Pacientes com lesões significativas no plexo braquial (aquelas que persistem por mais de algumas horas ou dias) correm o risco de sofrer uma perda permanente da função se a lesão não for tratada rápida e eficientemente.
Os dois principais fatores que orientam o manejo são a velocidade de regeneração do nervo (cerca de 1 mm por dia; 1 polegada por mês) e o tempo além do qual a recuperação motora é impossível (cerca de 1 ano a partir da data da lesão).[18]Shin AY, Spinner RJ, Steinmann SP, et al. Adult traumatic brachial plexus injuries. J Am Acad Orthop Surg. 2005;13:382-96.
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[29]Nath RK, Mackinnon SE. Nerve transfers in the upper extremity. Hand Clin. 2000;16:131-9.
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Estes parâmetros também determinam a distância em relação à raiz nervosa além da qual a recuperação motora é improvável nas lesões graves: 30 cm (12 polegadas). Como o plexo braquial geralmente sofre lesões em níveis muito proximais, o efeito dessas regras inflexíveis é que lesões das raízes inferiores (fisicamente mais afastadas de seus alvos motores que as raízes superiores) tornam-se devastadoras na maioria dos casos.[11]Kim DH, Cho YJ, Tiel RL, et al. Outcomes of surgery in 1019 brachial plexus lesions treated at Louisiana State University Health Sciences Center. J Neurosurg. 2003;98:1005-16.
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Lesões nas raízes superiores podem ser graves, mas geralmente são passíveis de reconstrução se tratadas por especialistas apropriados.[1]Nath RK, Lyons AB, Bietz G. Physiological and clinical advantages of median nerve fascicle transfer to the musculocutaneous nerve following brachial plexus root avulsion injury. J Neurosurg. 2006;105:1-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17405252?tool=bestpractice.com
[30]Leechavengvongs S, Witoonchart K, Uerpairojkit C, et al. Combined nerve transfers for C5 and C6 brachial plexus avulsion injury. J Hand Surg (Am). 2006;31:183-9.
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Fisioterapia e terapia ocupacional, incluindo placas e suportes apropriados, são úteis antes de qualquer intervenção cirúrgica e mesmo se não for feita uma cirurgia. Os princípios gerais da terapia incluem prevenção e tratamento da rigidez e formação de contraturas (especialmente na mão), estimulação elétrica e reeducação sensorial, quando aplicável.
Controle da dor
O controle da dor deve envolver uma equipe multidisciplinar que inclua especialistas em dor. A dor neuropática é comumente associada à lesão no plexo braquial.[31]Lovaglio AC, Socolovsky M, Di Masi G, et al. Treatment of neuropathic pain after peripheral nerve and brachial plexus traumatic injury. Neurol India. 2019 Jan-Feb;67(Suppl):S32-7.
https://www.neurologyindia.com/article.asp?issn=0028-3886;year=2019;volume=67;issue=7;spage=32;epage=37;aulast=Lovaglio
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30688230?tool=bestpractice.com
Quando a analgesia comum não é eficaz, podem ser usados tratamentos específicos para dor neuropática, como gabapentina, carbamazepina, antidepressivos tricíclicos, lidocaína tópica ou capsaicina, ou opioides (por exemplo, oxicodona). O tratamento medicamentoso anti-inflamatório com celecoxibe se mostrou significativamente eficaz na melhora do índice funcional do ciático (IFC) em ratos após lesão por esmagamento do nervo ciático. O uso de celecoxibe pode ser considerado no tratamento de lesões concomitantes nos nervos periféricos, se presentes.[32]Cámara-Lemarroy CR, Guzmán-de la Garza FJ, Barrera-Oranday EA, et al. Celecoxib accelerates functional recovery after sciatic nerve crush in the rat. J Brachial Plex Peripher Nerve Inj. 2008;3:25.
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Lesões das raízes do tronco superior (C5-6) e médio (C7)
As consequências das lesões nesse nível dependem da intensidade do evento causador, seja ele mecânico, neoplásico ou inflamatório. A perda de função do ombro e dos bíceps devido a uma lesão C5-6 completa deixa o membro gravemente incapacitado, mas ainda podendo desempenhar algumas funções úteis, uma vez que a mão permanece intacta. Os parâmetros fisiológicos que resultam em paralisia permanente 1 ano após a lesão determinam o tratamento. Uma eletromiografia (EMG) pode fornecer informações úteis sobre os padrões da lesão e a presença de avulsão, mas não é precisa o suficiente para graus menores de lesão: uma lesão neuropráxica pode mimetizar uma ruptura completa.[17]Smith, SJM. Electrodiagnosis. In: Birch R, Bonney G, Wynn Parry CB, eds. Surgical disorders of the peripheral nerves. London: Churchill-Livingstone; 1998:467-90. O resultado final é que exames clínicos em série tendem a ser o melhor método para indicar cirurgia ou manejo conservador. A maioria dos cirurgiões vai avaliar o paciente para uma cirurgia de reconstrução se não houver evidências de recuperação motora entre 4 e 6 meses após a lesão.[1]Nath RK, Lyons AB, Bietz G. Physiological and clinical advantages of median nerve fascicle transfer to the musculocutaneous nerve following brachial plexus root avulsion injury. J Neurosurg. 2006;105:1-5.
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[30]Leechavengvongs S, Witoonchart K, Uerpairojkit C, et al. Combined nerve transfers for C5 and C6 brachial plexus avulsion injury. J Hand Surg (Am). 2006;31:183-9.
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[33]Martin E, Senders JT, DiRisio AC, et al. Timing of surgery in traumatic brachial plexus injury: a systematic review. J Neurosurg. 2018 May 1;1-13.
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[34]Noland SS, Bishop AT, Spinner RJ, et al. Adult traumatic brachial plexus injuries. J Am Acad Orthop Surg. 2019 Oct 1;27(19):705-16.
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Isso dá ao nervo tempo para se regenerar até os músculos paralisados dentro do período crítico de 1 ano.
As técnicas de transferência de nervo são o tratamento de primeira escolha para reparo microcirúrgico.[1]Nath RK, Lyons AB, Bietz G. Physiological and clinical advantages of median nerve fascicle transfer to the musculocutaneous nerve following brachial plexus root avulsion injury. J Neurosurg. 2006;105:1-5.
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[21]Garg R, Merrell GA, Hillstrom HJ, et al. Comparison of nerve transfers and nerve grafting for traumatic upper plexus palsy: a systematic review and analysis. J Bone Joint Surg Am. 2011;93:819-29.
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[22]Wells ME, Gonzalez GA, Childs BR, et al. Radial to axillary nerve transfer outcomes in shoulder abduction: a systematic review. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2020 Sep 23;8(9):e3096.
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[23]Schessler MJ, McClellan WT. The role of nerve transfers for C5-C6 brachial plexus injury in adults. W V Med J. 2010 Jan-Feb;106(1):12-7.
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[24]Lanier ST, Hill JR, James AS, et al. Approach to the pan-brachial plexus injury: variation in surgical strategies among surgeons. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2020 Nov 24;8(11):e3267.
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Os fatores que influenciam a extensão da melhora clínica incluem a idade do paciente, o mecanismo da lesão, o momento da cirurgia e as transferências de vários nervos versus transferências de um único nervo.[22]Wells ME, Gonzalez GA, Childs BR, et al. Radial to axillary nerve transfer outcomes in shoulder abduction: a systematic review. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2020 Sep 23;8(9):e3096.
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A transferência de nervo requer conhecimento e experiência especializados, portanto, as técnicas de enxerto de nervo podem ser usadas por cirurgiões não especialistas.[35]Gkiatas I, Papadopoulos D, Korompilias A, et al. Traumatic upper plexus palsy: is the exploration of brachial plexus necessary? Eur J Orthop Surg Traumatol. 2019 Feb;29(2):255-62.
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Se o paciente ultrapassou o prazo de 1 ano para reconstrução primária, tem-se uma atrofia muscular, e uma inervação não devolverá a função. No entanto, há técnicas microcirúrgicas que proporcionam tanto um nervo (transferência de nervo) como um novo músculo em boas condições (transferência muscular livre) para o membro, de modo que se pode alcançar pelo menos uma flexão funcional do cotovelo.[24]Lanier ST, Hill JR, James AS, et al. Approach to the pan-brachial plexus injury: variation in surgical strategies among surgeons. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2020 Nov 24;8(11):e3267.
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[34]Noland SS, Bishop AT, Spinner RJ, et al. Adult traumatic brachial plexus injuries. J Am Acad Orthop Surg. 2019 Oct 1;27(19):705-16.
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[36]Hoang D, Chen VW, Seruya M. Recovery of elbow flexion after nerve reconstruction versus free functional muscle transfer for late, traumatic brachial plexus palsy: a systematic review. Plast Reconstr Surg. 2018 Apr;141(4):949-59.
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[37]National Institute for Health and Care Excellence. Free-functioning gracilis transfer to restore upper limb function in brachial plexus injury. Mar 2021 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ipg687
A transferência parcial do nervo ulnar e a transferência do nervo intercostal têm se mostrado igualmente eficazes na reconstrução da flexão do cotovelo em pacientes com lesões da porção superior no plexo braquial.[38]Kakinoki R, Ikeguchi R, Dunkan SF, et al. Comparison between partial ulnar and intercostal nerve transfers for reconstructing elbow flexion in patients with upper brachial plexus injuries. J Brachial Plex Peripher Nerve Inj. 2010;5:4.
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A função do ombro pode ser recuperada com técnicas de reconstrução dos nervos precoces, mas, passados entre 6 e 8 meses, a artrodese acaba por ser uma solução melhor que o reparo do nervo.[39]Chammas M, Goubier JN, Coulet B, et al. Glenohumeral arthrodesis in upper and total brachial plexus palsy. A comparison of functional results. J Bone Joint Surg (Br). 2004;86:692-5.
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[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Reparo de nervo espinhal avulsionadoDo acervo do Texas Nerve and Paralysis Institute, Dr. Rahul Nath, fundador e diretor médico; usado com permissão [Citation ends].
Lesões da raiz inferior (C8-T1) e lesões totais (C5-T1)
Devido a restrições de tempo e distância na regeneração dos nervos discutidas acima, lesões graves das raízes inferiores geralmente resultam em situações de difícil reconstrução. A melhor solução tende a ser uma combinação por etapas de transferência de nervo para restaurar a inervação, seguida, alguns meses depois, de transferência muscular livre para substituir o músculo atrófico, restaurando a função da mão. Em lesões completas de todas as 5 raízes, há poucas fontes ipsilaterais para restauração dos nervos, mas nervos intercostais podem servir como doadores parciais.[40]Merrell GA, Barrie KA, Katz DL, et al. Results of nerve transfer techniques for restoration of shoulder and elbow function in the context of a meta-analysis of the English literature. J Hand Surg (Am). 2001;26:303-14.
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O nervo contralateral C7 passa, então, a servir como fonte de nervos motores e sensoriais na restauração da função do membro lesionado.
Uma vez que os nervos intercostal e contralateral C7 tenham sido transferidos, serão necessárias múltiplas transferências musculares livres a fim de recuperar a flexão do cotovelo e a função dos dedos.[41]Doi K, Muramatsu K, Hattori Y, et al. Restoration of prehension with the double free muscle technique following complete avulsion of the brachial plexus. Indications and long-term results. J Bone Joint Surg Am. 2000;82:652-66.
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O movimento do ombro é restaurado por meio de fusão glenoumeral (embora intuitivamente o procedimento pareça impedir o movimento, ele na verdade liga o úmero paralisado à escápula ainda ativa, permitindo, assim, que o braço se mova por meio de encolhimentos e outros movimentos escapulares ainda presentes).[39]Chammas M, Goubier JN, Coulet B, et al. Glenohumeral arthrodesis in upper and total brachial plexus palsy. A comparison of functional results. J Bone Joint Surg (Br). 2004;86:692-5.
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