Abordagem
O tratamento de diversas doenças alérgicas está bem estabelecido; no entanto, o tratamento das alergias alimentares ainda se fundamenta principalmente em evitar os alérgenos alimentares e reverter as respostas imunes com adrenalina. A educação sobre alergia alimentar para pacientes e cuidadores é essencial para ajudar na implementação bem-sucedida dessas estratégias. É importante que pacientes e cuidadores estejam sempre alertas a reações alérgicas causadas por ingestão acidental. Relatos de exposição acidental ao alérgeno causador ocorrem em 7% a 75% dos casos após o diagnóstico.[71] Um plano de ação para a alergia, individualizado e por escrito, pode ser benéfico para pacientes, pais/cuidadores e profissionais da saúde que estão se preparando para o tratamento de uma reação alérgica alimentar.[72] AAP: allergy and anaphylaxis emergency plan Opens in new window
Tratamento da ingestão acidental de alérgenos alimentares
O manejo de reações a alimentos ingeridos acidentalmente inclui anti-histamínicos para reações mais leves e adrenalina, anti-histamínicos e demais modalidades de tratamento para reações mais graves. O manejo da anafilaxia aguda requer intervenção imediata com cuidados de suporte e específicos.[73][74][75] O início súbito de comprometimento respiratório ou cardiovascular, geralmente com uma história de exposição a alérgenos (em pacientes presumidamente sensibilizados), com erupção cutânea, sibilância e estridor inspiratório, hipotensão, ansiedade, náuseas e vômitos, requer tratamento imediato.
Deve-se estabelecer e manter as vias aéreas pérvias. Os pacientes com obstrução grave das vias aéreas podem necessitar de intubação.
Deve-se administrar oxigênio e monitorar a saturação com oximetria de pulso.
Deve-se administrar adrenalina por via intramuscular a cada 5 a 15 minutos em doses adequadas, conforme necessário, dependendo dos sinais e sintomas de anafilaxia presentes, a fim de controlar e prevenir a evolução para desconforto respiratório, hipotensão, choque e perda de consciência.[76][77] Na anafilaxia refratária com evolução dos sinais sistêmicos, o tratamento com adrenalina pode ser administrado em infusão intravenosa. Em caso de parada cardiopulmonar durante a anafilaxia, recomenda-se dose alta de adrenalina e esforços prolongados de ressuscitação, caso necessário.[78]
O paciente deve ser colocado em posição de decúbito com os membros inferiores elevados.
Deve-se estabelecer acesso venoso para a administração de medicamentos por via intravenosa.
Deve-se instituir soro fisiológico intravenoso para reposição de fluidos e tratamento de choque vasogênico.
Medidas específicas a serem avaliadas após a administração de adrenalina incluem:[78][79][80]
Antagonistas H1 e H2 em caso de sintomas cutâneos e gástricos
Agonista β2 nebulizado em caso de broncoespasmo resistente à adrenalina
Corticosteroides sistêmicos
Vasopressores para hipotensão persistente
Glucagon em pacientes que fazem uso de betabloqueadores
Atropina para bradicardia sintomática
Encaminhamento para o pronto-socorro ou unidade de terapia intensiva.
Em caso de parada cardiopulmonar durante a anafilaxia, recomenda-se dose alta de adrenalina e esforços prolongados de ressuscitação, caso necessário.[78] Os pacientes com obstrução grave das vias aéreas podem necessitar de intubação.
O tratamento com um anti-histamínico oral deve ser suficiente em caso de rinoconjuntivite e sintomas de ingestão acidental limitados a urticária ou prurido localizados. O manejo domiciliar complementar deve consistir de terapia não emergencial, incluindo:
Broncodilatador
Relaxa o músculo liso brônquico mediante ação nos receptores β2 com pouco efeito na frequência cardíaca
Efetivo em caso de sibilância, podendo ser administrado nebulizado com oxigênio suplementar, caso necessário
Antagonistas H2
Atuam mediante inibição competitiva da histamina nos receptores H2 das células parietais gástricas, inibindo a secreção do ácido gástrico e reduzindo o volume gástrico e a concentração de íons de hidrogênio
Demonstrou ser mais efetivo no manejo dos sintomas cutâneos que o tratamento apenas com antagonista H1 (anti-histamínico)
Autoinjetores portáteis de adrenalina para autoinjeção.
Para fins de diferenciação entre reações locais e sistêmicas, anafilaxia é definida aqui como reação alérgica aguda, grave e com risco de vida em indivíduos pré-sensibilizados, ocasionando resposta sistêmica causada pela liberação de mediadores imunológicos e inflamatórios dos basófilos e mastócitos.
Deve-se prescrever dois autoinjetores de adrenalina a todos os pacientes após um episódio de anafilaxia.[81][82] O paciente ou cuidador deve carregá-los em todas as ocasiões e estar familiarizado com o seu uso.[77] Para crianças com risco de anafilaxia, o autoinjetor de adrenalina deve ser prescrito em conjunto com um plano de emergência personalizado por escrito.[72][77] AAP: allergy and anaphylaxis emergency plan Opens in new window
Evitação de alérgenos alimentares
Os pacientes devem ser instruídos a evitar rigorosamente o alérgeno alimentar causador. Geralmente, é útil envolver um nutricionista neste processo, pois dietas de eliminação mal preparadas podem causar desnutrição. Evitar corretamente depende da identificação dos alérgenos alimentares causadores específicos do paciente; reconhecimento dos alimentos de reação cruzada; educação do paciente e/ou cuidador sobre medidas preventivas, com ênfase em alérgenos alimentares ocultos ou aditivos; e disposição do paciente e/ou cuidador já educados em ler atentamente rótulos e prestar atenção particular a ingredientes ocultos ao comer em restaurantes, a fim de evitar exposições acidentais.[3]
As leis de rotulagem nutricional dos EUA aprovadas em janeiro de 2006 requerem que os fabricantes listem os nomes dos principais alérgenos dos ingredientes em termos comuns; entretanto, a vigilância por parte do paciente e do cuidador é primordial para que eles sejam evitados.[1][3] Os ingredientes que devem ser listados são leite, ovos, peixe, crustáceos, nozes, trigo, amendoim e soja. As leis de rotulagem nutricional na União Europeia foram ainda mais longe. Além dos alimentos mencionados acima, o gergelim, grãos que contêm glúten (centeio, cevada, aveia) e trigo, mostarda, aipo, moluscos, tremoço e sulfatos (usados como conservantes) devem ser identificados separadamente.[83]
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