A candidíase sistêmica geralmente é uma doença relacionada à terapia médica moderna. Como tal, ela é observada principalmente em pacientes que estejam ou tenham sido hospitalizados recentemente e tenham cateteres intravasculares ou que apresentem comprometimento imunológico. O uso de medicamentos injetáveis é um fator de risco emergente para candidemia de início na comunidade.[1]Zhang AY, Shrum S, Williams S, et al. The changing epidemiology of candidemia in the United States: injection drug use as an increasingly common risk factor-active surveillance in selected sites, United States, 2014-2017. Clin Infect Dis. 2020 Oct 23;71(7):1732-7.
https://academic.oup.com/cid/article/71/7/1732/5611077?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31676903?tool=bestpractice.com
A candidemia é uma preocupação global crescente em termos de carga de doenças e resistência antimicrobiana. Há uma estimativa de 25,000 casos de candidemia nos EUA a cada ano, e é uma das infecções nosocomiais da corrente sanguínea mais comuns nos EUA e na Europa.[2]Pappas PG. Invasive candidiasis. Infect Dis Clin North Am. 2006 Sep;20(3):485-506.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16984866?tool=bestpractice.com
[3]Tsay SV, Mu Y, Williams S, et al. Burden of candidemia in the United States, 2017. Clin Infect Dis. 2020 Dec 3;71(9):e449-53.
https://academic.oup.com/cid/article/71/9/e449/5763102?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32107534?tool=bestpractice.com
[4]Lamoth F, Lockhart SR, Berkow EL, et al. Changes in the epidemiological landscape of invasive candidiasis. J Antimicrob Chemother. 2018 Jan 1;73(suppl_1):i4-13.
https://academic.oup.com/jac/article/73/suppl_1/i4/4769692?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29304207?tool=bestpractice.com
No entanto, a candidemia representa apenas uma parte da carga da candidíase sistêmica. Estudos do portal Leading International Fungal Education estimam que a carga global de candidíase invasiva seja de 700,000 casos em todo o mundo, com taxas variando por país (2 a 21 casos por 100,000).[5]Bongomin F, Gago S, Oladele RO, et al. Global and multi-national prevalence of fungal diseases-estimate precision. J Fungi (Basel). 2017 Oct 18;3(4):57.
https://www.mdpi.com/2309-608X/3/4/57
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29371573?tool=bestpractice.com
Espécies de Candida são destacadas como ameaças urgentes e graves nas Ameaças de Resistência a Antibióticos de 2019 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, e grupos críticos e de alta prioridade na lista de patógenos fúngicos prioritários de 2022 da Organização Mundial da Saúde.[6]Centers for Disease Control and Prevention. Antibiotic resistance threats in the United States, 2019. Dec 2019 [internet publication].
https://www.cdc.gov/drugresistance/biggest-threats.html
[7]World Health Organization. WHO fungal priority pathogens list to guide research, development and public health action. 2022 [internet publication].
https://www.who.int/publications/i/item/9789240060241
Quase toda candidíase sistêmica é causada por 5 espécies: Candida albicans, C glabrata, C parapsilosis, C krusei e C tropicalis. C albicans é a espécie mais comum que causa infecção. No entanto, sua contribuição relativa está diminuindo e as espécies não albicans agora representam dois terços dos casos de candidemia nos EUA.[3]Tsay SV, Mu Y, Williams S, et al. Burden of candidemia in the United States, 2017. Clin Infect Dis. 2020 Dec 3;71(9):e449-53.
https://academic.oup.com/cid/article/71/9/e449/5763102?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32107534?tool=bestpractice.com
[8]Horn DL, Neofytos D, Anaissie EJ, et al. Epidemiology and outcomes of candidemia in 2019 patients: data from the prospective antifungal therapy alliance registry. Clin Infect Dis. 2009 Jun 15;48(12):1695-703.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19441981?tool=bestpractice.com
Estudos realizados pelo Programa de Vigilância Antimicrobiana SENTRY (1997 a 2016) observaram um declínio na C albicans para menos da metade do total de isolados causadores de candidemia.[9]Pfaller MA, Diekema DJ, Turnidge JD, et al. Twenty years of the SENTRY Antifungal Surveillance Program: results for candida species from 1997-2016. Open Forum Infect Dis. 2019 Mar;6(suppl 1):S79-94.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6419901
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30895218?tool=bestpractice.com
Existe uma variação global na predominância de determinadas espécies, sendo a C tropicalis comum na América do Sul e no Sudeste Asiático e a C parapsilosis, na Europa.[10]Colombo AL, Nucci M, Park BJ, et al. Epidemiology of candidemia in Brazil: a nationwide sentinel surveillance of candidemia in eleven medical centers. J Clin Microbiol. 2006 Aug;44(8):2816-23.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16891497?tool=bestpractice.com
[11]Chai YA, Wang Y, Khoo AL, et al. Predominance of Candida tropicalis bloodstream infections in a Singapore teaching hospital. Med Mycol. 2007 Aug;45(5):435-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17654270?tool=bestpractice.com
[12]Almirante B, Rodriguez D, Cuenca-Estrella M, et al. Epidemiology, risk factors, and prognosis of Candida parapsilosis bloodstream infections: case-control population-based surveillance study of patients in Barcelona, Spain, from 2002 to 2003. J Clin Microbiol. 2006 May;44(5):1681-5.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1479182
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16672393?tool=bestpractice.com
Em associação com a epidemiologia variável das espécies de Candida, observou-se também diminuição da mortalidade.[13]Diekema D, Arbefeville S, Boyken L, et al. The changing epidemiology of healthcare-associated candidemia over three decades. Diagn Microbiol Infect Dis. 2012 May;73(1):45-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22578938?tool=bestpractice.com
O aumento de espécies não albicans é particularmente preocupante, pois essas espécies são mais propensas a serem resistentes ao fluconazol, o esteio do tratamento e profilaxia da candidíase sistêmica em grande parte do mundo.
Em 2016, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA emitiram um alerta sobre a emergência global da espécie multirresistente C auris. Vários estados dos Estados Unidos identificaram pacientes com infecção por C auris, inclusive indivíduos recentemente hospitalizados em países com transmissão contínua de C auris.[14]Centers for Disease Control and Prevention. Tracking Candida auris. Feb 2023 [internet publication].
https://www.cdc.gov/fungal/candida-auris/tracking-c-auris.html
Em 2021, na União Europeia e no Espaço Econômico Europeu, houve 655 casos relatados de C auris.[15]Kohlenberg A, Monnet DL, Plachouras D, et al. Increasing number of cases and outbreaks caused by Candida auris in the EU/EEA, 2020 to 2021. Euro Surveill. 2022 Nov;27(46):2200846.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9673237
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36398575?tool=bestpractice.com
Aconselha-se que os hospitais identifiquem todos os isolados invasivos das espécies de Candida, a fim de instituir medidas específicas de controle da infecção mediante o isolamento da C auris.[16]Centers for Disease Control and Prevention. Candida auris: information for laboratorians and health professionals. Jul 2021 [internet publication].
https://www.cdc.gov/fungal/candida-auris/health-professionals.html
Estas incluem precauções de contato, muitas vezes por períodos prolongados, se persistir a colonização, e a limpeza e a desinfecção do ambiente de atendimento ao paciente com produtos eficazes contra esporos de Clostridium difficile, já que os desinfetantes convencionais podem não erradicar o organismo.[16]Centers for Disease Control and Prevention. Candida auris: information for laboratorians and health professionals. Jul 2021 [internet publication].
https://www.cdc.gov/fungal/candida-auris/health-professionals.html