Aug 13;388(10045):661-72.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)30371-3/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27375040?tool=bestpractice.com
Um ensaio clínico de fase 3 subsequente apresentou melhora da visão funcional em pacientes com distrofia retiniana hereditária mediada por RPE65 tratados com terapia gênica baseada em vetores virais adenoassociados (AAV), voretigeno neparvovec.[48]Russell S, Bennett J, Wellman JA, et al. Efficacy and safety of voretigene neparvovec (AAV2-hRPE65v2) in patients with RPE65-mediated inherited retinal dystrophy: a randomised, controlled, open-label, phase 3 trial. Lancet. 2017 Aug 26;390(10097):849-60.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)31868-8/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28712537?tool=bestpractice.com
Estudos de acompanhamento do ensaio clínico de fase 3 e um ensaio clínico inicial de fase 1 demonstraram um perfil de segurança consistente e o desenvolvimento de eficácia de longo prazo.[49]Maguire AM, Russell S, Wellman JA, et al. Efficacy, safety, and durability of voretigene neparvovec-rzyl in RPE65 mutation-associated inherited retinal dystrophy: results of phase 1 and 3 trials. Ophthalmology. 2019 Sep;126(9):1273-85.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31443789?tool=bestpractice.com
O voretigeno neparvovec está aprovado para o tratamento da distrofia retiniana associada à mutação bialélica do RPE65. Está disponível no NHS do Reino Unido.[50]National Institute for Health and Care Excellence. Voretigene neparvovec for treating inherited retinal dystrophies caused by RPE65 gene mutations. October 2019 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/hst11
O voretigeno neparvovec não é apenas o primeiro tratamento aprovado para a distrofia retiniana, mas também é a primeira terapia gênica aprovada para os olhos. Outros ensaios clínicos para a síndrome de Usher do tipo 1 devida a mutações no MYO7A e a RP ligadas ao cromossomo X devido a mutações no RPGR estão em andamento.