O quadro clínico de epididimite aguda normalmente é dor unilateral e edema do escroto. O diagnóstico diferencial mais importante a ser considerado é o de torção testicular, principalmente quando o início da dor é súbito e grave, e os exames iniciais não mostram nenhuma evidência de inflamação ou infecção.
Fatores de risco
Incluem relação sexual sem proteção. Uma história de penetração anal pode estar associada à infecção por organismos entéricos.[15]Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually transmitted infections treatment guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021 Jul 23;70(4):1-187.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8344968
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34292926?tool=bestpractice.com
Os fatores de risco incomuns incluem história de caxumba[3]Gupta RK, Best J, MacMahon E. Mumps and the UK epidemic 2005. BMJ. 2005 May 14;330(7500):1132-5.
https://www.bmj.com/content/330/7500/1132.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15891229?tool=bestpractice.com
ou fatores de risco para tuberculose (TB) (por exemplo, história pessoal de TB anterior, exposição a um paciente com TB, viagem para uma região endêmica de TB ou uso de terapia com BCG intravesical para câncer de bexiga).[17]Yadav S, Singh P, Hemal A, et al. Genital tuberculosis: current status of diagnosis and management. Transl Androl Urol. 2017 Apr;6(2):222-33.
http://tau.amegroups.com/article/view/13854/14808
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28540230?tool=bestpractice.com
A infecção por organismos entéricos é associada a obstrução infravesical, infecção do trato urinário, intervenção recente do trato urinário ou doença sistêmica, principalmente imunossupressão.[15]Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually transmitted infections treatment guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021 Jul 23;70(4):1-187.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8344968
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34292926?tool=bestpractice.com
Avaliação clínica
Uma história completa do paciente é de importância vital na determinação da provável etiologia de epididimite aguda. Especificamente, a história sexual com risco de ISTs deve ser investigada, junto com qualquer história de sintomas preexistentes do trato urinário inferior ou intervenção recente.[26]Street EJ, Justice ED, Kopa Z, et al. The 2016 European guideline on the management of epididymo-orchitis. Int J STD AIDS. 2017 Jul;28(8):744-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28632112?tool=bestpractice.com
Esses fatores permitirão determinar os prováveis agentes causadores e iniciar a antibioticoterapia empírica apropriada antes dos resultados dos testes diagnósticos.
O exame pode revelar um hemiescroto quente, eritematoso e edemaciado, com aumento sensível do epidídimo. Haverá um aumento difuso dos testículos na epidídimo-orquite. Em casos de uretrite, uma secreção mucopurulenta pode estar presente no meato uretral e/ou pode haver sintomas de disúria. Nos casos graves, o paciente pode ter febre e doença sistêmica. Uma hidrocele reativa também pode estar presente, e a formação de abscesso pode ficar evidente pela flutuação do edema e induração do tecido escrotal sobreposto. Recomenda-se realizar um exame de toque retal para avaliar o aumento prostático benigno, que pode sugerir obstrução do fluxo de saída da bexiga subjacente e aumento do risco de epididimite aguda, além de descartar sensibilidade da próstata, que pode ser sinal de prostatite aguda concomitante.
A epididimite tuberculosa pode apresentar-se como epididimite aguda refratária ao tratamento convencional.[18]Gómez García I, Gómez Mampaso E, Burgos Revilla J, et al. Tuberculous orchiepididymitis during 1978-2003 period: review of 34 cases and role of 16S rRNA amplification. Urology. 2010 Oct;76(4):776-81.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20350748?tool=bestpractice.com
Geralmente, o comprometimento agudo desaparece em 2 a 4 semanas e, à medida que a condição evolui e se torna crônica, surge uma massa rígida e indolor. Deve ser considerada caso nenhuma outra causa óbvia seja determinada, mesmo que não haja história de exposição.[17]Yadav S, Singh P, Hemal A, et al. Genital tuberculosis: current status of diagnosis and management. Transl Androl Urol. 2017 Apr;6(2):222-33.
http://tau.amegroups.com/article/view/13854/14808
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28540230?tool=bestpractice.com
As características clínicas de epididimite não infecciosa são as mesmas de uma causa infecciosa, mas os pacientes podem ter uma história de uso de amiodarona ou sintomas de vasculite, como erupção cutânea, e geralmente não têm febre alta ou outros sintomas de sepse.
Investigações
As investigações são indicadas para determinar a causa subjacente de epididimite.
Quando disponível, um swab uretral deve ser enviado para coloração de Gram de secreções uretrais para avaliar a presença de uretrite em homens sintomáticos (por exemplo, com secreção uretral mucopurulenta e/ou disúria).[26]Street EJ, Justice ED, Kopa Z, et al. The 2016 European guideline on the management of epididymo-orchitis. Int J STD AIDS. 2017 Jul;28(8):744-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28632112?tool=bestpractice.com
Um exame de urina com tira reagente positivo para leucócitos é sugestivo de infecção do trato urogenital inferior, e uma amostra do primeiro jato de urina deve ser enviada para microscopia de urina e cultura. O teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT) para Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae na amostra do primeiro jato de urina tem uma sensibilidade maior em comparação com a cultura, e é o exame recomendado nos pacientes nos quais se suspeitar dessas infecções.[27]Centers for Disease Control and Prevention. Recommendations for the laboratory-based detection of Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae - 2014. MMWR Recomm Rep. 2014 Mar 14;63(rr-02):1-19.
https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr6302a1.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24622331?tool=bestpractice.com
[28]Miller JM, Binnicker MJ, Campbell S, et al. Guide to utilization of the microbiology laboratory for diagnosis of infectious diseases: 2024 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society for Microbiology (ASM). Clin Infect Dis. 2024 Mar 5:ciae104.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae104/7619499
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38442248?tool=bestpractice.com
Embora a cultura de N gonorrhoeae seja uma opção alternativa e menos sensível a um NAAT para a gonorreia, ela é a opção de escolha caso o teste de sensibilidade aos antibióticos seja desejado (a cultura para gonorreia requer a coleta de um swab uretral). O Mycoplasma genitalium é diagnosticado com NAAT (atualmente disponível apenas em alguns laboratórios).[26]Street EJ, Justice ED, Kopa Z, et al. The 2016 European guideline on the management of epididymo-orchitis. Int J STD AIDS. 2017 Jul;28(8):744-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28632112?tool=bestpractice.com
[29]Soni S, Horner P, Rayment M, et al. British Association for Sexual Health and HIV national guideline for the management of infection with Mycoplasma genitalium (2018). Int J STD AIDS. 2019 Sep;30(10):938-50.
https://www.doi.org/10.1177/0956462419825948
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31280688?tool=bestpractice.com
[30]Jensen JS, Cusini M, Gomberg M, et al. 2021 European guideline on the management of Mycoplasma genitalium infections. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2022 May;36(5):641-50.
https://www.doi.org/10.1111/jdv.17972
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35182080?tool=bestpractice.com
[31]Gaydos CA. Mycoplasma genitalium: accurate diagnosis is necessary for adequate treatment. J Infect Dis. 2017 Jul 15;216(suppl 2):S406-11.
https://academic.oup.com/jid/article/216/suppl_2/S406/4040965
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28838072?tool=bestpractice.com
A International Union against Sexually Transmitted Infections (IUSTI) recomenda fazer testes de M genitalium em homens que apresentam epidídimo-orquite se tiverem menos de 50 anos.[30]Jensen JS, Cusini M, Gomberg M, et al. 2021 European guideline on the management of Mycoplasma genitalium infections. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2022 May;36(5):641-50.
https://www.doi.org/10.1111/jdv.17972
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35182080?tool=bestpractice.com
Devido à natureza fastidiosa do M genitalium, a cultura é difícil, e o teste de resistência antimicrobiana é limitado. A detecção molecular de mutações específicas mediadas pela resistência está disponível em alguns países.[29]Soni S, Horner P, Rayment M, et al. British Association for Sexual Health and HIV national guideline for the management of infection with Mycoplasma genitalium (2018). Int J STD AIDS. 2019 Sep;30(10):938-50.
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[30]Jensen JS, Cusini M, Gomberg M, et al. 2021 European guideline on the management of Mycoplasma genitalium infections. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2022 May;36(5):641-50.
https://www.doi.org/10.1111/jdv.17972
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[32]Unemo M, Jensen JS. Antimicrobial-resistant sexually transmitted infections: gonorrhoea and Mycoplasma genitalium. Nat Rev Urol. 2017 Mar;14(3):139-52.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28072403?tool=bestpractice.com
A IUTSI recomenda realizar teste de resistência a macrolídeos em todos os casos confirmados de M genitalium.[30]Jensen JS, Cusini M, Gomberg M, et al. 2021 European guideline on the management of Mycoplasma genitalium infections. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2022 May;36(5):641-50.
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Todos os pacientes com epidídimo-orquite transmitida sexualmente devem ser rastreados para outras ISTs, inclusive sífilis e HIV.[33]European Association of Urology. Guidelines on urological infections. Mar 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/urological-infections
Três amostras de urina matinais devem sofrer cultura para bacilos álcool-ácido resistentes e enviadas para NAAT para DNA/RNA de Mycobacterium tuberculosis em pacientes com suspeita de TB.[17]Yadav S, Singh P, Hemal A, et al. Genital tuberculosis: current status of diagnosis and management. Transl Androl Urol. 2017 Apr;6(2):222-33.
http://tau.amegroups.com/article/view/13854/14808
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28540230?tool=bestpractice.com
[33]European Association of Urology. Guidelines on urological infections. Mar 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/urological-infections
A ultrassonografia duplex colorida não costuma ser indicada para pacientes com suspeita de epididimite, mas deve ser realizada em pacientes com sinais sugestivos de formação de abscesso ou possível torção testicular.[7]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: acute onset of scrotal pain - without trauma, without antecedent mass. 2014 (revised 2018) [internet publication].
https://acsearch.acr.org/docs/69363/Narrative
[34]Ota K, Fukui K, Oba K, et al. The role of ultrasound imaging in adult patients with testicular torsion: a systematic review and meta-analysis. J Med Ultrason (2001). 2019 Jul;46(3):325-34.
https://www.doi.org/10.1007/s10396-019-00937-3
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30847624?tool=bestpractice.com
A exploração cirúrgica pode ser indicada nos casos em que a torção testicular não pode ser excluída com segurança.
As causas não infecciosas de epididimite geralmente são evidentes na história de uso de amiodarona ou vasculite subjacente e são confirmadas com testes negativos para infecção bacteriana. A epididimite idiopática é um diagnóstico de exclusão.