Abordagem

O abuso de idosos geralmente é um processo contínuo. Se o diagnóstico for equivocado, os indivíduos podem continuar sofrendo abusos mais graves, que podem ser fatais. Podem estar presentes problemas médicos e psicossociais e, portanto, a condição requer uma avaliação abrangente e multifacetada.[36]​ Algumas dificuldades na identificação do abuso de idosos derivam das variações em sua definição.[37]

A presença de fatores de risco combinados com uma história detalhada e exame físico devem determinar se há uma necessidade de usar ferramentas de rastreamento adicionais. Existem várias ferramentas de avaliação disponíveis para rastrear possíveis vítimas de abuso.[37][38][39]

História

A American Medical Association (AMA) recomenda que os médicos perguntem sempre aos pacientes geriátricos acerca de abuso, mesmo na ausência de sinais. Os principais fatores de risco para abuso de idosos incluem: idade >75 anos; demência; dependência de um cuidador para os cuidados pessoais; depressão ou outro transtorno mental do cuidador; uso indevido de substâncias pelo idoso ou pelo cuidador e dependência financeira do cuidador em relação ao idoso.

Medo inexplicável, atitude retraída, incapacidade de fazer contato visual, presença de agitação ou comportamento não adequado para o nível de demência ou depressão às vezes podem ser sinais de abuso de idosos.[40] Deve-se perguntar aos pacientes se eles estão felizes em casa e se eles têm experienciado quaisquer mudanças recentes nos padrões de humor, sono ou alimentação. O isolamento social é um fator de risco para o abuso autoinfligido. A avaliação deve incluir uma história social detalhada, a capacidade funcional do idoso, a organização de vida e o apoio social. Devido às restrições de tempo nas unidades básicas de saúde, isso pode ser conseguido durante a consulta de rotina anual ou por meio de profissionais da saúde associados para atualizar essas informações regularmente. A recusa do cuidador em deixar o paciente responder as perguntas durante uma entrevista ou a recusa do cuidador em deixar o idoso ser entrevistado separadamente pode identificar abuso. Inconsistências na história do paciente, seja entre o paciente e o cuidador ou entre os cuidadores, devem levantar uma suspeita de abuso do idoso. Da mesma forma, as inconsistências entre as histórias e os achados físicos, o esquema terapêutico, os valores laboratoriais ou as condições de vida são causas de preocupação.

Qualquer relato de abuso pelo idoso deve ser considerado preciso e deve ser investigado como tal. Uma história detalhada deve incluir explicações para quaisquer lesões presentes.

A prevalência de abuso de idosos é alta e não pode ser facilmente discernida de outras questões médicas, de forma que a AMA recomenda uma série de perguntas de rastreamento.[37] Em caso de resposta positiva a quaisquer dessas perguntas, há a necessidade de avaliação adicional imediata.

  • Alguém já o tocou sem o seu consentimento?

  • Alguém já lhe fez coisas que você não queria?

  • Alguém já pegou algo seu sem pedir?

  • Alguém já o machucou?

  • Alguém já o repreendeu ou o ameaçou?

  • Você já assinou algum documento que você não compreendia?

  • Você tem medo de alguém em casa?

  • Você fica muito tempo sozinho(a)?

  • Alguém já deixou de ajudá-lo(a) a se cuidar quando você precisava de ajuda?

Foram desenvolvidas e testadas várias medidas de rastreamento em diferentes ambientes, incluindo pronto-socorro, clínicas e em casa.[41]​ Se os testes de rastreamento não indicarem abuso, não será necessária nenhuma ação imediata.[37][42][43][44][45]​​ No entanto, devido à baixa sensibilidade de alguns testes de rastreamento, recomenda-se um monitoramento contínuo. Por outro lado, um exame positivo não significa necessariamente que haja abuso, mas indica a necessidade de avaliação mais aprofundada.

Consulte Rastreamento.

Exame físico

Em caso de suspeita de abuso, o paciente deve ser cuidadosamente examinado. O tamanho, o formato e a localização de qualquer lesão devem ser registrados. Qualquer lesão deve ser fotografada. Vários achados clínicos fazem do abuso de idosos uma forte possibilidade, mas não são necessariamente confirmatórios. Eles incluem:[5][24][46]

  • Lesões inexplicadas.

  • Demora em buscar tratamento.

  • Lesões inconsistentes com a história.

  • Explicações contraditórias dadas pelo paciente e pelo cuidador.

  • Hematomas, vergões, lacerações, marcas de corda, queimaduras.

  • Doenças venéreas ou infecções genitais.

  • Depleção de volume, desnutrição, úlceras por pressão, má higiene.

  • Mudanças nos padrões de sono ou hábitos alimentares.

  • Sinais de supressão, depressão, agitação, comportamento infantil.

Investigações

Deve-se avaliar a presença de depleção de volume, anormalidades eletrolíticas, desnutrição, administração inadequada de medicamentos e uso indevido de substâncias.

Investigações iniciais para todos os pacientes:

  • Hemograma completo com contagem plaquetária e um coagulograma, principalmente se o idoso tiver hematomas ou evidência de sangramento.

  • Fotografia clínica: é importante que fotografias clínicas adequadas sejam tiradas de hematomas e feridas.

Suspeita de traumatismos cranioencefálicos:

  • A tomografia computadorizada (TC) cranioencefálica pode identificar hemorragia subdural, com ou sem hemorragia subaracnoide ou (raramente) hemorragia extradural.

  • Também pode haver a presença de lesão parenquimal com ou sem edema cerebral.

  • A TC cranioencefálica deve ser considerada em adultos com sintomas ou sinais neurológicos e em todas as pessoas com traumatismo cranioencefálico.

Suspeita de lesão esquelética:

  • Deve-se tirar radiografias para detectar quaisquer fraturas.

Lesões abdominais:

  • Testes da função hepática e amilase sérica.

  • A TC abdominal também deve ser considerada em caso de lesão abdominal violenta. Ela delineia qualquer ruptura de órgão oco e detecta hematomas subcapsulares, rupturas do fígado ou baço e lesão renal.

Intoxicação:

  • Uma análise toxicológica pode revelar a presença de substâncias para as quais o paciente não recebeu prescrição ou ausência de medicamentos que o paciente deveria estar tomando, ambos indicativos de abuso.[39]

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