Abordagem

O diagnóstico de delirium é principalmente clínico e requer a observação frequente por cuidadores quando os sintomas são menos evidentes.[57][58]​​ Consulte o tópico Considerações de urgência para as condições que requerem tratamento imediato.

Fatores preexistentes do paciente

Grande parte da investigação para obter o diagnóstico do delirium envolve uma pesquisa cuidadosa e profunda da história do paciente. Na maioria dos casos, pode ser necessário entrevistar membros da família ou amigos. Quando o paciente é incapaz de relatar sua própria história, pode ser pertinente também entrar em contato com a farmácia para rever os medicamentos adquiridos. Os principais fatores preexistentes do paciente incluem os seguintes fatores.[21]

  • Estado cognitivo prévio: quando o delirium é considerado como um diagnóstico, é imprescindível estabelecer primeiro os estados cognitivo e funcional basais anteriores ao início dos sintomas. Como os sintomas do delirium são frequentemente confundidos com demência, é importante determinar se as alterações observadas no estado mental ocorreram de forma aguda (delirium) ou se elas têm estado presentes de forma crônica (demência). Na maioria dos casos, uma avaliação aproximada do estado cognitivo prévio pode ser obtida da família do paciente. Uma avaliação cognitiva previamente obtida, como um Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) ou Avaliação cognitiva de Montreal (MoCA), pode ser comparada a uma triagem atual para determinar se os sintomas relacionados às alterações cognitivas são de natureza aguda ou crônica. A Observational Scale of Level of Arousal (OSLA) é uma avaliação à beira do leito com sensibilidade de mais de 90% e especificidade de mais de 80% para diagnosticar o delirium em pacientes idosos.[59] As diretrizes do Reino Unido recomendam que os médicos considerem o uso do OSLA para distinguir entre demência e delirium em indivíduos não diagnosticados com nenhuma dessas condições.[60]

  • O uso de ferramentas de rastreamento para o delirium, como o bem validado método de avaliação da confusão (CAM), o método de avaliação da confusão em unidade de terapia intensiva (CAM-UTI), o checklist para triagem de delirium em terapia intensiva (ICDSC) ou a ferramenta 4AT, pode ser útil no diagnóstico do delirium.[3][61][62][63][64]​​ SIGN Decision Support Opens in new window 4AT Rapid Clinical Test for Delirium Opens in new window O CAM 3D é uma avaliação estruturada em 3 minutos que operacionaliza o algoritmo CAM para um reconhecimento mais fácil do delirium à beira do leito. Ele oferece alta sensibilidade e especificidade em pacientes mais velhos com afecções não cirúrgicas, bem como aqueles com demência.[65] O CAM 3D também tem sido usado para avaliar a gravidade do delirium.[66] O escore do método de avaliação da intensidade da confusão (CAM-S) foi validado e demonstrou estar associado a desfechos clínicos.[67] Estudos avaliaram e validaram o uso do CAM-UTI, o CAM breve e o Delirium Triage Screen (DTS) no pronto-socorro.[8][68][69][70] Em uma unidade de terapia intensiva pediátrica, a prevalência de delirium foi de 21% e foi detectada usando o Cornell Assessment of Pediatric Delirium.[71] Quando o paciente é de alto risco e há suspeita de estado de confusão, as medições em série da capacidade cognitiva podem ajudar a distinguir o delirium dos estados basais de demência.[16] Pequenos estudos empregaram os métodos CAM e CAM-UTI para detectar a presença de delirium em pacientes com demência.[72] A 4AT é uma ferramenta para a detecção de delirium desenvolvida para uso na prática clínica. SIGN Decision Support Opens in new window 4AT Rapid Clinical Test for Delirium Opens in new window Ela incorpora uma avaliação do estado de alerta, o Teste Mental Abreviado - 4 (TMA4), o teste dos meses de trás para frente e medições de alteração aguda ou evolução flutuante.

  • Uso de medicamentos: quando o delirium é identificado, a história e os exames físicos adicionais devem ser direcionados para identificar e tratar os fatores desencadeantes. Como o uso de medicamentos está implicado em 12% a 39% de todos os casos de delirium, as listas de medicamentos devem, sempre que possível, ser cuidadosamente examinadas quanto à descontinuação ou alteração de medicamentos potencialmente de alto risco.[73] Os fitoterápicos, medicamentos de venda livre e substâncias ilícitas também devem ser considerados na revisão do uso de medicamentos. O uso de anticolinérgicos, como a difenidramina, merece uma atenção especial, pois eles são frequentemente implicados no delirium e geralmente encontrados em medicamentos de venda livre (por exemplo, paracetamol e ibuprofeno), considerados seguros pelos pacientes e seus familiares.[52]

  • Comorbidades: como o delirium constitui muitas vezes um sintoma de quadros clínicos comuns, é necessário realizar uma revisão cuidadosa das comorbidades, com ênfase em doenças neurológicas (por exemplo, AVC, doença de Parkinson, demência), doenças cardiovasculares (por exemplo, infarto do miocárdio, angina) e história de doenças renais/metabólicas (por exemplo, hiponatremia, hipernatremia, insuficiência renal crônica). Além disso, devem ser abordados outros fatores que também possam precipitar o delirium, como desidratação, constipação, hipóxia, infecção, imobilidade ou mobilidade limitada, desnutrição e comprometimento sensorial.[74] O estado funcional reduzido e a desidratação mostraram ser preditivos para o desenvolvimento de delirium em pacientes mais velhos que estão hospitalizados.[75]

  • Níveis de dor: a presença de dor intensa está associada ao delirium.[16]

  • Uso de drogas e consumo de bebidas alcoólicas: a intoxicação e a abstinência alcoólica estão frequentemente associadas ao delirium. O recente consumo esporádico intenso de álcool (binge drinking) pode causar cetoacidose alcoólica. A supressão de benzodiazepínicos também pode precipitar o delirium.[51][52]

  • Fatores ambientais: problemas-chave, como a privação do sono, procedimentos múltiplos, uso de contenção e internação em unidade de terapia intensiva, estão associados ao delirium e podem ser condições causadoras.[16] Algumas ferramentas, como os métodos CAM-UTI e ICDSC, podem ser úteis para averiguar o delirium no ambiente de unidade de terapia intensiva.[76][77][78][79]

Exame físico

O exame físico deve ser detalhado, pois os eventos precipitantes do delirium podem ser relativamente menores quando o paciente apresenta vários fatores de risco. Considerações importantes incluem:

  • Hidratação: a desidratação deve ser excluída como um fator desencadeante.

  • Resposta pupilar: pode sugerir intoxicação por drogas, abstinência de drogas ou um AVC.

  • Rigidez de nuca: meningite ou encefalite devem ser consideradas.

  • Exame dos pulmões: murmúrios vesiculares reduzidos e estertores podem indicar infecção (por exemplo, pneumonia) ou doenças comumente associadas à hipóxia, como insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

  • Exame cardiovascular: deve ser realizada uma avaliação quanto a achados físicos evidentes com uma doença coronariana ou infarto do miocárdio.

  • Exame abdominal: pode sugerir infecção intra-abdominal. A constipação deve ser excluída.

  • Sensibilidade suprapúbica ou bexiga palpável: pode sugerir infecção do trato urinário ou obstrução.

  • A sensibilidade no quadril pode sugerir uma fratura oculta do quadril, um fator desencadeante frequentemente não percebido para o delirium em residentes mais idosos e frágeis, especialmente se eles estiverem acamados.

  • Achados neurológicos: achados focais podem sugerir acidente vascular cerebral (AVC) ou lesão neurológica.

  • Estado mental: a psicose aguda pode ser confundida com o delirium. O diagnóstico é clínico, e frequentemente é um diagnóstico de exclusão. Os critérios diagnósticos do DSM-5-TR para transtorno psicótico breve são: pelo menos um sintoma de delírio, alucinações ou discurso desorganizado, por mais de 24 horas, mas menos de 30 dias. Os pacientes também podem apresentar comportamento catatônico ou altamente desorganizado. Pode haver uma história de estressores psicológicos envolvidos nos fatores desencadeantes do episódio.[15] Os achados do exame físico podem incluir: comportamentos estranhos, estados não cooperativos, fala desorganizada, humor lábil e depressão. Os pacientes podem apresentar intenção suicida ou homicida.

Investigações

Dado o grande diferencial do delirium, as investigações devem ser orientadas por achados da história e do exame físico. Na ausência destes, uma investigação preliminar em todos os pacientes sem achados históricos ou físicos definitivos deve incluir:

  • Hemograma completo para excluir uma infecção ou anemia.

  • Perfil bioquímico para excluir distúrbios metabólicos, encefalopatia hepática.

  • Urinálise para excluir uma infecção.

  • Radiografia torácica para excluir pneumonia, insuficiência cardíaca congestiva ou outras possíveis causas da hipóxia.

  • Níveis de medicamentos em pacientes tratados com digoxina, lítio e quinidina, bem como o nível de álcool, se houver suspeita de história de abuso de álcool.

  • Eletrocardiograma (ECG) para excluir infarto do miocárdio. Uma angiografia coronariana também pode ser realizada.

  • Gasometria arterial para avaliar hipóxia, hipercapnia e/ou lactato (comumente encontrado na sepse).

Se nenhuma etiologia for identificada nos exames preliminares, outros testes diagnósticos deverão ser considerados, incluindo:

  • Imagens neurológicas (tomografia computadorizada [TC] e/ou ressonância nuclear magnética [RNM])[43][80]​​

  • Punção lombar para descartar meningite e encefalite

  • Eletroencefalograma (EEG) para descartar atividade convulsiva e encefalopatia.[81]

As investigações adicionais que podem ser realizadas a depender da causa suspeitada incluem: cultura de escarro e hemocultura, ultrassonografia abdominal, dímero D, testes da função tireoidiana, teste de estímulo com o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), teste do Venereal Disease Research Laboratory (VDRL) e teste de absorção do anticorpo treponêmico fluorescente (FTA-ABS).


Punção lombar diagnóstica em adultos: demonstração animada
Punção lombar diagnóstica em adultos: demonstração animada

Como realizar uma punção lombar diagnóstica em adultos. Inclui uma discussão sobre o posicionamento do paciente, a escolha da agulha e a medição da pressão de abertura e fechamento.



Venopunção e flebotomia – Vídeo de demonstração
Venopunção e flebotomia – Vídeo de demonstração

Como colher uma amostra de sangue venoso da fossa antecubital usando uma agulha a vácuo.



Como realizar uma demonstração animada do ECG
Como realizar uma demonstração animada do ECG

Como registrar um ECG. Demonstra a colocação de eletrodos no tórax e nos membros.


O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal