Prognóstico
O quadro clínico e o prognóstico da obstrução das vias aéreas centrais (OCVA) são tão diversos quanto as doenças que a causam. Existem dois prognósticos extremos. OCVA resultante de uma causa tratável de desconforto respiratório, como aspiração de corpo estranho, tem um excelente prognóstico, uma vez que o agente desencadeante seja removido. Por outro lado, pacientes com OCVA cronicamente enfermos com afecções como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) grave ou câncer de pulmão metastático, apresentando-se com uma obstrução localizada das vias aéreas suscetível a tratamento paliativo, têm um prognóstico desfavorável, pois o tratamento da OCVA pode ou não prolongar marginalmente a sobrevida.
Um estudo prospectivo demonstrou que a broncoscopia terapêutica para OCVA maligna ou não maligna melhorou significativamente os valores de espirometria (isto é, CVF, VEF1), qualidade de vida e índice de sobrevida. Entretanto, pacientes com OCVA maligna nos quais a patência das vias aéreas não pode ser recuperada após broncoscopia terapêutica têm um baixo índice de sobrevida.[133]
Obstrução maligna das vias aéreas centrais
Na grande maioria dos casos, as obstruções malignas das vias aéreas não são curáveis e a abordagem tem como objetivo a paliação de sintomas (por exemplo, dispneia, tosse, hemoptise) que possam ser suscetíveis a procedimentos farmacológicos ou invasivos.[134] Os pacientes e os familiares devem ser informados quanto à natureza paliativa desses esforços. Sabe-se que a sobrevida de pacientes com OCVA maligna não tratada é muito desfavorável e varia entre 1 e 2 meses.[135] Além disso, sua qualidade de vida é extremamente ruim e eles podem morrer por asfixia ou no suporte por ventilação mecânica.
Em pacientes com obstrução maligna das vias aéreas, a terapia multimodal e a introdução de endoprótese têm apresentado melhoras na qualidade de vida, em comparação com outras estratégias. Entretanto, comparações com placebo ou com ausência de tratamento paliativo são consideradas antiéticas e não foram feitas. Um estudo prospectivo em pacientes com OCVA decorrente de câncer de pulmão avançado ou recorrente submetidos à ablação por laser demonstrou uma melhora significativa nas medições objetivas da qualidade de vida.[136] O uso endobrônquico de laser e eletrocauterização em estudos retrospectivos apresentou paliação bem-sucedida de dispneia e hemoptise em 51% a 90% dos pacientes.[2][16][17][18][22][69][74][90]
Dois estudos retrospectivos mostraram melhor paliação e sobrevida depois da introdução de endoprótese nas vias aéreas no câncer de pulmão avançado.[121][135] Um estudo retrospectivo constatou redução na sobrevida em pacientes com OCVA maligna e um escore da American Society of Anesthesiologists elevado, histologia negativa para células não escamosas, em tumores metastáticos e em pacientes sem terapia específica prévia.[137] Outro estudo retrospectivo demonstrou certos preditores associados à broncoscopia terapêutica bem-sucedida para OCVA maligna, incluindo vias aéreas distais patentes visualizadas em imagens de TC e durante a broncoscopia.[24] As chances de alívio bem-sucedido da obstrução foram maiores em não fumantes e com menor tempo entre o achado radiográfico da OCVA e a intervenção.
Um relatório do estudo de registro multicêntrico de broncoscopia terapêutica para OCVA maligna do American College of Chest Physicians demonstrou um índice de sucesso técnico muito alto (90% a 98%). O índice de sucesso mais alto estava associado com colocação de endoprótese e obstrução endobronquial. Foi relatada uma melhora clínica significativa de 48% na dispneia, e maior grau de dispneia na linha basal estava associada com melhora mais significativa. Com relação à qualidade de vida relacionada à saúde, 42% demonstraram melhora clinicamente significativa; novamente, maior grau de dispneia na linha basal foi associada com melhores resultados.[138]
Obstrução não maligna das vias aéreas centrais
O prognóstico depende da doença subjacente, da extensão da doença e do quadro clínico. Em geral, essas doenças são tratáveis e, na maioria dos casos, curáveis por cirurgia ou técnicas endoscópicas. Entretanto, algumas doenças não malignas (por exemplo, policondrite recidivante, papilomatose traqueobrônquica) são recorrentes e apresentam morbidade significativa.
A dilatação da traqueia e o esvaziamento por laser tipicamente conferem paliação transitória dos sintomas. A colocação de endoprótese de silicone deve ser usada como ponte para cirurgia ou em pacientes que não sejam bons candidatos à cirurgia. A ressecção cirúrgica é considerada o tratamento definitivo e deve ser cogitada no início do tratamento em pacientes com estenose candidatos à cirurgia. Se esses princípios gerais forem seguidos, a cirurgia não será protelada por tentativas repetidas de tratamento endoscópico. Entretanto, a terapia endoscópica bem-sucedida pode evitar as complicações e o desconforto associados a um procedimento cirúrgico de grande porte, particularmente em pacientes com doença cardiopulmonar subjacente ou outras comorbidades significativas. Nas mãos de um broncoscopista experiente, o manejo endoscópico agressivo não evita procedimentos cirúrgicos futuros, caso necessário.
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