Etiologia

As espécies de Vibrio são habitantes naturais dos oceanos e de águas salobras.[17]​ Elas estão presentes no tecido dos frutos do mar, incluindo ostras, mexilhões, mariscos, camarões e caranguejos. Dez espécies de Vibrio, das >140 identificadas, foram associadas a doença em humanos. Destes, o Vibrio vulnificus, o Vibrio parahaemolyticus e o Vibrio alginolyticus contribuem para a maioria das infecções humanas. O V vulnificus é o membro mais virulento do grupo.[18][19]

A infecção causada por vibriões não coléricos marinhos/de estuários resulta de exposição a água salobra ou do mar com uma lesão cutânea aberta ou uma ferida penetrante existente, ou pela ingestão de frutos do mar crus ou parcialmente cozidos. O risco de infecção e a taxa de mortalidade são mais altos em pacientes com cirrose hepática subjacente decorrente de abuso de bebidas alcoólicas, infecção crônica por hepatite B ou C, hemocromatose, diabetes ou doença maligna, em pessoas tratadas com corticosteroides ou naquelas que estão imunocomprometidas. Em pacientes com distúrbio hepático ou distúrbios de armazenamento de ferro (por exemplo, cirrose, hemocromatose) ou naqueles que estão imunocomprometidos, o V vulnificus, através da ingestão ou inoculação na ferida, pode produzir choque séptico fatal rapidamente, com ou sem associação de infecção necrosante de tecidos moles.[17][20][21]​​​​[22][23][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Alteração gangrenosa com bolhas hemorrágicas em um paciente com cirrose que desenvolveu choque séptico e bacteremia por Vibrio vulnificusDa coleção de imagens dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@5081859c​​​

O V parahaemolyticus é geralmente relacionado a uma gastroenterite autolimitada associada a frutos do mar em um hospedeiro normal.[17]​ Foi associado a casos raros de septicemia e morte.

O V alginolyticus raramente produz doença gastroentérica e geralmente está associado a doenças superficiais nos olhos ou ouvidos em jovens saudáveis que se expõem à água do mar para nadar ou surfar.[4]​​[19] Também causou infecções em tecidos moles em feridas traumáticas contaminadas por água do mar.[24][25][26][27]

Fisiopatologia

A virulência do Vibrio vulnificus foi associada a diversos fatores. O microrganismo pode produzir sideróforos e, assim, eliminar ferro da transferrina e hemoglobina do hospedeiro. Ele produz hemolisinas que lisam eritrócitos de mamíferos e são citotóxicas para o tecido, produz uma metaloprotease que tem atividade elastolítica e colagenolítica e produz um polissacarídeo capsular que pode ativar o sistema de citocina do hospedeiro.[28][29] Estudos in vitro em camundongos sugerem que um produto metabólico de V vulnificus, ciclo (L-fenilalanil-Lprolina) ou cFP, pode agir como um fator de virulência ao inibir o receptor do tipo Toll de macrófago a jusante sinalizando fator nuclear kappa B (FN-kappa B). Isso atenuaria a produção de citocinas como parte da resposta imune inata à infecção.[30]O V vulnificus também produz uma citotoxina potente, a "repeats-in-toxin" A1, ou RtxA1, considerada um fator de virulência significativo.[31]

Fatores de virulência do V parahaemolyticus incluem uma hemolisina direta termoestável (TDH) e dois sistemas de secreção tipo 3 (T3SS) em forma de agulha. A TDH pode funcionar como uma porina na membrana plasmática do enterócito, permitindo o fluxo de íons e a morte celular. O T3SS permite a injeção de proteínas bacterianas diretamente nas células do hospedeiro.[21] O microrganismo possui moléculas de adesão celular que se ligam à membrana da célula do hospedeiro, facilitando o contato necessário para função T3SS e penetração celular. Também possui um sistema sideróforo para captura e entrega de ferro.[32][33] Estudos in vitro em culturas de células teciduais demonstraram que bactériaas em locais endossômicos intracelulares são capazes de escapar antes da formação de endolisossomos e de replicar de maneira bem-sucedida no citosol celular.[34]

Classificação

Taxonomia e descrição de vibriões[1]​​

O gênero Vibrio pertence à família Vibrionaceae e é caracterizado por bactérias curvas ou em forma de vírgula gram-negativas e móveis:

  • Fenotipicamente, são organismos oxidase-positivos fermentadores de glicose, cujo crescimento é estimulado por ou depende da presença de íons Na+.

  • Vibriões não coléricos são diferenciados do V cholerae pela capacidade do V cholerae de crescer sem Na+, e por testes bioquímicos e sorológicos adicionais, incluindo aglutinação nos antissoro O1 ou O139.

  • Vibriões não coléricos (vibriões halofílicos) também se diferenciam pela necessidade de Na+ para crescer e por características bioquímicas, incluindo fermentação de sacarose e lactose e utilização de lisina e ornitina como substratos metabólicos.

Sistema Integrado de Informações Taxonômicas - Taxonomia de Vibrio[2]

  • Família: Vibrionaceae

  • Gênero: Vibrio

  • Espécie: >85 espécies de vibriões não coléricos

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