Abordagem
O quadro clínico da infecção por poliovírus depende do estado imunológico do paciente e da disseminação e replicação do vírus no trato gastrointestinal e no sistema nervoso central. Casos de suspeita de poliomielite, com ou sem paralisia flácida aguda, devem ser relatados à autoridade de saúde local. Em conformidade com o Regulamento Sanitário Internacional, todos os países signatários são obrigados a informar a Organização Mundial da Saúde (OMS) de casos de poliomielite.[1] Além disso, é obrigatório relatar à OMS qualquer achado de vírus selvagem em amostras ambientais (geralmente, isso é feito pelas autoridades de saúde locais). A poliomielite aguda é uma doença de notificação compulsória no Reino Unido.
História
Os principais fatores históricos para ajudar a confirmar o diagnóstico de poliomielite paralítica incluem: idade <36 meses, estado não imunizado, residência ou viagem a um país endêmico de poliovírus e pródromo gastrointestinal. Pacientes imunocomprometidos em razão de imunodeficiência congênita ou adquirida, são mais suscetíveis à infecção pelo vírus atenuado de vacina presente na forma oral da vacina de poliovírus.
A maioria dos casos de infecção por poliovírus são assintomáticos (90% a 95%), mas algumas crianças apresentarão sintomas compatíveis com gastroenterite viral, incluindo fadiga, febre, náuseas, vômitos e diarreia, geralmente com duração de até 5 dias. Alguns pacientes podem se queixar de faringite e também de cefaleia e fotofobia, uma manifestação de irritação meníngea.
Menos de 1% dos indivíduos infectados apresentam paralisia flácida aguda (PFA). Injeções intramusculares durante o período de incubação foram associadas à PFA. Características clínicas, inicialmente, podem incluir fadiga, febre, náuseas, vômitos (todas características da doença leve); tais características, então, podem evoluir para a doença grave, tipicamente com fraqueza assimétrica de membro inferior e flacidez. A extensão máxima da paralisia é atingida em até uma semana após o início dos sintomas da paralisia.
Uma minoria dos casos afetados com PFA evolui para paralisia bulbar com risco de vida e comprometimento respiratório.[1][42]
Uma síndrome pós-poliomielite (SPP) pode se desenvolver anos ou mesmo décadas após a poliomielite aguda; os pacientes se queixam de fadiga, fraqueza e atrofia muscular. Essa condição geralmente envolve grupos musculares anteriormente afetados pela doença original.[42][43]
Exame
Crianças com doença leve e gastroenterite viral podem apresentar sinais de depleção de volume e febre com dor abdominal. Características de exame físico que dão suporte ao diagnóstico de poliomielite paralítica incluem paralisia assimétrica ou perda significativa da função motora dos membros, especialmente as pernas. Em geral, há preservação da sensibilidade, diminuição dos reflexos tendinosos profundos no membro afetado e, posteriormente, atrofia dos músculos do membro afetado.[1][42][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Criança apresentando deformação na perna direita em consequência da poliomieliteCDC Public Health Image Library [Citation ends].
A insuficiência respiratória em consequência da poliomielite paralítica bulbar é uma emergência médica e pode se desenvolver em pacientes com paralisia. Apresenta uma taxa de mortalidade de aproximadamente 60%.[28]
Investigações
O diagnóstico é feito clinicamente. Também é possível fazer o diagnóstico isolando-se uma das três cepas do poliovírus das fezes (mais comum), LCR ou secreções orais. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças removeram a ênfase na cultura como método preferencial para a testagem do poliovírus. Os métodos moleculares, como a reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa (RT-PCR), agora são considerados igualmente sensíveis e não exigem consideração de problemas de contenção, o que os torna a abordagem preferencial.[44] Os anticorpos séricos são menos úteis, já que podem estar presentes em crianças imunizadas ou previamente expostas à infecção por poliovírus sem terem desenvolvido doença sintomática.[1][45]
Geralmente, um médico não pode, por conta própria, coletar amostras para o diagnóstico de poliomielite. No hemisfério ocidental (onde a poliomielite foi eliminada), a autoridade de saúde local coordena a coleta de amostras. Geralmente, amostras de soro e fezes são obtidas pela autoridade de saúde e enviadas aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), no caso dos EUA, ou a outro laboratório regional de referência, para exames e determinação do tipo de poliovírus como selvagem ou relacionado a vacina, caso seja necessário.
Recomenda-se que as amostras de soro sejam coletadas em um tubo de tampa vermelha, ou outro tubo sem anticoagulante, durante as fases aguda (isto é, assim que possível após o início de uma paralisia flácida aguda) e convalescente (pelo menos 3 semanas após a amostra da fase aguda). Geralmente se obtêm duas amostras de fezes e dois swabs de garganta em recipientes apropriados para cultura viral. Ambos devem ser obtidos durante a evolução da doença aguda, e pelo menos com 24 horas de diferença. O teste sorológico é tipicamente para a IgG, e as amostras de fezes/garganta servem para cultura viral. A amostras do LCR não são rotineiramente obtidas, mas podem ser enviadas ao laboratório para se descartar outra afecção, como encefalite ou meningite.
A ressonância nuclear magnética (RNM) pode ajudar na avaliação do comprometimento do corno anterior e da inflamação da medula espinhal, e também na exclusão de outras condições com apresentação semelhante.[1] Sua utilidade é baixa no diagnóstico de poliomielite. Estudos de eletromiografia e condução nervosa podem ser úteis para poliomielite paralítica e síndrome pós-poliomielite.[43] Embora o quadro clínico seja adequado para demonstrar paralisia, essas modalidades de estudo podem confirmar os achados físicos e serem úteis na investigação de outras causas de paralisia quando a síndrome pós-poliomielite é parte do diagnóstico diferencial.
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