Uma vez identificada a origem do sangramento, pode dar-se início ao tratamento. Os métodos diagnósticos geralmente podem ser combinados com o tratamento. O encaminhamento para um cirurgião gastrointestinal é recomendado durante ou após a estabilização.
Cuidados de suporte
Após a avaliação do estado hemodinâmico do paciente (sinais vitais), dependendo do grau de sangramento, o paciente pode precisar de proteção e suporte das vias aéreas por meio de intubação. O estado circulatório do paciente é avaliado com atenção ao grau de sangramento, pressão arterial (PA) e pulso.
Os cuidados de suporte incluem, conforme indicado, a administração de fluidoterapia intravenosa e transfusões de sangue, e é necessário continuar com os cuidados, conforme necessário, em pacientes hemodinamicamente estáveis. A European Society of Gastrointestinal Endoscopy recomenda a transfusão de eritrócitos em pacientes hemodinamicamente estáveis com hemorragia digestiva baixa aguda e sem história de doença cardiovascular, com limiar de hemoglobina de ≤ 70 g/L (≤ 7 g/dL) que justifica a transfusão de eritrócitos.[38]Triantafyllou K, Gkolfakis P, Gralnek IM, et al. Diagnosis and management of acute lower gastrointestinal bleeding: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) guideline. Endoscopy. 2021 Aug;53(8):850-68.
https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/html/10.1055/a-1496-8969
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34062566?tool=bestpractice.com
Em pacientes com história de doença cardiovascular, um limiar de hemoglobina de ≤ 80 g/L (≤ 8 g/dL) deve justificar a transfusão de eritrócitos.[38]Triantafyllou K, Gkolfakis P, Gralnek IM, et al. Diagnosis and management of acute lower gastrointestinal bleeding: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) guideline. Endoscopy. 2021 Aug;53(8):850-68.
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Pacientes hemodinamicamente instáveis
Em pacientes com sangramento angiodisplásico instável, as diretrizes recomendam a angiotomografia como exame inicial para avaliar a anatomia arterial e localizar o ponto de sangramento.[18]Sengupta N, Kastenberg DM, Bruining DH, et al. The role of imaging for GI bleeding: ACG and SAR consensus recommendations. Radiology. 2024 Mar;310(3):e232298.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38441091?tool=bestpractice.com
[35]Sengupta N, Feuerstein JD, Jairath V, et al. Management of patients with acute lower gastrointestinal bleeding: an updated ACG guideline. Am J Gastroenterol. 2023 Feb 1;118(2):208-31.
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[38]Triantafyllou K, Gkolfakis P, Gralnek IM, et al. Diagnosis and management of acute lower gastrointestinal bleeding: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) guideline. Endoscopy. 2021 Aug;53(8):850-68.
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Isso deve ser seguido de uma angiografia mesentérica com visão da embolização para controlar a fonte do sangramento.[34]Karuppasamy K, Kapoor BS, Fidelman N, et al. Expert panel on interventional radiology, ACR appropriateness criteria® radiologic management of lower gastrointestinal tract bleeding: 2021 update. J. Am. Coll. Radiol. 2021 May 21;18(5):S139-52.
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[40]Raju GS, Gerson L, Das A, et al. American Gastroenterological Association (AGA) Institute medical position statement on obscure gastrointestinal bleeding. Gastroenterology. 2007 Nov;133(5):1697-717.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17983812?tool=bestpractice.com
A endoscopia digestiva alta pode ser realizada em seguida para descartar uma origem proximal ao duodeno distal.
Colonoscopia ou cirurgia pode ser adequada na ausência de angiografia. Durante a colonoscopia, podem ser indicados procedimentos como eletrocauterização, fotocoagulação, grampos ou injeção de adrenalina para tratar a lesão. Para pacientes com angiodisplasias colônicas, é recomendável tratamento cuidadoso do cólon direito devido às paredes mais finas e ao risco mais elevado de perfuração. Para pacientes com sangramento do intestino delgado recorrente, o manejo endoscópico via enteroscopia assistida por dispositivo pode ser considerado, dependendo do ciclo clínico do paciente e da resposta à terapia anterior.[8]Gerson LB, Fidler JL, Cave DR, et al. ACG clinical guideline: diagnosis and management of small bowel bleeding. Am J Gastroenterol. 2015 Sep;110(9):1265-87; quiz 1288.
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A eletrocauterização usa sondas quentes para coagular as lesões sangrantes. A fotocoagulação usa laser Yag e argônio e requer um treinamento específico. A fotocoagulação com argônio parece ser segura e eficaz em pacientes com sangramento decorrente de angiodisplasia colônica.[63]Olmos JA, Marcolongo M, Pogorelsky V, et al. Long-term outcome of argon plasma ablation therapy for bleeding in 100 consecutive patients with colonic angiodysplasia. Dis Colon Rectum. 2006 Oct;49(10):1507-16.
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[64]Olmos JA, Marcolongo M, Pogorelsky V, et al. Argon plasma coagulation for prevention of recurrent bleeding from GI angiodysplasias. Gastrointest Endosc. 2004 Dec;60(6):881-6.
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[65]Pichon Riviere A, Augustovski F, Garcia Marti S, et al. Argon plasma usefulness for the treatment of gastrointestinal lesions. Buenos Aires, Argentina: Ciudad de Buenos Aires, Institute for Clinical Effectiveness and Health Policy (IECS); 2005.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Imagem endoscópica (enteroscopia assistida por dispositivo) da angiodisplasia do intestino delgado após o tratamento com coagulação com plasma de argônioDo acervo pessoal do Dr Elli, Milão, Itália; usado com permissão [Citation ends].
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Imagem endoscópica de coagulação de angiodisplasia cólica com plasma de argônioPermissão obtida do paciente; Licença de Documentação Livre do GNU [Citation ends].
A endoscopia por cápsula também pode ser indicada a um grupo específico, em que as investigações acima não identificaram a fonte do sangramento. Pode haver um papel para a enteroscopia assistida por dispositivo após uma endoscopia por cápsula positiva para tratar uma lesão que causa sangramento no intestino delgado.
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Angiodisplasia do intestino delgado observada durante a endoscopia por cápsula do intestino delgadoDo acervo pessoal do Dr Elli, Milão, Itália; usado com permissão [Citation ends].
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Angiodisplasia do intestino delgado observada durante a endoscopia por cápsula do intestino delgadoDo acervo pessoal do Dr Elli, Milão, Itália; usado com permissão [Citation ends].
Somente os pacientes com hemorragia maciça com risco de vida e que obtenham pouco alívio com a endoscopia intervencionista ou a embolização são apropriados para cirurgia. Na cirurgia, o paciente pode ser submetido a uma enteroscopia na mesa a fim de localizar o sangramento, antes de uma colectomia subtotal cega. Preferencialmente, o local do sangramento deve ser identificado antes da ressecção. O sangramento recorrente ainda é comum após a hemicolectomia direita, na medida em que lesões não identificadas podem ainda estar presentes. A substituição cirúrgica da valva aórtica deve ser considerada em pacientes co síndrome de Heyde, conhecida como angiodisplasia do intestino delgado, e sangramento contínuo.[8]Gerson LB, Fidler JL, Cave DR, et al. ACG clinical guideline: diagnosis and management of small bowel bleeding. Am J Gastroenterol. 2015 Sep;110(9):1265-87; quiz 1288.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2015/09000/acg_clinical_guideline__diagnosis_and_management.10.aspx
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Como a cirurgia apresenta um alto índice de mortalidade, deve ser considerada apenas quando todas as outras opções já se esgotaram.
Pacientes hemodinamicamente estáveis
Se o paciente tiver sinais vitais e vias aéreas estáveis, a maioria dos episódios de sangramentos cessa espontaneamente.
É recomendável a realização de uma colonoscopia eletiva a fim de identificar a origem do sangramento. Durante o procedimento, podem ser indicados eletrocauterização, fotocoagulação, grampos ou injeção de adrenalina para tratar a lesão.[34]Karuppasamy K, Kapoor BS, Fidelman N, et al. Expert panel on interventional radiology, ACR appropriateness criteria® radiologic management of lower gastrointestinal tract bleeding: 2021 update. J. Am. Coll. Radiol. 2021 May 21;18(5):S139-52.
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Se a endoscopia for negativa e o sangramento continuar, com base na experiência local, a endoscopia por cápsula e a angiotomografia devem ser realizadas, e pode orientar intervenções adicionais. Se a angiotomografia confirmar o sangramento ativo, ela deve ser seguida de uma angiografia mesentérica com visão da embolização para tratar o sangramento.[40]Raju GS, Gerson L, Das A, et al. American Gastroenterological Association (AGA) Institute medical position statement on obscure gastrointestinal bleeding. Gastroenterology. 2007 Nov;133(5):1697-717.
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A enteroscopia assistida por dispositivo pode ser usada para tratar lesões com sangramento no intestino delgado, observadas na TC ou na endoscopia por cápsula.
Se a enteroscopia assistida por dispositivo ou a angiografia não estiverem disponíveis ou não forem eficazes, e o paciente for candidato à cirurgia, a cirurgia pode ser considerada. A cirurgia não deve ser usada como ferramenta diagnóstica para localizar o sangramento em pacientes hemodinamicamente estáveis.[34]Karuppasamy K, Kapoor BS, Fidelman N, et al. Expert panel on interventional radiology, ACR appropriateness criteria® radiologic management of lower gastrointestinal tract bleeding: 2021 update. J. Am. Coll. Radiol. 2021 May 21;18(5):S139-52.
https://www.jacr.org/article/S1546-1440(21)00153-8/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33958109?tool=bestpractice.com
O procedimento exato a ser empregado depende dos locais prováveis do sangramento com base nas investigações pré-operatórias e intraoperatórias.
Se a cirurgia não for adequada para o paciente, a terapia medicamentosa é uma opção, mas poucas pesquisas dão suporte ao seu uso e os resultados são variados.[40]Raju GS, Gerson L, Das A, et al. American Gastroenterological Association (AGA) Institute medical position statement on obscure gastrointestinal bleeding. Gastroenterology. 2007 Nov;133(5):1697-717.
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Uma revisão sistemática e uma metanálise constataram que o tratamento farmacológico de qualquer tipo levou a uma redução significativa dos episódios de sangramento e a uma melhora notável nos níveis de hemoglobina.[66]Gkolfakis P, Fostier R, Tziatzios G, et al. Efficacy of pharmacologic treatment for treating gastrointestinal angiodysplasias-related bleeding: a systematic review and meta-analysis. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2022 Oct 1;34(10):1021-30.
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Os análogos da somatostatina (por exemplo, octreotida, lanreotida) e a talidomida demonstraram benefícios nesses casos. Há poucas evidências para derivados do estrogênio.[40]Raju GS, Gerson L, Das A, et al. American Gastroenterological Association (AGA) Institute medical position statement on obscure gastrointestinal bleeding. Gastroenterology. 2007 Nov;133(5):1697-717.
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[67]Brown C, Subramanian V, Wilcox CM, et al. Somatostatin analogues in the treatment of recurrent bleeding from gastrointestinal vascular malformations: an overview and systematic review of prospective observational studies. Dig Dis Sci. 2010 Aug;55(8):2129-34.
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[68]Swanson E, Mahgoub A, MacDonald R, et al. Medical and endoscopic therapies for angiodysplasia and gastric antral vascular ectasia: a systematic review. Clin Gastroenterol Hepatol. 2014 Apr;12(4):571-82.
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Um ensaio clínico randomizado e controlado multicêntrico constatou que a octreotida reduziu a necessidade de transfusão e o volume anual de procedimentos endoscópicos em pacientes com anemia relacionada à angiodisplasia.[69]Goltstein LCMJ, Grooteman KV, Bernts LHP, et al. Standard of care versus octreotide in angiodysplasia-related bleeding (the OCEAN study): a multicenter randomized controlled trial. Gastroenterology. 2024 Apr;166(4):690-703.
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A terapia com lanreotida em longo prazo demonstrou melhorar consideravelmente a anemia e reduzir a internação hospitalar, transfusões de sangue e endoscopias em pacientes com angiodisplasias.[70]Frago S, Alcedo J, Martín Pena-Galo E, et al. Long-term results with lanreotide in patients with recurrent gastrointestinal angiodysplasias bleeding or obscure gastrointestinal bleeding. Benefits in efficacy and procedures consumption. Scand J Gastroenterol. 2018 Dec;53(12):1496-502.
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[71]Hawks MK, Svarverud JE. Acute lower gastrointestinal bleeding: evaluation and management. Am Fam Physician. 2020 Feb 15;101(4):206-12.
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Revisões sistemáticas sugerem que a terapia com análogo da somatostatina é segura e eficaz em pacientes com angiodisplasia gastrointestinal; a terapia com octreotida pode ser mais eficaz que a terapia com lanreotida.[72]Jackson CS, Gerson LB. Management of gastrointestinal angiodysplastic lesions (GIADs): a systematic review and meta-analysis. Am J Gastroenterol. 2014 Apr;109(4):474-83.
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[73]Goltstein LCMJ, Grooteman KV, Rocco A, et al. Effectiveness and predictors of response to somatostatin analogues in patients with gastrointestinal angiodysplasias: a systematic review and individual patient data meta-analysis. Lancet Gastroenterol Hepatol. 2021 Nov;6(11):922-32.
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Um estudo retrospectivo relatou que a terapia com análogo da somatostatina associado à terapia endoscópica reduziu os episódios de sangramento em pacientes com anemia recorrente e angioectasia do intestino delgado.[47]Tai FWD, Chetcuti-Zammit S, Sidhu R. Small bowel angioectasia-the clinical and cost impact of different management strategies. Clin Res Hepatol Gastroenterol. 2023 Oct;47(8):102193.
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Ressangramento
Caso ocorra ressangramento, uma repetição da endoscopia por cápsula pode ser adequada para identificar o local do sangramento antes de uma intervenção adicional.[35]Sengupta N, Feuerstein JD, Jairath V, et al. Management of patients with acute lower gastrointestinal bleeding: an updated ACG guideline. Am J Gastroenterol. 2023 Feb 1;118(2):208-31.
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