Devido ao fato de a dor pélvica crônica ser um acúmulo de diagnósticos associados, não há um exame definitivo, mas apenas a queixa subjetiva da paciente sobre a dor.
A abordagem ideal para a dor pélvica crônica é uma história estruturada e um exame físico designado para diagnosticar muitas das condições comuns associadas.[1]American College of Obstetricians and Gynecologists' Committee on Practice Bulletins-Gynecology. ACOG Practice bulletin no. 218: chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2020 Mar;135(3):e98-109.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32080051?tool=bestpractice.com
Há um formulário para a história e o exame físico, gratuito e disponível na International Pelvic Pain Society.
International Pelvic Pain Society: history and physical form
Opens in new window Há diretrizes disponíveis que fornecem algoritmos para a avaliação da dor pélvica crônica; lembre-se de que diversas causas podem estar presentes em algumas pacientes.[26]European Association of Urology. Guidelines on chronic pelvic pain. Mar 2024 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/chronic-pelvic-pain
História
Partos cesáreos prévios, abortos espontâneos, uma história de endometriose, aderências ou doença inflamatória pélvica fornecem uma base patológica para os sintomas da dor crônica.
Elementos-chave da história são uma descrição detalhada da evolução da dor na paciente, com atenção especial para fatores agravantes, como menstruação, atividade física e estresse.[1]American College of Obstetricians and Gynecologists' Committee on Practice Bulletins-Gynecology. ACOG Practice bulletin no. 218: chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2020 Mar;135(3):e98-109.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32080051?tool=bestpractice.com
[26]European Association of Urology. Guidelines on chronic pelvic pain. Mar 2024 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/chronic-pelvic-pain
A dor que varia com o ciclo menstrual tem maior probabilidade de ser adenomiose ou endometriose.
A dor que se agrava mais ao final do dia ou após atividade física pode representar fibromialgia.
A dor que se agrava após relações sexuais pode representar síndrome de congestão pélvica.
A dor com a penetração inicial durante a relação sexual pode representar vulvodinia.
A dor vesical ou sintomas miccionais irritativos podem representar cistite intersticial, depois que a infecção vesical tiver sido descartada. Tipicamente, a cistite intersticial é considerada um diagnóstico de exclusão, e uma variedade de outras condições urológicas pode se manifestar de maneira similar.[27]Fletcher SG, Zimmern PE. Differential diagnosis of chronic pelvic pain in women: the urologist's approach. Nat Rev Urol. 2009 Oct;6(10):557-62.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19724247?tool=bestpractice.com
A síndrome do intestino irritável é diagnosticada unicamente com base na história médica.
Outros sintomas incluem:
Disúria
Dispareunia
Dismenorreia
Dor abdominal
Noctúria
Micção incompleta
Disquezia
Lombalgia
Cefaleia.
Uma história de higiene vulvovaginal precária, abuso sexual, uso de drogas, ansiedade ou depressão pode indicar um risco mais elevado de desenvolvimento de dor pélvica crônica.[8]American College of Obstetricians and Gynecologists. Committee opinion no. 554: reproductive and sexual coercion. 2022 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/committee-opinion/articles/2013/02/reproductive-and-sexual-coercion
[9]American College of Obstetricians and Gynecologists. Committee opinion no. 518: intimate partner violence. 2022 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/committee-opinion/articles/2012/02/intimate-partner-violence
[20]American College of Obstetricians and Gynecologists. Committee opinion no. 498: adult manifestations of childhood sexual abuse. Obstet Gynecol. 2011 Aug;118(2 Pt 1):392-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21775872?tool=bestpractice.com
[21]American College of Obstetricians and Gynecologists. Committee statement no. 12: health care for women and gender-diverse active-duty and reserve uniformed service members and veterans. Dec 2024 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/committee-statement/articles/2024/12/Health-Care-for-Women-and-Gender-Diverse-Active-Duty-and-Reserve-Uniformed-Service-Members-and-Veterans
Uma avaliação psiquiátrica detalhada é extremamente útil para avaliar comorbidades comuns.
Exame físico
O objetivo do exame físico é isolar cada parte da pelve e determinar se tal parte está envolvida na geração da dor.[1]American College of Obstetricians and Gynecologists' Committee on Practice Bulletins-Gynecology. ACOG Practice bulletin no. 218: chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2020 Mar;135(3):e98-109.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32080051?tool=bestpractice.com
O exame físico deve ser realizado de maneira cuidadosa e sistemática, geralmente com um dedo. Os pontos-gatilho típicos da síndrome de fibromialgia devem ser apalpados, seguidos por um exame cuidadoso da parte abdominal inferior e da pélvis. Pontos-gatilho são os locais que causam dor quando se aplica uma pressão de 4 kg. Começar por áreas insensíveis à palpação primeiro aumentará a tolerância da paciente ao exame e sua precisão.
A vulvodinia é diagnosticada unicamente com base em um exame físico cauteloso do introito vaginal.[28]Baszak-Radomanska E, Wanczyk-Baszak J, Paszkowski T. Pilot study of testing a clinical tool for pelvic physical examination in patients with vulvodynia. Ginekol Pol. 2021 Mar 23.
https://journals.viamedica.pl/ginekologia_polska/article/view/69250
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33757151?tool=bestpractice.com
Usando-se um swab com ponta de algodão para afastar a pele do vestíbulo, pode-se localizar áreas de dor que frequentemente incluem apenas a porção posterior (fossa navicular).[1]American College of Obstetricians and Gynecologists' Committee on Practice Bulletins-Gynecology. ACOG Practice bulletin no. 218: chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2020 Mar;135(3):e98-109.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32080051?tool=bestpractice.com
Para a mialgia, tanto do músculo elevador do ânus como da parede abdominal, a palpação de pontos-gatilho sensíveis e a infiltração com anestésicos locais fornecem um diagnóstico e uma abordagem terapêutica.
Sensibilidade da uretra pode representar infecção crônica, e sensibilidade da bexiga é comum na cistite intersticial.
É comum sentir dor na manipulação do útero na adenomiose, e dor e nodularidade dos ligamentos uterossacro são encontradas na endometriose. Dor nos anexos pode representar aderências ou endometriose.
Avaliações laboratoriais e com técnicas de imagem
Assim que os órgãos geradores da dor tiverem sido isolados, exames adicionais desses sistemas de órgãos podem ser úteis.
Uma urinálise básica e/ou cultura são úteis para se descartar a possibilidade de cistite ou uretrite infecciosas.[3]Clemens JQ, Erickson DR, Varela NP, et al. Diagnosis and treatment of interstitial cystitis/bladder pain syndrome. J Urol. 2022 Jul;208(1):34-42.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002756
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536143?tool=bestpractice.com
[26]European Association of Urology. Guidelines on chronic pelvic pain. Mar 2024 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/chronic-pelvic-pain
Teste de amplificação de ácido nucleico para gonorreia, clamídia, micoplasma e tricômonas é útil para descartar infecções crônicas.[1]American College of Obstetricians and Gynecologists' Committee on Practice Bulletins-Gynecology. ACOG Practice bulletin no. 218: chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2020 Mar;135(3):e98-109.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32080051?tool=bestpractice.com
[26]European Association of Urology. Guidelines on chronic pelvic pain. Mar 2024 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/chronic-pelvic-pain
[29]Frock-Welnak DN, Tam J. Identification and treatment of acute pelvic inflammatory disease and associated sequelae. Obstet Gynecol Clin North Am. 2022 Sep;49(3):551-79.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36122985?tool=bestpractice.com
Exames de imagem, inclusive ultrassonografia pélvica, podem ser úteis para detectar miomas, adenomiose ou cistos ovarianos grandes.[1]American College of Obstetricians and Gynecologists' Committee on Practice Bulletins-Gynecology. ACOG Practice bulletin no. 218: chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2020 Mar;135(3):e98-109.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32080051?tool=bestpractice.com
[30]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: postmenopausal subacute or chronic pelvic pain. 2018 [internet publication].
https://acsearch.acr.org/docs/3102399/Narrative
Uma tomografia computadorizada pélvica pode ser usada para caracterizar em detalhes qualquer massa pélvica encontrada à ultrassonografia. A ressonância nuclear magnética (RNM) é um teste diagnóstico mais sensível que a ultrassonografia para a identificação de adenomiose e endometriose.[31]Paspulati RM. Chronic pelvic pain: role of imaging in the diagnosis and management. Semin Ultrasound CT MR. 2023 Dec;44(6):501-10.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37879545?tool=bestpractice.com
[32]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: endometriosis. 2024 [internet publication].
https://acsearch.acr.org/docs/3195150/Narrative
A RNM não é um exame de rotina no diagnóstico da maioria das dores pélvicas crônicas.[33]National Institute for Health and Care Research. Detection, screening and diagnosis: MRI scan does not help to find the cause of pelvic pain in women. Oct 2018 [internet publication].
https://evidence.nihr.ac.uk/alert/mri-scan-does-not-help-to-find-the-cause-of-pelvic-pain-in-women-
[34]Khan KS, Tryposkiadis K, Tirlapur SA, et al. MRI versus laparoscopy to diagnose the main causes of chronic pelvic pain in women: a test-accuracy study and economic evaluation. Health Technol Assess. 2018 Jul;22(40):1-92.
https://www.journalslibrary.nihr.ac.uk/hta/HTA22400#/abstract
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30045805?tool=bestpractice.com
A endometriose pode ser confirmada apenas com biópsia laparoscópica. Da mesma forma, embora a adenomiose possa ser sugerida pela ultrassonografia pélvica, o diagnóstico patológico é o exame definitivo.
A cistite intersticial também é diagnosticada na sala de cirurgia, com base em achados de glomerulações ou úlceras de Hunner, após instilação ou hidrodistensão. A necessidade da laparoscopia ou da cistoscopia dependerá dos sintomas da paciente e do ciclo de terapia esperado.[3]Clemens JQ, Erickson DR, Varela NP, et al. Diagnosis and treatment of interstitial cystitis/bladder pain syndrome. J Urol. 2022 Jul;208(1):34-42.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002756
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536143?tool=bestpractice.com
[35]Steele LA, Mooney SS, Gilbee ES, et al. When you see nothing at all: outcomes following a negative laparoscopy. A systematic review. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 2024 Apr;64(2):95-103.
https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ajo.13749
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37737451?tool=bestpractice.com
Injeção no ponto-gatilho pode ser usada para diagnosticar mialgias na parede abdominal ou síndrome do músculo elevador do ânus.[36]Rawicki B, Sheean G, Fung VS, et al; Cerebral Palsy Institute. Botulinum toxin assessment, intervention and aftercare for paediatric and adult niche indications including pain: international consensus statement. Eur J Neurol. 2010 Aug;17(suppl 2):122-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20633183?tool=bestpractice.com
[37]Butrick CW. Pelvic floor hypertonic disorders: identification and management. Obstet Gynecol Clin North Am. 2009 Sep;36(3):707-22.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19932423?tool=bestpractice.com