Abordagem

O diagnóstico de uma alergia alimentar se baseia criticamente na história. Ela deve se concentrar em sintomas específicos apresentados pelo paciente para que se classifique se ele tem um distúrbio mediado por imunoglobulina E (IgE), células T ou por ambas. Os testes para alérgenos alimentares específicos irão depender fundamentalmente dessa diferenciação.

O diagnóstico de intolerância e sensibilidade alimentar também se baseia criticamente na história. O momento de ocorrência dos sintomas em resposta à ingestão de alimentos específicos geralmente provoca a suspeita de uma intolerância ou sensibilidade alimentar.[53]

História

Todos os pacientes, independentemente da idade, que apresentam sintomas de rouquidão, urticária, angioedema, prurido, aperto na garganta, sibilância, vômitos ou colapso cardiovascular nas 2 horas após a ingestão de alimentos devem ser avaliados para uma possível alergia alimentar, após tratamento com adrenalina intramuscular. Informações essenciais para identificar com precisão um possível fator alimentar desencadeante para a anafilaxia incluem:

  • Uma lista de todos os itens de alimentos ingeridos nas 2 horas precedentes à reação

  • Intervalo de tempo entre a ingestão e a reação

  • Quantidade do alimento consumido

  • História de qualquer sintoma antes da ingestão do alimento

  • Outros fatores associados à reação alérgica, como exercícios ou ingestão de aspirina.[16][31]

Tipicamente, a história estreita o foco da avaliação diagnóstica de uma longa lista de inúmeros alimentos possíveis para uma lista curta de vários alimentos mais prováveis. Os alérgenos alimentares mais comuns em adultos são amendoins, castanhas, frutos do mar e peixe. Em crianças mais novas, os responsáveis comuns são leite, ovos, trigo, soja, amendoins e castanhas.[1]

A alergia (transmitida por carrapatos) à galactose-alfa-1,3-galactose (alfa-gal) resulta em sintomas inespecíficos, como dor abdominal, diarreia, náuseas ou vômitos, de uma a várias horas após o consumo de produtos derivados de mamíferos.[54]​ Sintomas de pele, como urticária e angioedema, podem ou não estar presentes.[54]​ As picadas de carrapato, ou a infecção parasitária, parecem resultar em sensibilização.[54]​ A espécie de carrapato mais comumente implicada nos EUA é o carrapato-estrela (Amblyomma americanum).[54]​ Outras espécies foram implicadas em outras partes do mundo (Ixodes ricinus, Isoces holocyclus, Amblyomma cajennense, Amblyomma sculptum, Ixodes [Endopalpiger] australiensis e Haemaphysalis longicornis).[55]

Alergia alimentar em bebês

  • Os bebês podem ter anafilaxia em resposta ao próprio alimento que ingeriram diretamente ou ao alimento ingerido pelas mães que amamentam. A história detalhada pode direcionar a avaliação de possíveis alérgenos alimentares.

  • Os bebês com eczema moderado a grave devem passar por uma avaliação diagnóstica para alergia alimentar. Isso começa com uma cuidadosa história clínica para identificar desencadeantes alimentares subjacentes de reações imediatas e agravamento do eczema. Com frequência, os pais podem não ser capazes de identificar um alimento específico associado ao eczema. Se uma alergia alimentar subjacente não puder ser identificada pela história, então devem ser realizados testes para avaliar os alérgenos alimentares comuns de leite, ovos, trigo, soja, amendoins, castanhas e possivelmente frutos do mar.[22][23][56][57]

  • Com frequência, os bebês apresentam retardo do crescimento pôndero-estatural e vômitos. Essas 2 características são comuns nos bebês que têm esofagite eosinofílica ou doença celíaca. Além disso, os bebês com doença celíaca geralmente apresentam esteatorreia.​​[34][58]​ A presença desses sintomas justifica investigação adicional. A identificação do alérgeno alimentar desencadeante não é possível por meio da história somente, e requer testes adicionais.

  • Bebês com vômitos profusos, diarreia, irritabilidade e letargia podem ter enterocolite induzida por proteína alimentar.[28][29] Bebês saudáveis com crescimento normal e fezes com estrias de sangue podem ter proctocolite induzida por proteína alimentar.[1] A história é fundamental para o diagnóstico e identificação do alimento desencadeante em ambas as condições. Geralmente, o alimento desencadeante é ingerido cerca de 2 horas antes do início dos sintomas. A história alimentar detalhada é crucial para determinar o agente causador. Não há testes diagnósticos para identificar os alimentos causadores nessas 2 doenças; o diagnóstico da alergia alimentar é baseado apenas na história. Leite e soja são os dois alimentos desencadeantes mais comuns.[1][21][28] Depois que o alimento suspeito é identificado com base na história, ele deve ser retirado da dieta. O diagnóstico é confirmado se os sintomas remitirem depois da retirada do alimento.[28][29]

Alergia alimentar em crianças

  • As crianças podem apresentar sintomas de anafilaxia em resposta à ingestão de alimentos específicos. A identificação do alimento desencadeante se baseia criticamente na história. Além da ingestão do alimento, o exercício pode ser um componente importante da anafilaxia induzida, de modo que a história deve incluir questões relacionadas ao momento da anafilaxia em relação a qualquer exercício.[17]

  • As crianças com eczema moderado a grave podem ter uma alergia alimentar subjacente que piora a doença de pele. Se um dos pais se lembrar de um alimento que parece agravar o eczema, podem ser realizados testes adicionais para confirmar a alergia alimentar. No entanto, geralmente os pais não são capazes de identificar o alimento que desencadeou a reação. Nessas circunstâncias, deve ser realizada uma avaliação geral para alergia a alérgenos alimentares comuns, incluindo amendoim, castanhas, leite, soja, ovos e trigo.[11][12][56][57]

  • Crianças e adolescentes com esofagite eosinofílica geralmente sofrem de pirose, dor abdominal e disfagia.[19][59] Uma biópsia esofágica é necessária para confirmar esse diagnóstico. Os alérgenos alimentares específicos que exacerbam a esofagite eosinofílica não podem ser determinados a partir da história isoladamente, mas geralmente são os mesmos alimentos que causam a anafilaxia mediada por IgE.[19][59]

  • A doença celíaca (psilose) pode causar vômitos, esteatorreia e retardo do crescimento pôndero-estatural nas crianças. Uma avaliação adicional com testes de anticorpos e biópsia do intestino delgado é justificada nas crianças com esse complexo de sintomas.​[34][58]

Alergia alimentar em adultos

  • Os sintomas de urticária, angioedema, vômitos, sibilância, prurido, aperto na garganta ou colapso cardiovascular indicam anafilaxia e requerem administração imediata de adrenalina intramuscular. Depois disso, os pacientes são questionados sobre a história detalhada de possíveis fatores alimentares desencadeantes do evento. As causas comuns em adultos são alergia a amendoins, castanhas, frutos do mar ou peixe. Os potenciais alérgenos alimentares identificados devem ser avaliados posteriormente com testes alérgicos cutâneos por puntura e/ou por testes in vitro de IgE.

  • Os adultos com alergias a pólen ou látex podem apresentar sintomas orais (classicamente localizados à orofaringe, podendo incluir prurido e angioedema dos lábios, da mucosa oral e do palato mole) após a ingestão de frutas, vegetais e condimentos específicos.[21][60] Esses pacientes devem realizar uma avaliação para alergia a pólen ou látex com teste alérgico cutâneo por puntura.

  • Os adultos com eczema não precisam realizar avaliação para alergia alimentar, a menos que haja história de anafilaxia. Qualquer adulto com impactação alimentar, disfagia ou falha em responder à terapia antirrefluxo deve realizar uma investigação para esofagite eosinofílica por meio de biópsia esofágica.[12] Depois que o diagnóstico de esofagite eosinofílica é feito, deve ser realizada uma avaliação adicional para alergias alimentares com o teste alérgico cutâneo por puntura.[61][62]

  • Pacientes adultos com diarreia, perda de peso, desconforto abdominal, fadiga, deficiências nutricionais, anemia ou osteoporose devem realizar uma avaliação adicional com testes de anticorpos e biópsia para doença celíaca.​​[34][58]​ Além disso, qualquer paciente com uma erupção cutânea de dermatite herpetiforme também deve ser avaliado para doença celíaca.

Intolerância alimentar em bebês, crianças e adultos

  • Bebês com deficiências enzimáticas congênitas podem apresentar diarreia, retardo do crescimento pôndero-estatural e distensão abdominal no primeiro ano de vida. Qualquer bebê que se apresente com esses sintomas deve realizar uma avaliação para deficiências de enzimas gastrointestinais.[11][38]

  • As crianças e adultos que apresentam flatulência, diarreia e dor abdominal após ingerir laticínios devem realizar uma avaliação para intolerância à lactose.

Sensibilidades alimentares em bebês, crianças e adultos

  • Os pacientes que tomam inibidores da monoaminoxidase e que desenvolvem enxaquecas devem ser avaliados para sensibilidades alimentares.[39] No entanto, a associação entre a ingestão de alimentos e as enxaquecas é muito controversa. A literatura sugere que não há correlação entre as enxaquecas e a ingestão de alimentos com tiramina e outras aminas biogênicas.[8]

  • Os pacientes com asma que relatam exacerbações após a ingestão de produtos como vinho ou frutas secas devem ser avaliados quanto a potencial sensibilidade a sulfitos.[10]

  • Não foi demonstrada uma associação entre o glutamato monossódico (GMS) e as reações de sensibilidade em ensaios clínicos.[7][40]

Exame físico

Achados significativos no exame físico em pacientes que apresentam anafilaxia aguda induzida por alimento incluem urticária, angioedema da orofaringe, rouquidão, sudorese, espirros, sibilância e hipotensão arterial. No entanto, os pacientes geralmente buscam atendimento para a avaliação após o evento anafilático e, portanto, não têm sinais de anafilaxia no momento do exame físico. Ocasionalmente, os pacientes apresentam características de condições atópicas, como sinais de rinite alérgica (áreas escurecidas na pele em torno das órbitas oculares, mucosa nasal pálida e esponjosa, hiperemia conjuntival) ou sinais de eczema (placas ásperas, avermelhadas e elevadas e manchas nas superfícies flexoras das articulações em crianças/adultos ou nas superfícies extensoras das articulações e da face em bebês). Os sinais de rinite alérgica também podem ocorrer em pacientes com síndrome da alergia oral.

Os pacientes com doença celíaca podem apresentar dermatite herpetiforme: uma erupção cutânea localizada nas superfícies extensoras dos cotovelos, joelhos, nádegas e costas que consiste em placas, pápulas e vesículas eritematosas agrupadas.[63] Geralmente, a erupção cutânea apresenta-se escoriada em decorrência do ato de coçar do paciente.​[34][64]

[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Dermatite herpetiforme: lesões típicas na superfície extensora do antebraçoDo acervo de Adam Reich MD, PhD [Citation ends].com.bmj.content.model.assessment.Caption@1a8a1dee

Os pacientes com enterocolite induzida por proteína alimentar, proctocolite induzida por proteína alimentar ou esofagite eosinofílica geralmente apresentam achados normais no exame físico. Alguns bebês e crianças com esofagite eosinofílica ou doença celíaca podem apresentar baixo peso e retardo do crescimento pôndero-estatural.

Investigações para alergia alimentar com anafilaxia

Se um paciente tem sintomas de anafilaxia, a história detalhada deve identificar os alimentos prováveis responsáveis. Depois que os diversos alimentos candidatos forem identificados pela história, testes alérgicos cutâneos por puntura e testes de imunoglobulina E (IgE) in vitro (por exemplo, com sistema ImmunoCAP - fluoroimunoensaio com polímero carreador hidrofílico) podem ser usados para avaliar mais extensamente uma potencial alergia alimentar. Os testes de IgE podem ser adicionados ou ser preferidos ao teste alérgico cutâneo por puntura em pacientes com dermatite grave ou pele escurecida, em pacientes que usam anti-histamínicos ou em pacientes que exibem dermografismo. Os testes de alergia podem ser realizados em todas as idades, incluindo bebês.

Testes alérgicos cutâneos por puntura

  • Uma quantidade ínfima de um antígeno alimentar é introduzida na pele por meio de uma punção.[16]

  • O alérgeno alimentar se liga à IgE na superfície dos mastócitos, provocando assim a degranulação dos mastócitos, que resulta na formação de uma pápula.[6]

  • Os alérgenos que resultam em uma pápula com mais 3 mm de diâmetro do que o diâmetro de controle com solução salina são considerados positivos.[6]

  • O valor preditivo negativo de um teste alérgico cutâneo por puntura de alérgeno é de 95%, o que significa que um teste negativo indica ausência de resposta àquele alérgeno específico.[12]

  • Geralmente, o valor preditivo positivo de um teste cutâneo é de 50%.[12] Isso significa que um teste alérgico cutâneo por puntura pode ou não indicar verdadeira alergia a um alérgeno específico. No entanto, vários estudos estabeleceram valores preditivos positivos de 95% para diâmetros de pápulas do teste alérgico cutâneo por puntura e demonstraram resultados distintos com base em inúmeros fatores. Em geral, quanto maior o diâmetro da pápula, maior a probabilidade de o indivíduo ter uma reação imediata ao alimento após a ingestão.[65] Investigações adicionais com testes de desencadeamento alimentar oral e com IgE in vitro podem ser justificados em algumas situações.

  • Muitas pessoas são sensibilizadas a um alérgeno particular, mas não apresentam reação clínica quando expostos ao alérgeno.[12]

Sistema CAP de fluoroimunoensaio quantitativo in vitro com polímero carreador hidrofílico encapsulado (CAP-FEIA) específico de imunoglobulina E (IgE)

  • Usado para detectar se um paciente foi sensibilizado a um alimento particular.[6][66]

  • Um resultado positivo não significa necessariamente que o paciente é alérgico àquele alimento específico.

  • Se o paciente estiver tolerando o alimento em questão na dieta, então ele deve ser apenas sensibilizado e não alérgico.

  • Estudos mostraram que concentrações muito altas de IgE específica de alimento podem ser preditivas de reações clínicas a alimentos.[67]

  • Em crianças jovens com dermatite atópica, foram identificados valores de concentrações específicas de IgE, usando-se um ensaio particular, para ovo, leite, amendoim e bacalhau que são 95% preditivas de uma reação.[67]

Teste de desencadeamento alimentar oral[68][69][70]

  • O teste de desencadeamento alimentar oral duplo-cego, controlado por placebo é considerado o padrão definitivo para o diagnóstico de alergia alimentar.[12]

  • Se o diagnóstico de uma alergia alimentar permanecer incerto após o teste alérgico cutâneo por puntura e após a medição de anticorpos IgE, então o paciente pode precisar realizar um teste de desencadeamento alimentar oral com o alimento suspeito.

  • O teste de desencadeamento alimentar aberto pode ser usado para rastrear a reatividade.[66][71]

  • Todos os testes de desencadeamento alimentar devem ocorrer sob a supervisão de um médico com medicamentos de emergência, incluindo adrenalina, prontamente disponíveis.[22]

  • Durante um teste de desencadeamento alimentar, o paciente ingere gradualmente quantidades cada vez maiores do alimento em questão até que reaja ou tolere uma porção completa do alimento.[23]

O teste alérgico cutâneo por puntura e o teste de IgE in vitro devem ser realizados apenas para alérgenos alimentares identificados pela história como possíveis causadores de uma reação anafilática. Um painel de resultados positivos no teste de IgE in vitro a vários alérgenos alimentares é inútil, a menos que os alimentos tenham sido identificados pela história como possíveis causas. Um teste alérgico cutâneo por puntura positivo ou um teste de IgE por si só não indica que o paciente tem uma alergia alimentar; significa apenas que é sensível ao alimento. Somente a história ou um teste de desencadeamento alimentar podem identificar verdadeiros alérgenos alimentares.

Triptase sérica

  • O National Institute for Health and Care Excellence (NICE) do Reino Unido recomenda que sejam coletadas amostras de triptase sérica das crianças <16 anos durante ou logo após a ressuscitação.[45]

  • Nos adultos, o NICE recomenda que deve ser coletado sangue para se avaliarem os níveis de triptase mastocitária assim que possível após o início do tratamento de emergência com uma segunda amostra, idealmente dentro de 1 a 2 horas (mas não depois de 4 horas) a partir do início dos sintomas. Uma terceira amostra deve ser coletada durante uma consulta de acompanhamento.[45]

  • ​A American Academy of Allergy, Asthma & Immunology recomenda a obtenção de triptase sérica basal nos pacientes com uma história de anafilaxia recorrente, idiopática ou grave, particularmente aqueles que se apresentarem com hipotensão.[47]

  • Observe que na anafilaxia induzida por alimentos clinicamente óbvia, os níveis de triptase raramente estão elevados, mesmo que o soro tenha sido coletado a tempo.[72]

Investigações para alergia alimentar com sintomas orais apenas

Adultos com sintomas orais de prurido, ou angioedema após a ingestão de frutas, vegetais ou condimentos, devem ser avaliados para a síndrome da alergia oral.

  • Os pacientes com a síndrome da alergia oral têm síndrome de pólen-alimento (a forma mais comum) ou síndrome de látex-alimento.

  • A história deve se concentrar na identificação dos sintomas de rinoconjuntivite alérgica (coriza, espirros e olhos pruriginosos e lacrimejantes), bem como na estação dos sintomas.

  • A história deve incluir alimentos que causam as reações.

  • As alergias específicas ao pólen estão associadas a sintomas orais decorrentes de frutas e vegetais específicos. Por exemplo, a alergia a pólen de bétula geralmente está associada a sintomas orais com frutos de drupa, nozes ou certos vegetais.[73]

  • A alergia a látex geralmente está associada a sintomas orais com abacates, kiwis, bananas ou castanhas, embora outras frutas e vegetais também possam estar envolvidos.

  • Os testes alérgicos cutâneos por puntura podem ser usados para identificar a alergia a pólen ou látex.

  • O conhecimento de associações de pólen/alimento e de látex/alimento pode ajudar os pacientes a evitarem alimentos aos quais reagem.

Investigações para alergia alimentar com dermatite atópica

Em pacientes com eczema grave:

  • É necessária a história clínica detalhada para identificar alimentos subjacentes desencadeantes de reações imediatas e de agravamento do eczema

  • Se não houver história de alergia alimentar, as crianças com eczema moderado a grave podem ser rastreadas pelo teste alérgico cutâneo por puntura ou pelo teste de imunoglobulina E (IgE) in vitro contra os alérgenos alimentares mais comuns (leite, ovos, trigo, soja, amendoins e castanhas)

  • Se o teste de rastreamento for positivo, então o alimento suspeito deve ser eliminado da dieta por pelo menos 1 mês

    • Se o eczema melhorar com a eliminação dietética ou se a reatividade clínica for incerta, realize um teste de desencadeamento alimentar

    • Se nenhum sintoma aparecer imediatamente após o teste de desencadeamento alimentar, o alimento deve ser consumido por vários dias e o paciente deve ser reavaliado para o agravamento do eczema[22][23]

    • Se o paciente apresentar sintomas ou agravamento do eczema após o teste de desencadeamento alimentar, o alimento deve ser eliminado

    • Se não houver nenhum sintoma e o eczema não tiver modificação após o teste de desencadeamento alimentar, o alimento pode ser reintroduzido.[22][23]

Investigações para alergia alimentar com esofagite eosinofílica

Os seguintes exames devem ser considerados para qualquer paciente com impactação alimentar, disfagia ou falha em responder à terapia antirrefluxo; para bebês e crianças pequenas com retardo do crescimento pôndero-estatural, vômitos ou regurgitação; ou para qualquer criança e adolescente com pirose, dor abdominal ou disfagia:

  • Endoscopia digestiva com biópsia esofágica (biópsia positiva mostra >15 eosinófilos por campo de grande aumento)[60][74]

  • Avaliação da alergia alimentar

    • Teste alérgico cutâneo por puntura e teste de IgE in vitro para imunoglobulina E (IgE) específica do alimento

    • Teste de contato atópico (há controvérsias sobre o papel do teste de contato atópico na identificação de alérgenos alimentares que causam resposta tardia mediada por células)[62]

    • Dietas empíricas baseadas na remoção dos alérgenos alimentares mais comuns[20][61]

    • Teste de dieta elementar.

Investigações para alergia alimentar em bebês com enterocolite ou proctocolite

Pode haver suspeita de enterocolite ou de proctocolite em bebês com uma história de vômitos profusos, diarreia e irritabilidade após a ingestão de alimentos, ou em bebês saudáveis com crescimento normal que apresentam evacuação diarreica intermitente com estrias de sangue.[1][28][29][75][76]

  • O diagnóstico é baseado principalmente na história.

  • Leite e soja são os dois mais comuns alimentos responsáveis.

  • Ocasionalmente, outros alimentos como grãos, vegetais e aves foram relatados como agentes desencadeantes na enterocolite induzida por proteína alimentar.[29]

  • Cerca de 50% dos bebês com proctocolite são amamentados e podem estar respondendo a um antígeno alimentar na dieta da mãe.[16]

  • Quando o alimento desencadeante é removido da dieta do bebê ou da mãe, os sintomas remitem.[61]

Investigações para suspeita de doença celíaca

As características que podem sugerir uma possível doença celíaca incluem história de diarreia, distensão abdominal, dor abdominal, anemia e dermatite herpetiforme (lesões papulovesiculares intensamente pruriginosas que ocorrem simetricamente ao longo das superfícies extensoras dos braços e pernas, bem como nas nádegas, tronco, pescoço e couro cabeludo).

As investigações para doença celíaca podem incluir testes sorológicos e genéticos, além de biópsia; os testes sorológicos devem ser realizados enquanto o paciente ainda tiver uma dieta contendo glúten.[58][64]

  • Imunoglobulina A-transglutaminase tecidual (IgA-tTG): solicitado primeiro para todos os pacientes com dieta contendo glúten, inclusive indivíduos com menos de 2 anos que não têm deficiência de IgA. O teste deve mostrar um título acima do intervalo de referência normal, com títulos mais altos tendo um valor preditivo positivo elevado.​​​ observe que os anticorpos antigliadinas são inespecíficos e não são úteis.

  • Teste quantitativo (total) de IgA: é solicitado rotineiramente para avaliar a deficiência de IgA, pois a presença de deficiência de IgA causa insensibilidade a imunoglobulina A contra a transglutaminase tecidual (IgA-tTG).[77]​ A deficiência de IgA é mais comum em indivíduos com doença celíaca que na população em geral.[78]

  • Pesquisa de transglutaminase tecidual imunoglobulina G (IgG-tTG) e de peptídeo de gliadina diamidado (IgG-DGP): realizada em todos os pacientes com níveis baixos de IgA ou com deficiência de IgA.

  • Anticorpo antiendomísio (EMA): uma alternativa à IgA-tTG, com maior especificidade, porém menor sensibilidade. Uma combinação de altos níveis de IgA-tTG (>10 vezes o limite superior do normal) com EMA positivo na segunda amostra de sangue pode ser usada para diagnosticar a doença celíaca em crianças. Nos adultos sintomáticos que não estiverem dispostos ou não puderem ser submetidos a uma endoscopia digestiva alta, os mesmos critérios podem ser considerados para o diagnóstico de provável doença celíaca.

  • Biópsia duodenal: solicitada em adultos e crianças com suspeita de doença celíaca. Ela deve ser considerada, mesmo se as sorologias forem negativas, nos pacientes com alta probabilidade pré-teste.

  • Haplótipos do HLA: o teste genético para haplótipo compatível com doença celíaca não é necessário para o diagnóstico em todos os casos, mas pode ser útil em determinadas situações, como em caso de discrepância entre a sorologia e a histologia. Se negativo, a doença celíaca é descartada. A testagem do HLA é essencial para a abordagem aos testes para doença celíaca para indivíduos que tiverem iniciado uma dieta sem glúten antes da avaliação; na presença de haplótipo compatível com doença celíaca, pode-se oferecer um teste de provocação com glúten.

  • Hemograma completo: frequentemente mostra Hb baixa e eritrócitos microcíticos; a anemia ferropriva é o quadro clínico mais comum nos adultos; a deficiência de folato (e, raramente, de vitamina B12) pode causar anemia macrocítica.

  • Biópsia de lesões de dermatite herpetiforme: mostrará depósitos granulares de IgA nas papilas dérmicas da pele lesionada e perilesional por imunofluorescência direta.

Investigações para suspeita de intolerância à lactose

Crianças, adolescentes e adultos que desenvolvem evacuação diarreica, flatulência ou dor abdominal após a ingestão de laticínios devem realizar uma investigação para deficiência de lactase.[7][13] As investigações incluem:

  • Exclusão alimentar de leite e laticínios com diário de sintomas para determinar se os sintomas melhoram quando a lactose é excluída da dieta. Teste de desencadeamento alimentar com leite e laticínios após a exclusão para determinar se os sintomas retornam com a reintrodução dos laticínios na dieta.[7]

  • Teste do hidrogênio no ar expirado com lactose, no qual o paciente ingere uma quantidade padrão de lactose (2 g/kg, máximo de 25 g) após o período de uma noite de jejum com medida do hidrogênio exalado em um período de 2 a 3 horas. Um teste positivo apresenta um aumento de >20 ppm de hidrogênio exalado após cerca de 60 minutos.[7][13][79]

  • Biópsia do intestino delgado com medida dos níveis de lactase.

Investigações para suspeita de deficiência de sacarase-isomaltase congênita

Bebês que desenvolvem diarreia, dor abdominal ou crescimento inadequado quando se alimentam de fórmula infantil não baseada em lactose ou alimentos sólidos devem ser avaliados para deficiência de sacarase-isomaltase.[38][80] Esta é uma condição muito rara e pode ser de difícil diagnóstico. As investigações incluem:

  • Teste do hidrogênio no ar expirado com sacarose, no qual o paciente ingere uma quantidade padrão de sacarose com medição do hidrogênio exalado ao longo de um período de 2 a 3 horas. Um teste positivo apresenta um aumento de >20 ppm de hidrogênio exalado após cerca de 60 minutos.[38]

  • Biópsia do intestino delgado com teste dos níveis de sacarase e isomaltase.[38]

Investigações para sensibilidades alimentares

O diagnóstico de sensibilidades alimentares é determinado pela indução dos sintomas em um teste de desencadeamento alimentar com o suposto alimento causador. Ensaios clínicos duplo-cegos controlados por placebo são a melhor maneira de diagnosticar sensibilidades alimentares.

Inúmeros estudos falharam em induzir os sintomas no teste de desencadeamento alimentar com glutamato monossódico (GMS) e com tiramina.[8][40]

A sensibilidade a sulfitos foi claramente documentada por ensaios duplo-cegos controlados por placebo em pacientes asmáticos.[41] Devem ser realizados testes da função pulmonar antes e após o teste de desencadeamento com sulfitos em intervalos definidos. Um teste de desafio positivo ocorre quando o volume expiratório forçado (VEF1) diminui em 20% em relação ao valor inicial.[10][41]

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