A definição exata de disfagia varia, mas, em resumo, disfagia é a dificuldade no ato de deglutir alimentos sólidos ou líquidos. Ela pode ser subjetiva ou objetiva e pode estar relacionada à sensação de incapacidade de deglutição, alimento "preso" ou que não desce, episódios de sufocamento ou aspiração de alimento e/ou líquidos. Ela deve ser diferenciada de odinofagia (dor na deglutição) e da sensação de globus (sensação de nó na garganta entre as refeições). A disfagia pode ser causada por anormalidades funcionais ou estruturais da cavidade oral, da faringe, do esôfago ou da cárdia gástrica.[1]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: dysphagia. 2018 [internet publication].
https://acsearch.acr.org/docs/69471/Narrative
Uma em cada 17 pessoas desenvolverá disfagia ao longo da vida.[2]World Gastroenterology Organisation. WGO practice guideline - dysphagia. Sep 2014 [internet publication].
http://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/dysphagia
Há relatos de que a doença ocorra em 13% da população geral acima de 65 anos.[3]Turley R, Cohen S. Impact of voice and swallowing problems in the elderly. Otolaryngol Head Neck Surg. 2009 Jan;140(1):33-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19130958?tool=bestpractice.com
No entanto, foram relatadas taxas de 50% ou mais em idosos que vivem com cuidados domiciliares.[4]Bloem B, Lagaay A, van Beek W, et al. Prevalence of subjective dysphagia in community residents aged over 87. Br Med J. 1990 Mar 17;300(6726):721-2.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1662500/pdf/bmj00170-0035.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2322725?tool=bestpractice.com
[5]Siebens H, Trupe E, Siebens A, et al. Correlates and consequences of eating dependency in institutionalized elderly. J Am Geriatr Soc. 1986 Mar;34(3):192-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3950287?tool=bestpractice.com
[6]Lin LC, Wu SC, Chen HS, et al. Prevalence of impaired swallowing in institutionalized older people in Taiwan. J Am Geriatr Soc. 2002 Jun;50(6):1118-23.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12110075?tool=bestpractice.com
A disfagia afeta de 40% a 70% dos indivíduos após um AVC.[2]World Gastroenterology Organisation. WGO practice guideline - dysphagia. Sep 2014 [internet publication].
http://www.worldgastroenterology.org/guidelines/global-guidelines/dysphagia
A disfagia é relatada à apresentação inicial em até 28% dos pacientes com neoplasias de cabeça e pescoço, e em até 50% dos pacientes com câncer faríngeo.[7]Kuhn MA, Gillespie MB, Ishman SL, et al. Expert consensus statement: management of dysphagia in head and neck cancer patients. Otolaryngol Head Neck Surg. 2023 Apr;168(4):571-92.
https://aao-hnsfjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ohn.302
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36965195?tool=bestpractice.com
[8]Dysphagia Section, Oral Care Study Group, Multinational Association of Supportive Care in Cancer (MASCC)/International Society of Oral Oncology (ISOO); Raber-Durlacher JE, Brennan MT, et al. Swallowing dysfunction in cancer patients. Support Care Cancer. 2012 Mar;20(3):433-43.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3271214
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22205548?tool=bestpractice.com
Ela também é um efeito adverso crônico e agudo do tratamento para neoplasias de cabeça e pescoço.[7]Kuhn MA, Gillespie MB, Ishman SL, et al. Expert consensus statement: management of dysphagia in head and neck cancer patients. Otolaryngol Head Neck Surg. 2023 Apr;168(4):571-92.
https://aao-hnsfjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ohn.302
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36965195?tool=bestpractice.com
A disfagia pode ser tratada por várias especialidades ou idealmente por uma equipe multidisciplinar. A base dessa equipe inclui o médico de atenção primária do paciente, otorrinolaringologistas, terapeutas da fala e da deglutição, gastroenterologistas e radiologistas. Além disso, neurologistas, nutricionistas, oncologistas, cirurgiões gerais e cirurgiões torácicos estão frequentemente envolvidos nos cuidados do paciente.
A deglutição e, consequentemente, a dificuldade de deglutição podem ser divididas anatômica e fisiologicamente de modo simples em três partes distintas: a fase oral, a fase faríngea e a fase esofágica.
A fase oral (às vezes chamada de fase preparatória) é a fase voluntária que ocorre na cavidade oral. A mastigação com lubrificação salivar e o movimento da língua preparam o bolo para ser impulsionado posteriormente para dentro da faringe.
A fase faríngea transfere involuntariamente o bolo alimentar e/ou o líquido da boca para o esôfago. As suas contrações coordenadas não são somente necessárias para empurrar o bolo, mas também são cruciais para a proteção da laringe e das vias aéreas superiores da aspiração de material para as vias aéreas e o pulmão.
A fase esofágica é a fase involuntária que utiliza o peristaltismo para impulsionar o bolo alimentar/líquido pelo esôfago para dentro do estômago. O esôfago é limitado pelos esfíncteres superior e inferior (o superior é formado pelo músculo cricofaríngeo), evitando a regurgitação de fluxo retrógrado do conteúdo do estômago para o esôfago.