Etiologia

Hipertensão primária

Trata-se da situação mais comum, quando nenhuma causa subjacente é encontrada para justificar a pressão arterial aumentada. É conhecida também como hipertensão essencial. Sugere-se base genética.[22] As influências do estilo de vida, como a obesidade, o sedentarismo, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e a ingestão elevada de sódio, também são vistas como gatilhos para o desenvolvimento da hipertensão essencial.[20][23][24][25][26]

Hipertensão secundária

Em uma minoria de casos, é possível encontrar uma causa subjacente, frequentemente reversível. Isso pode ser suspeitado em pacientes mais jovens (<40 anos de idade), quando a pressão arterial é resistente a medicamentos de primeira linha, ou se uma hipertensão previamente bem controlada se tornar subitamente de difícil manejo, sem nenhuma alteração na adesão à medicação.

Vascular

  • Um das causas secundárias mais comuns da hipertensão é a estenose da artéria renal. Isso pode ser inteiramente assintomático, mas, se o controle da hipertensão for difícil e se o paciente for jovem, a estenose da artéria renal deverá ser excluída. A estenose deve-se, geralmente, à displasia fibromuscular ou à aterosclerose, mas outras causas incluem a compressão extrínseca da artéria por um tumor adjacente ou por um aneurisma proximal da artéria renal.

  • A coarctação da aorta é uma estenose congênita da aorta. Quando presente em adultos com hipertensão, essa estenose geralmente é distal ao ligamentum arteriosum (ligamento arterial), embora a coarctação possa ocorrer antes ou no local da inserção do ligamento. Geralmente, existe hipertensão nos membros superiores, mas pulsos fracos ou inexistentes nos membros inferiores. Essa combinação de sinais aumenta a suspeita de uma coarctação no exame clínico.

  • A pré-eclâmpsia é uma síndrome de hipertensão com proteinúria em gestantes. Sua causa exata é desconhecida, mas acredita-se que a placenta seja um dos fatores desencadeadores, talvez em resposta à hipóxia, que afeta o endotélio vascular em mulheres susceptíveis. Ela também pode ocorrer até 2 meses após o parto. Mulheres com hipertensão, diabetes ou doença autoimune preexistente são consideradas de alto risco para evoluir para pré-eclâmpsia.

Renal

  • Doença renal crônica: uma diminuição na taxa de filtração glomerular estimula os rins a elevarem a produção de renina para aumentar a pressão arterial e a perfusão renal. A sobrecarga hídrica também contribui quando os rins não conseguem excretar os volumes necessários para a homeostase. Esses dois mecanismos podem levar à hipertensão.

  • Síndrome nefrótica: uma síndrome de proteinúria, hipoalbuminemia e edema causada por danos na capacidade de filtragem dos glomérulos renais. A hipertensão nessa situação não é comum, mas pode ocorrer em razão da retenção de sal e água e da sobrecarga hídrica. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) constituem o agente de primeira escolha para o controle da pressão arterial com síndrome nefrótica, pois também podem reduzir a proteinúria.

  • Glomerulonefrite: condição caracterizada pela inflamação dos glomérulos. A hipertensão é a principal característica dessa síndrome, via mecanismos similares àqueles na insuficiência renal crônica.

  • Uropatia obstrutiva: pode produzir hidronefrose, e a pressão dorsal sobre os rins pode resultar em insuficiência renal e em pressão arterial elevada através de mecanismos similares.

  • Rins policísticos: a hipertensão é um sintoma comum e geralmente é evidente antes das anormalidades da função renal. A hipertensão com doença renal policística pode se manifestar em jovens (de 20 a 34 anos) e está associada a uma alta incidência de hipertrofia ventricular esquerda.

Endócrina

  • Feocromocitoma: trata-se de um tumor neuroendócrino das glândulas adrenais A hipertensão resulta da secreção excessiva de adrenalina e de noradrenalina. Também pode ocorrer como parte da síndrome da neoplasia endócrina múltipla. Os pacientes podem apresentar hipertensão maligna ou hipertensão resistente à terapia farmacológica usual.[27]

  • Hiperaldosteronismo: a produção excessiva de aldosterona pelas glândulas adrenais resulta na retenção de sódio e água e na excreção de potássio. A produção excessiva de aldosterona geralmente advém de um adenoma adrenal solitário (síndrome de Conn), mas o hiperaldosteronismo e a consequente hipertensão também podem resultar de hiperplasia adrenal. Apesar do fato de que o hiperaldosteronismo primário é a causa mais comum de hipertensão secundária, ele é um diagnóstico que é frequentemente esquecido.[28]

  • Síndrome de Cushing: a produção excessiva de cortisol por um tumor adrenal ou na hipófise, ou o uso de corticosteroides exógenos, pode resultar na síndrome de Cushing. Pode ser dependente de ACTH ou independente do ACTH. A hipertensão resulta quando o cortisol aumenta o efeito vasoconstritor das catecolaminas.

  • Hipertireoidismo: pode ser uma causa secundária de hipertensão em aproximadamente 1% a 3% dos pacientes hipertensos; os dados são escassos.[29][30]​​​​​ O excesso de tiroxina exacerba o efeito do sistema nervoso simpático. Por conseguinte, ele aumenta a resistência vascular e o débito cardíaco. Isso pode levar a uma hipertensão sistólica isolada. A hipertensão deve responder ao tratamento da causa subjacente.

  • Hipotireoidismo: pode ser uma causa secundária de hipertensão em aproximadamente 1% a 3% dos pacientes hipertensos; os dados são escassos.[29]​​[30][31]​​​​ Níveis baixos do hormônio tireoidiano circulante podem resultar em hipertensão leve, pois a frequência cardíaca é diminuída e há um aumento na resistência vascular periférica para compensar.​[32][33][34]​ O hipotireoidismo também pode causar elevação do colesterol e dos níveis lipídicos no sangue, aumentando o risco cardiovascular geral quando não tratado.

  • Hiperparatireoidismo: a hipertensão geralmente é observada em pacientes com hiperparatireoidismo, mas uma relação causativa não foi confirmada e o mecanismo não é claro.

Distúrbios do sono

  • Os pacientes com síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono, ou síndrome de hipoventilação por obesidade, são frequentemente obesos, com um risco aumentado de hipertensão.[35][36][37][38]​ Eles também apresentam um aumento do risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). O mecanismo não é claro, mas pode envolver estresse oxidativo secundário à hipóxia e à ativação autonômica simpática. Esses pacientes geralmente apresentam vários fatores de risco cardiovascular que precisam ser tratados juntamente com o tratamento da hipertensão, da apneia/hipopneia do sono e dos problemas relacionados à obesidade.

Causas tóxicas

  • Excesso crônico de bebidas alcoólicas: a relação entre bebidas alcoólicas, hipertensão e risco cardiovascular geral é complexa. Foi sugerida uma relação na forma de "J": aqueles que bebem uma pequena quantidade de bebidas alcoólicas apresentam um risco menor que aqueles que se abstêm completamente. Entretanto, em vários estudos, pessoas fazem uso indevido do álcool demonstram uma nítida diminuição nas leituras da pressão arterial quando submetidos à abstinência alcoólica (após um aumento inicial durante a fase de abstinência). Os mecanismos não estão claros.[39]

  • O uso de substâncias ilícitas como cocaína e o uso indevido de metanfetaminas podem levar à hipertensão devido à ativação simpática. O potencial para uma menor adesão à terapia com anti-hipertensivos nessa população de pacientes pode resultar em uma pressão arterial persistentemente alta.

Medicamentos

  • Em um estudo de pesquisa nacionalmente representativa realizado nos EUA, 18% dos adultos com hipertensão relataram tomar medicamentos que podem causar pressão arterial elevada, mais comumente antidepressivos, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) de prescrição, esteroides e estrogênios.[40]

  • O uso de contraceptivos orais e o uso em longo prazo de AINEs estão relacionados ao desenvolvimento de hipertensão: o primeiro devido aos efeitos da progesterona nos pequenos vasos sanguíneos; os AINEs devido aos efeitos sobre os rins e à retenção hídrica nos indivíduos suscetíveis. A hipertensão geralmente responde à suspensão dos medicamentos.

  • A hipertensão é um efeito adverso comum dos glicocorticoides, da ciclosporina e dos antipsicóticos atípicos.

  • Até 80% dos pacientes tratados com inibidores da tirosina quinase do receptor do fator de crescimento endotelial vascular para neoplasias malignas metastáticas de órgãos sólidos desenvolvem hipertensão.[41]

Pseudo-hipertensão

  • A "hipertensão do jaleco branco" é uma elevação aparente da pressão arterial quando as leituras são feitas em ambiente clínico. O paciente pode ter seu próprio monitor de pressão arterial em casa e relatar leituras normais. Essa aparente elevação geralmente se deve à ansiedade ou ao estresse por ter a pressão arterial aferida. Ela pode abaixar com medições repetidas ao longo do tempo, ou persistir no ambiente clínico. Uma forma de distinguir a hipertensão real das leituras supostamente elevadas é registrar a pressão arterial por um período de 24 horas ou fazer medições em casa. Isso evita tratamentos desnecessários, embora o risco cardiovascular geral ainda deva ser avaliado. Estes pacientes necessitam de acompanhamento atento, uma vez que foi demonstrado que a hipertensão do jaleco branco não tratada está associada a aumento do risco cardiovascular.[42]

Hipertensão resistente

A hipertensão resistente (HR) é definida como a pressão arterial elevada acima do desejado, apesar do uso concomitante de três classes de medicamentos anti-hipertensivos, que, geralmente, incluem um bloqueador dos canais de cálcio de ação prolongada, um bloqueador do sistema renina-angiotensina (inibidor da enzima conversora de angiotensina ou bloqueador dos receptores de angiotensina) e um diurético.[9]

Considere as causas de hipertensão secundária nos pacientes com HR.

Considere a não adesão e a hipertensão do jaleco branco como causas de hipertensão aparentemente resistente ao tratamento. Estima-se que a não adesão à medicação para hipertensão fique entre 7% e 60%.[9] A American Heart Association recomenda o uso da seguinte pergunta para avaliar a adesão: "Quando tomamos vários medicamentos, é comum esquecer algumas doses durante a semana. Quantas vezes você esquece de tomar seu medicamento para pressão arterial em uma semana?"[9] A hipertensão do jaleco branco pode ser descartada por meio do monitoramento ambulatorial da pressão arterial por 24 horas ou por medições da pressão arterial em domicílio.

Técnicas ineficazes de medição da pressão arterial podem acusar pressão arterial elevada equivocadamente.

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