Abordagem
O diagnóstico de enterite por Campylobacter não pode ser feito exclusivamente por meio do quadro clínico, embora a presença de dor abdominal intensa e diarreia sugiram o diagnóstico.
Anamnese e exame físico
Uma história completa deve ser colhida, incluindo a exposição a aves, gado, ovelhas ou outros animais do campo; ingestão de carne crua ou malcozida (especialmente frango); recente viagem ao exterior para áreas de alto risco, incluindo África, América do Sul e Ásia; e viagem para países em desenvolvimento.[14] Histórias de ingestão de água não tratada e de ingestão de leite não pasteurizado também devem ser observadas.[26][27][28] Nas pessoas imunocompetentes, a doença geralmente ocorre dentro de 2 a 4 dias após a exposição ao organismo em alimentos ou bebidas contaminados, embora sejam descritos intervalos de 1 a 10 dias após a exposição.[6][14] Muitas infecções por Campylobacter jejuni são subclínicas, especialmente nas pessoas imunocompetentes.[31]
A história de infecção por HIV deve ser considerada, pois a incidência de infecção por Campylobacter é maior em pacientes com HIV/AIDS, embora a incidência seja menor em pacientes HIV-positivos em terapia antirretroviral.[5] Indivíduos com HIV também apresentam risco de se tornarem portadores de Campylobacter em longo prazo. Isso está associado a enterite e bacteremia recorrentes.[25]
As principais manifestações clínicas são diarreia e dor abdominal. A diarreia é frequentemente aquosa, com até 8-10 evacuações diárias. Torna-se sanguinolenta em aproximadamente 20% a 25% dos casos. A diarreia é considerada inflamatória por causa da expressão proeminente de febre e sintomas constitucionais, e porque as fezes contêm leucócitos e sangue.[4] A dor abdominal associada à infecção por Campylobacter é geralmente mais intensa que nas outras causas bacterianas de enterite/colite. A dor muitas vezes se torna contínua e irradia para a fossa ilíaca direita (com frequência, descrita como dor no quadrante inferior direito pelos pacientes).[32]
Os sintomas menos frequentes incluem vômitos e um pródromo que consiste em cefaleia, mialgias, calafrios e febre. Um terço dos pacientes terá um pródromo que dura 24 horas antes do início da diarreia. Os vômitos são mais comuns em crianças.[32]
Embora as pesquisas tenham mostrado que existe uma relação inversa entre a idade avançada e a manifestação típica de Campylobacter, há uma relação direta entre a gravidade da doença e a idade avançada.[33]
As manifestações extraintestinais raras incluem: infecção perinatal, bacteremia, meningite, peritonite espontânea, colecistite, endocardite, pancreatite, cistite, celulite, hepatite, nefrite intersticial, infecção placentária, aborto séptico, artrite séptica, tromboflebite séptica, pneumonia, abscesso pulmonar e empiema.[5]
Investigações iniciais
As amostras fecais devem ser coletadas para microscopia e cultura como parte da investigação inicial em todos os pacientes com suspeita de infecção por Campylobacter. Uma coprocultura positiva para Campylobacter é diagnóstica.[14] As amostras fecais devem ser examinadas quanto a eritrócitos e neutrófilos, os quais estão presentes na maioria dos pacientes com infecção por Campylobacter.[4][34][35]
As diretrizes canadenses atuais para investigação da suspeita de diarreia infecciosa sugerem que o exame de fezes não é necessário na maioria dos casos de diarreia aguda (≤7 dias) ou que se resolve.[36] A diretriz recomenda que o Painel para Diarreia Infecciosa, um novo exame de fezes que combina coproculturas, pesquisa de ovos e parasitas, e Clostridium difficile, seja solicitado se a diarreia for grave, de qualquer duração ou prolongada >7 dias.[36] Técnicas de isolamento e meios especiais (Campy-BAP ou Skirrow) são utilizados para reduzir o crescimento de outros organismos entéricos. São necessários meios seletivos específicos e temperaturas elevadas de incubação para isolar as espécies de Campylobacter.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Crescimento de culturas de Campylobacter em meios de Skirrow e ButzlerSheila Mitchell, Biblioteca de Imagens, Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA [Citation ends].
Pacientes com complicações de início tardio da infecção por Campylobacter (por exemplo, bacteremia, complicações cardíacas, manifestações extraintestinais, artrite reativa e síndrome de Guillain-Barré) podem ter coproculturas negativas decorrentes da perda de bactérias ou por causa do tratamento antimicrobiano. Nesses pacientes, um teste sorológico pode ser utilizado para detectar anticorpos de Campylobacter e indicar exposição.[4][37]
A hemocultura pode isolar as espécies de Campylobacter, pois a bacteremia pode ocorrer de maneira transitória nos estágios iniciais da infecção.[38] A hemocultura não é recomendada como teste inicial nas pessoas com características de infecção por Campylobacter, porque o diagnóstico geralmente pode ser feito pela coprocultura somente. Os sintomas de bacteremia ou outras manifestações extraintestinais justificam uma investigação adicional com hemoculturas.
A contagem de leucócitos geralmente é normal em casos de infecção por Campylobacter, mas pode ocorrer um desvio à esquerda (aumento da predominância de neutrófilos).[34] A infecção por Campylobacter pode estar associada a linfopenia.[39]
Outros testes
A biópsia intestinal é raramente usada para fazer o diagnóstico de infecção por Campylobacter, mas pode ajudar a distinguir as causas infecciosas e inflamatórias da diarreia se o diagnóstico de infecção está em questão. A avaliação histológica por biópsia pode detectar edema, alterações inflamatórias, criptite ou formação de abscesso em cripta associados com a infecção por Campylobacter.[2][4]
A microscopia fecal é capaz de demonstrar a motilidade em saca-rolhas característica dos organismos, embora na prática raramente seja realizada. O exame por microscopia de campo escuro ou contraste de fase também pode ser usado para auxiliar no diagnóstico presuntivo.[4]
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