Etiologia

A dismenorreia pode ser dividida em 2 subcategorias, embora nem sempre seja fácil distingui-las somente com base na anamnese e no exame físico:

  • A dismenorreia primária ocorre sem que haja uma doença pélvica

  • A dismenorreia secundária ocorre na presença de doença pélvica.

Dismenorreia primária

Durante os ciclos ovulatórios, a exposição sequencial ao estrogênio e à progesterona causa a descamação do endométrio e a liberação de prostaglandina, iniciando-se a menstruação. A biossíntese de prostaglandinas a partir do precursor, o ácido araquidônico, ocorre pela via da ciclo-oxigenase (COX). Acredita-se que o mecanismo subjacente da dismenorreia primária sejam as contrações miometriais uterinas estimuladas pela prostaglandina, levando à diminuição do fluxo sanguíneo com hipóxia uterina subsequente. Em seguida, a hipóxia desencadeia a dor espasmódica descrita pelas mulheres afetadas.[20][21][22]

Em mulheres com dismenorreia primária, foram encontradas concentrações aumentadas da prostaglandina F-2 alfa (PGF-2 alfa) no líquido menstrual. Essas concentrações aumentadas da PGF-2 alfa levam a contrações frequentes e disrítmicas e a um tônus uterino basal mais alto. A contratilidade aumentada correlaciona-se com a intensidade dos sintomas e com as concentrações da PGF-2 alfa.[23][24][25] Leucotrienos e vasopressina também podem desempenhar um papel na etiologia da dismenorreia primária.[26][27][28]

Outros efeitos das prostaglandinas no músculo liso podem se manifestar como sintomas gastrointestinais (por exemplo, náuseas, vômitos, diarreia), que frequentemente coexistem em mulheres com dismenorreia primária.

Como a produção de PGF-2 alfa aumenta nos ciclos ovulatórios, qualquer tratamento que iniba a ovulação, como a contracepção hormonal, pode ser considerado uma opção de tratamento. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists: contraceptive choices for young people Opens in new window[29][30] [ Cochrane Clinical Answers logo ] ​ Os tratamentos que diminuem a produção de prostaglandinas, como os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), em geral também são bem sucedidos no tratamento da dismenorreia primária.[31]

Foram observadas diferenças em estudos de neuroimagem entre mulheres que apresentam dismenorreia e aquelas que não apresentam, sugerindo um papel adicional das vias centrais da dor.[32]

Dismenorreia secundária

Os mecanismos subjacentes da dismenorreia secundária e decorrentes de uma doença pélvica mesclam-se com os da dismenorreia primária.

Causas comuns de dismenorreia secundária

  • Endometriose: a causa mais comum de dismenorreia secundária.[6]​ Ela se apresenta como dor e desconforto pélvicos exacerbados durante os períodos pré-menstrual e menstrual. Ainda não se sabe como o tecido endometrial ectópico pode ocasionar a dor na pelve, embora as prostaglandinas possam desempenhar uma função nesse quadro. Concentrações aumentadas de prostaglandinas foram documentadas no líquido peritoneal e na circulação de mulheres com endometriose.[33]

  • Doença inflamatória pélvica (DIP): um processo infeccioso frequentemente precedido por instrumentação uterina ou uma história de infecção sexualmente transmissível. A dor pode estar relacionada à liberação de mediadores inflamatórios ou prostaglandinas, que em seguida levam à vasoconstrição e a contrações uterinas. O atraso no tratamento da DIP aguda pode aumentar os riscos de infertilidade e dor pélvica crônica. Aproximadamente 1 em 5 mulheres podem desenvolver dor pélvica crônica após um episódio inicial.

  • Adenomiose: dor extrauterina e aumento uterino, geralmente acompanhados de sangramento vaginal intenso. Acredita-se que seja o resultado da invasão do endométrio para o miométrio, resultando em glândulas endometriais ectópicas e estroma.

  • Leiomioma uterino (miomas): tumores benignos comuns originados do miométrio, identificados no exame pélvico (ou ultrassonografia) como um útero firme (liso ou multi-nodular) aumentado. Com frequência, os sintomas manifestos incluem sangramento intenso e prolongado.

Causas menos comuns de dismenorreia secundária

  • Cisto ovariano com hemorragia: caracterizado por dor e sensibilidade unilaterais e uma massa anexial. O mecanismo pelo qual as massas ovarianas resultam em dismenorreia não está bem elucidado e pode ser decorrente de uma dor de início agudo por causa de torção, ruptura ou hemorragia.

  • Torção ovariana: algumas vezes, é acompanhada por um quadro ovariano com sintomas similares aos de um cisto ovariano hemorrágico. No entanto, comumente apresenta um início agudo e é improvável que cause dismenorreia de longa duração.

  • Anomalias obstrutivas do ducto paramesonéfrico: manifestando-se como dor cíclica logo após a menarca e, na presença de hematometra (sangue aprisionado na cavidade endometrial), uma massa pélvica emergente.

  • Estenose do colo do útero: ocorre caracteristicamente em pacientes pós-cirúrgicas, com a dor exacerbada pela coleção de líquido na cavidade uterina. Essa coleção pode ser visível por ultrassonografia pélvica.

Outras causas incomuns de dismenorreia secundária incluem a síndrome de Asherman, a síndrome da congestão pélvica e outras anomalias uterinas congênitas. Os dispositivos contraceptivos intrauterinos podem estar associados à dismenorreia, que é um motivo comumente relatado para a descontinuação.[34] No entanto, os dispositivos contendo levonorgestrel estão associados a uma redução na dismenorreia primária e podem ser usados no tratamento de doenças como a endometriose.[35] Pólipos intrauterinos e miomas submucosos também podem causar dor, mas estão mais frequentemente associados a sangramento anormal.

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