Avaliação das alterações do estado mental relacionadas ao vírus da imunodeficiência humana (HIV)

Etiologia

As causas de estado mental alterado na infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) incluem afecções agudas (que frequentemente representam infecções oportunistas relacionadas ao HIV ou doença sistêmica associada) e doenças neurocognitivas ou comorbidades psicológicas mais progressivas (com frequência previamente documentadas). A prevalência de afecções específicas relacionadas ao HIV depende do grau de imunossupressão (como avaliado pela contagem de CD4) e se a infecção por HIV subjacente está sendo tratada ativamente com terapia antirretroviral (TAR) combinada.

Afecções associadas ao HIV

Transtorno neurocognitivo associado ao HIV (TNAH)

Representa um espectro de comprometimento cognitivo progressivo:[6]

  • Comprometimento neurocognitivo assintomático (CNA): comprometimento adquirido da função cognitiva que envolve pelo menos 2 domínios de capacidade, documentado pelo desempenho de pelo menos 1 desvio-padrão (DP) abaixo da média demograficamente corrigida para o nível educacional e a idade, mas sem comprometimento da capacidade de desempenhar as atividades diárias.

  • Transtorno neurocognitivo leve: desempenho neurocognitivo parecido com aqueles no CNA em exames neuropsicológicos, com uma interferência leve no funcionamento diário em casa, no trabalho ou social.

  • Demência associada ao HIV: comprometimento da função cognitiva adquirido e acentuado envolvendo pelo menos 2 domínios de capacidade, documentado pelo desempenho de pelo menos 2 DP abaixo da média demograficamente corrigida e associados a um comprometimento acentuado do desempenho das atividades diárias.

Efeitos da terapia para o HIV

Os agentes antirretrovirais podem induzir a problemas cognitivos e psiquiátricos diretamente como um efeito adverso ou indiretamente através do seu efeito sobre o sistema imunológico. O efavirenz, um inibidor da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo (ITRNN), é associado ao desenvolvimento de efeitos adversos neuropsiquiátricos, especialmente nas primeiras semanas de tratamento.[17][18][19][20][21] Taxas de efeitos adversos neuropsiquiátricos similares são significativamente menores com outros agentes do ITRNN, como a nevirapina, etravirina, e rilpivirina.[22][23] O inibidor da integrase raltegravir foi associado a efeitos adversos neuropsiquiátricos pouco frequentes, e dolutegravir pode estar associado à insônia e a outros efeitos sobre o sistema nervoso central (SNC).[24][25][26][27][28][29]

Os pacientes recebendo terapia antirretroviral também podem desenvolver a síndrome inflamatória da reconstituição imune (SIRI), uma deterioração paradoxal no estado clínico associada à rápida melhora na contagem de CD4 e a uma diminuição nas cargas virais nos primeiros meses após o início da terapia antirretroviral (TAR). A SIRI se desenvolve como uma consequência da reação do sistema imunológico "recuperado" a agentes infecciosos, mais comumente o Mycobacterium tuberculosis ou o complexo M avium, embora várias outras causas (por exemplo, vírus do herpes simples [HSV], vírus da varicela-zóster [VZV], leucoencefalopatia multifocal progressiva [LEMP] e Toxoplasma gondii) também sejam desencadeantes conhecidos.[30] Uma SIRI decorrente de uma infecção criptocócica subjacente também foi descrita.[31]

Infecções oportunistas e tumores no sistema nervoso central (SNC)

As infecções oportunistas (IOs) relacionadas ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) surgem como consequência da imunidade debilitada nos estágios avançados da infecção por HIV. Essas afecções tendem a ocorrer com maior frequência em pacientes com uma infecção por HIV não tratada ou que apresentam uma adesão insatisfatória à TAR. O risco de IOs em pessoas infectadas pelo HIV aumenta conforme a contagem de CD4 diminui, e o comprometimento neurológico geralmente ocorre naqueles com celularidade CD4 <100 células/mm³.

As manifestações comuns incluem:

  • Encefalite decorrente da infecção por Toxoplasma gondii, vírus do herpes simples (HSV) ou, raramente, vírus da varicela-zóster (VZV) ou citomegalovírus (CMV)

  • Meningite decorrente da infecção por Cryptococcus neoformans ou M tuberculosis

  • A LEMP ocorre devido à infecção pelo vírus John Cunningham.

  • Linfoma primário do SNC associado ao vírus Epstein-Barr.

Além disso, as infecções não oportunistas como as meningites bacterianas (incluindo neurossífilis) devem ser consideradas em pacientes apresentando deterioração neurológica aguda e sinais e sintomas infecciosos.

Afecções não associadas ao HIV

Comorbidade sistêmica

A deficiência nutricional (por exemplo, folato, vitamina B12 e vitamina D) concomitante pode causar um comprometimento cognitivo.[32] Os pacientes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) avançada apresentam risco maior de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.[33] A patogênese subjacente varia e inclui embolismo cerebral secundário à doença cardíaca, assim como vasculite cerebral como consequência da sífilis ou do uso de cocaína/anfetamina.

Os pacientes infectados pelo HIV com hepatite C concomitante apresentam graus maiores de comprometimento cognitivo.[32][34] A doença tireoidiana e o hipogonadismo são mais comuns em pacientes com HIV, e podem representar uma causa subjacente de estado mental alterado em pessoas infectadas pelo HIV;[32][35][36][37]

Comorbidade psiquiátrica

A comorbidade psiquiátrica é altamente prevalente em indivíduos infectados pelo HIV e pode contribuir para dificuldades cognitivas.[32] Elas incluem:

  • Depression

  • Transtornos decorrentes do uso de bebidas alcoólicas e substâncias.

  • Impacto cognitivo de muitos medicamentos prescritos, em particular aqueles com propriedades anticolinérgicas e medicamentos psicotrópicos.[32]

O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal