Considerações de urgência
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Os sintomas de alerta que podem exigir tratamento urgente incluem letargia, febre, depleção de volume, perda de peso, vômitos biliosos, hematêmese, papiledema, desconforto abdominal e/ou a presença de uma massa.
As crianças têm risco elevado de depleção de volume e devem ser avaliadas especificamente para essa afecção quando há história de vômitos, diarreia ou ingestão oral insuficiente. Os sinais de depleção de volume incluem fontanela anterior deprimida (em bebês), olhos encovados, mucosas secas, saliva viscosa, perda de turgor cutâneo e enchimento capilar lento. A administração de fluidos por via oral ou nasogástrica deve ser iniciada para evitar o choque. Se isso não for possível, ou se a criança não apresentar resposta clínica, é necessária hidratação intravenosa.
Em geral os antieméticos não são recomendados, especialmente se a causa dos vômitos for desconhecida, nos bebês ou nos pacientes com suspeita de obstrução ou de pressão intracraniana aumentada. Eles podem ser úteis nos pacientes com gastroenterite, para ajudar a diminuir a perda de líquido.
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Os efeitos adversos dos antieméticos incluem sedação e sintomas neurológicos.
Neonatos
Má rotação intestinal:
Deve-se suspeitar nos recém-nascidos com vômitos biliosos.
O paciente pode necessitar de séries gastrointestinais altas e cirurgia.
O procedimento de Ladd pode ser indicado para evitar volvo do intestino médio e necrose intestinal.
Doença de Hirschsprung:
Deve-se suspeitar em um neonato que não elimine o mecônio até 48 horas após o nascimento e que apresente vômitos biliosos, diarreia explosiva ou distensão abdominal.
O tratamento inicial é a irrigação intestinal, seguida por tratamento cirúrgico definitivo.
Distúrbios metabólicos:
Deve-se suspeitar nos bebês com letargia, hepatomegalia e ausência de febre.
Medidas de eletrólitos, pH venoso, nível glicêmico, nível de amônia e testes da função hepática (TFHs) devem ser realizadas.
O paciente pode necessitar de internação hospitalar devido à descompensação metabólica.
Bebês ou lactentes
Intussuscepção:
Deve-se suspeitar em bebês ou lactentes com cólicas, dor abdominal intermitente, letargia e fezes sanguinolentas.
O paciente deve ser encaminhado a um pronto-socorro para avaliação.
Deve ser realizada uma ultrassonografia abdominal e possível redução hidráulica ou pneumática.
Retardo do crescimento pôndero-estatural:
Deve-se suspeitar de enteropatia, alergia à proteína do leite e insuficiência pancreática nos bebês com baixo ganho de peso e diarreia.
Pode haver indicação de encaminhamento para estudos da função pancreática e, possivelmente, endoscopia.
Ingestão de produtos tóxicos:
Deve-se suspeitar nos bebês ou lactentes com letargia, convulsões e ataxia. O acesso a medicamentos ou toxinas deve ser questionado.
O paciente deve ser encaminhado a um pronto-socorro para avaliação.
Medidas de eletrólitos, gases no sangue, urina e exame de substâncias tóxicas no sangue devem ser realizados.
Síndrome hemolítico-urêmica:
Deve-se considerar nas crianças com dor abdominal, diarreia hemorrágica e ausência de febre. Caracterizada por anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e nefropatia.
Se houver suspeita, o paciente deve ser hospitalizado. Inicialmente, devem ser solicitados um hemograma completo (HC), esfregaço de sangue periférico e teste de função renal.
O tratamento é principalmente de suporte.
Crianças maiores ou adolescentes
Nefrolitíase:
Deve-se suspeitar nas crianças com dor abdominal/dorsalgia e hematúria.
Exames de imagem adequados incluem ultrassonografia abdominal e, possivelmente, uma urotomografia computadorizada (TC).
Icterícia:
Deve-se suspeitar de hepatite nas crianças ou nos adolescentes com icterícia e dor abdominal.
Ultrassonografia abdominal, testes da função hepática e painel de vírus de hepatite (incluindo o vírus Epstein-Barr) são os exames iniciais mais apropriados.
Constipação/impactação fecal:
Deve-se suspeitar nos lactentes e nas crianças maiores com distensão abdominal, encoprese e presença de massa no abdome.
O exame retal pode ser considerado nos casos difíceis ou atípicos, mas há poucas evidências que sustentem seu uso no diagnóstico de uma constipação funcional.[57][58] O exame retal só deve ser realizado por profissionais da saúde competentes para interpretar características de anormalidades anatômicas ou da doença de Hirschsprung.[59]
A radiografia abdominal pode servir como adjuvante ao diagnóstico, ou como alternativa ao exame retal.[58][60]
Úlcera péptica:
Deve-se suspeitar nas crianças e nos adolescentes com dor abdominal epigástrica, melena ou hematêmese.
Pode ser necessário encaminhamento para endoscopia digestiva alta e início de terapia de supressão ácida.
Torção gonadal:
Deve ser considerada nos meninos com aparecimento agudo de dor testicular/escrotal (torção testicular) e nas meninas com dor abdominal inferior aguda e intensa e massa anexial palpável (torção ovariana).
É considerada uma emergência cirúrgica. Um alto índice de suspeita é importante para assegurar o diagnóstico e tratamento oportunos.
Todas as faixas etárias
Meningite:
Deve-se suspeitar nos bebês com letargia, febre e fontanela tensa, ou nas crianças e nos adolescentes com cefaleia, febre e rigidez da nuca.
Os pacientes necessitam de hospitalização urgente e de investigação com culturas de sangue, urina e líquido cefalorraquidiano.
Antibióticos devem ser administrados imediatamente para evitar sequelas neurológicas.
Pneumonia:
Deve-se considerar nos pacientes que apresentem febre, tosse, dispneia, dor torácica, estertores à ausculta ou sinais de desconforto respiratório.
Devem ser solicitadas radiografia torácica e culturas de sangue e da expectoração.
A antibioticoterapia empírica deve ser iniciada o mais rápido possível. Se o paciente será tratado em ambulatório ou se será hospitalizado dependerá de fatores específicos (por exemplo, gravidade dos sintomas, presença de comorbidades, probabilidade de resistência ao medicamento).
Aumento da pressão intracraniana:
Deve-se suspeitar nos pacientes com cefaleia e vômitos pela manhã, acompanhados ou não de papiledema e ataxia.
Indica-se um exame de TC ou ressonância nuclear magnética (RNM) cranioencefálica imediata para ajudar a determinar a etiologia (p. ex., tumor cerebral, pseudotumor cerebral [hipertensão intracraniana benigna], hidrocefalia, infecção, concussão ou mau funcionamento da derivação ventriculoperitoneal).
Abdome agudo:
O diagnóstico diferencial inclui apendicite, intussuscepção, volvo intestinal, pancreatite e cálculo renal.
Se houver suspeita, deve ser solicitada uma TC de abdome/pelve. Em caso de forte suspeita de cálculos renais, obter previamente TC sem contraste.
Linfoma do intestino delgado:
Deve-se suspeitar nos pacientes com dor abdominal, diarreia, perda de peso, febre, presença de massa ou organomegalia.
Uma TC ou RNM do abdome deve ser solicitada para confirmar a presença de massa ou obstrução.
Se houver obstrução, é considerada uma emergência cirúrgica.
Doença eosinofílica:
Deve-se suspeitar nos pacientes com disfagia, sufocamento, impactação alimentar, rinite ou asma (esofagite eosinofílica), ou nos pacientes com diarreia, hematoquezia ou retardo do crescimento pôndero-estatural (gastroenterite eosinofílica).
A eosinofilia periférica é observada no hemograma completo.
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