A avaliação da dispepsia não investigada exige a consideração de uma série de fatores; no entanto, a entrevista inicial geralmente se desdobrará de uma forma não estruturada. Os sintomas são o foco central dessa avaliação inicial; por isso, é essencial que as perguntas sobre os sintomas sejam feitas de uma maneira relevante para os pacientes.[1]Vakil NB, Halling K, Becher A, et al. Systematic review of patient-reported outcome instruments for gastroesophageal reflux disease symptoms. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2013 Jan;25(1):2-14.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23202695?tool=bestpractice.com
O avaliador deve entender exatamente o que o paciente está vivenciando.
Uma avaliação clínica cuidadosa é necessária, principalmente para os pacientes >60 anos de idade, aqueles com sinais de alarme e aqueles com início recente (há alguns meses) de agravamento ou sintomas atípicos. Uma avaliação clínica cuidadosa supera a idade e as características de alarme somente na busca por uma neoplasia maligna.[24]Kapoor N, Bassi A, Sturgess R, et al. Predictive value of alarm features in a rapid access upper gastrointestinal cancer service. Gut. 2005 Jan;54(1):40-5.
https://gut.bmj.com/content/54/1/40.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15591502?tool=bestpractice.com
[26]Vakil N, Moayyedi P, Fennerty MB, et al. Limited value of alarm features in the diagnosis of upper gastrointestinal malignancy: systematic review and meta-analysis. Gastroenterology. 2006 Aug;131(2):390-401.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16890592?tool=bestpractice.com
[27]Talley NJ. What the physician needs to know for correct management of gastro-oesophageal reflux disease and dyspepsia. Aliment Pharmacol Ther. 2004;20(suppl 2):S23-30.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15335410?tool=bestpractice.com
[30]Talley NJ. How to manage the difficult-to-treat dyspeptic patient. Nat Clin Pract Gastroenterol Hepatol. 2007 Jan;4(1):35-42.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17203087?tool=bestpractice.com
[31]Sundar N, Muraleedharan V, Pandit J, et al. Does endoscopy diagnose early gastrointestinal cancer in patients with uncomplicated dyspepsia? Postgrad Med J. 2006 Jan;82(963):52-4.
http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?tool=pubmed&pubmedid=16397081
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16397081?tool=bestpractice.com
As características padrão de alarme podem ser lembradas pela sigla VBAD:
Avaliação dos pacientes com dispepsia
A avaliação inicial de um paciente com dispepsia se baseia na idade do paciente e na probabilidade de doença grave presente. A história e o exame físico são concebidos para identificar outras condições médicas que podem causar sintomas dispépticos.
A imagem abaixo ilustra uma via de manejo baseada nas diretrizes do American College of Gastroenterology/Canadian Association of Gastroenterology (ACG/CAG) para o manejo da dispepsia.[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
[Evidência A]bd21ea89-130d-45bb-93bb-1753e0955c1eguidelineAQuais são os efeitos de um exame não invasivo e tratamento para o H Pylori em comparação com a endoscopia precoce em pessoas com dispepsia não investigada?[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
As orientações do ACG/CAG recomendam que os pacientes com ≥60 anos de idade que apresentarem um novo episódio de dispepsia devem ser submetidos a uma endoscopia para descartar doença grave, incluindo neoplasia.[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
As características de alarme, como a perda de peso involuntária, disfagia progressiva, odinofagia, anemia ferropriva inexplicada, vômito persistente, massa palpável no abdome ou uma história familiar de câncer gastrointestinal superior deve suscitar a consideração de uma endoscopia, independentemente da idade do paciente.
Os pacientes sem sintomas de alarme devem receber inicialmente um teste não invasivo para Helicobacter pylori. Os testes que detectam infecção ativa por H pylori, como o teste de antígeno fecal ou o teste respiratório da ureia, são preferenciais à sorologia.[32]Best LM, Takwoingi Y, Siddique S, et al. Non-invasive diagnostic tests for Helicobacter pylori infection. Cochrane Database Syst Rev. 2018 Mar 15;(3):CD012080.
https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD012080.pub2/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29543326?tool=bestpractice.com
Pacientes que testam negativo para H pylori ou aqueles que ainda são sintomáticos após a erradicação do H pylori, devem receber uma tentativa terapêutica curta (4-8 semanas) de terapia com inibidor da bomba de prótons. Os pacientes que ainda forem sintomáticos após esta tentativa terapêutica podem se beneficiar de um antidepressivo tricíclico (um ciclo de 8-12 semanas) ou terapia de procinéticos (um ciclo de 4-8 semanas).[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
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How do prokinetics compare with placebo for people with functional dyspepsia?/cca.html?targetUrl=https://www.cochranelibrary.com/cca/doi/10.1002/cca.2450/fullMostre-me a resposta Os que não responderem devem ser reavaliados caso novos sintomas ou achados induzam mais investigações. A investigação de distúrbios de motilidade, como a gastroparesia, também deve ser considerada nesse momento, junto com a psicoterapia, se for o caso.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: A via para o manejo da dispepsiaCriada pelo BMJ Knowledge Centre com base nas informações que constam nas diretrizes da ACG e CAG. [Citation ends].
Os pacientes com dispepsia funcional podem necessitar de encaminhamento a um especialista para avaliação adicional se houver dúvida diagnóstica; os sintomas são graves ou refratários aos tratamentos de primeira linha; ou o paciente solicita a opinião de um especialista.[7]Black CJ, Paine PA, Agrawal A, et al. British Society of Gastroenterology guidelines on the management of functional dyspepsia. Gut. 2022 Sep;71(9):1697-723.
https://gut.bmj.com/content/71/9/1697.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35798375?tool=bestpractice.com
Tentativa terapêutica com inibidores da bomba de prótons
Proposta inicialmente como um teste diagnóstico para DRGE, uma tentativa terapêutica com inibidores da bomba de prótons (IBP) hoje faz parte do algoritmo para dispepsia não investigada. Uma tentativa terapêutica com IBP por 1-2 meses pode ser utilizada para prever a resposta ao tratamento para a dispepsia não investigada.[33]Talley NJ, Vakil N, Lauritsen K, et al. Randomized-controlled trial of esomeprazole in functional dyspepsia patients with epigastric pain or burning: does a 1-week trial of acid suppression predict symptom response? Aliment Pharmacol Ther. 2007 Sep 1;26(5):673-82.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1365-2036.2007.03410.x
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17697201?tool=bestpractice.com
[34]van Zanten SV, Flook N, Talley NJ, et al. One-week acid suppression trial in uninvestigated dyspepsia patients with epigastric pain or burning to predict response to 8 weeks' treatment with esomeprazole: a randomized, placebo-controlled study. Aliment Pharmacol Ther. 2007 Sep 1;26(5):665-72.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1365-2036.2007.03409.x
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17697200?tool=bestpractice.com
[35]van Zanten SV, Armstrong D, Chiba N, et al. Esomeprazole 40 mg once a day in patients with functional dyspepsia: the randomized, placebo-controlled "ENTER" trial. Am J Gastroenterol. 2006 Sep;101(9):2096-106.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16817845?tool=bestpractice.com
A resolução dos sintomas em 1 a 2 meses significa uma tentativa positiva, e a continuação dos sintomas em 1 a 2 meses, uma tentativa negativa.' A United European Gastroenterology e a European Society for Neurogastroenterology and Motility recomendam a terapia com IBP como uma terapia eficaz para a dispepsia funcional.[14]Wauters L, Dickman R, Drug V, et al. United European Gastroenterology (UEG) and European Society for Neurogastroenterology and Motility (ESNM) consensus on functional dyspepsia. United European Gastroenterol J. 2021 Apr;9(3):307-31.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ueg2.12061
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33939891?tool=bestpractice.com
Uma revisão Cochrane concluiu que os IBPs são efetivos no tratamento da dispepsia funcional.[36]Pinto-Sanchez MI, Yuan Y, Hassan A, et al. Proton pump inhibitors for functional dyspepsia. Cochrane Database Syst Rev. 2017 Nov 21;11(11):CD011194.
https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD011194.pub3/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29161458?tool=bestpractice.com
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What are the effects of proton pump inhibitors for people with functional dyspepsia?/cca.html?targetUrl=https://cochranelibrary.com/cca/doi/10.1002/cca.1945/fullMostre-me a resposta
Exames por imagem
A radiografia gastrointestinal superior não é recomendada como investigação inicial para pacientes que apresentam dispepsia não investigada em virtude do desempenho abaixo do ideal e dos resultados potencialmente enganosos.[4]Talley NJ, Vakil NB, Moayyedi P. AGA technical review: evaluation of dyspepsia. Gastroenterology. 2005 Nov;129(5):1756-80.
http://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085%2805%2901818-4/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16285971?tool=bestpractice.com
A avaliação radiológica geralmente deve ser reservada para pacientes que tenham sintomas sugestivos de distúrbios de motilidade do trato gastrointestinal superior ou suspeita de obstrução gastrointestinal superior, quando outras investigações não estiverem prontamente disponíveis.
A ultrassonografia abdominal não é recomendada como parte da investigação para os pacientes com dispepsia não investigada, pois o rendimento diagnóstico é baixo.[4]Talley NJ, Vakil NB, Moayyedi P. AGA technical review: evaluation of dyspepsia. Gastroenterology. 2005 Nov;129(5):1756-80.
http://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085%2805%2901818-4/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16285971?tool=bestpractice.com
A ultrassonografia abdominal pode ser considerada quando a apresentação sugerir uma causa hepatobiliar para os sintomas. O achado de colelitíase não indica que isso seja a causa dos sintomas, já que cálculos assintomáticos frequentemente são encontrados na população geral.
Endoscopia
O exame de endoscopia digestiva alta é recomendado quando a apresentação sugere doença complicada do trato gastrointestinal superior (obstrução, perfuração e hemorragia) ou uma causa subjacente grave para os sintomas.[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
[6]National Institute for Health and Care Excellence. Gastro-oesophageal reflux disease and dyspepsia in adults: investigation and management. Oct 2019 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/cg184
A doença complicada do trato gastrointestinal superior é identificada por qualquer uma das seguintes opções:
As orientações do ACG/CAG sobre o tratamento da dispepsia sugerem a endoscopia para descartar uma neoplasia maligna como causa subjacente de um novo episódio de dispepsia em pacientes idosos (≥60 anos de idade), particularmente se houver características alarmantes (VSAD).[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
No Reino Unido, o National Institute for Health and Care Excellence (NICE) recomenda a endoscopia do trato gastrointestinal superior urgente para os indivíduos com 55 anos ou mais com perda de peso e dispepsia.[16]National Institute for Health and Care Excellence. Suspected cancer: recognition and referral. Oct 2023 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/ng12
A endoscopia do trato gastrointestinal superior não urgente deve ser considerada para os indivíduos com 55 anos ou mais com:[16]National Institute for Health and Care Excellence. Suspected cancer: recognition and referral. Oct 2023 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/ng12
dispepsia resistente a tratamento, ou
dispepsia com contagem plaquetária elevada ou náuseas ou vômitos.
A British Society of Gastroenterology também recomenda que a endoscopia não urgente seja considerada nos pacientes com 55 anos ou mais com dispepsia e contagem plaquetária elevada ou náuseas ou vômitos.[7]Black CJ, Paine PA, Agrawal A, et al. British Society of Gastroenterology guidelines on the management of functional dyspepsia. Gut. 2022 Sep;71(9):1697-723.
https://gut.bmj.com/content/71/9/1697.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35798375?tool=bestpractice.com
O limiar para investigação deve ser adaptado aos protocolos locais.[3]Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017 Jul;112(7):988-1013.
https://journals.lww.com/ajg/fulltext/2017/07000/ACG_and_CAG_Clinical_Guideline__Management_of.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28631728?tool=bestpractice.com
[4]Talley NJ, Vakil NB, Moayyedi P. AGA technical review: evaluation of dyspepsia. Gastroenterology. 2005 Nov;129(5):1756-80.
http://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085%2805%2901818-4/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16285971?tool=bestpractice.com
A endoscopia também pode beneficiar pacientes com apresentações de caso incomuns ou condições de comorbidade significativas, bem como os pacientes que não podem ser tranquilizados na ausência de um exame endoscópico.