O que realmente significa 'baseada em evidências'?
"Certamente toda a medicina praticada hoje é baseada em evidências.”
ou
“A MBE significa apenas seguir cegamente as recomendações das diretrizes e os resultados dos ensaios. Ela não dá lugar para o profissionalismo, é muito rígida e não “se encaixa” ao paciente na minha frente ”.
Nenhuma dessas suposições é verdadeira. A primeira nega—contra todas as evidências—de que existe um problema, e a segunda está longe do que os fundadores da MBE descreveram
Olhar para as antigas publicações sobre MBE, a partir do início dos anos 1990 em diante, dá uma perspectiva dos sérios problemas que eles estavam enfrentando, e o desejo de tornar isso divertido, assim como de fácil compreensão e adoção. Relendo os artigos originais, é decepcionante refletir sobre quão pouco o paradigma mudou.
Por quê? Eu diria que a adoção da prática baseada em evidências (EBP) não é fácil para muitos. Isso exige que sejamos céticos, questionemos nosso conhecimento e nossas crenças, identifiquemos as principais perguntas e não tenhamos medo de admitir que não temos todas as respostas.
Existem fatos em Medicina na ciência da anatomia, fisiologia, farmacologia etc.; no entanto, muitas vezes nos referimos à Medicina como uma arte, e as opções de tratamento são exatamente isso – uma opção. Portanto, dentro da prática médica, as decisões estão sendo tomadas constantemente. A MBE é sobre tornar essas decisões transparentes e reduzir o viés o máximo possível. Não apenas o viés nos resultados dos estudos, embora essa seja uma área importante, mas igualmente importante é envolver a todos na decisão: uma equipe multidisciplinar que inclua o paciente, e seus valores e preferências, no seu núcleo. Ao identificar onde uma decisão está sendo tomada, reconhecendo e comunicando as escolhas envolvidas e suas implicações, a melhor decisão pode ser alcançada para e com um indivíduo.
O que me leva às diretrizes. É preocupante que, ao tentar dar suporte a uma abordagem baseada em evidências, as diretrizes pareçam ser cada vez mais vistas como diretivas e não como o que elas se propõem a ser – orientação. No início de cada diretriz NICE, você encontrará o seguinte:
“As recomendações desta diretriz representam a visão do NICE, chegadas após cuidadosa consideração das evidências disponíveis. Ao exercer seu julgamento, espera-se que os profissionais tomem plenamente em consideração esta diretriz, juntamente com as necessidades individuais, preferências e valores de seus pacientes ou usuários do serviço. A aplicação das recomendações nesta diretriz não é obrigatória e a diretriz não sobrepõe a responsabilidade dos profissionais de saúde em tomar decisões adequadas às circunstâncias do paciente individual, em consulta com o paciente e/ou seu cuidador ou responsável”.
As pessoas que apenas pulam para o resumo das recomendações ao menos leem esta advertência, ou ao menos prestam atenção nela? Os médicos de hoje têm tão pouco tempo que sua única opção é receber informações mastigadas e seguir cegamente o que lhes é dito? Espero desesperadamente que não seja este o caso.
Então, a MBE pode funcionar na prática, e faria alguma diferença? Um estudo recente demonstrou que levantar perguntas clínicas regular e sistematicamente através de tópicos criticamente avaliados (CATs) e tópicos de melhores evidências (BETs) resultou em melhores resultados para os pacientes em comparação com uma abordagem tradicional. Um começo promissor para a evidência da eficácia da EBP.
Os artigos originais da MBE deram tanta importância à evidência quanto ao conhecimento e experiência do profissional da saúde e aos valores e preferências do paciente – a interseção desse diagrama de Venn é a MBE. Talvez o foco tenha sido demasiado sobre a definição de evidência, e a MBE pode, em certos círculos, se tornar mais uma atividade acadêmica. Essa nunca foi a intenção, e as coisas estão mudando com um novo foco nos últimos anos sobre a implementação, tradução do conhecimento e tomada de decisão compartilhada. Se os novos processos e ferramentas resultantes forem informativos, sem ser excessivamente prescritivos, então talvez haja uma maneira no futuro para todos os cuidados de saúde serem verdadeiramente baseados em evidências.
Autor: Caroline Blaine