Abordagem
O tratamento da sepse ou infecção sistêmica grave causada por vibrio não colérico consiste em antibióticos intravenosos (ou seja, uma cefalosporina de terceira geração associada a tetraciclina, ou uma cefalosporina de terceira geração associada a ciprofloxacino). A sepse tem alta taxa de mortalidade, e a terapia para infecção por Vibrio deve ser incluída no esquema de antibioticoterapia empírica com confirmação por hemocultura pendente.[42] Pacientes com infecção necrosante de pele/tecidos moles também precisam ser submetidos ao desbridamento precoce e agressivo do tecido desvitalizado. Em pacientes com fasciite necrosante, a intervenção cirúrgica nas primeiras 12 horas da internação demonstrou redução significativa no risco de morte.[51] Pacientes que apresentam infecções de feridas cutâneas/de tecidos moles localizadas não necrosantes isoladas podem ser tratados ambulatorialmente com antibióticos orais. Síndromes de gastroenterite são tratadas com reidratação. Antibióticos orais são indicados quando a diarreia persiste por >5 dias.
Sepse ou infecção sistêmica grave
A sepse é definida por disfunção de órgãos com risco de vida causada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. O choque séptico é definido como um subconjunto de sepse com disfunção circulatória e celular ou metabólica associada a um risco mais alto de mortalidade.[42]
O Vibrio vulnificus pode produzir rapidamente choque séptico fatal em pacientes imunocomprometidos ou com doença hepática subjacente. É o microrganismo mais associado a doença grave e/ou morte.[18][17] Em pacientes com alcoolismo ou cirrose, o Vibrio parahaemolyticus pode causar sepse com taxa de mortalidade de 29%.[52] Pacientes com sepse devem ser tratados em um ambiente de cuidados intensivos. A sobrevida ideal do paciente depende da ressuscitação precoce guiada por metas e da instituição precoce de antibioticoterapia de amplo espectro.[42] Para mais informações sobre o manejo da sepse, consulte Sepse em adultos.
Uma opção de tratamento é a antibioticoterapia intravenosa combinada com uma cefalosporina de terceira geração (por exemplo, ceftazidima, ceftriaxona) associada a uma tetraciclina (por exemplo, doxiciclina, minociclina).[53] Em um estudo retrospectivo que durou mais de 8 anos e analisou os fatores de risco para fatalidade entre pacientes com septicemia por V vulnificus, o tratamento combinado com uma cefalosporina de terceira geração associada a tetraciclina foi um preditor independente para a mortalidade mais baixa.[49]
Outra opção é a combinação de antibioticoterapia intravenosa com uma cefalosporina de terceira geração associada a ciprofloxacino.
Um estudo retrospectivo de 2019 com pacientes com septicemia por V vulnificus dá suporte à terapia combinada com uma cefalosporina de terceira geração. Esse estudo, realizado com 218 pacientes com septicemia por Vibrio vulnificus, por um período de mais de 26 anos, registrou uma sobrevida global em 30 dias de 39%. A sobrevida no grupo de monoterapia que recebeu cefalosporina de terceira geração isolada (35%) ou ciprofloxacino isolado (29%) foi menor que nos grupos que receberam cefalosporina de terceira geração associada a doxiciclina (38%) ou cefalosporina de terceira geração associada a ciprofloxacino (54%). Em um subgrupo de 81 pacientes sujeitos a uma análise combinada de escore de propensão, não houve diferença estatisticamente significativa na sobrevida em 30 dias entre os grupos que receberam cefalosporina de terceira geração associada a doxiciclina (50%) e os que receberam cefalosporina de terceira geração associada a ciprofloxacino (67%).[54]
Portanto, o tratamento para septicemia por V vulnificus é realizado com cefalosporina de terceira geração associada a tetraciclina ou ciprofloxacino.[49][53][54] A monoterapia com antibióticos não é recomendada.
As fluoroquinolonas estão associadas a efeitos adversos graves, incapacitantes e potencialmente irreversíveis, incluindo tendinite, ruptura de tendão, artralgia, neuropatias e outros efeitos sobre os sistemas musculoesquelético ou nervoso.[55][56] A Food and Drug Administration (FDA) também emitiu avisos sobre o aumento do risco de dissecção de aorta, hipoglicemia significativa e efeitos adversos para a saúde mental em pacientes que tomam fluoroquinolonas.[57][58]
A duração da terapia deve ser individualizada, mas é esperado que seja, no mínimo, de 10 a 14 dias. O início do choque séptico e a demora para iniciar a antibioticoterapia com atividade sobre o Vibrio resultam em aumento significativo das taxas de mortalidade.[49] A antibioticoterapia deve ser reavaliada com dados clínicos e microbiológicos para estreitar a cobertura, quando apropriado.[42]
Em pacientes com infecção necrosante de pele/tecidos moles concomitante, o tratamento cirúrgico é fundamental para melhorar a sobrevida e diminuir a permanência no hospital e na unidade de terapia intensiva (UTI). Isso é feito por meio do desbridamento precoce e agressivo do tecido desvitalizado.[51][59][60][61][62] Em um estudo, cirurgia provisória inicial consistente de incisão, drenagem e irrigação dos locais infectados com anestesia regional com cirurgia agressiva 24 horas depois apresentou taxa inferior de mortalidade (26%) versus cirurgia agressiva inicial com anestesia geral (60%). Acredita-se que isso aconteça porque o grupo de cirurgia temporizada está fisiologicamente estabilizado antes da anestesia geral.[63]
Infecção cutânea/de tecidos moles localizada
A celulite leve resultante de uma lesão no local da inoculação em um hospedeiro saudável pode ser tratada no ambulatório com doxiciclina oral com ou sem uma fluoroquinolona oral de geração mais recente.
Os pacientes podem apresentar infecção necrosante de pele/tecidos moles isolada. Isso deve ser tratado no hospital com terapêutica antimicrobiana intravenosa e assistência cirúrgica (isto é, desbridamento precoce e agressivo do tecido desvitalizado).
Um estudo retrospectivo de antibioticoterapia para fasciite necrosante causada por V vulnificus relatou que, em pacientes que recebem intervenção cirúrgica imediata, ceftazidima associada à minociclina, ou ciprofloxacino isolado, resultou em uma sobrevida estatisticamente melhor que a ceftazidima isolada.[64]
Para infecções de feridas, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA recomendam a antibioticoterapia com uma cefalosporina de terceira geração associada a doxiciclina.[45] Os esquemas alternativos são uma cefalosporina de terceira geração associada a uma fluoroquinolona, ou monoterapia com uma fluoroquinolona.[45]
Síndromes de gastroenterite
O V parahaemolyticus geralmente causa uma doença gastrointestinal autolimitada, que dura 2 a 3 dias. A terapia limita-se à reidratação. Não existe nenhuma função clara para a antibioticoterapia na diarreia leve a moderada.[53] Para diarreia persistente mais grave com >5 dias, mesmo sem dados clínicos publicados, sugere-se que um ciclo de doxiciclina oral por 5-7 dias ou uma fluoroquinolona oral por 3 dias pode ser eficaz.[53]
Infecções superficiais por inoculação
Não existem recomendações padrão para o tratamento da otite externa causada por Vibrio alginolyticus. A terapia deve se basear na sensibilidade antimicrobiana do isolado. Dados sobre o manejo terapêutico de infecções oculares por Vibrio limitam-se a relatos casuais.[3] Recomenda-se o encaminhamento para um oftalmologista.
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