Caso clínico
Caso clínico #1
Um rapaz de 17 anos foi internado em um hospital no Brasil com 4 dias de febre, cefaleia e mialgia e 2 dias de diarreia, dor abdominal e prostração. Duas semanas antes da internação, ele relatou ter caído em um esgoto a céu aberto durante uma enchente, sofrendo lacerações. No momento da internação hospitalar, o paciente apresentava febre de 39.2 ºC (102.6 °F) e, no exame físico, foi constatado que não tinha icterícia, mas tinha sufusão conjuntival, um pouco de estertores, hepatomegalia e sensibilidade intensa na parede abdominal e na panturrilha. O exame laboratorial mostrou leucocitose, aminotransferases hepáticas com discreta elevação e creatinina elevada de 221 micromoles/L (2.5 mg/dL) e hipocalemia. Nas 24 horas seguintes, apesar da administração de antibiótico intravenoso e da terapia de suporte, o paciente desenvolveu insuficiência respiratória hipoxêmica e insuficiência renal oligúrica. No dia 2 após a internação hospitalar, ele desenvolveu desconforto respiratório; observou-se que seu pH estava 7.34, tornou-se oligúrico com nível crescente de creatina e precisou de diálise intraperitoneal. No dia 3 após a internação hospitalar, ele foi intubado em decorrência de desconforto respiratório grave, com pH de 7.3, PaO₂ 55 e PaCO₂ 62 em FiO₂ 100%; após a intubação endotraqueal, ele desenvolveu sangramento maciço e choque hipotenso e faleceu. A hemocultura e cultura de urina foram inconclusivas, e o teste de aglutinação microscópica (TAM) foi negativo; no entanto, o diagnóstico de leptospirose foi confirmado por reação em cadeia da polimerase.
Caso clínico #2
Um homem de 42 anos de idade compareceu no pronto-socorro reclamando de anorexia, febre, mal-estar, cefaleias, dor retro-orbital e mialgia de 4 dias de evolução. Ele nega viagem recente ou contato com animais; ele trabalha colhendo frutas em uma fazenda local. O paciente afirma que, durante os últimos 14 dias, ele vinha trabalhando após fortes pancadas de chuva. O exame físico revelou um exantema morbiliforme não pruriginoso no tronco, sufusão conjuntival bilateral e lacerações nos membros superiores. Os exames laboratoriais mostraram leucocitose, anemia e aminotransferases hepáticas elevadas. Durante a internação hospitalar, o paciente desenvolveu pancreatite como complicação, manifestada com vômitos intratáveis e dor abdominal. A amilase e a lipase estavam significativamente elevadas. O diagnóstico foi feito usando um teste de aglutinação microscópica, que confirmou a suspeita de leptospirose.
Outras apresentações
A meningite asséptica é uma manifestação comum durante a fase imune da doença; sua incidência é de aproximadamente 25%.[6][7] Os sintomas, invariavelmente, incluem cefaleia, estado mental alterado e febre. No entanto, na minoria dos pacientes, o envolvimento neurológico pode apresentar um espectro de manifestações incomuns, como coma, meningoencefalite, mielite transversa, hemiplegia e síndrome de Guillain-Barré.[1] Os sintomas incluem inquietação, confusão, alucinações, delirium e comportamento psicótico. Uma pequena proporção dos pacientes desenvolveu pancreatite aguda como complicação, o que pode ser fatal.[8] Foi relatado um caso de leptospirose com características clínicas de síndrome nefrótica com proteinúria maciça.[9]
Determinadas populações de pacientes, como idosos e gestantes, possuem um risco elevado de evoluir para doença grave como resultado de infecção leptospiral. Durante a gestação, os fetos podem adquirir infecção durante a fase aguda/inicial através da transmissão placentária, o que pode causar morte fetal.[10] As mulheres têm maior probabilidade de sofrer aborto espontâneo se ocorrer leptospirose no início da gestação.[11] Os fetos têm risco de morbidade e mortalidade caso a mãe tenha febre alta ou distúrbios hemodinâmicos acentuados.[12] Pacientes idosos podem apresentar aumento do risco de infecção mais grave, e os pacientes dessa faixa etária que desenvolverem doença de Weil têm uma alta mortalidade.[5] A infecção em indivíduos imunocomprometidos pode ser mais grave e causar complicações cardiovasculares, inclusive bloqueio atrioventricular, embora seja uma manifestação muito rara.[13]
Podem ocorrer coinfecções com a leptospirose, inclusive dengue, malária, rickettsia, tifo esfoliante e HIV.[14][15][16][17][18] Os pacientes com leptospirose e coinfecção por malária podem ter doença grave e desenvolver disfunção hepatorrenal.[19] O diagnóstico clínico de leptospirose em regiões tropicais costuma ser desafiador, pois as manifestações clínicas da leptospirose geralmente não se diferenciam das de outras infecções endêmicas.[20]
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