Etiologia

A neutropenia pode ser adquirida ou congênita.

As causas adquiridas podem ser primárias, surgindo na medula óssea (leucemia, linfoma e anemia aplásica), ou secundárias (causas externas como infecção, efeitos tóxicos, neutropenias imunes, doença inflamatória crônica e deficiência nutricional).

As causas congênitas geralmente são hereditárias, mas existem formas que são esporádicas. As causas congênitas primárias são as síndromes de falência medular, que produzem insuficiência global da hematopoiese, e as síndromes de neutropenia isolada, que produzem insuficiência seletiva da produção de neutrófilos.

As causas congênitas secundárias são as síndromes de imunodeficiência e os erros inatos do metabolismo.

A neutropenia geralmente torna o paciente suscetível a infecções bacterianas e, menos frequentemente, fúngicas, o que pode representar risco de vida. O risco de infecção viral e parasitária não é elevado. Existem algumas doenças, como as neutropenias imunes, em que a neutropenia não aumenta o risco de infecção.

Infecção

A infecção é a causa mais comum de neutropenia adquirida. A duração geralmente é breve. Bactérias, vírus, patógenos intracelulares obrigatórios e parasitas são causas conhecidas.

  • Infecção bacteriana: sepse ou infecção bacteriana por Salmonella (tifoide) ou brucella são mais comuns.

  • Infecção viral: infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV) e hepatite A, B ou C são causas importantes que devem ser descartadas. Outras causas virais incluem mononucleose infecciosa, eritema infeccioso (parvovírus), gripe (influenza), vírus sincicial respiratório, rubéola, sarampo, varicela e citomegalovírus.

  • Patógenos intracelulares obrigatórios: as causas incluem rickettsia e erliquiose granulocítica humana (infecção primária de granulócitos e macrófagos).

  • Parasitas: são causas raras, e incluem malária e leishmaniose.

Toxicidade de medicamentos ou radiação

A neutropenia induzida por medicamentos é a segunda causa mais comum de neutropenia adquirida.[10]

A quimioterapia citotóxica produz neutropenia ao destruir as células progenitoras mieloides em divisão; esse é um efeito esperado diretamente relacionado ao mecanismo de ação primário do tratamento. A neutropenia febril é comumente uma toxicidade limitante da dose da quimioterapia, resultando em atrasos no tratamento ou diminuição da intensidade.[15]

A neutropenia de início tardio pode ocorrer após o tratamento com rituximabe, mas o mecanismo de ação não é claro.[16] Uma ampla variedade de outros medicamentos causa neutropenia como uma reação adversa ao medicamento; aqueles com maior probabilidade se incluem medicamentos antitireoidianos, macrolídeos e procainamidas. A agranulocitose grave decorrente de reação ao medicamento é rara (1-10 pacientes por milhão da população por ano) e mais frequentemente associada a clozapina, medicamentos antitireoidianos (tionamidas) e sulfassalazina.[17][18][19][20]

A neutropenia induzida por medicamentos é mais comum em pacientes acima de 60 anos de idade, e as mulheres são mais comumente afetadas que os homens.

A neutropenia induzida por medicamentos ocorre por inúmeros mecanismos.

  • Destruição de neutrófilos mediada por anticorpos: a droga atua como um hapteno imunogênico (uma molécula pequena que só pode desencadear uma resposta imune quando ligada a um portador maior, como uma proteína). O hapteno estimula a formação de anticorpos, que então medeiam a destruição dos neutrófilos na circulação. Aminopirina, propiltiouracila, penicilina e compostos de ouro são os medicamentos mais comumente associados à formação de haptenos.[21][22][23]

  • Aceleração da apoptose de neutrófilos: antipsicóticos (por exemplo, clozapina) produzem metabólitos que se ligam ao neutrófilo, causando depleção de glutationa intracelular (um antioxidante), toxicidade e morte celular.[23]

  • Lise dos neutrófilos mediada pelo complemento: o medicamento atua como um hapteno imunogênico e estimula a formação de anticorpos. No entanto, em vez de atacar diretamente os neutrófilos, os anticorpos ativam o complemento, e os neutrófilos são destruídos por lise mediada pelo complemento.

  • Inibição da hematopoiese: medicamentos como os antibióticos betalactâmicos e alguns anticonvulsivantes (carbamazepina e ácido valproico) inibem a produção de granulócitos e macrófagos na medula óssea. Ticlopidina, sulfassalazina e clorpromazina causam supressão dos precursores mieloides na medula óssea.[24]

A radioterapia pode causar neutropenia pela produção direta de dano por radiação das células-tronco e progenitoras linfoides em divisão.

Doença imune adquirida

As neutropenias imunes primárias são autoimunes ou aloimunes (resposta imune a antígenos não próprios de membros da mesma espécie). A neutropenia também pode ocorrer como parte de reação transfusional grave.

  • Neutropenia autoimune (AIN) primária na primeira infância: os anticorpos contra antígenos neutrofílicos específicos causam sequestro esplênico ou lise pelo complemento dos neutrófilos. A idade média de início é 6 a 12 meses. Embora a neutropenia geralmente seja grave, a infecção bacteriana com risco de vida é rara. A maioria dos pacientes se recupera espontaneamente em aproximadamente 1 a 2 anos.[25]

  • Neutropenia autoimune (AIN) em adultos: a etiologia é a mesma que para a AIN primária na primeira infância. Em adultos, a AIN muitas vezes está associada a doenças inflamatórias crônicas como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico (LES) ou síndrome de Sjögren.

  • Neutropenia neonatal aloimune (NAIN): anticorpos neutrofílicos específicos do soro da mãe reagem contra os antígenos expressos nos neutrófilos fetais herdados do pai; esses anticorpos imunoglobulina G (IgG) entram na circulação fetal, causando destruição de neutrófilos no útero e no período neonatal. Pode ocorrer na primeira gravidez, e futuras gestações podem ser afetadas. Mesmo se a neutropenia for grave, a infecção é rara. A recuperação espontânea geralmente ocorre em aproximadamente 11 semanas (intervalo de 3-28 semanas).

Doença adquirida da medula óssea

A doença da medula óssea adquirida compromete a produção de neutrófilos normais. Há 3 tipos principais:

  • Anemia aplásica: a destruição autoimune ou tóxica das células-tronco hematopoiéticas da medula, resultando em uma pancitopenia.

  • Neoplasia hematológica primária: linfoma de Hodgkin e não Hodgkin, síndrome mielodisplásica, leucemia mielogênica crônica ou aguda e leucemia linfocítica aguda ou crônica podem comprometer a produção de neutrófilos. O volume de células malignas disfuncionais reduz o número de células progenitoras funcionais saudáveis na medula óssea.

  • Neoplasia maligna secundária: metástases de tumores sólidos para a medula óssea podem causar neutropenia por infiltração do espaço medular. Qualquer tumor pode provocar metástases na medula óssea, mas os mais comuns são os neuroblastomas em crianças e câncer da mama, próstata e pulmão em adultos. Metástase para a medula óssea é um sinal de prognóstico desfavorável.

Deficiência nutricional

As deficiências nutricionais de B12, folato e cobre podem causar neutropenia, bem como anemia. A neutropenia em indivíduos com transtornos decorrentes do uso de bebidas alcoólicas é atribuída a deficiências nutricionais, mais notadamente vitamina B12 e folato; a toxicidade direta da medula óssea induzida por álcool é rara.

  • As vitaminas B12 e folato são essenciais para a síntese de ácido desoxirribonucleico (DNA) e sua deficiência resulta em hematopoiese comprometida. O principal efeito é sobre as células eritroides, causando anemia, mas as células mieloides também são afetadas, causando neutropenia.

  • A deficiência de cobre produz anemia e neutropenia por um mecanismo que não é compreendido.

Doença inflamatória

A neutropenia pode ocorrer no contexto de doença inflamatória crônica. Os mecanismos subjacentes variam de acordo com a doença.

  • Artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico: o principal mecanismo de neutropenia é inflamatório. A grande infiltração de linfócitos granulares da medula compromete a produção de neutrófilos maduros. Contudo, os pacientes também podem desenvolver neutropenia autoimune (AIN) associada.

  • Síndrome de Felty: é uma síndrome de artrite reumatoide, esplenomegalia e neutropenia. O sequestro esplênico e a destruição dos neutrófilos são o principal mecanismo da neutropenia, mas o fator desencadeante é desconhecido.

  • Síndrome de Sjögren: foi proposto que o principal mecanismo seja autoimune, similar à AIN.

Má distribuição de neutrófilos (pseudoneutropenia)

Os neutrófilos são distribuídos entre a circulação (grupo circulante) e os tecidos (grupo marginado). A redistribuição ou aglutinação de neutrófilos produz a pseudoneutropenia.[2]

  • Marginação de neutrófilos elevada: a redistribuição de neutrófilos para o grupo marginado pode causar neutropenia aparente no grupo circulante, embora o número total de neutrófilos esteja normal. Essa é uma variante fisiológica de pouco significado patológico.

  • A elevada aglutinação de neutrófilos no grupo circulante causa subestimação da contagem de neutrófilos quando uma amostra de sangue é coletada e processada. Isso é mais comumente observado no tratamento com anticoagulantes. O efeito também é observado com paraproteinemia, mas essa é uma situação complexa, pois suas causas subjacentes também podem produzir neutropenia verdadeira.

  • Artefato laboratorial: o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) é amplamente usado para evitar a coagulação das amostras de sangue para hemograma completo. No entanto, se a amostra não for processada em um curto espaço de tempo, o EDTA pode causar aglutinação dos neutrófilos no tubo da amostra, resultando na subestimação da contagem de neutrófilos. A repetição da medição em uma amostra nova revela o erro.

Síndromes de falência medular congênita

Neutropenia congênita grave e síndrome de Kostmann

  • As neutropenias congênitas graves são um grupo heterogêneo de distúrbios. O primeiro distúrbio descrito foi a doença de Kostmann, uma síndrome de agranulocitose congênita com herança autossômica recessiva. Muitas neutropenias congênitas graves estão descritas agora, podendo ser autossômicas dominantes, autossômicas recessivas, ligadas ao cromossomo X ou neutropenia esporádica.

  • 60% estão relacionadas a mutações no gene da elastase neutrofílica (ELA2). A síndrome de Kostmann é especificamente caracterizada por uma mutação no gene HAX1 e é autossômica recessiva.[26]

  • Anormalidades citogenéticas podem se desenvolver durante a evolução da doença, indicando transformação em síndrome mielodisplásica ou leucemia aguda. A anormalidade mais comum é a monossomia 7, responsável por 50% dos casos. Cerca de 12% desenvolverão leucemia aguda.[27][28][29]

Anemia de Fanconi

  • A anemia de Fanconi geralmente é autossômica recessiva, mas também pode estar ligada ao cromossomo X.

  • Mutações em 13 genes foram identificadas. Os genes codificam proteínas que formam um complexo nuclear envolvido na resposta às lesões no DNA. No entanto, o mecanismo preciso pelo qual as mutações produzem falência medular não é conhecido.

Síndrome de Shwachman-Diamond (SSD)

  • A SSD é uma doença autossômica recessiva rara que produz disfunção pancreática exócrina, neutropenia (que pode ser intermitente) e anormalidades esqueléticas.[30] Além disso, os neutrófilos remanescentes podem estar disfuncionais, com quimiotaxia e motilidade comprometidas.

  • Aproximadamente 90% dos pacientes têm o gene SBDS, mas a relação entre a mutação e a falência medular não é compreendida.[31]

Síndrome de Pearson

  • Caracterizada por anemia sideroblástica refratária com vacuolização dos precursores da medula óssea, graus variáveis de neutropenia e trombocitopenia e insuficiência pancreática exócrina.[32]

  • Uma das mitocondriopatias, causada por mutações do DNA mitocondrial. Grandes deleções de DNA mitocondrial são características dessa doença.[33]

Disceratose congênita

  • Caracterizada pela tríade de unhas anormais, erupção cutânea reticulada e leucoplasia. Padrões hereditários autossômicos dominantes e recessivos, ligados ao cromossomo X, foram observados.

  • Todos os defeitos genéticos diminuem a função da telomerase. Os telômeros mantêm a estabilidade cromossômica, e a medula óssea é altamente dependente da manutenção telomérica para manter sua alta taxa de proliferação. A perda de telomerase produz falência da medula óssea. Mutações no gene DKC1 são detectadas na forma ligada ao cromossomo X. As mutações no gene TERC estão associadas com a forma autossômica dominante. As mutações no gene NOP10 estão associadas com a forma autossômica recessiva.

Síndrome de Griscelli

  • A síndrome de Griscelli é autossômica recessiva e é composta por albinismo, neutropenia, trombocitopenia e linfo-histiocitose hemofagocítica. Podem ocorrer alterações neurológicas, supostamente em decorrência de infiltração linfo-histiocitária cerebral.

  • A neutropenia geralmente decorre da fagocitose de neutrófilos na medula óssea pelos fagócitos invasores (síndrome hemofagocítica).

  • Há 3 tipos de síndrome de Griscelli. A neutropenia é mais frequentemente associada com a síndrome de Griscelli tipo II, causada por uma mutação no gene RAB27a.

Síndrome de Barth

  • Essa doença produz neutropenia e cardiomiopatia.

  • Produzida por mutações no gene TAZ que resultam em deficiência de cardiolipina e mitocôndrias anormais.[34]

Síndromes congênitas de neutropenia isolada

Neutropenia cíclica

  • Produz um padrão de neutropenia flutuante em que as contagens de neutrófilos têm ciclos de aproximadamente 21 dias, com intervalo de 14 a 36 dias. Os níveis de pico de neutrófilos no ciclo são normais e os nadires alcançam 0 e duram de 3 a 10 dias. A doença geralmente é autossômica dominante com expressão variável, mas casos esporádicos também podem ocorrer.

  • A base genética da forma autossômica dominante é desconhecida. Os casos esporádicos estão associados a mutações do gene da elastase neutrofílica (ELA2).[35]

Neutropenia crônica idiopática

  • Descreve pacientes com neutropenia crônica para a qual nenhuma causa pode ser encontrada. Geralmente ocorre na terceira infância ou na fase adulta. A produção de neutrófilos é normal, mas a destruição dos linfócitos no grupo circulante é elevada. Por causa da reserva medular e da distribuição adequada de neutrófilos para os tecidos, esses pacientes não desenvolvem infecções recorrentes.

  • A etiologia é desconhecida, mas acredita-se que seja autoimune, e aproximadamente 35% dos pacientes têm teste positivo para anticorpos antineutrófilos.[25]​ Se isso for confirmado, classifica-se a neutropenia crônica idiopática como neutropenia imune em vez de síndrome de neutropenia congênita.

Mielocatexia

  • Doença autossômica dominante que se apresenta com neutropenia moderada a grave. A etiologia não é totalmente compreendida e pode envolver maior retenção de neutrófilos na medula óssea. Os neutrófilos têm uma morfologia distinta com vacúolos citoplasmáticos e núcleos anormais com hipersegmentação e apenas filamentos muito finos conectando os lobos nucleares. A maioria dos pacientes não desenvolve infecções graves.[36]

Síndrome de Cohen

  • A síndrome de Cohen consiste em múltiplas anomalias congênitas com deficiência intelectual. O fenótipo típico pode incluir atraso no desenvolvimento psicomotor leve a grave, microcefalia, disposição alegre, feições características, hipotonia e frouxidão articular na infância, obesidade troncular, neutropenia intermitente, distrofia retiniana progressiva e miopia refratária. É uma síndrome autossômica recessiva.

  • A neutropenia nesses pacientes não os torna propensos a infecções. Se a neutropenia for diagnosticada no estabelecimento da síndrome de Cohen, não são necessárias investigações adicionais.[37][38]

  • Estão presentes mutações do gene COH1, mas a função normal do gene não foi estabelecida definitivamente. Sugere-se que o produto gênico do COH1 esteja envolvido na classificação e circulação de proteínas dentro da célula, mas não é claro como as características clínicas da síndrome são produzidas.

Síndrome de Hermansky-Pudlak do tipo II

  • Caracterizada por albinismo oculocutâneo e defeitos nas plaquetas em decorrência da ausência de corpos densos das plaquetas. É uma doença autossômica recessiva. A neutropenia pode ser grave.

  • Causada por mutações que interrompem o complexo adaptador de proteína-3. Esse complexo afeta o tráfego vesicular em melanócitos, plaquetas, linfócitos T citotóxicos e células Natural Killer. A neutropenia está associada com quantidades diminuídas de elastase neutrofílica.[33]

Deficiência de P14

  • Consiste em albinismo parcial, baixa estatura e deficiência de células B e de células T citotóxicas. É uma doença autossômica recessiva e pode produzir neutropenia grave com contagem absoluta de neutrófilos (ANC) <500/microlitro ou <0.5 x 10^9/L.

  • São encontradas mutações no gene MAPBIP.[33] As mutações diminuem a estabilidade do ácido ribonucleico (RNA), causando níveis diminuídos de proteínas e função lisossomal aberrante.

Doença da imunodeficiência congênita

Imunodeficiência comum variável

  • Uma síndrome autossômica dominante diversa de produção defeituosa de imunoglobulinas G, M ou A (IgG, IgM ou IgA) e disfunção dos linfócitos T.

  • Produzida por mutações genéticas do TNFRSF13B, um mediador de alternância de isotipos em células B. O principal efeito é impedir que a produção de IgM seja trocada para IgG, IgA e imunoglobulina E (IgE). Contudo, existem mutações autossômicas recessivas associadas que contribuem para as diversas apresentações da doença.

  • A ausência de produção de IgG e o comprometimento da função dos linfócitos T produz neutropenia.[39]

Agamaglobulinemia ligada ao cromossomo X

  • A agamaglobulinemia ligada ao cromossomo X é uma doença recessiva ligada ao cromossomo X.

  • É causada por uma mutação genética na tirosina quinase de Bruton (BTK). A BTK é essencial para a maturação das células B e as mutações resultam na produção de células B imaturas, que são incapazes de sintetizar anticorpos.

  • A ausência de produção de IgG produz neutropenia.[39]

Síndrome de hiper IgM

  • Produzida pela incapacidade de alternar a produção de anticorpos de IgM para IgG, IgA e IgE.

  • A ausência de produção de IgG produz neutropenia.

  • Decorrente de defeitos na sinalização de CD40. O CD40 é um receptor de superfície que permite que as células T sinalizem uma mudança na produção de IgG pelas células B. Mutações do receptor ou de sua cascata de sinalização impedem as células T de sinalizar uma mudança na produção de imunoglobulina (Ig).

  • A forma mais comum é a recessiva ligada ao cromossomo X, produzida por uma mutação genética do receptor (CD40L). Existem 4 formas autossômicas recessivas adicionais. Elas são raras e afetam proteínas na via de sinalização do CD40.[39]

Hipoplasia cartilagem-cabelo

  • Produz nanismo com membros curtos e imunodeficiência.

  • Doença autossômica recessiva produzida por uma mutação do RMRP, uma ribonucleoproteína essencial para o crescimento celular.

  • A neutropenia é predominantemente decorrente de defeitos no sistema das células T. Não está claro como a mutação subjacente produz os deficits imunológicos.[39]

Disgenesia reticular

  • Produz neutropenia grave decorrente da ausência de células linfoides oriundas da medula óssea.

  • A herança é autossômica recessiva. A mutação genética subjacente é desconhecida.[39]

Síndrome de WHIM (verrugas, hipogamaglobulinemia, infecções e mielocatexia)

  • Uma síndrome de verrugas, hipogamaglobulinemia, infecções e mielocatexia (WHIM).

  • Produzida pela hipogamaglobulinemia, que causa neutropenia e extensiva infecção por papilomavírus humano (HPV). As contagens de neutrófilos periféricos são baixas desde o nascimento, mas a medula óssea geralmente é hipercelular, com números elevados de neutrófilos maduros. Também se pode observar disfunção das células T.

  • Há uma falta seletiva de imunidade ao HPV; a imunidade a todos os outros vírus geralmente é normal.

  • A maioria dos pacientes tem mutação heterozigótica do gene CXCR4 (que regula a liberação de neutrófilos oriundos da medula óssea) causando retenção de neutrófilos na medula óssea.[40]

Síndrome de Chediak-Higashi

  • Síndrome de albinismo parcial, diátese hemorrágica leve, imunodeficiência grave, neutropenia moderada e defeitos neurológicos progressivos; 85% dos pacientes desenvolverão infiltração linfo-histiocitária monoclonal de múltiplos órgãos, causando insuficiência de múltiplos sistemas de órgãos.[41]

  • Os granulócitos circulantes têm uma aparência distinta, com grandes grânulos azurófilos em todas as linhagens mieloides; essa aparência é patognomônica.

  • A herança é autossômica recessiva com mutações no gene LYST. A perda dessa proteína modifica a regulação normal dos lisossomos secretores, causando função celular imune desregulada e hipopigmentação.

Displasia imuno-óssea de Schimke

  • Rara doença autossômica recessiva que se apresenta com problemas clínicos multissistêmicos variáveis. Estes incluem displasia espondiloepifisária, retardo de crescimento, proteinúria e insuficiência renal, linfopenia, neutropenia e outras citopenias e imunidade celular defeituosa.

  • Produzida por mutações no regulador dependente de actina associado à matriz relacionado ao SWI/SNF do gene da cromatina, SMARCAL1.

Síndrome de Wiskott-Aldrich

  • Síndrome recessiva ligada ao cromossomo X caracterizada por trombocitopenia com plaquetopenia, deficiência imunológica e eczema.

  • Resulta de mutações ativadoras no gene que codifica a proteína da síndrome de Wiskott-Aldrich, envolvida na regulação do citoesqueleto de actina. A desregulação do citoesqueleto interrompe uma ampla gama de funções dos leucócitos.

Erros inatos do metabolismo

A neutropenia pode estar associada com diversos erros inatos do metabolismo, incluindo doença de depósito de glicogênio tipo 1B, acidúria metilmalônica, doença de Neumann-Pick e doença de Gaucher. O mecanismo preciso da neutropenia nesses pacientes é desconhecido, mas pode ser decorrente de apoptose dos neutrófilos estimulada pela acumulação de metabólitos no citoplasma e produção de energia comprometida.

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