História
História da queixa inicial
A identificação de uma história concomitante de infecção, menstruação, atividade sexual recente ou exercícios evitará uma investigação extensiva. Geralmente, a hematúria devida a exercícios intensos se resolve em poucas horas.[22]Jones GR, Newhouse IJ, Jakobi JM, et al. The incidence of hematuria in middle distance track running. Can J Appl Physiol. 2001;26:336-349.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11487707?tool=bestpractice.com
A presença de disúria, urgência, polaciúria e pressão ou dor suprapúbica pode indicar infecção do trato urinário (ITU), cistite ou prostatite. Vômitos, calafrios e dor lombar podem ocorrer na pielonefrite.
Dor no flanco, que pode irradiar para a virilha ou os testículos, pode indicar nefrolitíase.
Pode ocorrer dor suprapúbica, perineal ou sacral na prostatite aguda.
Sintomas de obstrução do fluxo urinário, como dificuldade em urinar, alterações no volume de urina, noctúria e gotejamento no final podem indicar hipertrofia prostática benigna (HPB).
Sintomas constitucionais como perda de peso, inapetência, febre e mal-estar podem ocorrer em pacientes com câncer urotelial (antes denominado carcinoma de células transicionais).
Faringite, edema, erupção cutânea, artralgia, urina escura e oligúria podem ocorrer na glomerulonefrite aguda.
História médica pregressa
Infecção por estreptococos recente (pode desencadear glomerulonefrite)
Podem ocorrer ITUs recorrentes em pacientes com anormalidades anatômicas no trato urinário (por exemplo, divertículo vesical, nefrolitíase) ou anormalidades funcionais do trato urinário (por exemplo, refluxo vesicoureteral).
Nefrolitíase: após a primeira nefrolitíase, o risco de recorrência é de 40% por 5 anos e 75% por 20 anos[23]Worcester EM, Coe FL. Clinical practice. Calcium kidney stones. N Engl J Med. 2010 Sep 2;363(10):954-63.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3192488
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20818905?tool=bestpractice.com
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) pode ser complicado pela nefrite lúpica
Instrumentação recente do trato urinário.
História familiar
Doença renal policística
Doenças glomerulares
Carcinoma de células renais: história familiar de câncer renal aumenta o risco em 2.8 a 4.3 vezes[24]Ricketts C, Woodward ER, Killick P, et al. Germline SDHB mutations and familial renal cell carcinoma. J Natl Cancer Inst. 2008 Sep 3;100(17):1260-2.
https://academic.oup.com/jnci/article/100/17/1260/906270
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18728283?tool=bestpractice.com
Câncer de próstata: um grande estudo de controle de caso mostrou um risco 2 vezes mais elevado de câncer de próstata em homens com história familiar em um único parente de primeiro grau, um risco 5 vezes maior em caso de dois parentes afetados e um risco relativo de 10.9 em caso de três parentes de primeiro grau com câncer de próstata[25]Steinberg GD, Carter BS, Beaty TH, et al. Family history and the risk of prostate cancer. Prostate. 1990;17(4):337-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2251225?tool=bestpractice.com
Anemia falciforme
Distúrbios da coagulação (a hipercoagulabilidade aumenta o risco de trombose venosa renal)
Síndrome de Alport.
História de medicamentos
O uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) pode causar necrose papilar.
O uso de anticoagulantes não deve impedir a investigação de HM.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
A anticoagulação não predispõe os pacientes à hematúria, e a doença do trato urinário está presente na maioria dos pacientes anticoagulados com hematúria.[26]Culclasure TF, Bray VJ, Hasbargen JA. The significance of hematuria in the anticoagulated patient. Arch Intern Med. 1994 Mar 28;154(6):649-52.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8129498?tool=bestpractice.com
Um estudo de caso-controle constatou que a exposição a determinados antibióticos (sulfas, cefalosporina, fluoroquinolona, nitrofurantoína e penicilina de amplo espectro) nos 3-12 meses anteriores aumentou a probabilidade de nefrolitíase.[27]Tasian GE, Jemielita T, Goldfarb DS, et al. Oral antibiotic exposure and kidney stone disease. J Am Soc Nephrol. 2018 Jun;29(6):1731-40.
https://jasn.asnjournals.org/content/29/6/1731.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29748329?tool=bestpractice.com
História social
Exposições ocupacionais, exceto as que são conhecidas por nefrotoxinas ambientais, podem causar HM.[28]Gun RT, Seymour AE, Mathew TH. A cluster of haematuria cases in a pesticide-manufacturing plant. Occup Med. 1998;48:59-62.
http://occmed.oxfordjournals.org/cgi/reprint/48/1/59
Fatores de risco para câncer do trato urinário
Idade: incomum antes dos 35 anos de idade;[29]Alishahi S, Byrne D, Goodman CM, et al. Haematuria investigation based on a standard protocol: emphasis on the diagnosis of urological malignancy. J R Coll Surg Edinb. 2002;47:422-427.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11874263?tool=bestpractice.com
[30]Froom P, Ribak J, Benbassat J. Significance of microhaematuria in young adults. BMJ. 1984;288:20-22.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1444134/pdf/bmjcred00482-0026.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6418299?tool=bestpractice.com
[31]Topham PS, Jethwa A, Watkins M, et al. The value of urine screening in a young adult population. Fam Pract. 2004;21:18-21.
http://fampra.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/1/18
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14760038?tool=bestpractice.com
o risco aumenta com o avanço da idade a partir dos 35 anos.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
[14]Messing EM, Madeb R, Young T, et al. Long-term outcome of hematuria home screening for bladder cancer in men. Cancer. 2006;107:2173-2179.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/cncr.22224/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17029275?tool=bestpractice.com
[30]Froom P, Ribak J, Benbassat J. Significance of microhaematuria in young adults. BMJ. 1984;288:20-22.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1444134/pdf/bmjcred00482-0026.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6418299?tool=bestpractice.com
A incidência abaixo dos 40 anos é de 1% a 2.4%.[32]Paner GP, Zehnder P, Amin AM, et al. Urothelial neoplasms of the urinary bladder occurring in young adult and pediatric patients: a comprehensive review of literature with implications for patient management. Adv Anat Pathol. 2011;18:79-89.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21169741?tool=bestpractice.com
Tabagismo
Medicamentos: quimioterapia com ciclofosfamida ou ifosfamida; ácido aristolóquico em algumas preparações fitoterápicas para perda de peso[8]Cohen RA, Brown RS. Microscopic hematuria. N Engl J Med. 2003;348:2330-2338.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12788998?tool=bestpractice.com
História médica pregressa: exposição à radiação
Exposição ocupacional: corantes, benzenos, aminas aromáticas.
Obesidade e hipertensão são fatores de risco para carcinoma de células renais.[12]Escudier B, Porta C, Schmidinger M, et al. Renal cell carcinoma: ESMO clinical practice guidelines for diagnosis, treatment and follow-up. Ann Oncol. 2019 May 1;30(5):706-20.
https://www.esmo.org/guidelines/genitourinary-cancers/renal-cell-carcinoma
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30788497?tool=bestpractice.com
Exame
O exame físico precisa incluir uma pesquisa por doenças diretamente relacionadas ao trato urinário, bem como outras doenças sistêmicas.[33]Linder BJ, Bass EJ, Mostafid H, et al. Guideline of guidelines: asymptomatic microscopic haematuria. BJU Int. 2018 Feb;121(2):176-83.
https://bjui-journals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/bju.14016
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28921833?tool=bestpractice.com
Por exemplo, a pressão arterial pode ser elevada em decorrência de doenças do trato superior glomerular, e petéquias, hematomas ou linfadenopatia podem sinalizar doenças hemorrágicas ou cânceres de células sanguíneas.
Exame do abdome e dos órgãos genitais externos também pode revelar uma fonte para HM. Nos homens, um exame de toque retal irá identificar hiperplasia prostática benigna (HPB), podendo revelar um câncer de próstata em potencial.
Assim como uma história detalhada, o exame físico pode eliminar a necessidade de uma extensa avaliação se uma fonte óbvia for identificada.
Exames laboratoriais básicos
Os exames laboratoriais iniciais devem avaliar doenças sistêmicas em cenários clínicos apropriados e incluem estudos de coagulação, velocidade de hemossedimentação, creatinina e proteína C-reativa. Uma cultura de urina confirmará a infecção do trato urinário (ITU), caso haja suspeita. O exame do antígeno prostático específico auxilia na identificação da próstata como fonte para a HM.
Microscopia de urina
Antes de qualquer investigação, a presença de hematúria deve ser confirmada pela microscopia de urina.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
[8]Cohen RA, Brown RS. Microscopic hematuria. N Engl J Med. 2003;348:2330-2338.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12788998?tool=bestpractice.com
O teste da tira reagente (dipstick) de urina é altamente sensível ao sangue, mas não tem especificidade.[8]Cohen RA, Brown RS. Microscopic hematuria. N Engl J Med. 2003;348:2330-2338.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12788998?tool=bestpractice.com
[34]Rodgers M, Nixon J, Hempel S, et al. Diagnostic tests and algorithms used in the investigation of haematuria: systematic reviews and economic evaluation. Health Technol Assess. 2006;10:1-259.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16729917?tool=bestpractice.com
Falso-positivos ocorrem em decorrência de iodopovidona, mioglobina, hemoglobina livre, soluções de hipoclorito, agentes oxidantes e altos níveis de ácido ascórbico.[4]Tomson C, Porter T. Asymptomatic microscopic or dipstick haematuria in adults: which investigations for which patients? A review of the evidence. BJU Int. 2002;90:185-198.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12133052?tool=bestpractice.com
Há um consenso de que ≥3 eritrócitos por campo de grande aumento em dois de três espécimes urinários centrifugados indica hematúria microscópica.[18]Nielsen M, Qaseem A; High Value Care Task Force of the American College of Physicians. Hematuria as a marker of occult urinary tract cancer: advice for high-value care from the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2016;164:488-497.
http://annals.org/article.aspx?articleid=2484287
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26810935?tool=bestpractice.com
Uma nova microscopia deve ser considerada em pacientes cuja tira reagente para exame de urina é positiva para sangue, mas cuja microscopia de urina é negativa, levando em consideração a preferência do paciente e o risco de neoplasia maligna.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
A microscopia deve examinar amostra de urina de jato médio recém-eliminada, imediatamente após o teste da tira reagente (dipstick) se ele for realizado.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
[34]Rodgers M, Nixon J, Hempel S, et al. Diagnostic tests and algorithms used in the investigation of haematuria: systematic reviews and economic evaluation. Health Technol Assess. 2006;10:1-259.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16729917?tool=bestpractice.com
O tempo até a análise da amostra afeta a integridade dos eritrócitos: a contagem de eritrócitos cai de 5% a 9% após 5 horas e de 29% a 35% após 7 horas.[35]Kouri T, Malminiemi O, Penders J, et al. Limits of preservation of samples for urine strip tests and particle counting. Clin Chem Lab Med. 2008;46(5):703-13.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18839472?tool=bestpractice.com
A microscopia confirma a HM, mas também pode direcionar para investigação adicional por meio da identificação de eritrócitos e cilindros eritrocitários dismórficos, o que sugere uma fonte de sangramento no trato superior glomerular.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
[34]Rodgers M, Nixon J, Hempel S, et al. Diagnostic tests and algorithms used in the investigation of haematuria: systematic reviews and economic evaluation. Health Technol Assess. 2006;10:1-259.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16729917?tool=bestpractice.com
Proteína na urina
A presença concomitante de proteinúria e HM é altamente sugestiva de uma fonte no trato superior glomerular.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
[4]Tomson C, Porter T. Asymptomatic microscopic or dipstick haematuria in adults: which investigations for which patients? A review of the evidence. BJU Int. 2002;90:185-198.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12133052?tool=bestpractice.com
[20]Shen P, Ding X, Ten J, et al. Clinicopathological characteristics and outcome of adult patients with hematuria and/or proteinuria found during routine examination. Nephron Clin Pract. 2006;103:c149-56.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16636583?tool=bestpractice.com
[36]Yamagata K, Takahashi H, Tomida C, et al. Prognosis of asymptomatic hematuria and/or proteinuria in men. High prevalence of IgA nephropathy among proteinuria patients found in mass screening. Nephron. 2002;91:34-42.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12021517?tool=bestpractice.com
[37]Hall CL, Bradley R, Kerr A, et al. Clinical value of renal biopsy in patients with asymptomatic microscopic hematuria with and without low-grade proteinuria. Clin Nephrol. 2004;62:267-272.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15524056?tool=bestpractice.com
Uma relação proteína/creatinina na urina ≥0.3 ou uma relação albumina/proteína total na urina ≥0.59 sugere doença parenquimatosa renal.[8]Cohen RA, Brown RS. Microscopic hematuria. N Engl J Med. 2003;348:2330-2338.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12788998?tool=bestpractice.com
[19]Ohisa N, Kanemitsu K, Matsuki R, et al. Evaluation of hematuria using the urinary albumin-to-total-protein ratio to differentiate glomerular and nonglomerular bleeding. Clin Exp Nephrol. 2007;11:61-65.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17385000?tool=bestpractice.com
Esta última proporção tem uma sensibilidade de 97% para distinguir sangramento glomerular de não glomerular. Uma consulta com um nefrologista é justificada, e as decisões quanto à biópsia renal devem ser orientadas por esse especialista, pois, na maioria dos pacientes com HM, a biópsia renal não altera as decisões de manejo.[4]Tomson C, Porter T. Asymptomatic microscopic or dipstick haematuria in adults: which investigations for which patients? A review of the evidence. BJU Int. 2002;90:185-198.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12133052?tool=bestpractice.com
[38]McGregor DO, Lynn KL, Bailey RR, et al. Clinical audit of the use of renal biopsy in the management of isolated microscopic hematuria. Clin Nephrol. 1998;49:345-348.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9696429?tool=bestpractice.com
Além disso, a biópsia renal é desnecessária se proteinúria não coexistir com hematúria.[8]Cohen RA, Brown RS. Microscopic hematuria. N Engl J Med. 2003;348:2330-2338.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12788998?tool=bestpractice.com
Estratificação de risco
As diretrizes da American Urological Association recomendam classificar os pacientes em 3 categorias de risco: baixo, médio e alto.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Os pacientes de baixo risco atendem a todos os seguintes critérios:
Mulheres <50 anos, homens <40 anos
Nunca fumou ou <10 maços-ano
3-10 eritrócitos por campo de grande aumento em uma única microscopia de urina
Nenhum fator de risco para câncer urotelial (os fatores de risco incluem: micro-hematúria persistente, hematúria visível).
Os pacientes de risco intermediário atendem a um dos seguintes critérios:
Mulheres 50-59 anos, homens 40-59 anos
História de tabagismo de 10-30 maços-ano
11-25 eritrócitos por campo de grande aumento em uma única microscopia de urina
Pacientes de baixo risco sem avaliação prévia e 3-10 eritrócitos por campo de grande aumento em nova microscopia de urina
Fatores de risco adicionais para câncer urotelial (os fatores de risco adicionais incluem: sintomas irritantes do trato urinário inferior, radioterapia pélvica prévia, quimioterapia prévia com ciclofosfamida/ifosfamida, história familiar de câncer urotelial, história familiar de síndrome de Lynch, exposição ocupacional a aminas aromáticas ou químicos de benzeno, corpo estranho crônico permanente no trato urinário).
Os pacientes de alto risco são definidos como:
Mulheres e homens ≥60 anos
história de tabagismo de >30 maços-ano
>25 eritrócitos por campo de grande aumento em uma única microscopia de urina
História de hematúria visível.
Exames por imagem
As diretrizes da American Urological Association recomendam exames de imagem adicionais de acordo com o risco de câncer urológico.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Para pacientes de baixo risco, a microscopia de urina pode ser repetida após 6 meses, ou o trato urinário pode ser investigado com ultrassonografia renal e cistoscopia. Se a HM persistir no novo exame, o paciente passa a ser classificado como de risco intermediário ou alto. Deve-se oferecer ultrassonografia renal e cistoscopia aos pacientes de risco intermediário. Aos pacientes de alto risco, deve-se oferecer exame de imagem renal axial, de preferência com urografia por tomografia computadorizada (TC) multifásica, e cistoscopia.
A repetição da urinálise em até 12 meses deve ser considerada para pacientes cuja investigação tem resultado negativo. Uma nova urinálise positiva deve justificar a tomada de decisão compartilhada em relação a repetir a avaliação ou observar.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Ultrassonografia
A investigação inicial com ultrassonografia para pacientes com risco intermediário de neoplasia maligna é recomendada para reduzir a exposição à radiação ionizante em uma população com baixa incidência de carcinoma urotelial ou de células renais.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Um modelo estimou 575 cânceres induzidos por radiação em um estudo de coorte realizado com 100,000 pacientes ≥35 anos investigados com urografia por TC para hematúria.[39]Georgieva MV, Wheeler SB, Erim D, et al. Comparison of the harms, advantages, and costs associated with alternative guidelines for the evaluation of hematuria. JAMA Intern Med. 2019;179(10):1352-62.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31355874?tool=bestpractice.com
A ultrassonografia renal e vesical tem sensibilidade de 85.7% e valor preditivo negativo de 99.9% para detectar carcinoma de células renais, e uma sensibilidade de 14.3% e valor preditivo negativo de 99.7% para detectar carcinoma urotelial do trato superior em pacientes com hematúria.[40]Tan WS, Sarpong R, Khetrapal P, et al. Can renal and bladder ultrasound replace computerized tomography urogram in patients investigated for microscopic hematuria? J Urol. 2018 Nov;200(5):973-80.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29702097?tool=bestpractice.com
O American College of Radiology recomenda que a ultrassonografia dos rins, da bexiga e do retroperitônio seja a investigação de primeira linha para pacientes com hematúria provavelmente causada por doença parenquimatosa. A ultrassonografia pode avaliar o comprimento dos rins, a ecogenicidade e a espessura cortical e parenquimatosa, fornecendo informações úteis sobre a evolução da doença. A ecogenicidade na ultrassonografia está relacionada a alterações histológicas da glomerulonefrite.[41]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: hematuria. 2019 [internet publication].
https://acsearch.acr.org/docs/69490/Narrative
Urografia por tomografia computadorizada (TC) multifásica
A urografia por tomografia computadorizada (TC) multifásica, com e sem contraste, tem a maior sensibilidade e especificidade para detectar lesões no parênquima renal e no trato urinário superior, com a maioria dos estudos apresentando valores de 90% ou mais.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Seu uso substituiu o urograma intravenoso (UIV).
Há quatro fases diferentes da urografia por TC multifásica:
Pré-realce, antes de administrar o contraste intravenoso, para estabelecer a densidade do tecido e identificar cálculos e hematomas
Arterial, para identificar áreas de neovascularidade
Corticomedular, para avaliar alterações no parênquima renal
Excretora, para avaliar o sistema coletor, ureteres e bexiga.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Técnicas de imagem alternativas
A urografia por ressonância nuclear magnética (RNM) é uma alternativa à urografia por TC multifásica para pacientes com insuficiência renal, alergia ao contraste iodado, gravidez ou outras contraindicações à urografia por TC. Comparada à TC, a urografia por RNM é menos específica para calcificações ou cálculos pequenos.[41]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: hematuria. 2019 [internet publication].
https://acsearch.acr.org/docs/69490/Narrative
Caso a urografia por TC ou RNM não esteja disponível, a TC sem contraste ou a ultrassonografia renal pode ser combinada com a pielografia retrógrada para avaliar o córtex renal e o urotélio, respectivamente.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
A TC sem contraste é a investigação de primeira escolha para suspeita de nefrolitíase.
Cistoscopia
A cistoscopia é recomendada como padrão na avaliação de pacientes com risco médio ou alto para neoplasia maligna.[1]Barocas DA, Boorjian SA, Alvarez RD, et al. Microhematuria: AUA/SUFU Guideline. J Urol. 2020 Oct;204(4):778-86.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000001297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32698717?tool=bestpractice.com
Quando uma neoplasia maligna urológica é detectada durante a avaliação da HM, normalmente é câncer de bexiga.
A cistoscopia tem sensibilidade de 98% para o diagnóstico de câncer de bexiga.[42]Blick CG, Nazir SA, Mallett S, et al. Evaluation of diagnostic strategies for bladder cancer using computed tomography (CT) urography, flexible cystoscopy and voided urine cytology: results for 778 patients from a hospital haematuria clinic. BJU Int. 2012 Jul;110(1):84-94.
https://www.doi.org/10.1111/j.1464-410X.2011.10664.x
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22122739?tool=bestpractice.com
A cistoscopia também pode identificar outras causas do trato urinário inferior da HM, por exemplo, estenose uretral, divertículo vesical ou uretral e hipertrofia prostática benigna.
cistoscopia virtual por TC
Um exame não invasivo promissor na avaliação da hematúria. Em pequenos estudos prospectivos e retrospectivos, a cistoscopia virtual por TC demonstrou alta sensibilidade para a detecção de tumores na bexiga.[43]Abrol S, Jairath A, Ganpule S, et al. Can CT virtual cystoscopy replace conventional cystoscopy in early detection of bladder cancer? Adv Urol. 2015;2015:926590.
https://www.doi.org/10.1155/2015/926590
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26600802?tool=bestpractice.com
[44]Ibáñez Muñoz D, Quintana Martínez I, Fernández Militino A, et al. Virtual cystoscopy, computed tomography urography and optical cystoscopy for the detection and follow-up for bladder cancer. [in spa]. Radiologia. 2017 Sep - Oct;59(5):422-30.
https://www.doi.org/10.1016/j.rx.2017.04.003
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28501271?tool=bestpractice.com
A cistoscopia virtual por TC também pode ser usada para detectar litíase vesical, divertículos e papilomas.