Abordagem

Os objetivos gerais do tratamento de epididimite aguda são:[15]

  • Alívio sintomático

  • Erradicação da infecção se presente

  • Prevenção da transmissão para outros (epididimite sexualmente transmissível)

  • Prevenção das complicações em potencial (por exemplo, formação de abscesso, infertilidade ou dor crônica/epididimite).

Alívio sintomático

Repouso no leito, elevação escrotal e analgésicos simples são as principais terapias de apoio no tratamento de epididimite aguda independentemente da etiologia da doença. Essas medidas são recomendadas até os sinais de inflamação local ou febre remitirem.[15] Se o paciente tiver doença sistêmica com febre alta, a internação hospitalar para receber antibióticos ou fluidos intravenosos (IV) será indicada. Em epididimite aguda induzida por medicamento devida à amiodarona, a redução da dose ou descontinuação do medicamento resulta no desaparecimento rápido dos sintomas. A epididimite vasculítica remite com medidas conservadoras e tratamento da causa subjacente. Talvez seja necessário a opinião de um especialista em reumatologia, pois os casos graves de vasculite podem exigir tratamento com corticosteroides sistêmicos e agentes imunossupressores.

Erradicação da infecção

A maioria das diretrizes internacionais para o tratamento da epididimite baseia-se em estudos com mais de 10 anos.[14] No entanto, estudos mais recentes destacaram uma mudança na distribuição etária, no organismo causador e na importância da atividade sexual sobre a etiologia.

Nos casos em que a infecção bacteriana é o fator causador presumido, a antibioticoterapia empírica é indicada antes que os exames laboratoriais estejam disponíveis. A escolha dos antibióticos dependerá da idade do paciente e dos fatores de risco associados, incluindo história de relação sexual sem proteção, intervenção recente do trato urinário, obstrução do fluxo de saída da bexiga ou doença sistêmica/imunossupressão.[26] Quando os resultados dos testes estiverem disponíveis, os antibióticos podem ser ajustados para atacar o organismo causador.

Nos casos em que a epididimite pode ser causada por infecção gonocócica ou clamídia, ceftriaxona associada a doxiciclina é recomendada como terapia empírica inicial.[15] Para homens que praticam sexo anal insertivo, os organismos entéricos também podem ser uma causa de epididimite, e o tratamento com ceftriaxona associada a levofloxacino deve ser administrado.[15] Nos pacientes em que há probabilidade de gonorreia (presença de fatores de risco: secreção uretral purulenta, contato conhecido com infecção gonorreica, homens que fazem sexo com homens), a diretriz europeia da International Union against Sexually Transmitted Infections (IUSTI) sobre epidídimo-orquite recomenda adição de azitromicina à ceftriaxona e à doxiciclina.[26] Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) atualizaram suas orientações sobre infecção gonorreica não complicada para monoterapia com ceftriaxona; mas as recomendações para infecções complicadas (como epididimite) permanecem inalteradas e requerem terapia combinada com ceftriaxona associada a doxiciclina.[15] Devido às altas taxas de resistência, as fluoroquinolonas não são mais recomendadas para epididimite gonocócica suspeitada ou confirmada.

O reconhecimento do Mycoplasma genitalium como um potencial patógeno na epididimite gerou uma atualização nas recomendações de algumas diretrizes, como quando o teste para M genitalium tiver sido realizado e o organismo tiver sido identificado, o tratamento com antibiótico deve ser escolhido com base no teste de resistência. A IUTSI recomenda realizar teste de resistência a macrolídeos em todos os casos confirmados de M genitalium.[26][30]​ As infecções complicadas por M genitalium, como epididimite, devem ser tratadas com a fluoroquinolona moxifloxacino como agente de primeira linha.[30] Os pacientes com epididimite e um parceiro com teste positivo para M genitalium também devem ser tratados com moxifloxacino.[29]

Recomenda-se o uso de levofloxacino em casos de epididimite aguda provavelmente causada por organismos entéricos (instrumentação recente do trato urinário, doença sistêmica ou imunossupressão).[15]

Os antibióticos sistêmicos do tipo fluoroquinolonas, como moxifloxacino e levofloxacino, podem causar eventos adversos graves, incapacitantes e potencialmente duradouros ou irreversíveis. Isso inclui, mas não está limitado a: tendinopatia/ruptura de tendão; neuropatia periférica; artropatia/artralgia; aneurisma e dissecção da aorta; regurgitação de valva cardíaca; disglicemia; e efeitos sobre o sistema nervoso central, incluindo convulsões, depressão, psicose e pensamentos e comportamento suicidas.[37]

  • Restrições de prescrição aplicam-se ao uso das fluoroquinolonas, e essas restrições podem variar entre os países. Em geral, o uso das fluoroquinolonas deve ser restrito apenas nas infecções bacterianas graves e com risco à vida. Algumas agências regulatórias também podem recomendar que eles sejam usados apenas em situações em que outros antibióticos comumente recomendados para a infecção sejam inadequados (por exemplo, resistência, contraindicações, falha do tratamento, indisponibilidade).

  • Consulte as diretrizes locais e o formulário de medicamentos para obter mais informações sobre adequação, contraindicações e precauções.

Outras causas são incomuns. A epididimite por caxumba é tratada com cuidados de suporte. A epididimite tuberculosa deve ser tratada com antibióticos sistêmicos de acordo com as diretrizes locais, devido às cepas de tuberculose extremamente variáveis e aos padrões de resistência a antibióticos.

Prevenção de possíveis complicações

O tratamento imediato e medidas de suporte limitarão a gravidade global da doença e, portanto, reduzirão o risco de evoluir para complicações. A antibioticoterapia empírica imediata pode impedir a formação de abscesso e, assim, evitar a necessidade de hospitalização e cirurgia.[38] Isquemia/infarto testicular é uma complicação rara de epididimite grave, que pode causar problemas de subfertilidade/infertilidade. Embora os dados atualizados sejam limitados, o uso de corticosteroides não tem gerado nenhum benefício significativo na redução das sequelas em longo prazo da obstrução do epidídimo devida à inflamação.[39] O desenvolvimento de dor crônica/epididimite depois de epididimite aguda é raro, e pouco se sabe sobre sua etiologia e patogênese.[40]

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