Etiologia
As causas da baixa estatura incluem aquelas que são decorrentes das variações normais, responsáveis pela maioria dos casos, e aquelas devidas a uma patologia. A baixa estatura também pode, ocasionalmente, ser multifatorial (por exemplo, um paciente em estado de desnutrição pode também apresentar uma altura-alvo modesta, em associação com elementos de retardo constitucional do crescimento e desenvolvimento; pacientes com deficiência de hormônio do crescimento [GH] apresentam aumento do risco de desenvolver doença celíaca e doença inflamatória intestinal).
Variante normal
Baixa estatura familiar (baixa estatura genética):
Os pacientes nascem com um tamanho adequado para a idade gestacional.
Diminuição da velocidade de crescimento entre os 6 e 18 meses, seguida por crescimento constante abaixo do 5º percentil até atingir uma altura final adequada para sua altura-alvo.
A puberdade e a idade óssea não estão atrasadas e os pacientes são proporcionais.
Retardo constitucional do crescimento e desenvolvimento (RCCD):[12]
Também conhecido como retardo constitucional do crescimento e da adolescência.
Uma desaceleração do crescimento durante os primeiros 2 anos, seguida por uma velocidade de crescimento normal, com uma aceleração tardia na adolescência, causando uma altura final próxima à altura-alvo.
Mais frequente nos meninos; o desenvolvimento puberal em qualquer um dos pais pode ter sido posterior à média.
Os pacientes apresentam uma idade óssea atrasada e desenvolvimento puberal tardio.
Um diagnóstico por exclusão; outras doenças, como deficiência de hormônio do crescimento (GH), doença crônica e hipogonadismo, devem ser descartadas. Padrão de crescimento, exame físico, idade óssea atrasada e avaliação laboratorial inicial normal podem ajudar no diagnóstico diferencial.
Afecção idiopática
Baixa estatura idiopática (BEI):
Definida como baixa estatura sem causa orgânica
Aplica-se a crianças saudáveis com uma altura de mais de dois desvios-padrão abaixo da média para a idade e o sexo (inclui alguns pacientes com baixa estatura familiar e retardo constitucional do crescimento e desenvolvimento [RCCD])
Nos EUA, o tratamento com GH pode ser recomendado para grupos selecionados de pacientes sem deficiência de GH documentada.
Pequeno para a idade gestacional sem recuperação do crescimento:
Causa endócrina
Deficiência de GH:[8][9][15]
GH é um hormônio polipeptídeo secretado pela hipófise anterior em uma ação pulsátil. Os pulsos ocorrem durante o sono, exercício e estresse fisiológico. Sua liberação é regulada pelos peptídeos hipotalâmicos (hormônio liberador de GH e somatostatina).
A hipófise se desenvolve como resultado de expressão gênica sequencial e pela interação com o fator de transcrição. Vários dos genes envolvidos nesse processo foram identificados e suas funções definidas. Aproximadamente 12% dos pacientes com hipopituitarismo congênito apresentam um defeito genético identificável.
A deficiência congênita de GH pode estar associada a anormalidades da linha média, como uma fenda labial e fenda palatina, hipoplasia na porção média da face e incisivo central único. A desaceleração do crescimento geralmente ocorre após os 2 anos de idade.
A deficiência de GH adquirida pode ocorrer depois de tumores do sistema nervoso central (SNC) (por exemplo, craniofaringioma), doenças infiltrantes ou radiação que envolva a região do eixo hipotálamo-hipofisário.
A deficiência de GH pode estar acompanhada por outras deficiências hormonais hipofisárias.
Hipotireoidismo:
A maioria dos distúrbios da tireoide ocorre mais frequentemente em meninas.
Pode ser congênito ou adquirido.
Síndrome de Cushing:
Pode ser resultante de excesso de corticosteroides de origem hipofisária ou adrenal ou pode ser iatrogênica em virtude de corticosteroides exógenos (por exemplo, crianças em tratamento com corticosteroide em altas doses para asma ou doenças inflamatórias).
Insensibilidade ao GH (síndrome de Laron):
O GH exerce a maioria de seus efeitos promotores do crescimento ligando-se ao receptor de GH e estimulando a secreção do fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1) do fígado. O IGF-1 circula no sangue ligado às proteínas de ligação a IGF (principalmente a proteína ligadora 3 do IGF [IGFBP-3]), cuja secreção proveniente do fígado também está sob o controle do GH. O IGF-1 apresenta efeitos endócrinos e parácrinos.
Insensibilidade ou resistência ao GH resulta em deficiência do IGF-1 e baixa estatura. Os níveis de IGF-1 e IGFBP-3 normalmente flutuam durante a infância, atingindo a intensidade máxima na ocasião do estirão de crescimento da adolescência.[8]
Craniofaringioma:
Tumor cístico, suprasselar, raro que se desenvolve a partir de ninhos do epitélio derivado da bolsa de Rathke, um precursor embrionário da hipófise anterior.
Manifesta-se com cefaleia, diplopia, pressão intracraniana elevada e disfunção da hipófise.
A disfunção endócrina é variável, mas tipicamente inclui múltiplas deficiências hormonais hipofisárias e pode se apresentar no pré ou pós-operatório. O tratamento inclui cirurgia com ou sem radioterapia.
Síndrome genética
Síndrome de Turner:
Anormalidade dos cromossomos 45 XO, 46/45 XX/XO, deleção parcial do cromossomo X ou cromossomo X em anel
As características dismórficas incluem disgenesia ovariana, perda auditiva, anormalidades renais e/ou da valva aórtica e puberdade tardia ou interrompida.
Síndrome de Noonan:
Baixa estatura com características dismórficas, defeitos cardíacos congênitos (por exemplo, estenose pulmonar valvar) e problemas de aprendizagem.
Síndrome de Russell-Silver:
Crianças que nascem pequenas para a idade gestacional com dismorfismo (face triangular, clinodactilia, assimetria)
Problemas de alimentação, hipoglicemia.
Trissomia do cromossomo 21:
Anormalidade cromossômica
As características dismórficas incluem hipotonia, defeitos cardíacos e/ou gastrointestinais congênitos e atraso do desenvolvimento.
Síndrome de Prader-Willi:
Anormalidade do cromossomo 15; exemplo de impressão (imprinting) genética
Caracterizada por hiperfagia intensa, obesidade e dificuldades de aprendizagem.
Síndrome de DiGeorge:
Anormalidade do cromossomo 22, também chamada síndrome velocardiofacial
Associada a defeitos cardíacos, fenda palatina, deficiência imunológica, hipocalcemia e dificuldades de aprendizagem.
Doença crônica
Quaisquer afecções clínicas crônicas podem causar baixa estatura com ou sem baixo ganho de peso e deficit de crescimento. Doenças relativamente comuns incluem:[9][16]
Cardiopatia crônica (congênita ou adquirida)
Asma (moderada ou grave)
Fibrose cística
Doença celíaca
Doença inflamatória intestinal (doença de Crohn e colite ulcerativa)
Artrite idiopática juvenil
Insuficiência renal crônica
Acidose tubular renal
Qualquer malignidade crônica
Diabetes mellitus mal controlado.
Causa musculoesquelética
Displasias esqueléticas:[17][18]
Inclui acondroplasia, hipocondroplasia e osteogênese imperfeita
Baixa estatura desproporcional; características dismórficas podem estar presentes.
Raquitismo:[19]
Raquitismo grave resulta em baixa estatura que pode ser desproporcional.
Distúrbios da coluna vertebral:[20][21][22]
Irradiação da coluna vertebral
Cirurgia da coluna vertebral
Deformidades congênitas da coluna vertebral (por exemplo, hemivértebras).
Causa psicossocial
Privação psicossocial:
Inclui abuso infantil, negligência, privação alimentar e institucionalização
Baixa estatura pode ser resultado de fatores psicológicos e nutricionais
Pode levar ao deficit de crescimento e baixa estatura mesmo com a ingestão nutricional adequada. Uma minoria desenvolve um quadro clínico semelhante à deficiência de GH. Geralmente retomam o crescimento normal quando removidas do ambiente domiciliar adverso.
Transtornos alimentares:
Anorexia nervosa
Bulimia nervosa.
Síndrome alcoólica fetal:[23]
Anormalidades fetais em bebês de mulheres com história de consumo excessivo de álcool durante a gestação
Resulta em neonato pequeno para a idade gestacional, anormalidades craniofaciais e do sistema nervoso central (SNC) e dificuldades de aprendizagem.
Iatrogênica
Pacientes com transtorno de deficit da atenção com hiperatividade (TDAH) podem apresentar uma diminuição da velocidade de crescimento e/ou ganho de peso após o início do tratamento com estimulantes. Controverso; os tamanhos dos efeitos são pequenos, com impacto clínico provavelmente mínimo.[24][25][26]
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