Etiologia

A etiologia do estrabismo varia por tipo.

  • A etiologia da maioria das formas infantis e pediátricas de estrabismo é mal entendida. O estrabismo comitante (concomitante) parece ser um caráter genético complexo, com o envolvimento de mais de um gene. Estudos sugerem que a genética desempenha um papel importante na esotropia e na exotopia na infância.[11][12] Os estudos com gêmeos revelaram uma taxa de concordância de 73% a 82% entre gêmeos monozigóticos e de 35% a 47% entre gêmeos dizigóticos.[13] A taxa para gêmeos dizigóticos é mais alta que a concordância para irmãos, indicando que fatores ambientais provavelmente estão envolvidos. Nenhum fator de risco modificável foi identificado para a maioria das formas de estrabismo comitante.

  • O estrabismo paralítico adquirido está relacionado ao mau funcionamento de um ou mais dos 3 nervos cranianos, oculomotor (nervo craniano III), troclear (nervo craniano IV) e abducente (nervo craniano VI), que fornecem inervação motora para os músculos extraoculares.

  • O estrabismo restritivo resulta da restrição mecânica dos movimentos oculares causada por condições como doença de Graves e fraturas orbitais.

  • O estrabismo sensorial é causado pela acuidade visual reduzida em um olho.

  • As síndromes de desnervação craniofacial e craniana e a craniossinostose também podem causar o desenvolvimento do estrabismo.

  • No estrabismo recorrente, a anormalidade volta a ocorrer após o tratamento inicialmente bem-sucedido para o mesmo tipo de estrabismo, enquanto no estrabismo consecutivo a anormalidade ocorre após o tratamento para um tipo diferente de estrabismo, e o estrabismo residual indica estrabismo que permanece após o tratamento parcialmente bem-sucedido.

  • O estrabismo também pode estar associado à miastenia gravis (estrabismo por miastenia) e a paralisias supranucleares (estrabismo supranuclear).

  • O estrabismo de início agudo pode ser causado por um processo intracraniano, como uma lesão de massa, pressão intracraniana elevada, infarto do sistema nervoso central (SNC) ou inflamação no SNC.

  • O estrabismo é mais comum em crianças com problemas globais do SNC, como paralisia cerebral ou atraso no desenvolvimento.

Fisiopatologia

A fisiopatologia das formas infantis de estrabismo (esotropia e exotropia) e exotropia intermitente é mal entendida.

A esotropia acomodativa está relacionada com frequência à hipermetropia. Na hipermetropia, a acomodação permite que uma imagem clara seja criada na retina. A acomodação está associada à convergência ocular (olhos voltados para dentro); os mecanismos compensatórios poderão ser sobrecarregados se uma grande quantidade de acomodação for necessária, e a esotropia poderá se desenvolver. Portanto, todas as crianças devem passar por um teste de refração cicloplégica, pois essa é a única maneira de medir com exatidão o erro de refração em crianças.

Dependendo do nervo craniano afetado, o estrabismo paralítico pode se manifestar com esotropia, exotropia, hipotropia ou hipertropia. O nervo abducente (VI nervo craniano) inerva o músculo reto lateral, cujo mecanismo de ação é mover o olho em sentido lateral. Assim, a paralisia desse músculo devida a paralisia do nervo abducente resulta em esotropia (desvio do olho para dentro). O nervo troclear (IV nervo craniano) inerva o músculo oblíquo superior, cujo mecanismo de ação move o olho para baixo (principalmente quando o olho é aduzido). Assim, a paralisia desse músculo devida à paralisia do nervo troclear resulta em hipertropia (desvio do olho para cima). O nervo oculomotor (III nervo craniano) inerva os músculos extraoculares restantes. A paralisia desses músculos devida à paralisia do nervo oculomotor resulta em exotropia (desvio do olho para fora por causa da ação sem oposição do músculo reto lateral) e hipotropia (desvio do olho para baixo por causa da ação sem oposição do músculo oblíquo superior).

No estrabismo sensorial, a visão prejudicada em um olho resulta na interrupção dos mecanismos de fusão desenvolvidos para manter os olhos alinhados. Isso costuma causar exotropia em crianças mais velhas e adultos e esotropia em crianças pequenas.

A falha da inervação normal dos músculos extraoculares nas síndromes de desnervação craniana (por exemplo, síndrome de retração de Duane) resulta na contração simultânea desses músculos e nos desvios e movimentos anormais subsequentes do olho que causam o estrabismo.

O estrabismo é um achado comum nas síndromes craniofaciais (por exemplo, síndromes de Crouzon e Apert) e em craniossinostose devido à orientação anormal das órbitas nessas condições.

Classificação

Direção do desvio

Horizontal

  • Esotropia: convergência anormal dos eixos visuais (desvio para dentro)[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Esotropia: olho esquerdo fixador (observe o reflexo da luz descentralizado na córnea direita)Do acervo do Dr Daniel J. Salchow; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@47cb9fb7

    • Esotropia infantil: início nos primeiros 6 meses de vida, geralmente com ângulo grande e constante

    • Esotropia acomodativa: início entre 18 e 24 meses de idade, normalmente intermitente no início, e em geral está associada à hipermetropia (visão à distância, focalização da luz atrás da retina)

    • Paralítica: paralisia do nervo abducente (VI nervo craniano)

    • Restritiva: causada por um obstáculo ao movimento livre do olho (por exemplo, doença de Graves, fraturas orbitais)

    • Sensorial: secundária à visão prejudicada em um olho

    • Sindrômica: associada a síndromes (por exemplo, síndrome de retração de Duane, síndrome de Brown).

  • Exotropia: divergência anormal dos eixos visuais dos olhos (desvio para fora)[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Exotropia: olho esquerdo fixador (observe o reflexo da luz descentralizado no olho direito)Do acervo do Dr Daniel J. Salchow; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@141ab1e6

    • Infantil: início nos primeiros 6 meses de vida, menos comum que a esotropia infantil

    • Idiopática: intermitente ou constante

    • Paralítica: paralisia do nervo oculomotor (III nervo craniano), pode estar associado a hipotropia, ptose e midríase (dilatação da pupila)

    • Restritiva: causada por um obstáculo ao movimento livre do olho (por exemplo, fraturas orbitais e, com menos frequência que na esotropia, doença de Graves)

    • Sensorial: secundária à visão prejudicada em um olho.

Vertical

  • Hipertropia: desvio para cima do eixo visual de um olho em relação ao outro[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Hipertropia direita: olho esquerdo fixador (observe a sombra escleral inferior e o reflexo da luz descentralizado no olho direito)Do acervo do Dr Daniel J. Salchow; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@66e6674c

    • Paralítica: paralisia do nervo troclear (IV nervo craniano)

    • Restritiva: causada por um obstáculo ao movimento livre do olho (por exemplo, doença de Graves, fraturas orbitais).

  • Hipotropia: desvio para baixo do eixo visual de um olho em relação ao outro

    • Paralítica: paralisia do nervo oculomotor (III nervo craniano), pode estar associado a exotropia, ptose e midríase

    • Restritiva: causada por um obstáculo ao movimento livre do olho (por exemplo, doença de Graves, fraturas orbitais, síndrome de Brown).

Torsional (ciclotorsão)

  • Inciclotorsão: o olho é girado de modo que o polo superior fica torcido em sentido nasal e o polo inferior em sentido temporal, e o olho é "rolado" em direção ao nariz.

  • Exciclotorsão: o olho é girado de modo que o polo superior fica torcido em sentido temporal e o polo inferior em sentido nasal, e o olho é "rolado" em direção à orelha.

Frequência do desvio

Latente

  • Nenhuma evidência de estrabismo enquanto o paciente está fixando os dois olhos.

Intermitente

  • O estrabismo está presente apenas de forma intermitente, enquanto que, em outras ocasiões, os olhos estão alinhados.

Constante/manifesto

  • O estrabismo está sempre presente.

Variação com a posição do olhar

Comitante (concomitante)

  • O desvio não varia de tamanho com a direção do olhar do olho fixador. Constitui a maioria das formas de estrabismo infantil (exceto as associadas à restrição ou à paralisia de nervos cranianos).

Incomitante (não concomitante)

  • O desvio varia de tamanho com a direção do olhar do olho fixador. Normalmente, tem natureza paralítica ou restritiva e pode indicar doença neurológica ou orbital subjacente. Se o estrabismo horizontal mudar de tamanho ao olhar para cima e para baixo, o padrão normalmente será descrito em analogia a letras.

    • Padrão A: mais exotropia (ou menos esotropia) ao olhar para baixo em comparação com a supraversão do olhar. Considerado clinicamente significativo se a diferença for 10 dioptrias prismáticas ou mais.

    • Padrão em V: mais esotropia (ou menos exotropia) ao olhar para baixo em comparação com a supraversão do olhar. Considerado clinicamente significativo se a diferença for de 15 dioptrias prismáticas ou mais.

    • O estrabismo com padrão X, Y e lambda também tem sido descrito, mas é mais raro.

Fixação

Alternada

  • A fixação alterna espontaneamente de um olho para o outro.

Monocular

  • Existe uma preferência definitiva para fixação com um olho sobre o outro.

Idade de início

Infantil (anteriormente conhecido como congênito)

  • Estrabismo documentado antes dos 6 meses de idade.

Adquirida

  • Qualquer desvio com início depois dos 6 meses de idade.

Função visual

Estrabismo sensorial

  • Associado à acuidade visual reduzida (visão prejudicada) em um olho.

Etiologia subjacente

Primária

  • Estrabismo sem causa identificada. Os exemplos incluem esotropia infantil e exotropia intermitente.

Secundária

  • Estrabismo causado por um transtorno subjacente.

Recorrente

  • Estrabismo que volta a ocorrer após tratamento inicialmente bem-sucedido para o mesmo tipo de estrabismo.

Residual

  • Estrabismo que permanece após tratamento parcialmente bem-sucedido.

Consecutivo

  • Estrabismo que ocorre após o tratamento para um tipo diferente de estrabismo.

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