Abordagem

A ascaríase é facilmente tratada com anti-helmínticos orais. Outros tratamentos, inclusive tratamento cirúrgico, podem ser necessários em pacientes com obstrução intestinal ou comprometimento hepatobiliar e/ou pancreático. Além de evitar complicações mecânicas e alérgicas do parasita, o tratamento da ascaríase em cenários endêmicos pode resultar em benefícios secundários (por exemplo, crescimento acelerado ou ganho de peso), especialmente em crianças.

Terapia anti-helmíntica

O tratamento com anti-helmínticos é indicado quando vermes adultos são excretados ou ovos característicos são observados nas fezes. Os tratamentos de primeira linha incluem albendazol, mebendazol ou ivermectina.[45]​ Uma formulação do mebendazol em comprimidos mastigáveis está disponível em alguns países. Uma revisão Cochrane descobriu que todos os três medicamentos são efetivos no tratamento da ascaríase, sem diferenças detectadas entre eles.[46] [ Cochrane Clinical Answers logo ] ​ O pirantel é considerado uma alternativa aceitável, mas raramente é usado nos EUA. O levamisol também é considerado uma alternativa aceitável em alguns países (e está na lista de medicamentos essenciais da OMS), mas não está disponível nos EUA e na Europa.[47]

As taxas médias de cura estimadas variam de acordo com o medicamento; 95.7% (albendazol); 96.2% (mebendazol); 97.3% (levamisol); e 92.6% (pirantel). A taxa estimada de redução do ovo é maior para o albendazol (98.5%), seguida do mebendazol (98%), levamisol (96.4%) e pirantel (94.3%).[48]

Embora o uso disseminado de benzimidazóis em crianças não tenha evidenciado problemas de segurança específicos, há dados limitados a respeito de seu uso em pacientes <2 anos de idade; portanto, os riscos e benefícios devem ser ponderados para essa faixa etária.[24]​​[49][50] A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera seguros estes medicamentos em crianças com 12 meses de idade ou mais, quando usados em doses adequadas.[51]​ O pirantel pode ser usado em pacientes de todas as idades.[52]

Apesar de excelentes perfis de segurança empírica, nenhum dos anti-helmínticos é licenciado para uso durante a gestação. Os riscos e benefícios do tratamento devem ser cuidadosamente ponderados antes da administração desses medicamentos durante a gestação, particularmente no primeiro trimestre. Se uma mulher no primeiro trimestre de gestação for diagnosticada com ascaríase, deverá aguardar até o segundo trimestre para receber o tratamento. A OMS recomenda o tratamento com albendazol ou mebendazol no segundo e terceiro trimestres de gestação.[51]

Pneumonite eosinofílica (síndrome de Loeffler)

O tratamento geralmente é de suporte, pois a pneumonite é autolimitada e frequentemente ocorre antes que os pacientes saibam ser portadores de ascaríase.[23][53]​ Dependendo da gravidade dos sintomas manifestos, os pacientes podem se beneficiar de tratamento com broncodilatadores e corticosteroides sistêmicos ou por via inalatória. Antitussígenos e anti-histamínicos também podem aliviar os sintomas. A terapia anti-helmíntica provavelmente não altera a evolução da pneumonite. Entretanto, se houver suspeita de ascaríase como causa subjacente, as fezes podem ser examinadas 2 a 3 semanas após o término da doença respiratória para identificar ovos e tratar vermes adultos intestinais.

Obstrução intestinal

Em casos de obstrução intestinal sem complicações (dor abdominal persistente, massa abdominal sensível persistente, massa abdominal imóvel após 24 horas de tratamento clínico ou sinais de toxemia), o tratamento clínico geralmente é bem-sucedido.[1][5][27][54]

A piperazina é o tratamento de primeira linha recomendado em pacientes com obstrução intestinal. Ela paralisa os ascárides adultos, permitindo que sejam naturalmente expelidos pelo intestino por peristaltismo. Se a piperazina não estiver disponível, pode-se também usar albendazol, mebendazol ou pirantel; entretanto, deve-se tomar cuidado ao usar outros anti-helmínticos, pois podem estar associados à causa ou ao agravamento da obstrução.[55][56]

Deve-se instituir o tratamento concomitante com sucção nasogástrica, jejum, hidratação intravenosa e reposição eletrolítica.[22][24][25]

Deve-se considerar a laparotomia para a remoção cirúrgica de bolos de vermes nas seguintes situações:[57]

  • Suspeita de peritonite

  • Suspeita de estrangulação intestinal

  • Obstrução intestinal completa

  • Presença de ar intraperitoneal livre em exames radiográficos

  • Ausência de melhora após 24 horas de tratamento clínico.

Durante a cirurgia, se o bolo parasitário não puder ser movido manualmente para o cólon e expelido, uma enterotomia pode ser necessária. Em casos de gangrena ou infarto, poderá ser necessária a ressecção do intestino acometido.[52][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Técnico de laboratório segurando massa de vermes Ascaris lumbricoides excretada por criança no QuêniaPublic Health Image Library, CDC [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@2b732a69

Envolvimento hepatobiliar e/ou pancreático

O envolvimento hepatobiliar e/ou pancreático pode manifestar-se como uma das síndromes a seguir:

  • Cólica biliar

  • Colecistite acalculosa

  • Colangite aguda

  • Pancreatite aguda

  • Abscesso hepático.

Em cenários providos de recursos, vermes obstrutores podem frequentemente ser removidos por colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE).[5][27] A piperazina também pode ser usada para paralisar os vermes, mas alguns especialistas argumentam que esse tratamento impede o retorno migratório dos vermes da árvore biliar para o duodeno.[52] Na falha ou ausência de CPRE, a cirurgia é a alternativa final para aliviar a obstrução.[24]

Os pacientes com cólica pancreática ou biliar podem receber morfina para analgesia.

Os pacientes com colangite aguda por Ascaris lumbricoides impactado frequentemente apresentam infecção bacteriana secundária e sepse; portanto, eles devem receber antibióticos de amplo espectro e outras medidas de suporte, como reposição eletrolítica e de fluidos, além da remoção dos ascárides.[52] As diretrizes locais para sepse devem ser seguidas; a escolha do antibiótico depende dos padrões locais de resistência e susceptibilidade.

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