Etiologia

A causa da ST permanece obscura, embora evidências de estudos genéticos sugiram que a ST é hereditária.[19]

Os fatores genéticos parecem ser a etiologia mais importante dada a agregação familiar significativa e as evidências de estudos com gêmeos.[20][21] Estudos com gêmeos monozigóticos mostram 53% de concordância para ST e 77% para tiques motores persistentes (crônicos), enquanto gêmeos dizigóticos mostram 8% e 23% de concordância, respectivamente.[22]

Foram conduzidos estudos de rearranjos cromossômicos, de genes candidatos e de ligação e associação genômicas amplas; entretanto, uma mutação causadora da doença permanece difícil de encontrar. Estudos de vinculação em famílias revelaram o 3p21.3, o 7q35-36, o 8q21.4, o 9pter e o 18q22.3 como áreas de interesse.[23] O gene candidato SLITRK1 foi localizado perto do 13q31; acredita-se que esteja envolvido com crescimento dendrítico.[24] Entretanto, outros estudos mostraram que o gene SLITRK1 e, mais especificamente, o SLITRK1var321, não estão necessariamente associados à ST familiar.[25][26]

Vários outros genes que afetam os sistemas dopaminérgico, noradrenérgico e serotoninérgico também estão sendo explorados. Uma mutação rara na L-histidina descarboxilase, uma enzima expressa na via histaminérgica no sistema nervoso central, foi relatada em duas gerações de uma família com ST.[27] Resultados de um estudo de associação genômica ampla indicam um possível papel para os genes COL27A1 e NTN4, enquanto um estudo de variantes no número de cópias implicou os genes sinápticos NRXN1 e CNTN6.[28][29][30]

Acredita-se que fatores ambientais, como lesões perinatais, exposição a hormônios sexuais durante o desenvolvimento cerebral e estressores psicossociais também contribuam; sendo assim, acredita-se que a expressão global da ST seja multifatorial.[23]

Fisiopatologia

Apesar de ainda faltarem evidências diretas, estudos post mortem e de imagem sugerem que a ST é um transtorno caracterizado pela desinibição da transmissão sináptica no circuito corticoestriatal-talâmico-cortical, particularmente no núcleo caudado e no córtex pré-frontal inferior.[31][32][33]

Uma hipótese sugere que o problema subjacente resida em neurônios estriatais anormalmente ativos, causando inibição dos neurônios do globo pálido interno ou da pars compacta da substância negra, o que resulta em desinibição dos circuitos tálamo-corticais (ou do tronco encefálico) que causa um estado hipercinético (isto é, tiques).[34] Aberrações nas oscilações neurais normais dentro deste circuito podem também contribuir para os componentes comportamentais observados na ST.[35][36] Outros estudos de neuroimagem e neuropatológicos funcionais e estruturais sugerem contribuições adicionais da rede frontoparietal envolvida no controle de tarefas adaptativas.[37][38]

Um estudo sobre a conectividade funcional em repouso entre redes de controle de tarefas cerebrais mostrou que pode haver uma dismaturação da conectividade por trás da geração de tiques.[39] A excitabilidade cortical é elevada nas crianças com ST, mas, na maioria dos pacientes, normaliza-se com o tempo durante a adolescência.[40] Estudos sugerem que a hiperconectividade da área motora suplementar da ínsula está por trás dos impulsos de tiques.[41]

Classificação

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5ª ed., texto revisado (DSM-5-TR): transtornos de tique[4]

A síndrome de Tourette (ST, também conhecida como transtorno de Tourette) é um dos transtornos de tiques do neurodesenvolvimento.

É o mais complexo do espectro de transtornos de tique, que compreende o seguinte (o início é antes dos 18 anos em todos os casos):

  • Transtorno de Tourette (tanto tiques motores múltiplos quanto um ou mais tiques vocais persistindo por mais de 1 ano desde o início do primeiro tique)

  • Transtorno de tique motor ou vocal persistente (crônico) (tiques motores ou vocais únicos ou múltiplos [mas não ambos] persistindo por mais de 1 ano desde o início do primeiro tique)

  • Transtorno de tique provisório (tiques motores e/ou vocais únicos ou múltiplos que estão presentes por menos de 1 ano desde o início do primeiro tique).

Consulte Critérios de diagnóstico.

Há alguma evidência genética para dar suporte a esse espectro.[5] Embora os tiques sejam uma característica proeminente que define a ST, é frequente a ocorrência simultânea de uma série de sintomas e transtornos comportamentais e psiquiátricos.[6] O TOC e o TDAH, os transtornos comórbidos mais comuns, ocorrem em até 60% a 70% dos pacientes e respaldam a classificação da ST como um transtorno do neurodesenvolvimento ou neurocomportamental.[4][7]

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