Etiologia

O sistema de classificação da International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) pode ser usado para identificar as nove principais causas de sangramento uterino anormal (SUA), que estão organizadas de acordo com a sigla PALM-COEIN:[1]

  • Pólipo

  • Adenomiose

  • Leiomioma

  • Malignidade e hiperplasia

  • Coagulopatia

  • Disfunção ovulatória

  • Endometrial

  • Iatrogênica

  • Sem outra classificação.

O SUA pode ser devido a mais de uma dessas causas.

Pólipo

Os pólipos endometriais e endocervicais são proliferações focais de tecido glandular, vascular, fibromuscular e conjuntivo.[1] Muitos pólipos são assintomáticos e não causam SUA; no entanto, eles podem causar sangramento intermenstrual, menorragia ou sangramento pós-menopausa.[3]​ A prevalência de pólipos endometriais na população feminina adulta em geral é de 10% a 15%. A prevalência nas mulheres com SUA é de 20% a 30%.[4] A incidência aumenta com a idade, e a grande maioria dos pólipos sintomáticos são benignos.[5][6]

Adenomiose

A adenomiose é a presença de tecido endometrial dentro do miométrio. As estimativas de prevalência são muito variáveis, e pesquisas adicionais são necessárias sobre a associação entre adenomiose e SUA.[1] Os sintomas geralmente incluem sangramento menstrual prolongado, intenso e/ou doloroso, embora muitas mulheres com evidência radiológica de adenomiose sejam assintomáticas.[7][8][9]

Leiomiomas (miomas uterinos)

Os leiomiomas, também conhecidos como miomas uterinos, são tumores benignos comuns do tecido muscular liso uterino. A prevalência aumenta com a idade até a menopausa. Até 80% das mulheres têm leiomiomas por volta dos 50 anos, embora muitas sejam assintomáticas.[10]​ Os leiomiomas podem ser classificados de acordo com a localização como subserosos, intramurais (com o miométrio) ou submucosos (logo abaixo do endométrio). Os sintomas são influenciados pelo número, tamanho e localização dos leiomiomas. O sangramento menstrual intenso é um dos sintomas mais comuns.[11]

Malignidade e hiperplasia

O câncer endometrial e a hiperplasia atípica são causas relativamente incomuns de sangramento uterino anormal porque a maioria dos casos ocorre após a menopausa.[1]​​ As exposições ao estrogênio sem oposição aumentam o risco. Elas incluem terapia estrogênica sem oposição, terapia com tamoxifeno, menarca precoce, nuliparidade e infertilidade ou não ovulação. Os outros fatores de risco incluem idade >50 anos, história familiar de câncer endometrial ou câncer de cólon hereditário não associado a polipose, tabagismo, e obesidade.

Raramente, o câncer de ovário pode se manifestar com SUA. Um sangramento intermenstrual persistente pode indicar câncer cervical.[12]

Coagulopatia

Distúrbios sistêmicos da hemostasia podem estar associados a sangramento uterino anormal, embora a extensão de sua contribuição para os sintomas não seja clara.[1] A prevalência da doença de von Willebrand é aumentada nas mulheres com sangramento menstrual intenso, em comparação com a população geral.[13] Sintomas de hematoma fáceis, sangramentos após extrações dentárias e sangramento pós-parto podem indicar doença de von Willebrand.[13]

Disfunção ovulatória

As causas da disfunção ovulatória incluem endocrinopatia (como síndrome dos ovários policísticos, hipotireoidismo e hiperprolactinemia), perda de peso, anorexia nervosa, obesidade, estresse mental, exercícios extremos e medicamentos. De outra forma, distúrbios ovulatórios inexplicáveis ocorrem nos extremos da idade reprodutiva (adolescência e menopausa).[1] A ausência de secreção cíclica de progesterona do corpo lúteo pode causar alterações na regularidade, frequência, volume e duração da menstruação. Os sintomas variam de amenorreia e sangramento uterino leve e infrequente até sangramento uterino frequente e muito intenso.[1] Consulte Avaliação de amenorreia primária eAvaliação de amenorreia secundária.

Endometrial

Refere-se à disfunção endometrial que não pode ser detectada por imagem ou histopatologia. O momento da menstruação é previsível e cíclico, sugerindo função ovulatória normal, e não há evidências de causas estruturais, como pólipos, adenomiose, leiomioma ou neoplasia maligna.[1] Consequentemente, a disfunção endometrial é geralmente um diagnóstico de exclusão. Alterações na produção endometrial de substâncias vasoativas contribuem para sangramento menstrual intenso.[14][15]

Iatrogênica

As causas iatrogênicas incluem sangramento "repentino" não programado que ocorre com o uso de hormônio gonadal, medicamentos anticoagulantes, tamoxifeno e medicamentos que interfiram com o metabolismo da dopamina (por exemplo, antidepressivos tricíclicos, fenotiazinas).[1][16]​​ O uso omitido, atrasado ou errático da contracepção pode causar um episódio de SUA.[1] É importante perguntar sobre medicamentos iniciados recentemente, que possam afetar a farmacodinâmica dos medicamentos em uso pela paciente. Por exemplo, inibidores fortes da glicoproteína-p ou da CYP3A4 (ou ambas) aumentam os níveis de anticoagulantes orais de ação direta em circulação, resultando em SUA.[16][17]

Sem outra classificação

Esta categoria contém condições que são raras, mal definidas, que não se enquadram facilmente nas outras categorias ou cuja contribuição para o SUA requer pesquisas adicionais. Os exemplos incluem endometrite crônica, malformações arteriovenosas e hipertrofia miometrial.[1]

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