Abordagem

O tratamento da laringite infecciosa aguda variará dependendo da gravidade da doença. Devem ser tomados cuidados especiais com pacientes que tenham qualquer grau de comprometimento das vias aéreas. Determinados tipos de infecção requerem cuidados urgentes e especializados, como a epiglotite e a difteria.

O tratamento para laringite viral baseia-se na compreensão completa da evolução natural da doença. Existem poucos dados sobre isso. A maioria dos médicos, no entanto, aborda a laringite viral como uma doença geralmente autolimitada, que requer tratamento de suporte isolado.[4]

A - antibióticos

O desafio do médico é decidir sobre quando os antibióticos podem ser necessários para uma possível infecção bacteriana. Uma revisão Cochrane de 2021 concluiu que antibióticos devem ser prescritos para faringite somente após avaliar cada paciente individualmente e determinar que a faringite é provavelmente de origem bacteriana.[25]​​ Uma revisão Cochrane de 2015 abordou a questão dos antibióticos para laringite aguda em adultos.[26] [ Cochrane Clinical Answers logo ] ​ A revisão encontrou três ensaios clínicos randomizados e controlados: um deles comparou a penicilina V com placebo, o segundo comparou a eritromicina com placebo, e o terceiro comparou a fusafungina (não disponível mais) com ou sem claritromicina à ausência de tratamento. Descobriu-se que o grupo da eritromicina apresentou resultados vocais consideravelmente melhores somente a partir de 1 semana de tratamento, e melhora significativa da tosse somente a partir das 2 semanas de tratamento. Além disso, os pacientes tratados com fusafungina por via inalatória apresentaram uma taxa maior de cura clínica por volta do dia 5, mas nenhuma diferença por volta do dia 8 ou posteriormente. Todas as outras medidas de desfecho e de voz não demonstraram melhora significativa em ambos os grupos de tratamento. A revisão Cochrane concluiu que não parece haver benefício clinicamente significativo algum no uso de antibióticos para tratar laringite aguda; no entanto, nenhuma recomendação definitiva pode ser feita. O uso de antibióticos poderia causar aumento nas taxas de organismos resistentes, bem como riscos adversos indevidos e custos.[26][27]

Corticosteroides

As evidências para o uso de corticosteroides para laringite aguda são incompletas.[17][28][29][30][31][32][33]​​ Um estudo comparou corticosteroides por via inalatória versus via oral. Houve melhora significativa no edema na coorte de corticosteroide inalatório em comparação com a coorte de corticosteroide oral.[29] Em outro estudo, a corticoterapia oral apresentou redução dos marcadores pró-inflamatórios e aumento dos marcadores anti-inflamatórios em um modelo humano de fonotrauma.[17] Os autores do estudo concluíram que isso oferece base biológica para dar suporte ao uso de corticosteroides em inflamações agudas das pregas vocais associadas a fonotrauma.

Pacientes com possível comprometimento das vias aéreas

Se houver desconforto respiratório, o paciente deverá ser avaliado em um ambiente controlado com facilidade de realizar uma intubação segura. Talvez seja preciso realizar uma traqueotomia de emergência caso não seja possível fazer uma intubação normal através do edema. As crianças com sintomas e sinais de epiglotite (por exemplo, febre alta, faringite, aparência toxêmica, sialorreia, posição de tripé, desconforto respiratório e irritabilidade) devem ser examinadas em um ambiente controlado, como a sala de cirurgia, onde a intubação será realizada se houver qualquer dúvida quanto às vias aéreas. Se o paciente for um adulto, poderá ser realizada a laringoscopia flexível. Deve ser evitada qualquer manipulação da área supraglótica. Se necessário, a intubação poderá ser feita durante a laringoscopia flexível com visualização direta.[19]

É improvável que o desconforto respiratório agudo se manifeste no cenário de uma laringite aguda não complicada, a menos que haja um fator de risco subjacente, como uma condição que limita as vias aéreas. Afecções como a estenose subglótica ou a paralisia da prega vocal bilateral aumentam significativamente o risco de insuficiência respiratória na laringite aguda. Mesmo uma leve inflamação e um edema das estruturas endolaríngeas podem causar um comprometimento das vias aéreas, e isso pode ser prejudicial para o paciente. Portanto, as doenças do trato respiratório superior (DTRSs) e a laringite aguda devem ser tratadas com diligência. Corticosteroides são administrados para aliviar o edema em todos os pacientes com potencial comprometimento das vias aéreas. O tratamento precoce com antibióticos deve ser considerado em pacientes com suspeita de difteria. As vias aéreas devem ser monitoradas rigorosamente para se avaliar a necessidade de uma traqueotomia.[19]

Pacientes com difteria podem parecer à beira de um comprometimento das vias aéreas. O paciente precisa ser hospitalizado e observado cuidadosamente. São realizadas laringoscopias indiretas com fibra óptica em série. As vias aéreas devem ser protegidas no caso de desenvolvimento de obstruções decorrentes da evolução dos exsudatos.

Laringite infecciosa aguda (não diftérica)

A maioria dos casos de laringite infecciosa aguda é viral, e o tratamento é de suporte com analgésicos e antitussígenos, conforme necessário. A higiene vocal é o componente mais importante do esquema de tratamento. Ela inclui, mas não está limitada ao repouso da voz, aumento da hidratação, umidificação e ingestão limitada de cafeína.[14] O repouso da voz, na laringite viral em particular, não pode ser subestimado. A duração sugerida para o repouso da voz pode variar de acordo com a prática habitual de cada médico, mas geralmente é de 3 a 14 dias.[34] Os cantores não devem cantar ou fazer exercícios vocais durante esse período. O repouso da voz é importante porque o uso intensivo da voz em uma laringe já lesionada pode causar o desenvolvimento de patologias adicionais, como cicatrização ou hemorragia das pregas vocais e disfonia de tensão muscular. A cafeína deve ser evitada porque tem efeitos diuréticos e causará uma depleção de volume adicional. Os descongestionantes não são recomendados. Não há nenhuma evidência que dê suporte ao uso de corticosteroides para esses pacientes.

Apesar da falta de ensaios conclusivos, os mucolíticos têm sido amplamente utilizados para diminuir a viscosidade das secreções. Os mucolíticos podem restaurar a qualidade do muco aquoso na glote, que é essencial para a lubrificação das pregas vocais verdadeiras.[35] O muco espesso também desencadeia pigarro, que por sua vez aumenta o edema e as lesões nas pregas vocais, levando a patologias das pregas vocais.

Os antibióticos são indicados apenas quando há suspeita de infecção bacteriana.[25][26]​​[27]​ Antibióticos e corticoides não devem ser usados para o tratamento empírico da laringite.[2]​ A maioria dos casos de laringite aguda é viral.

Laringite aguda decorrente de difteria, após o manejo bem-sucedido das vias aéreas

Assim que houver uma suspeita do diagnóstico, será iniciado o tratamento clínico com antibióticos e antitoxina. A administração de antitoxina diftérica é uma etapa fundamental no tratamento da difteria, e pode ser administrada antes da confirmação laboratorial.[36]​ Os antibióticos são essenciais para erradicar o organismo e eliminar sua disseminação, mas eles não são um substituto do tratamento com antitoxina.[27]

ConsulteDifteria.​

Os pacientes devem ser isolados até que duas culturas da nasofaringe e da garganta coletadas com pelo menos 24 horas de intervalo, e mais de 24 horas após o término dos antibióticos, sejam negativas.[27][37]​​​​ Analgésicos, mucolíticos e medicamentos para a tosse podem ser usados como cuidados de suporte após a terapia de urgência.

Laringite decorrente de tuberculose ou de infecção fúngica

Discussões mais detalhadas sobre a laringite tuberculosa ou laringite fúngica ultrapassam o escopo deste tópico. Os pacientes com suspeita de tuberculose precisam ser encaminhados a um especialista em pneumologia ou em doenças infecciosas, para a administração de terapia antituberculose e tratamento. Veja Tuberculose pulmonar. Higiene vocal, analgésicos, mucolíticos e medicamentos para tosse podem ser usados como cuidados de suporte.

Os pacientes com laringite fúngica são tratados por otorrinolaringologistas. Pacientes que usam corticosteroides inalatórios devem ser orientados a enxaguar a boca com água antes e depois da inalação. Se possível, a dose de corticosteroide deve ser reduzida à menor dose necessária. Pode ser necessário o encaminhamento a um otorrinolaringologista.[38]

Laringite crônica decorrente de tuberculose ou de infecção fúngica

A laringite tuberculosa crônica é tratada com um esquema e cuidados antituberculose fornecidos por um especialista em doenças infecciosas. A laringite crônica também pode ocorrer devido a uma infecção por fungos. Os pacientes com laringite fúngica são tratados por otorrinolaringologistas. Informações mais detalhadas sobre o tratamento da laringite fúngica ultrapassam o escopo deste tópico.

Laringite não infecciosa

A base do tratamento da laringite decorrente de um fonotrauma crônico é a fonoterapia realizada por um fonoaudiólogo experiente.[2][22]​​​​ Para esses pacientes com distensão vocal, a higiene vocal é fundamental. Isso inclui, mas não está limitada ao repouso da voz, aumento da hidratação, umidificação e ingestão limitada de cafeína.[14]​ O repouso da voz é importante porque o uso intensivo da voz em uma laringe já lesionada pode causar o desenvolvimento de patologias adicionais, como cicatrização ou hemorragia das pregas vocais e disfonia de tensão muscular. A duração sugerida para o repouso da voz pode variar de acordo com a prática habitual de cada médico, mas geralmente é de 3 a 14 dias.[34] Os cantores não devem cantar ou fazer exercícios vocais durante esse período.

Profissionais que usam a voz

Profissionais que usam a voz, como cantores, diversos fatores podem ser abordados, incluindo higiene vocal, refluxo e hábitos sociais.[31] As opções de tratamento que podem ser consideradas incluem terapia com um profissional especializado em canto, corticosteroides orais ou nasais para rinite ou outra inflamação, bem como antibióticos para casos de sinusite bacteriana que inflame a laringe. A rouquidão nem sempre se deve à laringite e, portanto, o exame cuidadoso usando a videoestroboscopia para avaliar as pregas vocais e descartar lesões mais graves das pregas vocais (hemorragia ou ruptura da mucosa vocal) é essencial. Caso haja uma lesão vocal grave, recomenda-se repouso vocal e evitar o uso intenso da voz. Quando a laringite viral aguda estiver presente, o paciente deve ser avaliado por um otorrinolaringologista. Caso não haja lesão vocal grave, corticosteroides intramusculares, hidratação agressiva e uso essencial da voz podem salvar uma apresentação nesse contexto. O paciente deve ser orientado quanto ao aumento do risco de hemorragia, mais danos permanentes ou redução das habilidades vocais com a laringe inflamada caso haja uso vocal contínuo.

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