Etiologia
Estudos em crianças que se apresentam ao pronto-socorro com cefaleia têm demonstrado que as etiologias mais comuns incluem cefaleia primária (principalmente enxaqueca e, raramente, tensional) e cefaleia relacionada à sinusite.[1][2][6] Distúrbios primários de cefaleia exigem a exclusão de etiologias de cefaleias secundárias.
Doença neurológica grave é diagnosticada em 6% a 15% das crianças. Essas doenças incluem meningite viral ou bacteriana, mau funcionamento da derivação ventriculoperitoneal, neoplasias, hemorragias intracranianas (epidural, subdural, intraparenquimal) e pseudotumor cerebral (hipertensão intracraniana idiopática). É recomendado que pacientes com doença de etiologias neurológicas sejam diagnosticados por meio de história e exame físico completos, com o uso criterioso de neuroimagem.[1][2][6][7]
Traumático
O trauma cranioencefálico pode causar contusão cerebral, cefaleia pós-concussão e hemorragia (por exemplo, parenquimal, subdural, epidural e subaracnoide). A avaliação urgente de causas secundárias de cefaleia é geralmente indicada quando existe uma história de trauma cranioencefálico precedendo a cefaleia. Um exame neurológico detalhado é essencial. Se houver suspeita de uma dessas etiologias secundárias, a neuroimagem urgente é indicada.
Vascular
Cefaleia pode ser sintomática de doenças vasculares subjacentes, incluindo:
Enxaqueca
Geralmente unilateral; intensidade moderada a intensa; frequentemente associada a náuseas, vômitos e distúrbios visuais
Dissecção (carótida, artérias vertebrais ou intracranianas)
Pode ser uma história de lesão na cabeça ou pescoço
O início dos sintomas pode ser tardio
Hemorragia intracraniana
Subaracnoide (pode ocorrer em virtude de ruptura de aneurisma ou no contexto de lesão cerebral traumática)
Parenquimal (pode estar relacionada a malformações vasculares ou pode haver história de trauma)
Acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico
Início agudo de cefaleia com convulsões focais e sintomas de hipertensão intracraniana (cefaleia, vômitos, consciência deprimida)
Trombose sinovenosa
Início gradual da cefaleia agravado pela inclinação ou agachamento, ou com o esforço ao evacuar (Valsalva).
Caso haja suspeita de etiologia vascular secundária, uma neuroimagem de urgência com TC de crânio sem contraste é indicada (o sangue aparece hiperdenso).[7]
Infecciosa
As infecções intracranianas incluem:
Encefalite (pode ser secundária a infecções comuns da infância, porém evitáveis, como sarampo, caxumba e rubéola)
Meningite (Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis são as causas mais comuns de meningite bacteriana em crianças; meningite viral geralmente é mais leve)
Cáries dentárias, abscesso e doença gengival
Sinusite. Sensibilidade à palpação, mucosa inflamada e secreção nasal purulenta podem sugerir sinusite. Pode ser acompanhada por dor de dente ou de ouvido.
Pacientes com cefaleia e febre ou rigidez de nuca geralmente devem ser submetidos a uma punção lombar, após a realização de uma neuroimagem para descartar quaisquer lesões intracranianas. Caso a punção lombar não possa ser realizada rapidamente, antibióticos e antivirais podem ser iniciados antes do LCR ser avaliado. Dor de dente exige encaminhamento urgente ao dentista.
Neoplásica
Tumores cerebrais podem causar pressão intracraniana que evolui gradualmente com o crescimento do tumor ou abruptamente, se ocorrer uma hemorragia intratumoral (com hidrocefalia concomitante).
Frequentemente, esses pacientes se apresentam com agravamento crônico da cefaleia, que pode ser mais intensa quando em posição supina e pela manhã.
Das crianças com tumores cerebrais, 62% apresentam cefaleia antes do diagnóstico e 98% têm pelo menos um sintoma neurológico ou uma anormalidade no exame físico.[4]
A TC do crânio pode identificar tumores grandes, mas a RNM sem e com contraste é o estudo de imagem ideal.[7]
Tumores cerebrais comuns em crianças são astrocitoma, meduloblastoma e ependimoma.
Associada a medicamentos
Uso excessivo de medicamentos
O uso excessivo de muitos medicamentos de venda livre e de medicamentos prescritos para cefaleia (por exemplo, ergotamina, triptanos, analgésicos, opioides ou uma combinação desses medicamentos) pode causar cefaleia crônica.
Com a transformação em cefaleia crônica, as características iniciais da cefaleia subjacente podem estar reduzidas ou ausentes, de modo que a história deve incluir uma descrição da cefaleia inicial que causou o uso do medicamento.
A identificação e a supressão do medicamento responsável é um componente importante do tratamento da cefaleia.
Cefaleia responsiva à indometacina
Algumas das formas de cefalgia autonômica do trigêmeo da cefaleia primária são responsivas à indometacina.
Todas são caracterizadas por cefaleia e sintomas autonômicos.
Hemicrania paroxística (cefaleia unilateral, intensa e desconfortável que dura 20 minutos e ocorre 10 a 40 vezes por dia com sintomas autonômicos, como congestão nasal, lacrimejamento e hiperemia conjuntival).
Hemicrania contínua (cefaleia unilateral durando horas ou dias associada a sintomas autonômicos mais leves ou enxaquecosos).
Musculoesquelético
A tensão muscular e anormalidades articulares (por exemplo, disfunções temporomandibulares) podem resultar em cefaleia. O exame físico da cefaleia deve identificar o local exato da dor. Sensibilidade e exacerbações posicionais são pistas importantes para os encarceramentos. O exame da orofaringe e dos dentes e a palpação de músculos do pescoço são um importante componente do exame físico.
Outra
Outras etiologias primárias importantes a serem consideradas incluem:
Cefaleia em salvas
Os pacientes se apresentam com uma cefaleia excruciante em facadas, frequentemente na órbita, que dura 15 a 180 minutos e ocorre 1 a 10 vezes por dia
Características autonômicas estão presentes, incluindo lacrimejamento, hiperemia conjuntival, congestão nasal, ptose e edema palpebral
A ressonância nuclear magnética (RNM) é indicada pois, embora rara, pode ser sintomática de uma lesão cerebral em crianças
Cefaleia diária persistente de início súbito
Caracterizada por uma cefaleia com duração maior que 3 meses que é constante e ocorre diariamente a partir de 3 dias de seu início
Pode ser secundária a uma patologia subjacente, portanto, a RNM com contraste, às vezes também com venografia por ressonância magnética (RM) e a avaliação do líquido cefalorraquidiano (LCR), incluindo a pressão de abertura, é importante.
Outras etiologias secundárias importantes incluem:
Encefalopatia hipertensiva
Os pacientes podem se apresentar com pressão arterial elevada
Apoplexia hipofisária
Pode manifestar anormalidades no movimento ocular e/ou estado mental alterado
Disfunção da derivação ventriculoperitoneal
Crianças com derivação ventriculoperitoneal podem apresentar disfunção da derivação (etiologia proximal ou distal)
Requer intervenção urgente, especialmente caso também haja suspeita de hipertensão intracraniana (edema do nervo óptico, paralisia do VI nervo craniano com diplopia horizontal, cefaleia que se agrava na posição supina)
Pseudotumor cerebral
Edema do nervo óptico ou uso de medicamentos desencadeantes deve induzir a consideração da existência de pseudotumor cerebral (hipertensão intracraniana idiopática) e a punção lombar deve incluir uma pressão de abertura
Hidrocefalia intermitente
Pode ocorrer quando uma lesão de massa obstrui de forma intermitente o fluxo do LCR, principalmente próximo à estrutura estreita do sistema ventricular
Caso a pressão permaneça elevada apenas brevemente, o edema do nervo óptico pode não se desenvolver
O diagnóstico é importante porque obstruções futuras (especialmente durante o sono) podem não remitir espontaneamente e podem rapidamente causar hipertensão intracraniana em virtude de hidrocefalia obstrutiva.
Uma história detalhada é importante na identificação dessas raras, mas importantes, causas secundárias de cefaleia.
O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal