Considerações de urgência

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Algumas condições graves devem ser consideradas ao avaliar a etiologia da neutrofilia.

Leucostase

O grau de leucocitose deve ser avaliado imediatamente, pois contagens leucocitárias totais >250×10⁹/L podem precisar de leucoférese imediata para prevenir complicações em órgãos-alvo, incluindo insuficiência respiratória, acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto do miocárdio, decorrentes da oclusão da circulação pulmonar, intracraniana ou coronariana, respectivamente.

A contagem leucocitária total na qual a leucostase se desenvolve e requer intervenção imediata depende do tipo de célula responsável pela contagem elevada. Por exemplo, as células blásticas mieloides podem causar leucostase em contagens de apenas 50 a 75×10⁹/L, enquanto, na leucemia linfocítica crônica, a contagem leucocitária total pode exceder 300×10⁹/L sem causar sintomas de leucostase.

Como a progressão é muito rápida, é necessária a avaliação imediata do paciente para disfunção em órgãos-alvo para o rápido início da leucoférese e terapia citotóxica (por exemplo, hidroxiureia) aos primeiros sinais de comprometimento respiratório, renal ou cardíaco.

Neoplasias hematológicas

Subtipos específicos de leucemia mieloide aguda (LMA) podem se manifestar com neutrofilia. A presença de blastos no sangue periférico justifica uma investigação para descartar leucemia aguda. Mais de 20% de blastos no sangue ou na medula óssea é diagnóstico de LMA. A LMA é sugerida por uma contagem leucocitária total elevada com evidências de células mieloides imaturas na circulação e por anemia e trombocitopenia associadas. Se o diagnóstico de LMA ou de leucemia linfoide (LLA) for considerado, o paciente deverá ser encaminhado com urgência para um hemato-oncologista.

Qualquer suspeita de neoplasia hematológica justifica a investigação urgente com hemograma completo, perfil metabólico completo, esfregaço de sangue periférico e aspiração da medula óssea ou punção por agulha grossa (core biopsy). Estudos citogenéticos podem identificar o cromossomo Filadélfia em casos de leucemia mieloide ou podem identificar outras anormalidades características da síndrome mielodisplásica.

Doenças não malignas graves

Anemias hemolíticas microangiopáticas

  • Incluem coagulação intravascular disseminada (CIVD), púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) e síndrome hemolítico-urêmica (SHU). O diagnóstico é sugerido por alterações microangiopáticas nos eritrócitos (eritrócitos fragmentados, reticulocitose) e por plaquetas de tamanho aumentado. Metade dos pacientes com PTT ou SHU apresenta evidências de uma neutrofilia ou leucocitose com uma contagem leucocitária total >20×10⁹/L. Alguns relatos sugerem que a neutrofilia está associada a um desfecho desfavorável na PTT e na SHU.[10]

  • A CIVD que ocorre no cenário de sepse requer correção da coagulopatia concomitante com hemoderivados como transfusões plaquetárias, plasma fresco congelado ou crioprecipitado. A identificação do insulto que induziu a CIVD, como patógenos bacterianos na sepse, é fundamental para corrigir a condição que resulta do tratamento da causa subjacente. A PTT requer avaliação urgente e consideração da terapia com plasmaférese.

Infarto do miocárdio

  • Entre os pacientes que apresentam suspeita de infarto do miocárdio, aqueles com contagem leucocitária >9×10⁹/L tinham probabilidade 4.5 vezes maior de confirmação de infarto do miocárdio que os pacientes com contagem leucocitária total <6×10⁹/L.[20] A leucocitose é um preditor independente de mortalidade entre pacientes com infarto agudo do miocárdio.[21][22]

Hipertermia

  • Alterações morfológicas nos neutrófilos circulantes e elevação da contagem total de neutrófilos ocorrem agudamente nos golpes de calor. Os segmentos dos neutrófilos parecem menores que o normal com uma aparência botrioide (com numerosas protuberâncias arredondadas que se assemelham a cachos de uva).

Infecção, síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS) ou sepse

  • Infecções ativas, não limitadas às que são de origem bacteriana, geralmente resultam em uma contagem leucocitária total elevada com um desvio à esquerda (um aumento nos granulócitos imaturos na circulação periférica) em pacientes de todas as idades, incluindo bebês prematuros.[8]

  • A SRIS é definida pela presença de pelo menos 2 dos seguintes critérios: 1) febre >38 °C, 2) frequência cardíaca >90 bpm, 3) frequência respiratória >20 respirações por minuto ou PaCO₂ <32 mmHg, 4) contagem leucocitária total >12×10⁹/L ou <4×10⁹/L, ou >10% de bandas (neutrófilos imaturos têm um núcleo em forma de banda).[2] No cenário de sepse grave, mais comum em idosos e neonatos, a contagem leucocitária total e a contagem de neutrófilos podem diminuir em vez de aumentar.

  • Embora os critérios da SRIS tenham sido substituídos pelo Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3), permanecem em uso clínico disseminado.[24] Os critérios de Sepsis-3 incluem contagem plaquetária, mas não contagem de leucócitos. Para obter detalhes adicionais sobre este tópico, consulte o tópico Sepse em adultos do BMJ Best Practice.

  • Doenças infecciosas específicas estão associadas a contagens leucocitárias totais mais elevadas, como aquelas causadas por espécies  de Clostridium.

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