Etiologia

As causas das quedas podem ser inter-relacionadas e multifatoriais. A saúde geral pode ser mais importante do que a idade na prevenção de quedas e de lesões.[8]

Neuropsiquiátrica

  • Comprometimento visual: manifestações como visão turva, perda de visão periférica ou diplopia.

  • Neuropatia periférica: pode ser acompanhada por uma história de diabetes, doença neurodegenerativa ou estenose da coluna vertebral.

  • Disfunção vestibular, particularmente vertigem posicional paroxística benigna: pode se manifestar como tontura, vertigem ou desequilíbrio.[9]

  • Deficiência auditiva.[10]

  • Anormalidade da marcha e do equilíbrio: possível história de doença discal, neuropatia periférica, artrite ou lesão/fratura prévia; anormalidades específicas na marcha ou no movimento (marcha arrastada, tremores, bradicinesia) podem sugerir doença subjacente, como doença de Parkinson.[11][12]

  • O próprio medo das quedas pode aumentar o risco de quedas.[13][14][15]

  • Comprometimento cognitivo ou do humor: inclui demência, depressão ou delirium; perturbações do comportamento, comprometimentos funcionais e uso de neurolépticos.[16][17][18] A presença de comprometimento cognitivo também pode contribuir para a disfunção motora e do equilíbrio.[19]

  • Transtorno convulsivo: pode ser uma consequência de doença vascular, infecção, distúrbio neurodegenerativo ou neoplasia.

  • Hematoma subdural: sugerido pelo trauma cranioencefálico (risco mais alto quando na presença de anticoagulação).

  • AVC ou ataque isquêmico transitório: sintomas neurológicos focais de duração não transitória ou transitória, respectivamente.

Cardiovascular

  • Síncope: perda da consciência transitória resultante de hipoperfusão cerebral global; por exemplo, síncope cardíaca causada por taquiarritmias ou bradicardia, ou síncope vasovagal causada por resposta autonômica anormal ou exagerada a estímulos (por exemplo, manter-se na postura ortostática, emoção, micção [raramente]).[20][21]

  • Hipotensão ortostática: sugerida pelo início dos sintomas com a mudança da posição supina ou sentada para ortostática.

  • Síndrome do seio carotídeo: pode ser provocada por atividades como o barbear facial (com pressão coincidente sobre o seio carotídeo).

  • Hipotensão pós-prandial: evento baseado em história de quedas observadas que coincidem com os horários de refeição.[22]

Musculoesquelético

  • Torção/instabilidade/anormalidade mecânica de mobilidade da articulação: pode ser uma consequência de lesão prévia ou de artrite.

  • Problemas nos pés: particularmente dor nos pés, hálux valgo e deformidade dos pododáctilos menores.[23]

  • Falta de condicionamento físico: exercício insuficiente e períodos prolongados de imobilidade levando à redução do tônus e da função muscular.

  • Sarcopenia/osteossarcopenia: fraqueza muscular, perda de massa muscular e/ou óssea e condições artríticas associadas.[24][25][26][27][28][29]

  • Obesidade: particularmente obesidade sarcopênica.[30][31]

Tóxica/ambiental

  • Medicamentos:[32][33][34][35][36][37][38][39][40][41][42][43][44][45][46][47][48][49][50][51][52]

    • especialmente benzodiazepínicos, antidepressivos e ansiolíticos

    • outros associados com aumento do risco de hipotensão ortostática, incluindo alfabloqueadores, anti-hipertensivos, diuréticos, betabloqueadores, bromocriptina, levodopa

    • anti-inflamatórios não esteroidais, maconha, opioides, sedativos e hipnóticos (por exemplo, zolpidem), sildenafila, antidepressivos tricíclicos

    • medicamentos para diabetes (por exemplo, insulina, tiazolidinedionas) e a hipoglicemia associada

    • medicamentos altamente anticolinérgicos, como anti-histamínicos de primeira geração (por exemplo, difenidramina), relaxantes musculares e vasodilatadores

    • colecalciferol: sugeriu-se que a suplementação com altas doses está associada a um aumento no risco de quedas e fraturas

  • Polimedicação: o uso de cinco ou mais medicamentos aumenta o risco de quedas em 30% em indivíduos residentes na comunidade e em pelos menos 4 vezes em pacientes de instituições asilares.[53]

  • Uso indevido de substâncias: incluindo bebidas alcoólicas (uso indevido crônico ou intoxicação aguda) ou outras substâncias psicoativas recreativas.

  • Riscos ambientais, como tapetes ou azulejos soltos, pouca iluminação, pisos irregulares, presença de bagunça; uso recente de muleta ou andador ou morar sozinho: esses fatores são cada vez mais importantes com o avanço da idade.

Avaliação do risco de queda

Identificar a causa da queda ajudará a identificar o(s) fator(es) de risco com maior chance de contribuir para as quedas e facilitar intervenções apropriadas para reduzir o risco de quedas futuras.

A presença de certos fatores está associada com uma maior probabilidade de quedas futuras.[54][55][56] Evidências sugerem que a identificação das seguintes características nos indivíduos sob risco pode ser útil na implementação de estratégias para a prevenção de quedas.[10][15][26][32][33][53][54][57][58][59][60][61][62][63][64][65][66][67][68][69][70]

  • Problemas motores: comprometimento da marcha ou do equilíbrio, fraqueza muscular e condições artríticas associadas

  • Comprometimento sensorial: neuropatia periférica, disfunção vestibular, comprometimento da visão, perda auditiva

  • Comprometimento cognitivo ou de humor: demência, depressão, delirium

  • Hipotensão ortostática

  • Polimedicação ou certos medicamentos (particularmente psicotrópicos e opioides)

  • Comprometimento das atividades da vida diária

  • Riscos ambientais (por exemplo, tapetes soltos, má iluminação, bagunça)

  • Sintomas urinários atribuíveis a doenças, problemas de bexiga ou de próstata ou medicamentos

  • Medo de cair

  • Fatores adicionais, como idade ou doenças comórbidas e fragilidade.

Devido à associação significativa entre medicamentos e o risco de quedas, a revisão dos medicamentos e a suspensão da prescrição em circunstâncias adequadas podem reduzir esse risco.[71][72]

Estratégias de prevenção de quedas

Muitos programas de prevenção de quedas incluem como componentes a abordagem dos fatores de risco (inclusive doenças crônicas, comportamentos do paciente, medicamentos, comprometimento sensorial [equilíbrio, audição e visão] e riscos ambientais domésticos e exercícios preventivos [inclusive treinamento de força e equilíbrio]), com intervenções conforme a necessidade.[73][74] No entanto, a base de evidências para apoiar esses programas é inconsistente.

A US Preventive Services Task Force recomenda exercícios (por exemplo, exercícios em grupo, Tai Chi, exercícios multicomponentes) ou fisioterapia para a prevenção de quedas em adultos residentes na comunidade com idade ≥65 anos que apresentem aumento do risco de quedas, mas não recomenda suplementação de vitamina D para a prevenção de quedas.[75]​​​[76] US Preventive Services Task Force: falls prevention in community-dwelling older adults: interventions Opens in new window Metanálises da suplementação de vitamina D (isoladamente ou com cálcio) em populações mistas de indivíduos residentes na comunidade e pacientes institucionalizados não demonstraram benefício em termos de redução das quedas.[77][78] No entanto, em uma revisão Cochrane de estudos conduzidos em instituições de saúde e hospitais, a suplementação de vitamina D provavelmente reduziu o número, mas não o risco, de quedas em instituições de longa permanência (evidência de qualidade moderada).[79] Todas as outras intervenções avaliadas na revisão Cochrane (incluindo, entre outras: exercício, medicação geral ou intervenções multifatoriais) foram associadas com escassez de evidências ou incerteza acerca de conclusões que possam ser tomadas.[79]

Uma revisão sistemática Cochrane constatou que as intervenções em múltiplos componentes (que oferecem os mesmos componentes de intervenção para todas as pessoas sem levar em conta qualquer avaliação do risco de quedas; a maioria das quais inclui exercícios) podem reduzir o número de quedas e o risco de queda em comparação com o cuidado usual ou o controle da atenção em idosos que residem na comunidade.[80] A revisão também constatou que as intervenções multifatoriais (intervenções com componentes que diferem entre as pessoas, dependendo de sua avaliação do risco de quedas) podem reduzir as quedas em pessoas na comunidade, comparadas com a assistência habitual ou o controle da atenção.[80] [ Cochrane Clinical Answers logo ] [ Cochrane Clinical Answers logo ] [Evidência C]​​ Análises subsequentes também apoiam haver valor em intervenções com múltiplos componentes na redução do risco de quedas.[81][82]

Uma revisão Cochrane de 2019 concluiu com alto grau de certeza que o exercício (principalmente envolvendo exercícios de equilíbrio e funcionais) reduz a taxa de quedas e o número de idosos residentes na comunidade que sofrem quedas.[83] Os programas de exercícios que provavelmente reduzem as quedas incluem várias categorias de exercícios (normalmente exercícios de equilíbrio e funcionais, associados a exercícios de resistência) e Tai Chi.[83][84] As efetividades dos exercícios de resistência isolados, da dança e da caminhada continuam incertas.[83]

Uma metanálise em rede de intervenções para prevenir quedas em indivíduos com 65 anos ou mais constatou que as seguintes intervenções foram mais eficazes que o cuidado usual na prevenção das quedas que resultam em lesões:[85]

  • Exercício físico

  • Exercício combinado, avaliação e tratamento da visão

  • Exercício combinado, avaliação e tratamento da visão, avaliação e modificação ambiental

  • Estratégias combinadas de melhora da qualidade clínica (por exemplo, manejo de casos), avaliação e tratamento multifatoriais, suplementação de cálcio e vitamina D.

Várias outras diretrizes examinam a implementação de tais intervenções para prevenir quedas:

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